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O Sangue do Olimpo - CAP. XXXVII

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XXXVII - Reyna

— VOLTE!
Reyna não gostava de dar ordens a Pégaso, o senhor dos cavalos alados, mas gostava menos ainda de ser derrubada do céu.
Quando se aproximavam do Acampamento Meio-Sangue, antes das primeiras horas do dia primeiro de agosto, ela avistou seis onagros romanos. Mesmo no escuro, o revestimento em ouro imperial dos mecanismos reluzia. Os enormes braços de lançamento se vergavam para trás como mastros de navio adernando em uma tempestade. Equipes de artilheiros corriam em torno dos onagros, carregando-os e conferindo a torção das cordas.
— O que são essas coisas? — perguntou Nico, aos gritos.
Ele voava uns seis metros à esquerda dela, no pégaso negro Blackjack.
— Armas de cerco — respondeu Reyna. — Se avançarmos mais, podem nos derrubar do céu.
— Desta altura?
À direita dela, montado em Guido, o treinador Hedge gritou:
— São onagros, garoto! Essas coisas acertam mais alto que um chute do Bruce Lee!
— Lorde Pégaso — disse Reyna, botando a mão no pescoço do garanhão — precisamos de um lugar seguro para aterrissar.
Pégaso deve ter entendido, pois fez uma curva para a esquerda. Os outros cavalos alados foram atrás dele: Blackjack, Guido e os seis que levavam a Atena Partenos, pendurada por cabos.
Enquanto davam a volta na extremidade oeste do acampamento, Reyna pôde observar o cenário completo. A legião estava posicionada na base das colinas a leste, pronta para atacar ao amanhecer. Os onagros ficavam na retaguarda, em um semicírculo espaçado, com intervalos de trezentos metros entre um e outro. A julgar pelo tamanho das armas, Reyna calculou que Octavian tinha poder de fogo suficiente para destruir todos os seres vivos do vale.
Mas isso era apenas parte da ameaça. Havia centenas de forças auxiliares acampadas ao longo dos flancos da legião. Embora fosse difícil enxergar no escuro, Reyna identificou pelo menos uma tribo de centauros selvagens e um exército de cinocéfalos, os homens com cabeça de cachorro que séculos antes tinham feito uma trégua instável com a legião. Os romanos estavam em grande inferioridade numérica, cercados por um mar de aliados não confiáveis.
— Ali. — Nico apontou na direção do Estreito de Long Island, onde as luzes de um iate grande brilhavam a uns quinhentos metros da costa. — Podíamos pousar no convés daquele iate. Os gregos controlam o mar.
Reyna duvidava que os gregos seriam minimamente mais amistosos que os romanos, mas pelo visto Pégaso gostou da ideia, pois desviou na direção das águas escuras do estreito.
A embarcação tinha cem pés de comprimento, linhas elegantes e portas de cor escura. Na proa, em letras vermelhas, estava pintado o nome MI AMOR. No tombadilho havia um heliporto grande o suficiente para a Atena Partenos.
Reyna não viu ninguém a bordo. O iate devia ser um mero barco mortal, ancorado apenas para a noite, mas se fosse uma armadilha...
— É nossa melhor opção — disse Nico. — Os cavalos estão cansados. Precisamos descer.
Ela assentiu com relutância.
— Vamos lá.
Pégaso aterrissou no convés de proa com Guido e Blackjack. Os outros seis cavalos baixaram a Atena Partenos cuidadosamente no heliporto, depois pousaram ao redor da estátua. Com os cabos e arreios, pareciam cavalinhos de carrossel.
Reyna desmontou. Tal qual fizera dois dias antes, ao conhecer Pégaso, ajoelhou-se diante do cavalo.
— Obrigada, ó grandioso.
Pégaso abriu as asas e inclinou a cabeça.
Mesmo naquele momento, depois de percorrer metade da costa leste americana nas asas de Pégaso, Reyna mal podia acreditar que o cavalo imortal lhe havia permitido montá-lo.
