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O Filho de Sobek - CAP. I - Completo!

.. quinta-feira, 16 de maio de 2013
PS: Corrigindo o título, sim, este é o livro completo.

Capítulo I - Carter



Ser comido por um crocodilo gigante era ruim o suficiente.
O garoto com a espada brilhando só deixou o meu dia pior.
Talvez eu deva me apresentar.
Sou Carter Kane – meio período calouro do ensino médio, meio período mago, preocupado em tempo integral com todos os deuses egípcios e monstros que estão constantemente tentando me matar.
Tudo bem, essa última parte é um exagero. Nem todos os deuses querem me matar. Só muitos deles – mas isso meio que faz sentido, desde que eu sou um mago na Casa da Vida. Nós somos tipo a polícia para as forças sobrenaturais do Egito Antigo, garantindo que eles não causem muita destruição no mundo moderno.
De qualquer forma, nesse dia em particular eu estava caçando um monstro trapaceiro em Long Island. Nossos videntes tem pressentido uma perturbação mágica na área há várias semanas. Então as notícias locais começaram a reportar que uma grande criatura tinha sido avistada em lagoas e pântanos perto da Montauk Highway – uma criatura que estava comendo animais e plantas selvagens e assustando os cidadãos locais. Um repórter até o chamou de O Monstro do Pântano de Long Island. Quando mortais começam a dar alarme, você sabe que é hora de checar as coisas.
Normalmente a minha irmã, Sadie, ou alguns outros dos nossos iniciados da Casa do Brooklyn teriam vindo comigo. Mas todos eles foram para o Primeiro Nomo no Egito para uma semana inteira de sessões de treinamento sobre controle de demônios de queijo (sim, eles são reais – acredite em mim, você não quer saber), então eu estava por minha conta.
Eu havia engatado a haste do nosso barco voador em Freak, meu grifo de estimação, e nós passamos a manhã zumbindo pelo litoral sul, procurando por sinais de problemas. Se você está se perguntando por que eu não ando nas costas do Freak, imagine duas asas no estilo beija-flor batendo mais rápido e mais potente do que as lâminas de um helicóptero. A não ser que você queira ser fatiado, é melhor andar no barco.
Freak tinha um faro muito bom pra magia. Depois de umas duas horas de patrulha, ele guinchou “FREEEEEEK!” e deu uma guinada para a esquerda, circulando sobre uma entrada verde pantanosa entre dois bairros.
— Lá em baixo? — perguntei.
Freak estremeceu e grasnou, chicoteando sua cauda farpada nervosamente.
Eu não podia ver muita coisa abaixo de nós – só um rio turvo reluzindo no ar quente de verão, retorcendo por entre grama do pântano e aglomerados de árvores retorcidas até que desaguava na Moriches Bay. A área parecia um pouco com o Delta do Nilo lá no Egito, exceto que aqui o pantanal era rodeado de ambos os lados por bairros residenciais com fileiras atrás de fileiras de casas com telhados cinzentos. No norte, uma linha de carros avançava através da Montauk Highway – pessoas de férias escapando da cidade apinhada para aproveitar a apinhada Hamptons.
Se tivesse mesmo um monstro do pântano carnívoro abaixo de nós, eu me perguntava quanto tempo ele levaria antes de desenvolver o gosto por carne humana. Se isso acontecesse... bem, estava rodeado por um Buffet bem farto.
— Tudo bem — eu disse para Freak — Desça-me para a margem do rio.
Logo que eu pus o pé para fora do barco, Freak guinchou e zumbiu pelo céu, arrastando o barco com ele.
— Hey! — gritei pra ele, mas era tarde demais.
Freak se assusta facilmente. Monstros carnívoros tendem a afugentá-lo. Assim como fogos de artifício, palhaços e o cheiro da estranha bebida da Sadie, British Ribena (Não posso culpá-lo por esse último. Sadie foi criada em Londres e desenvolveu alguns gostos muito estranhos).
Eu teria que cuidar desse monstro, e depois assoviar para Freak me buscar quando estivesse acabado.
Abri minha mochila e chequei meus suprimentos: um pouco de corda encantada, minha varinha curvada de mármore, um bocado de cera para fazer estatuetas shabti mágicas, meu kit de caligrafia e uma poção de cura que minha amiga Jaz fabricou para mim há algum tempo. (Ela sabe que eu tenho a tendência de me machucar).
Só tinha mais uma coisa que eu precisava.
Eu me concentrei e estendi a mão para dentro do Duat. Nos últimos meses, eu fiquei bom em estocar provisões de emergência no reino das sombras – armas extras, roupas limpas,Fruit by the Foot e um engradado gelado de root beer – mas colocar minha mão dentro da uma dimensão mágica ainda era estranho, como empurrar através de várias pesadas e frias camadas cortinadas. Eu fechei meus dedos em volta do punho da minha espada e a puxei para fora – um khopesh pesado com uma lâmina curvada como um ponto de interrogação. Armado com minhas espada e varinha, eu estava pronto para dar um passeio pelo pântano em busca de um monstro faminto. Que alegria!
Entrei na água e imediatamente afundei até os joelhos. O fundo do rio parecia feito de ensopado congelado. A cada passo, meus sapatos faziam sons grosseiros – suck-plop, suck-plop – e eu estava contente que Sadie não estava comigo. Ela nunca pararia de rir.
Pior ainda, fazendo tanto barulho desse jeito, eu sabia que não seria capaz de me esgueirar sorrateiramente atrás de nenhum monstro.
Mosquitos estavam me atacando. De repente eu me senti nervoso e solitário.
Poderia ser pior, eu disse a mim mesmo. Eu poderia estar estudando demônios de queijo.
Mas não consegui me convencer. Num bairro ali por perto, eu ouvi crianças gritando e rindo, provavelmente brincando algum jogo. Eu me perguntei como seria isso – ser uma criança normal, de bobeira com os amigos numa tarde de verão.
A ideia era tão boa que eu me distraí. Não notei as ondulações na água até que há uns quarenta e cinco metros a minha frente alguma coisa subiu à superfície – uma linha de calombos de couro preto esverdeado. Submergiu instantaneamente de novo, mas eu sabia com o que eu estava lidando agora. Eu tinha visto crocodilos antes, e esse era um assustadoramente grande. Lembrei-me de El Paso, no inverno retrasado, quando eu e minha irmã havíamos sido atacados pelo deus crocodilo Sobek. Não era uma boa memória.
O suor escorria pelo meu pescoço.
— Sobek — murmurei — se isso foi você, brincando comigo de novo, eu juro por Rá...
O deus crocodilo havia prometido nos deixar em paz agora que estávamos juntos com seu chefe, o deus sol. Ainda assim... crocodilos ficam com fome. E então, eles tendem a esquecer suas promessas.
Nenhuma resposta da água. A ondulação diminuiu.
Quando se trata de sentir monstros, meus instintos mágicos não são muito afiados, mas a água na minha frente parecia muito mais escura. Isso significava que ou era profunda, ou algo grande estava escondido sob a superfície.
Eu quase esperava que fosse Sobek. Pelo menos, então eu tinha uma chance de falar antes de ele me matar. Sobek gostava de se vangloriar.
Infelizmente, não era ele.
O próximo microssegundo, enquanto a água entrava em erupção em torno de mim, percebi tardiamente que eu deveria ter trazido todo o Vigésimo Primeiro Nomo todo para me ajudar. Eu registrei olhos amarelos brilhantes tão grandes quanto a minha cabeça, o brilho de joias de ouro em volta de um pescoço enorme. Então mandíbulas monstruosas abriram – cumes de dentes tortos e uma extensa área rosada da boca, grande o suficiente para engolir por um caminhão de lixo.
E a criatura me engoliu inteiro.
Imagine ser empacotado à vácuo de cabeça para baixo dentro de um gigantesco e viscoso saco de lixo. Estar na barriga do monstro era assim, só que mais quente e fedorento.
Por um momento, eu estava atordoado demais para fazer qualquer coisa. Não podia acreditar que eu ainda estava vivo. Se a boca do crocodilo fosse menor, ele poderia ter me partido ao meio. Do tamanho que era, ele me engoliu em uma única porção tamanho Carter, então eu poderia apreciar ser digerido lentamente.
Sorte, certo?
O monstro começou a se debater, o que tornava difícil pensar. Eu prendi a respiração, sabendo que poderia ser meu último fôlego. Eu ainda tinha minha espada e varinha, mas não podia usá-los com meus braços presos ao meu lado. Eu não poderia alcançar qualquer uma das coisas na minha bolsa.
O que deixou apenas uma resposta: a palavra de poder. Se eu pudesse pensar no símbolo hieróglifo correto e falar em voz alta, posso convocar alguma força mágica do tipo ira-dos-deuses para explodir um caminho para fora deste réptil.
Em teoria: uma grande solução.
Na prática: Eu não sou tão bom com as palavras de poder, mesmo na melhor das situações. Sufocar dentro de uma escura e fedorenta goela de réptil não estava ajudando a me concentrar.
Você pode fazer isso, eu disse a mim mesmo.
Depois de todas as aventuras perigosas que tive, eu não podia morrer assim. Sadie ficaria arrasada. Então, depois que lidasse com sua dor, ela iria rastrear a minha alma no vida após a morte egípcia e iria me importunar sem piedade pelo quão estúpido eu fui.
Meus pulmões queimavam. Eu estava apagando. Escolhi uma palavra de poder, convoquei toda a minha concentração e me preparei para falar.
De repente, o monstro deu uma guinada para cima. Ele rugiu, o que soava muito estranho por dentro, e sua garganta contraiu em volta de mim como se eu estivesse sendo espremido para fora de um tubo de pasta de dente. Eu fui atirado para fora da boca da criatura e caí na grama do pântano.
De alguma forma, consegui ficar de pé. Cambaleei ao redor, meio cego, ofegante e coberto com gosma de crocodilo, que cheirava a um tanque espumante de peixes.
A superfície do rio fervia com bolhas. O crocodilo havia partido, mas de pé no pântano a cerca de seis metros de distância estava um adolescente em jeans e uma camiseta laranja desbotada que dizia ACAMPAMENTO alguma coisa. Eu não pude ler o resto. Ele parecia mais velho que eu – talvez dezessete anos – com os cabelos negros despenteados e olhos verde-mar. O que realmente me chamou a atenção foi sua espada – uma lâmina reta de dois gumes brilhando com uma tênue luz bronze.
Eu não tenho certeza qual de nós dois estava mais surpreso.
Por um segundo, o Garoto do Acampamento apenas me encarou. Ele notou minhakhopesh e varinha, e eu tive a impressão que ele já havia visto coisas como esta. Mortais normais têm problemas em ver mágica. Seus cérebros não conseguem interpretá-la, então eles, ao invés disso, desviam o olhar para minha espada, e veem um taco de baseball ou uma bengala.
Mas esse garoto... ele era diferente. Eu suspeitei que ele fosse um mago. O único problema é, eu conheço a maioria dos magos dos Nomos da América do Norte, e eu nunca vi esse cara antes. E também nunca vi uma espada como essa. Tudo sobre ele parecia...não-egípcio.
— O crocodilo — Eu disse, tentando manter a voz calma e uniforme. — Para onde ele foi?
O Garoto do Acampamento franziu a testa.
— De nada.
— O quê?
— Eu espetei o crocodilo no traseiro — ele imitou a ação com sua espada — esse foi o motivo de ele ter vomitado você. Então, de nada. O que você está fazendo aqui?
Eu devo admitir que não estava em meu melhor humor. Eu fedia. Estava machucado. E, sim, eu estava um pouco embaraçado: o famoso Carter Kane, chefe da Casa do Brooklyn, havia sido expelido da boca do crocodilo como uma bola de pelo gigante.
— Eu estava descansando — disparei — O que você pensou que eu estava fazendo? Agora, quem é você, e por que você está lutando com o meu monstro?
— Seu monstro? — O cara se arrastou até mim através da água. Ele não pareceu ter problema algum com a lama. — Olha, cara, eu não sei quem é você. Mas este crocodilo vem aterrorizando Long Island por semanas. Eu meio que levei para o lado pessoal, já que essa é minha área. Alguns dias atrás, ele comeu um de nossos pégasos.
Uma onda de choque subiu pela minha espinha como se eu tivesse se apoiado em uma cerca eletrificada.
— Você disse pégaso?
Ele tinha outra questão em mente.
— É seu monstro ou não?
— Eu não sou o dono dele! — rosnei — Eu estava tentando detê-lo! Agora, onde...
— O crocodilo foi por aqui — ele apontou sua espada para o sul. — Eu estaria caçando-o, mas você me surpreendeu.
Ele me avaliou, o que era desconcertante já que ele era mais que dez centímetros mais alto que eu. Eu ainda não podia ler sua camiseta, exceto a palavra ACAMPAMENTO. Em torno de seu pescoço pendia uma tira de couro com algumas contas coloridas de argila, iguais a projetos de artes de crianças. Ele não carregava um pacote mágico ou uma varinha. Talvez ele o guardasse no Duat. Ou talvez fosse apenas um mortal alucinando que tinha acidentalmente encontrado uma espada mágica e pensava que era uma relíquia de um super-herói. Relíquias antigas poderiam realmente mexer com a sua mente.
Finalmente ele sacudiu a cabeça.
— Eu desisto. Filho de Ares? Você tem que ser um meio-sangue, mas o que aconteceu com sua espada? Está toda dobrada.
— É uma khopesh — meu choque estava rapidamente se transformando em raiva. — É para ser curva.
Mas eu não estava pensando sobre a espada. O Garoto do Acampamento havia me chamado de meio-sangue? Talvez eu não tenha ouvido corretamente. Talvez ele quisesse dizer outra coisa. Mas meu pai era afroamericano. Minha mãe era branca. Meio-sangue não era uma palavra que eu gostava.
— Apenas saia daqui — eu disse, rangendo os dentes. — Eu tenho um crocodilo para pegar.
— Cara, eu tenho um crocodilo para pegar — ele insistiu. — Da última vez que você tentou, ele comeu você. Lembra-se?
Meus dedos apertaram ao redor do punho da minha espada.
— Eu tinha tudo sob controle. Eu estava prestes a convocar o punho...
Pelo o que aconteceu a seguir, eu assumo total responsabilidade.
Não foi minha intenção. Honestamente. Mas eu estava com raiva. E como eu posso ter mencionado, nem sempre sou bom em canalizar palavras de poder. Enquanto eu estava na barriga do crocodilo, me preparava para convocar o Punho de Hórus, uma mão azul e brilhante gigante que pode pulverizar portas, paredes, e praticamente qualquer outra coisa que ficar em seu caminho. Meu plano era socar o monstro para abrir uma saída. Bruto, sim, mas esperançosamente eficaz.

Eu acho que aquele feitiço ainda estava em minha cabeça, pronto para ser disparado como uma arma carregada. Encarar o Garoto do Acampamento me deixou furioso, para não mencionar tonto e confuso; por isso quando eu quis dizer a palavra punho em Inglês, saiu em egípcio antigo em vez disso: khefa.
Um hieróglifo um simples:



Você não imagina o quanto de problemas pode causar.
Assim que eu disse a palavra, o símbolo brilhou no ar entre nós. Um punho gigante do tamanho de uma máquina de lavar louça surgiu brilhando e lançou o Garoto do Acampamento para a próxima cidade.