Reyna sempre o imaginara completamente branco, com asas como as de uma pomba, mas Pégaso tinha pelagem castanha com pintas douradas e vermelhas em torno do focinho. Hedge dizia que as pintas eram marcas de nascença, dos pontos em que o cavalo emergira do sangue e do icor de sua mãe decapitada, Medusa. As asas de Pégaso eram das cores de asas de águia (dourado, branco, marrom e ferrugem), o que o deixava muito mais belo e imponente do que se fosse apenas branco. Ele tinha a cor de todos os cavalos, representando toda a sua linhagem.
O poderoso Pégaso relinchou.
Hedge foi até eles para traduzir.
— Pégaso diz que precisa partir antes de a batalha começar. Sabe, a força vital dele conecta todos os pégasos, então se ele for ferido, todos os cavalos alados sentem sua dor. É por isso que ele não sai muito. Ele é imortal, mas seus descendentes não. E Pégaso não quer que eles sofram por sua causa. Ele ordenou aos outros cavalos que ficassem conosco para nos ajudar a completar nossa missão.
— Eu entendo — disse Reyna. — Obrigada.
Pégaso relinchou.
Hedge arregalou os olhos. Ele engoliu um soluço, depois pegou um lenço na mochila e secou os olhos.
— Treinador? — Nico franziu a testa, preocupado. — O que Pégaso disse?
— Ele disse que não foi por causa da minha mensagem que veio nos ajudar — Hedge se virou para Reyna. — Foi por sua causa. Ele sente o que todos os outros cavalos alados sentem e acompanhou sua amizade com Scipio. Pégaso disse que nunca ficou tão emocionado com a compaixão de um semideus por um cavalo alado. Ele dá a você o título de Amiga dos Cavalos. É uma grande honra.
Os olhos de Reyna lacrimejaram. Ela inclinou a cabeça.
— Obrigada, lorde Pégaso.
Pégaso bateu com as patas no convés. Os outros cavalos alados relincharam em saudação. Então Pégaso se elevou aos céus e subiu em uma espiral noite adentro.
Hedge ficou olhando para as nuvens, pasmo.
— Pégaso não aparecia fazia séculos — ele deu tapinhas nas costas de Reyna. — Muito bem, romana.
Reyna não achava que merecesse crédito por fazer Scipio passar por tanto sofrimento, mas reprimiu o sentimento de culpa.
— Nico, é melhor verificarmos o navio — disse ela. — Se houver alguém a bordo...
— Você está atrasada — ele acariciou o focinho de Blackjack. — Sinto a presença de dois mortais dormindo na cabine principal. Mais ninguém. Não sou nenhum filho de Hipnos, mas mandei para eles alguns sonhos profundos. Deve ser suficiente para que acordem só depois de amanhecer.
Reyna tentava não encará-lo. Nos últimos dias, ele tinha ficado muito mais forte. A magia da natureza de Hedge o trouxera de volta da quase morte. Ela já tinha visto Nico realizar coisas impressionantes, mas manipular sonhos... Será que ele sempre fora capaz de fazer isso?
O treinador Hedge esfregou as mãos com ansiedade.
— Então, quando podemos ir para terra firme? Minha esposa está esperando!
Reyna observou o horizonte. Uma trirreme grega patrulhava as águas junto à costa, aparentemente alheia à chegada deles. Nenhum alarme soava. Nenhum sinal de movimento ao longo da praia.
Ela captou o vislumbre de um rastro d’água prateado ao luar, uns quinhentos metros a oeste. Uma lancha preta acelerava na direção deles, com todas as luzes apagadas. Reyna torceu para que fosse um mortal.
Quando a lancha se aproximou, Reyna apertou com força o cabo da espada. Na proa da lancha brilhava a forma de uma coroa de louros com as letras SPQR.