Quer dizer, eu literalmente o soquei para fora de seus sapatos. Ele disparou do rio com um alto suck-plop! E a última coisa que eu vi foi seus pés descalços atingir a velocidade de escape enquanto ele voou para trás e desapareceu de vista.
Não, eu não me senti bem com isso. Bem... talvez um pouquinho. Mas eu também me senti mortificado. Mesmo que o cara fosse um idiota, magos não deveriam sair por aí socando crianças, os colocando em órbita com o Punho de Hórus.
— Oh, ótimo. — Me bati na testa.
Eu comecei a atravessar o pântano, preocupado que eu poderia ter realmente matado o garoto.
— Cara, me desculpe! — gritei, esperando que ele pudesse me ouvir. — Você está...?
A onda veio do nada.
Uma parede de água de 6 metros se chocou em mim e me empurrou de volta ao rio. Eu me levantei confuso, com um gosto horrível de peixe em minha boca. Removi a sujeira dos meus olhos a tempo de ver o Garoto do Acampamento saltando em minha direção no estilo ninja, com a espada levantada.
Eu posicionei minha khopesh para me defender. Só consegui impedir que minha cabeça fosse partida em duas, pois o garoto do acampamento era forte e rápido. Enquanto eu recuava, ele avançava mais e mais. Todas às vezes, eu conseguia desviar, mas eu posso dizer que fui superado. Sua espada era mais leve e rápida, e – sim, eu admito – ele era um melhor espadachim.
Eu queria explicar que foi um acidente. Eu não era o seu inimigo. Mas eu precisei de toda a minha concentração somente para conseguir desviar de raspão.
O Garoto do Acampamento, no entanto, não tinha problema para conversar.
— Agora eu entendi — ele disse, mirando em minha cabeça. — Você é algum tipo de monstro.
CLANG! Eu interceptei o golpe e recuei.
— Eu não sou um monstro — rebati.
Para combater esse cara, eu teria que usar mais que apenas uma espada. O problema era que eu não queria machucá-lo. Apesar do fato de que ele estava tentando me transformar em um sanduiche sabor churrasco Kane, eu ainda me sentia mal por começar a luta.
Ele atacou de novo, e eu não tive escolha. Usei minha varinha dessa vez, pegando sua espada através da curva da varinha e canalizando um pouco de mágica através de seu braço. O ar entre nós piscou e estourou. O Garoto do Acampamento recuou. Faíscas azuis de feitiço piscaram ao redor dele, como se minha magia não soubesse o que fazer com ele. Quem era esse garoto?
— Você disse que o crocodilo era seu — o garoto fez uma careta, com fúria saindo de seus olhos verdes. — Você perdeu seu bichinho de estimação, eu suponho. Talvez você seja um espírito do Mundo Inferior, vindo através das Portas da Morte?
Antes mesmo que eu pudesse processar aquela pergunta, ele estendeu sua mão livre. O rio reverteu seu curso e me fez escorregar.
Eu consegui me levantar, mas estava ficando realmente cansado de beber água lamacenta. Enquanto isso, o Garoto do Acampamento se preparou de novo, com sua espada levantada para matar. No desespero, eu derrubei minha varinha. Coloquei minha mão em minha mochila e meus dedos se fecharam ao redor de um pedaço de corda.
Eu o tirei e gritei a palavra comando “TAS!” – amarrar – enquanto a espada de bronze do Garoto do Acampamento cortava meu pulso.
Meu braço todo se torceu em agonia. Minha visão embaçou. Pontos amarelos dançaram em meus olhos. Deixei cair minha espada e agarrei meu pulso, ofegando por ar, ignorando tudo exceto a dor excruciante.
No fundo do meu consciente, eu sabia que o Garoto do Acampamento podia me matar facilmente. Por alguma razão, ele não matou. A onda de náusea me fez me dobrar.
Eu me forcei a olhar para o ferimento. Havia muito sangue, mas eu lembrei algo que Jaz tinha me contado uma vez na enfermaria da Casa do Brooklyn: cortes costumam parecer muito pior do que eles realmente são. Eu esperava que aquilo fosse verdade. Eu pesquei um pedaço de papiro da minha mochila e o pressionei contra o ferimento como uma bandagem improvisada.
A dor ainda era terrível, mas a náusea tornou-se mais tolerável. Meus pensamentos começaram a clarear e eu me perguntava por que eu ainda não havia sido golpeado.
O Garoto do Acampamento estava sentado nas proximidades, com água até a cintura, parecendo abatido. Minha corda mágica tinha se enrolado ao redor do seu braço que segurava a espada, e então prendeu sua mão ao lado de sua cabeça. Incapaz de soltar a espada ficou parecendo que ele tinha um único chifre de rena brotando próximo à sua orelha. Ele puxou a corda com a mão livre, mas naturalmente ele não poderia fazer nenhum progresso.
Finalmente ele apenas suspirou e olhou para mim.
— Eu realmente estou começando a odiar você.
— Me odiar? — protestei — Eu estou jorrando sangue aqui! E você que começou tudo isso por me chamar de meio-sangue!
— Ahh, por favor — o Garoto Campista levantou vacilante, sua espada antena fazendo-o se desequilibrar. — Você não pode ser mortal. Se você fosse, minha espada deveria ter passado direto, atravessando você. Se você não é um espírito ou um monstro, tem que ser um meio-sangue. Um semideus trapaceiro do exército de Cronos, eu acho.
A maior parte do que esse cara disse, eu não entendi. Mas uma coisa eu entendi.
— Então, quando você disse “meio-sangue”...
Ele olhou para mim como se eu fosse um idiota.
— Eu quis dizer semideus. Sim. O que você acha que eu quis dizer?
Eu tentei processar isso. Eu já tinha ouvido falar do termo semideus antes, mas não era um conceito egípcio. Talvez esse cara estivesse sentindo que eu tive uma ligação com Hórus, que eu poderia canalizar o poder do deus... mas por que ele descrevia tudo isso de forma tão estranha?
— O que você é? — eu perguntei — Meio mágico de combate, meio elementar da água? Com que Nomo você está?
O garoto riu amargamente.
— Cara, eu não sei sobre o que você está falando. Eu não saio com gnomos. Sátiros às vezes. E ciclopes, mas não com gnomos.
A perda de sangue deveria ter me deixado zonzo. As palavras dele se destacavam na minha cabeça como se fossem bolas tiradas na loteria: ciclopes, sátiros, semideuses, Cronos. Mais cedo ele havia mencionado Ares. Este era um deus grego, não egípcio.
Eu senti como se o Duat tivesse se aberto debaixo de mim, tentando me empurrar para as profundezas. Grego... não egípcio.
Uma ideia começou a se formar na minha mente. E eu não gostei dela. Na verdade, isso me assustou muito. Apesar de toda a água do pântano que eu engoli, eu sentia a minha garganta seca.
— Olhe — falei — me desculpe acertar você com aquele feitiço de punho. Foi um acidente. Mas o que eu não entendo... é que aquilo deveria ter te matado. Mas não aconteceu. Isso não faz sentido.
— Não fique tão desapontado — ele murmurou. — Mas, já que estamos falando nisso, você deveria estar morto também. Não há muitas pessoas que podem lutar contra mim tão bem. E a minha espada deveria ter vaporizado o seu crocodilo.
— Pela última vez, ele não é meu crocodilo.
— Certo, tanto faz — o campista olhou desconfiado. — O ponto é que eu atingi o crocodilo num ótimo lugar, mas isso só o fez ficar com raiva. Bronze Celestial deveria ter transformado ele em pó.
— Bronze Celestial?
Nossa conversa foi interrompida por um grito vindo das proximidades – a voz aterrorizada de uma criança.
Meu coração se apertou. Eu era realmente um idiota. Eu tinha esquecido o motivo de nós estarmos aqui. Eu olhei para o Campista.
— Nós temos que parar o crocodilo.
— Trégua — ele sugeriu.
— Sim — eu respondi. — Nós podemos continuar tentando matar um ao outro depois de cuidar do crocodilo.
— Fechado. Agora, você pode, por favor, desamarrar a minha mão da minha cabeça? Eu estou me sentindo como um unicórnio esquisito.
Eu não direi que confiávamos um no outro, mas agora, ao menos, tínhamos uma causa comum. Ele convocou seus sapatos para fora do rio – eu não tinha ideia como – e os colocou. Então me ajudou a enfaixar a minha mão com uma tira de linho e esperou enquanto eu bebia metade da minha poção de cura.
Depois disso, eu me senti bem o suficiente para correr atrás dele em direção ao som dos gritos.
Eu achava que estava muito bem fisicamente – com a prática do combate magico, carregando artefatos pesados e jogando basquete com Khufu e seus amigos babuínos (não mexa com babuínos quando se tratar de aros). Porém, eu tinha que me esforçar muito para acompanhar o Garoto do Acampamento.
O que me lembrou, eu estava ficando cansado de chamá-lo assim.
— Qual o seu nome? — perguntei, arquejando enquanto eu corria atrás dele.
Ele me olhou cauteloso.
— Eu não tenho certeza se devo te contar. Nomes podem ser perigosos.
Ele estava certo, é claro. Nomes tinham poder. Um tempo atrás, minha irmã, Sadie, aprendeu o meu ren, meu nome secreto, e isso ainda me causa muita aflição. Mesmo com o nome comum de alguém, um mágico habilidoso poderia realizar vários tipos de danos.
— É justo. Eu direi primeiro. Sou Carter.
Acho que ele acreditou em mim. As linhas ao redor dos seus olhos relaxaram um pouco.
— Percy — ele respondeu.
Isso soou para mim como um nome incomum – britânico, talvez, embora o garoto tenha falado e agido muito como um americano.
Nós pulamos um tronco podre e finalmente saímos do pântano. Começamos então a subir por uma encosta gramada em direção as casas próximas quando eu me dei conta de que mais de uma voz estava gritando lá em cima agora. Não era um bom sinal.
— Apenas avisando — falei para Percy — você não pode matar monstros.
— Apenas me observe — Percy resmungou.
— Não, eu quero dizer que eles são imortais.
— Eu já ouvi isso antes. Eu tenho vaporizado uma porção de imortais e os enviado de volta para o Tártaro.
Tártaro?, pensei.
Conversar com Percy estava me dando uma forte dor de cabeça. Isso me lembrava da vez em que meu pai me levou para a Escócia para mais uma de suas palestras sobre egiptologia. Eu tentei falar com alguns dos locais e eu sabia que eles falavam inglês, mas em muitas das sentenças havia uma diferença na linguagem – palavras e pronunciações diferentes – e eu me perguntava, o que raios eles estavam falando. Percy era assim. Ele e eu quase falávamos a mesma linguagem – magia, monstros, etc. Mas o seu vocabulário era totalmente errado.
— Não — tentei novamente. — Este monstro é um petsuchos, um filho de Sobek.
— Quem é Sobek? — ele perguntou.
— Senhor dos crocodilos, um deus egípcio.
Isso o fez parar. Ele me encarou, e eu podia jurar que o ar entre nós se tornou eletricidade. Uma voz, bem no fundo da minha cabeça me disse: Cale a boca. Não conte mais nada para ele.
Percy olhou de relance para a kopesh que eu tinha recuperado do rio e depois para a varinha no meu cinto.
— Sério, de onde você é?
— Originalmente? — perguntei. — Los Angeles. Agora eu vivo no Brooklyn.
Aquilo pareceu não o ter feito se sentir muito melhor.
— Então, este monstro, Pé-de-Suco ou qualquer coisa assim...
— Petsuchos — corrigi. — É uma palavra grega, mas o monstro é egípcio. Era como a mascote do templo de Sobek, venerado como um deus vivo.
Percy grunhiu.
— Você fala como a Annabeth.
— Quem?
— Ninguém. Apenas esqueça a aula de história. Como nós matamos aquilo?
— Eu já lhe disse...
De cima veio outro grito, seguido de um sonoro CRUNCH, como o som emitido por um compactador de metal.
Nós corremos para o topo da colina, pulamos a cerca do quintal de alguém e chegamos direto para uma área residencial sem saída.
Exceto pelo crocodilo gigantesco no meio da rua, aquela vizinhança poderia ser de qualquer lugar nos Estados Unidos. Havia meia dúzia de casas de único andar, com carros econômicos nas garagens, caixas de correios na calçada e bandeiras nas varandas.
Infelizmente, a cena totalmente americana estava arruinada pelo monstro, que estava ocupado comendo um Prius verde que possuía um adesivo no para-choque em que se liaMEU POODLE É MAIS ESPERTO DO QUE O SEU ESTUDANTE DE HONRA. Talvez opetsuchos pensasse que o Toyota era outro crocodilo, e ele estava afirmando sua dominância. Talvez ele também não gostasse de poodles ou estudantes de honra.
Em todo o caso, na terra o crocodilo parecia muito mais assustador do que aparentava dentro da água. Ele tinha cerca de 12 metros de comprimento, tão alto quando um caminhão, com uma cauda tão maciça e poderosa que virava carros toda vez que balançava. Sua pele brilhava em verde escuro e escorria água que se acumulava em poças embaixo de seus pés.
Eu me lembro de Sobek ter me dito que seu suor divino tinha originado os rios do mundo. Eca. Imaginei que esse monstro tinha o mesmo suor sagrado. Duplo eca.
Os olhos da criatura emitiam um fraco brilho amarelo. Seus dentes brancos e irregulares brilhavam. Mas a coisa mais estranha sobre ele era seu brilho. Ao redor de seu pescoço pendia uma elaborada corrente de ouro e pedras preciosas suficientes para se comprar uma ilha privada.
O colar era o que me havia feito perceber que o monstro era um petsuchos lá no pântano. Eu tinha lido que o animal sagrado de Sobek usava algo parecido no Egito, embora o que o monstro estava fazendo em um bairro de Long Island, eu não tinha ideia.
Quando que Percy e eu entramos em cena, o crocodilo fechou a mandíbula e partiu o Prius verde em dois, espalhando vidro, metal e pedaços de airbags através dos gramados.
Assim que ele deixou cair os destroços do carro, meia dúzia de crianças apareceu do nada – aparentemente estavam se escondendo atrás de algum dos outros carros – e perseguiram o monstro, gritando o máximo que seus pulmões aguentavam.
Eu não podia acreditar. Eles eram apenas crianças em idade da pré-escolar, armados com nada mais que balões e armas de água. Imaginei que estivessem em férias de verão e estavam se refrescando com uma guerra de água quando o monstro os interrompeu.
Não havia adultos nas redondezas. Talvez todos estivessem trabalhando. Ou talvez estivessem dentro das casas, desmaiados de susto.
As crianças aparentavam sentir mais raiva do que medo. Elas corriam em volta do crocodilo, arremessando balões d’água que estouravam inofensivamente contra a couraça do monstro.
Inútil e estúpido? Sim. Mas eu não poderia deixar de admirar sua bravura. Eles estavam fazendo o seu melhor para derrubar um monstro que havia invadido o seu bairro.
Talvez eles não vissem o crocodilo do jeito que era. Talvez seus cérebros mortais fizessem com que eles pensassem ser um elefante que escapou do zoológico, ou um entregador do Fedex enlouquecido com um desejo de morte.
Seja lá o que for que estavam vendo, estavam em perigo.