— A legião mandou um comitê de boas-vindas — comentou Reyna.
Nico acompanhou o olhar dela.
— Achei que os romanos não tivessem marinha.
— Não tínhamos — disse ela. — Pelo visto, Octavian andou bem mais ocupado do que eu pensava.
— Então vamos atacar! — exclamou Hedge. — Porque ninguém vai ficar no meu caminho agora que estou tão perto.
Reyna contou três pessoas na lancha. Os dois atrás usavam elmos, mas ela reconheceu o rosto triangular e os ombros fortes do líder: Michael Kahale.
— Vamos tentar negociar — decidiu Reyna. — Aquele ali é um dos braços direitos de Octavian, mas é um bom legionário. Talvez eu consiga me entender com ele.
O vento jogou o cabelo preto de Nico sobre seu rosto.
— Mas se não conseguir...
A lancha reduziu e parou de costado. Michael gritou de lá:
— Reyna, tenho ordens de prendê-la e confiscar a estátua. Vou subir a bordo com mais dois centuriões. Espero que não seja necessário derramar sangue.
Reyna tentava controlar as pernas trêmulas.
— Suba, Michael! — Ela então se virou para Nico e Hedge. — Se eu não conseguir, estejam preparados. Michael Kahale não vai ser uma luta fácil.

* * *

Michael não estava vestido para combate. Usava apenas a camiseta roxa do acampamento, calça jeans e tênis de corrida. Não portava nenhuma arma visível, o que, no entanto, não tranquilizava Reyna nem um pouco.
Seus braços eram grossos como cabos de suspensão, sua expressão acolhedora como um muro. A tatuagem de pomba em seu antebraço parecia mais uma ave de rapina.
Com um brilho sombrio no olhar, ele avaliou a cena: a Atena Partenos presa com cabos aos pégasos, Nico empunhando a espada estígia, o treinador Hedge com o taco de beisebol.
Os centuriões que acompanhavam Michael eram Leila, da Quarta Coorte, e Dakota, da Quinta. Escolhas estranhas... Leila, filha de Ceres, não era conhecida por sua agressividade. Normalmente era bem equilibrada. E Dakota... Reyna não podia acreditar que o filho de Baco, o oficial mais simpático e de boa índole da legião, pudesse ficar do lado de Octavian.
— Reyna Ramírez-Arellano — disse Michael, como se estivesse lendo uma lista de nomes. — Ex-pretora.
— Eu sou pretora — corrigiu-o Reyna. — A menos que eu tenha sido destituída por votação unânime no Senado. É esse o caso?
Michael deu um suspiro profundo. Não parecia muito feliz com a tarefa.
— Tenho ordens de prendê-la e levá-la a julgamento.
— Sob a autoridade de quem?
— Você sabe de quem...
— Sob quais acusações?
— Escute, Reyna... — Michael passou a mão na testa, como se assim pudesse eliminar a dor de cabeça. — Eu também não gosto nada disso. Mas tenho ordens a cumprir.
— Ordens ilegais.
— É tarde demais para discutir. Octavian assumiu a liderança em uma situação emergencial. Ele tem o apoio da legião.
— Isso é verdade? — Ao perguntar isso, Reyna olhou acusadoramente para Dakota e Leila.
Leila não conseguia olhá-la nos olhos. Dakota piscava como se estivesse tentando transmitir uma mensagem, mas, sendo ele quem era, ficava difícil saber: poderia estar apenas tremendo por excesso de açúcar de tanto beber Kool-Aid.
— Estamos em guerra — disse Michael. — Temos que nos manter unidos. Dakota e Leila não foram os mais entusiasmados em se aliar. Octavian deu a eles esta última chance de provarem seu apoio. Se me ajudarem a levar você... de preferência viva, mas morta se necessário... não perderão o posto e terão provado sua lealdade.
— Lealdade a Octavian — observou Reyna. — Não à legião.