Minha garganta se fechou. Pensei em meus iniciados na Casa do Brooklyn, que não eram mais velhos que essas crianças, e meu instinto de “irmão mais velho protetor” entrou em ação. Eu corri para a rua, gritando.
— Saiam de perto disto! Corram!
Então atirei minha varinha direto na cabeça do crocodilo.
— Sa-mir.
Acertei bem no focinho do crocodilo, então luzes azuis ondularam pelo seu corpo. Por toda a pele do monstro, o hieróglifo para dor cintilou:


Em todo lugar que o símbolo apareceu, a pele do monstro soltou fumaça e estralou, fazendo o monstro se contorcer todo em aborrecimento.
As crianças se espalharam, se escondendo atrás de carros e caixas de correio arruinadas. O petsuchos virou seus brilhantes olhos amarelos para mim.
Ao meu lado, Percy assobiou baixinho,
— Bem, você conseguiu a atenção dele.
— É.
— Você tem certeza que não podemos matar aquilo? — ele perguntou.
— Sim.
O animal parecia estar acompanhando nossa conversa, alternando seus olhos amarelos entre nós, como se decidindo qual de nós comer primeiro.
— Mesmo se você pudesse destruir seu corpo — eu disse — ele apenas iria reaparecer em algum lugar próximo. Aquele colar? É encantado com o poder de Sobek. Para vencê-lo nós temos que arrancar aquele colar do pescoço. Então o petsuchos deverá encolher de volta para um crocodilo normal.
— Eu odeio a palavra deverá — Percy murmurou. — Está certo, eu dou um jeito no colar. Você tenta manter ele ocupado.
— Por que eu tenho que o manter distraído?
— Porque você é o mais irritante. Apenas tente não ser comido de novo.
— ROOOAR! — o monstro gritou, seu bafo parecendo o lixo de um restaurante de frutos do mar.
Eu ia discutir de que Percy era bem irritante também, mas não tive chance. O petsuchosatacou, e meu novo irmão em armas correu para um lado, me deixando bem no meio do caminho de destruição.
Meu primeiro pensamento foi: Ser comido duas vezes em um dia será bastante vergonhoso.
Com o canto do meu olho, pude ver Percy mergulhando em direção ao flanco direito do crocodilo. Eu ouvi as crianças mortais saindo de seus esconderijos, gritando e atirando mais balões de água como se estivessem tentando me proteger.
petsuchos veio pesadamente em minha direção, com suas mandíbulas abertas para me abocanhar.
E eu fiquei bravo. Eu tinha enfrentado os piores deuses egípcios. Entrei no fundo do Duat e caminhei pela terra de demônios. Eu estive nas próprias margens do oceano do caos. não iria recuar para um lagarto supercrescido.
O ar estralou com poder enquanto meu avatar de combate se formava ao redor – um brilhante exoesqueleto azul na forma de Hórus.
Eu fui tirado do chão até que eu estava no meio de um guerreiro com cabeça de falcão a seis metros de altura. Dei um passo a frente, me apoiando, e o avatar imitou exatamente os meus movimentos.
Percy gritou:
— Santa Hera! O que é...?
E o crocodilo bateu em mim.
Ele quase me derrubou com suas mandíbulas fechadas ao redor do braço livre do meu avatar, mas eu desci a espada azul brilhante do meu guerreiro falcão em cima do pescoço do crocodilo.
Talvez o petsuchos realmente não pudesse ser morto. Eu estava pelo menos esperando poder cortar fora o colar, que era a fonte do seu poder.
Infelizmente minha lâmina passou longe. Acertei o monstro no ombro, cortando seu couro. No lugar de sangue, ele jorrou areia, o que é bastante típico de monstros egípcios. Eu iria apreciar vê-lo desintegrar completamente, mas não tive tal sorte. Assim que puxei minha espada para liberdade, a ferida começou a cicatrizar e a areia se reduziu a quase nada. O crocodilo balançou a cabeça para todos os lados, me tirando do chão e me balançando como um cachorro com um brinquedo de mastigar.
Quando ele me soltou, eu sai voando para a casa mais próxima e entrei pelo telhado, deixando uma cratera com formato de guerreiro falcão na sala de estar de alguém. Eu esperava apenas não ter achatado nenhum mortal enquanto assistiam Dr. Phill.
Quando minha visão clareou, eu vi duas coisas que me irritaram. Primeiro, o crocodilo estava correndo em minha direção novamente. Segundo, meu novo amigo Percy estava parado no meio da rua, me encarando totalmente chocado.
Aparentemente meu avatar de combate tinha o assustado tanto que ele havia esquecido sua parte no plano.
— Mas que coisa assustadora é essa? — ele exigiu — Você estava dentro de um brilhante homem-galinha gigante!
— Falcão! — gritei.
Eu decidi que se eu sobrevivesse a esse dia, eu iria dar um jeito de nunca o deixar conhecer Sadie. Eles provavelmente iriam se revezar em me insultar pelo resto da eternidade.
— Uma pequena ajudinha aqui?
Percy descongelou e correu em direção à criatura. Com o monstro chegando perto, eu o chutei no focinho, o que o fez espirrar e balançar sua cabeça longe o suficiente para eu me livrar da casa em ruínas.
Então Percy pulou na cauda da criatura e correu pela sua coluna. O monstro se debatia, sua pele vertendo água por todo lado, mas de algum jeito Percy conseguiu ficar no lugar. O cara deve ter praticado ginástica ou alguma coisa assim.
Enquanto isso, as crianças mortais tinha encontrado uma munição melhor – pedras, sucata do carro destruído, até mesmo uns pedaços de ferro – e estavam lançando as coisas no monstro. Eu não queria que o crocodilo voltasse sua atenção para eles.
— EI!
Eu balancei minha kopesh na cara do bicho – um bom ataque solido que deveria ter arrancado o maxilar inferior, mas ele de alguma maneira se desviou da lâmina e a abocanhou. Nós acabamos lutando pela espada azul enquanto ele chiava com a boca, fazendo seus dentes se desmancharem em areia. Aquilo não poderia ter sido bom, mas o crocodilo aguentou firme, puxando contra mim.
— Percy! — gritei — quando você quiser!
Percy se atirou até o colar. Ele o agarrou e começou a cortar os elos de ouro, mas a sua espada de bronze sequer fez um arranhão. Enquanto isso o crocodilo enlouquecia tentando arrancar a espada da minha mão. E meu avatar de combate começou a tremer.
A invocação de avatar é uma coisa a curto prazo, como correr em velocidade máxima. Você não consegue fazer durar muito, se não entra em colapso. Neste momento eu já estava suando e respirando com dificuldade. Meu coração disparou, meus reservatórios de magia estavam sendo dizimados.
— Rápido — eu disse para Percy.
— Eu não consigo cortar isso!
— Um fecho — falei. — Tem que haver um.
Assim que eu disse isso, o vi – na garganta do monstro, um cartucho de ouro circundado com hieróglifos que soletravam SOBEK.
— Está lá, na parte de trás!
Percy desceu pelo colar, escalando-o como uma rede, mas nesse momento meu avatar entrou em colapso. Eu caí ao chão, exausto e tonto. A única coisa que salvou minha vida foi que o crocodilo estava puxando a espada do meu avatar. Quando a espada desapareceu, o monstro cambaleou para trás e tropeçou em um Honda.
As crianças mortais dispersaram. Uma mergulhou debaixo de um carro, só para que o carro desaparecesse – atirado ao ar pela cauda do crocodilo.
Percy chegou à parte de trás do colar e se segurou com se sua vida dependesse disso. Sua espada tinha ido embora. Provavelmente ele a tinha deixado cair.
Enquanto isso, o monstro recuperou o equilíbrio. A boa notícia: ele não pareceu notar Percy. A má notícia: ele definitivamente me notou e pareceu extremamente bravo.
Eu não tinha a energia para correr, muito menos para convocar mágica para lutar. Neste ponto, as crianças mortais com seus balões de água e rochas tinham mais chance de deter o crocodilo do que eu.
À distância, sirenes soaram. Alguém chamou a polícia, o que não exatamente me animava. Isso só significava que mais mortais se dirigiam para cá o mais rápido que poderiam para se voluntariar como lanches.
Recuei até a calçada e tentei – ridiculamente – olhar o monstro.
— Quieto rapaz.
O crocodilo rosnou. Sua pele verteu água, como a mais grosseira fonte no mundo, fazendo meus sapatos chapinharem enquanto eu caminhava. Seus olhos amarelos-lâmpada me acompanhavam, talvez brilhando de felicidade. Ele sabia que eu estava acabado.
Enfiei minha mão na mochila. A única coisa que eu encontrei foi um pedaço de cera. Eu não tinha tempo para construir um shabti apropriado, mas não tinha ideia melhor. Larguei minha mochila e comecei a amassar furiosamente a cera com ambas as mãos, tentando amolecê-la.
— Percy? — chamei.
— Não consigo destrancar o fecho! — ele gritou.
Eu não ousava tirar os olhos do crocodilo, mas na minha visão periférica eu podia ver Percy batendo o punho contra a base do colar.
— Algum tipo de mágica?
Essa foi a coisa mais inteligente que ele disse durante toda a tarde (não que ele havia dito um monte de coisas inteligentes para que eu pudesse escolher). O fecho era um cartucho de hieróglifos. Seria preciso um mago para entendê-lo e abri-lo. O que quer ou quem quer Percy fosse, ele não era um mago.
Eu ainda estava moldando o pedaço de cera, tentando transformá-la em uma estatueta, quando o crocodilo decidiu parar de saborear o momento e apenas me comer. Quando ele pulou, eu joguei meu shabti, apenas metade formado, e rosnei uma palavra de comando.
Instantaneamente o hipopótamo mais deformado do mundo ganhou vida em pleno ar. Ele partiu de cabeça na narina esquerda do crocodilo e se alojou lá, chutando com suas curtas pernas traseiras.
Não foi exatamente o meu melhor movimento tático, mas ter um hipopótamo chutando o seu nariz deveria ser distração suficientemente. O crocodilo silvou e tropeçou, sacudindo a cabeça, enquanto Percy pulou e rolou para longe, mal evitando ser pisoteando pelos pés do crocodilo. Ele correu para se juntar a mim na calçada.
Eu olhei com horror como minha criatura de cera, agora um vivo (embora muito disforme) hipopótamo, tentou se livrar da narina do crocodilo ou buscou um caminho ainda mais fundo através da cavidade nasal do réptil – eu não tinha certeza qual.
O crocodilo girava em circulo e Percy agarrou-me na hora certa, me puxando para fora do caminho.
Nós corremos para a saída oposta do beco sem saída, onde as crianças mortais haviam se reunido. Surpreendentemente, nenhuma delas parecia estar ferida. O crocodilo manteve-se debatendo e acabando com casas, enquanto tentava limpar a sua narina.
— Você está bem? — Percy me perguntou.
Eu respirei em busca de ar, mas acenei com a cabeça fracamente.
Um dos garotos me ofereceu sua pistola d’água. Eu dispensei com um aceno.
— Vocês — Percy disse às crianças — ouvem aquelas sirenes? Vocês tem que descer a estrada e parar a polícia. Diga-lhes que é muito perigoso aqui em cima. Enrolem eles!
Por alguma razão, as crianças escutavam. Talvez estivessem apenas felizes por terem algo a fazer, mas, da forma como Percy falou, eu tenho a sensação de ele estava acostumado animar tropas em desvantagem. Ele soou um pouco como Hórus – um comandante natural.
Depois que as crianças saíram correndo, eu consegui dizer:
— Boa ideia.
Percy assentiu tristemente. O crocodilo ainda estava distraído por seu intruso nasal, mas eu duvidava que o shabti fosse durar muito mais tempo. Sob essa quantidade de estresse, o hipopótamo iria em breve derreter de volta em cera.
— Você tem algumas jogadas, Carter — Percy admitiu. — Qualquer outra coisa em seu saco de truques?
— Nada — eu disse tristemente — fiquei sem nada. Mas se eu puder chegar àquele fecho, acho que posso abri-lo.
Percy avaliou o petsuchos. O beco sem saída estava se enchendo de água que vertia da pele do monstro. As sirenes estavam ficando mais altas. Nós não tínhamos muito tempo.
— Acho que é a minha vez de distrair o crocodilo. Prepare-se para correr até aquele colar.
— Você não tem sequer a sua espada — eu protestei. — Você vai morrer!
Percy deu um sorriso torto.
— Apenas corra para lá assim que começar.
— Assim que o quê começar?
Em seguida, o crocodilo espirrou, lançando o hipopótamo de cera através de Long Island. Opetsuchos voltou-se para nós, rugindo com raiva, e Percy avançou diretamente para ele.
Enquanto ele saia, eu não precisei perguntar que tipo de distração Percy tinha em mente. Depois que começou, era bastante óbvio.
Ele parou em frente ao crocodilo e levantou os braços. Eu imaginei que ele estava planejando algum tipo de magia, mas ele não dizia nenhuma palavra de comando. Ele não tinha cajado ou varinha. Ele apenas ficou parado lá e olhou para o crocodilo como se quisesse dizer: Estou aqui! Eu sou gostoso!
O crocodilo parecia momentaneamente surpreendido. Se nada desse certo, nós morreríamos sabendo que tínhamos confundido o monstro muitas e muitas vezes.
O suor do crocodilo continuava a cair de seu corpo. O material salobro subia até a calçada agora, até nossos tornozelos. Escorria pelos bueiros, mas apenas continuava derramando da pele do crocodilo.
Então eu vi o que estava acontecendo. Enquanto Percy levantava os braços, a água começou a rodopiar no sentido anti-horário. Começou ao redor dos pés do crocodilo e rapidamente ganhou velocidade até que o redemoinho abrangeu todo o beco sem saída, girando forte o suficiente para que eu pudesse sentir me puxando para o lado.
No momento em que eu percebi que seria melhor começar a correr, a corrente já estava muito rápida. Eu tinha que alcançar o colar de alguma outra forma.
Um último truque, pensei.
Eu temia que o esforço pudesse, literalmente, me consumir, mas eu invoquei o meu pedaço final de energia mágica e me transformei em um falcão – o animal sagrado de Hórus.
Instantaneamente, minha visão ficou cem vezes mais nítida. Eu disparei para cima, acima dos telhados, e o mundo inteiro mudou para 3D em alta definição. Eu vi os carros da polícia a poucos quarteirões de distância, as crianças de pé no meio da rua, atrasando-os. Eu poderia contar cada protuberância e poro viscoso no couro do crocodilo. Eu conseguia ver cada hieróglifo naquele fecho do colar. E podia ver o quão impressionante era o truque de mágica de Percy.
Todo o beco sem saída estava envolto em um furacão. Percy estava na borda, impassível, mas a água estava agitando tão rápido agora que até mesmo o crocodilo gigante perdia o equilíbrio. Carros destruídos raspavam ao longo do pavimento. Caixas de correio foram retirados dos gramados e varridos. A água aumentou em volume, bem como a velocidade, subindo e transformando a vizinhança inteira em uma centrífuga líquida.
Foi a minha vez de ficar chocado. Alguns momentos atrás, eu tinha decidido que Percy não era mágico. No entanto, eu nunca tinha visto um mágico que podia controlar tanta água.