Michael estendeu as mãos como quem se resigna; mãos quase do tamanho de luvas de beisebol.
— Você não pode culpar os oficiais por apoiarem Octavian. Ele tem um plano, um bom plano. Ao amanhecer, aqueles onagros vão destruir o acampamento grego sem nenhuma baixa romana. Os deuses serão curados.
Nico interveio:
— Vocês vão eliminar metade dos semideuses do mundo, metade do legado dos deuses, para curá-los? Vão destruir o Olimpo antes mesmo de Gaia despertar. E ela está despertando, centurião.
Michael franziu a testa.
— Embaixador de Plutão, filho de Hades... seja lá qual for seu nome, você foi considerado um espião inimigo. Tenho ordens de levá-lo para ser executado.
— Se conseguir — disse Nico friamente.
Aquela conversa era tão absurda que quase chegava a ser engraçada.
Nico tinha vários anos, trinta centímetros e vinte e cinco quilos a menos. Mas Michael não fez um movimento sequer. As veias em seu pescoço pulsavam.
Dakota pigarreou.
— Hã... Reyna... venha conosco em paz. Por favor. Podemos resolver isso.
Definitivamente ele estava piscando para ela.
— Tudo bem, chega de conversa — disse o treinador Hedge, olhando para Michael Kahale de cima a baixo. — Podem deixar comigo que eu acabo com esse palhaço. Já enfrentei maiores.
Ao ouvir isso, Michael deu um sorriso de desdém.
— Você é um fauno corajoso, mas...
— Sátiro!
O treinador Hedge avançou sobre o centurião, baixando o taco de beisebol com toda a força. Michael simplesmente tomou o taco da mão dele e o quebrou com o joelho. Depois empurrou o treinador para trás, mas Reyna percebeu que ele não estava tentando machucá-lo.
— Chega! — rosnou Hedge. — Agora você me deixou furioso de verdade!
— Treinador — alertou Reyna — Michael é muito forte. Você teria que ser um ogro ou um...
De algum ponto lá embaixo na água, uma voz gritou:
— Kahale! Por que tanta demora?
Michael levou um susto.
— Octavian?
— Claro que sou eu! — berrou a voz do meio da escuridão. — Cansei de esperar que você cumprisse minhas ordens! Vou subir a bordo. Todo mundo, dos dois lados, largue as armas!
Michael franziu a testa.
— Hã... senhor? Todo mundo? Até nós?
— Você não resolve nenhum problema nem com a espada nem com os punhos, seu grande idiota! Deixe esse lixo graecus comigo!
Michael ficou desconfiado, mas fez um gesto para Leila e Dakota, que puseram suas espadas no piso do convés.
Reyna olhou para Nico. Obviamente, havia alguma coisa errada. Ela não conseguia pensar em nenhum motivo para Octavian ir até ali e se colocar em risco. Ele com certeza não mandaria que os próprios oficiais largassem as armas. Mas os instintos de Reyna lhe diziam para continuar com o jogo. Ela largou a espada. Nico fez o mesmo.
— Estão todos desarmados, senhor — avisou Michael.
— Ótimo! — berrou Octavian.
Uma silhueta escura surgiu na escada, mas era grande demais para ser Octavian. Uma forma menor com asas planava no ar atrás dele – uma harpia? Quando Reyna percebeu o que estava acontecendo, o ciclope já tinha atravessado o convés em apenas dois passos largos. Ele deu um tapa na cabeça de Michael Kahale, que caiu como um saco cheio de pedras. Dakota e Leila recuaram, alarmados.
A harpia voou até o teto da cabine do convés. Sob a luz do luar, suas penas pareciam da cor de sangue coagulado.
— Forte — disse Ella, alisando as penas. — O namorado de Ella é mais forte que os romanos.
— Amigos! — falou Tyson, o ciclope, com sua voz grave. Ele levantou Reyna em um braço e Nico no outro. — Viemos salvar vocês. Um viva para nós!

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