O crocodilo tropeçou e debateu-se, arrastado em um círculo com a corrente.
— A qualquer momento — Percy murmurou com os dentes cerrados.
Sem a minha audição de falcão, eu nunca o teria ouvido falar em meio à tempestade, mas eu percebi que ele estava falando comigo.
Lembrei-me de que eu tinha um trabalho a fazer. Ninguém, mágico ou qualquer outro, poderia controlar esse tipo de poder por muito tempo.
Eu dobrei minhas asas e mergulhei para o crocodilo. Quando alcancei o fecho do colar, voltei a ser humano e me agarrei. Em toda a minha volta, o furacão rugia. Eu mal podia ver através do redemoinho de névoa. A corrente estava tão forte agora que puxava minhas pernas, ameaçando me puxar para o dilúvio.
Eu estava tão cansado. Eu não havia me sentido ultrapassando os meus limites desde que eu tinha lutado com o Senhor do Caos, o próprio Apófis. Passei a mão sobre os hieróglifos no fecho. Tinha que haver um código para destravá-lo.
O crocodilo urrou e pisoteou, lutando para se manter em pé. Em algum lugar à minha esquerda, Percy gritou de raiva e frustração, tentando manter a tempestade, mas o redemoinho estava começando a diminuir.
Eu tinha poucos segundos, na melhor das hipóteses, até o crocodilo ficar livre e atacar. Então Percy e eu iríamos estar mortos.
Eu senti os quatro símbolos que compõe o nome do deus:


O último símbolo não chegava a representar um som, eu sabia. Era o hieróglifo pra deus, indicando que as letras em frente dele – SBK – era o nome de uma divindade.
Quando estiver em dúvida, pensei, aperte o botão deus.
Eu empurrei o quarto símbolo, mas nada aconteceu.
A tempestade estava falhando. O crocodilo começou a virar contra a corrente, de frente para Percy. Com o canto do meu olho, através da névoa e nevoeiro, vi Percy cair em um joelho.
Meus dedos passaram sobre o terceiro hieróglifo – a cesta de vime (Sadie sempre o chamou de “xícara de chá”) isso representava o som de K. O hieróglifo parecia levemente quente ao toque – ou era minha imaginação? Sem tempo para pensar, eu o pressionei. Nada aconteceu.
A tempestade morreu. O crocodilo urrou em triunfo, pronto para se alimentar.
Eu soquei o hieróglifo de cesta de vime com toda minha força. Nesse momento o fecho fez um click satisfatório e saltou, abrindo.
Eu caí na calçada, e várias centenas de quilos de ouro e pedras preciosas derramaram-se em cima de mim.
O crocodilo cambaleou, rugindo como as armas de um navio de guerra. O que restou do furacão se espalhou em uma explosão de vento, e eu fechei os olhos, pronto para ser esmagado pelo corpo de um monstro em queda.
De repente, o beco sem saída ficou em silêncio. Nenhuma sirene. Nenhum rugir de crocodilo. O monte de joias de ouro desapareceu. Eu estava deitado de costas na água suja, olhando para o céu azul vazio.
O rosto de Percy apareceu em cima de mim. Parecia que ele tinha acabado de correr uma maratona através de um tufão, mas ele estava sorrindo.
— Bom trabalho. Conseguiu o colar.
— O colar?
Meu cérebro ainda estava lento. Onde havia ido todo aquele ouro? Sentei-me e coloquei minha mão sobre a calçada. Meus dedos se fecharam em volta do fio de joias, agora de tamanho normal... bem, pelo menos normal para algo que poderia caber em volta do pescoço de um crocodilo de tamanho comum.
— O... o monstro — gaguejei. — Onde...?
Percy apontou. A poucos metros de distância, parecendo muito descontente, estava um bebê crocodilo com quase um metro de comprimento.
— Você não pode estar falando sério.
— Talvez fosse bicho de estimação abandonado de alguém? — Percy encolheu os ombros. — Você ouve sobre isso no noticiário às vezes.
Eu não conseguia pensar em uma explicação melhor, mas como um bebê crocodilo conseguiu pegar um colar que o transformou em uma máquina de matar gigante?
Descendo a rua, vozes começaram a gritar.
— Aqui! Tem dois garotos lá!
Eram as crianças mortais. Aparentemente eles decidiram que o perigo tinha passado. Agora eles guiavam a polícia direto para nós.
— Nós temos que ir — Percy pegou o bebê crocodilo, cerrando uma das mãos em volta do pequeno focinho. Ele olhou para mim. — Você vem?
Juntos, corremos de volta para o pântano.


Meia hora depois, estávamos sentados em um restaurante fora da estrada de Montauk. Divido o resto da minha poção de cura com Percy, que por algum motivo insistiu em chamá-la de néctar. A maior parte das nossas feridas já estava curada.
Amarramos o crocodilo na floresta com uma coleira improvisada, apenas até decidirmos o que fazer com ele. Limpamos-nos o melhor que pudemos, mas ainda parecia que tomamos banho em um lava rápido defeituoso. O cabelo de Percy estava escorrido para um lado e embaraçado com pedaços de grama. Sua camiseta laranja estava rasgada na frente.
Tenho certeza de que eu não estava muito melhor. Tinha água nos meus sapatos, e ainda estava tirando penas de falcão das mangas da minha camiseta (transformações apressadas podem ser bagunçadas).
Estávamos exaustos demais para falar enquanto assistíamos o noticiário na televisão acima do balcão. Policiais e bombeiros respondiam a uma ocorrência envolvendo um estranho acidente no esgoto da vizinhança. Aparentemente houve um aumento de pressão nos canos de drenagem, causando uma explosão massiva no solo, o que desencadeou inundações e uma erosão tão grave que algumas casas no beco sem saída desabaram. Era um milagre que nenhum morador ficou ferido. Crianças nas redondezas contaram algumas histórias estranhas sobre um Monstro do Pântano de Long Island, afirmando que ele causou todo esse dano durante uma luta com dois adolescentes, mas é claro que a polícia não acreditou neles. O repórter admitiu, no entanto, que as casas afetadas tinham a aparência de que “algo muito grande se sentou sobre elas”.
— Um estranho acidente de esgoto — disse Percy. — Esse é o primeiro.
— Para você, talvez – resmunguei – Parece que eles me acompanham onde quer que eu vá.
— Anime-se. O almoço é por minha conta.
Ele vasculhou os bolsos da calça jeans e tirou uma caneta esferográfica. Nada mais.
— Oh... — ele sorriu envergonhado — Uh, na verdade... Você pode conjurar dinheiro?
Então, naturalmente, o almoço ficou por minha conta. Eu podia retirar dinheiro do ar, desde que mantivesse algum guardado no Duat com meus outros suprimentos de emergência, então em um instante tínhamos cheeseburgers e fritas à nossa frente, então as coisas estavam melhorando.
— Cheeseburgers — Percy disse — comida dos deuses.
— Concordo — falei.
Mas quando olhei para ele, me perguntei se ele estava pensando o mesmo que eu: que estávamos nos referindo a deuses diferentes.
Percy cheirou seu hambúrguer. Sério, esse cara podia comer.
— Então, o colar — ele disse entre as mordidas. — Qual é a história?
Eu hesitei. Continuava sem pistas sobre de onde Percy veio ou o que ele era, e eu não tinha certeza se queria perguntar. Agora que lutamos juntos, eu não poderia deixar de confiar nele. Ainda assim, eu sentia que estávamos pisando em terreno perigoso. Tudo o que dissermos pode ter sérias implicações – não apenas para nós dois, mas talvez para todos os que conhecemos.
Senti como se estivesse há dois invernos atrás, quando meu tio Amós contou a verdade sobre a herança da família Kane – A Casa da Vida, os deuses egípcios, o Duat, tudo. Em um único dia, meu mundo ampliou-se dez vezes mais e me deixou em choque.
Agora eu estava de frente com outro momento desses. Mas se meu mundo expandisse dez vezes mais de novo eu tinha medo de que meu cérebro explodisse.
— O colar é encantado – eu disse por fim. — Qualquer réptil que usá-lo se tornará o próximo petsuchos, o Filho de Sobek. De alguma maneira, aquele pequeno crocodilo usava isso ao redor do pescoço.
— O que significa que alguém colocou em volta do pescoço dele — Percy disse.
Eu não queria pensar nisso, mas assenti com relutância.
— Então quem?
— Difícil de reduzir a lista. Tenho muitos inimigos.
Percy bufou.
— Eu entendo isso. Alguma ideia do por que, então?
Dei outra mordida no meu cheeseburger. Estava bom, mas eu tinha problemas em me concentrar nele.
— Alguém que queira causar confusão — especulei — Talvez...
Estudei Percy, tentando julgar o quanto eu deveria dizer.
— Talvez eles quisessem causar problemas para chamar nossa atenção. De nós dois.
Percy franziu a testa. Ele desenhou algo em seu ketchup com uma batata frita – não um hieróglifo. Algum tipo de linguagem não inglesa. Grego, eu acho.
— O monstro tinha um nome grego — ele disse — Estava comendo pégaso em meu... — ele hesitou.
— Na sua casa própria casa — eu terminei. — Algum tipo de acampamento, a julgar pela sua camiseta.
Ele mudou de posição em seu banco de bar. Eu ainda não conseguia acreditar que ele estava falando sobre pégasos como se eles fossem reais, mas eu lembrei de um dia na Casa do Brooklin, talvez há um ano atrás, quando eu certamente vi um cavalo alado voar pelo horizonte de Manhattan. Na época, Sadie disse que eu estava alucinando. Agora, não teria tanta certeza.
Percy finalmente me encarou.
— Olha, Carter. Você não é tão chato como eu pensava. E nós formamos um bom time hoje, mas...
— Você não quer dividir seus segredos. Não se preocupe. Eu não vou perguntar sobre o seu acampamento. Ou dos poderes que você tem. Ou nada disso.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Você não está curioso?
— Estou completamente curioso. Mas até descobrirmos o que está acontecendo, acho melhor mantermos certa distância. Se alguém – alguma coisa – soltou aquele monstro aqui, sabendo que atrairia a atenção de nós dois...
— Então talvez essa pessoa quisesse que nos conhecêssemos — ele terminou — Esperando que coisas más acontecessem.
Franzi a sobrancelha. Pensei sobre o desconforto que senti em meu estômago mais cedo – a voz em minha cabeça me alertando para não contar nada a Percy. Passei a respeitar o garoto, mas ainda sentia que não deveríamos ser amigos. Nós não fomos feitos para estar em qualquer lugar perto um do outro.
Há muito tempo atrás, quando eu era apenas uma criança, eu vi minha mãe fazer um experimento científico com alguns de seus alunos da universidade.
Potássio e água, ela disse a eles. Separados, completamente inofensivos. Mas juntos...” Ela jogou o potássio em um copo de água, e kabum! Os alunos saltaram para trás quando uma miniexplosão balançou todos os frascos no laboratório. Percy era a água. Eu era o potássio.
— Mas agora nós nos conhecemos — Percy falou. — Você sabe que eu estou aqui em Long Island. Eu sei que você mora no Brooklyn. Se nós formos procurar um ao outro...
— Eu não recomendaria isso. Não até sabermos mais. Preciso procurar algumas coisas no, uh, meu lado, para tentar descobrir quem estava por trás deste incidente do crocodilo.
— Tudo bem — Percy concordou. — Eu vou fazer o mesmo do meu lado.
Ele apontou para o colar petsuchos, que estava brilhando dentro da minha mochila.
— O que vamos fazer sobre isso?
— Eu posso enviá-lo para um lugar seguro — eu prometi. — Ele não vai causar problemas novamente. Nós lidamos com muitas relíquias como esta.
— Nós — Percy repetiu. — Ou seja, há um monte de... vocês?
Eu não respondi.
Percy levantou as mãos as mãos.
— Tudo bem. Eu não perguntei nada. Eu tenho alguns amigos no aca... uh no meu lado que adorariam mexer com um colar mágico como este, mas eu vou confiar em você nisto. Pegue-o.
Eu não sabia que eu estava segurando a minha respiração até que eu a soltei.
— Obrigado. Bom.
— E o bebê crocodilo? — perguntou.
Soltei uma risada nervosa.
— Você quer?
— Deuses, não — ele respondeu.
— Eu posso levá-lo, dar-lhe uma boa casa.
Eu pensei na nossa enorme piscina na casa do Brooklyn. Gostaria de saber como o nosso crocodilo mágico gigante, Filipe da Macedônia, se sentiria em ter um amiguinho.
— Sim, ele vai se encaixar bem.
Percy parecia não saber o que pensar sobre isso.
— Ok, bem... — ele estendeu a mão. — Foi bom trabalhar com você, Carter.
Nós apertamos as mãos. Nenhuma faísca voou. Nenhum trovão ressoou. Mas eu ainda não podia escapar da sensação de que tínhamos aberto uma porta, nos encontrando assim – uma porta que podemos não ser capazes de fechar.
— Com você também, Percy.
Ele se levantou para sair.
— Só mais uma coisa — disse ele. — Se este alguém, que nos juntou... se ele é um inimigo em comum... o que faremos se precisarmos um do outro para lutar contra ele? Como entro em contato com você?
Eu considerei isso. Então tomei uma decisão precipitada.
— Posso escrever algo em sua mão?
Ele franziu a testa.
— Como o número do seu telefone?
— Uh... Bem, não exatamente.
Peguei minha caneta e um frasco de tinta mágica. Percy estendeu a palma da mão. Eu desenhei um hieróglifo lá – o Olho de Hórus. Assim que o símbolo estava completo, queimou em azul, depois desapareceu.
— Apenas diga meu nome — eu disse a ele — e eu vou ouvi-lo. Eu vou saber onde você está, e vou encontrá-lo. Mas só vai funcionar uma vez, então tome cuidado.
Percy considerou a palma da mão vazia.
— Estou confiando em você que isso não é algum tipo de dispositivo de rastreamento mágico.
— Sim. E eu estou confiante de que quando você me chamar, não estará me atraindo para algum tipo de emboscada.
Ele olhou para mim. Aqueles olhos verdes tempestuosos eram realmente um pouco assustadores. Então, ele sorriu, e ele parecia um adolescente normal, sem nenhuma preocupação no mundo.
— É justo — falou. — Até a próxima, C...
— Não diga o meu nome!
— Só brincando — ele apontou para mim e piscou. — Continue um estranho, meu amigo.
Então ele se foi.



Uma hora depois, eu estava de volta a bordo do meu barco no ar com o bebê crocodilo e o colar mágico com Freak voando para casa do Brooklyn. Agora, olhando para trás, a coisa toda com Percy parece tão surreal. Mal posso acreditar que realmente aconteceu.
Eu me pergunto como Percy convocou aquele redemoinho, e o que diabos é Bronze Celestial. Acima de tudo, uma palavra continua rolando na minha mente: semideus.
Tenho a sensação de que eu poderia encontrar algumas respostas se eu procurar o suficiente, mas estou com medo do que eu possa descobrir.
Por enquanto, acho que só vou dizer à Sadie sobre isso e ninguém mais. Primeiro ela vai pensar que eu estou brincando. E, claro, ela vai me atormentar, mas ela também sabe quando eu estou dizendo a verdade. Chata como ela é, eu confio nela (embora eu nunca dissesse isso diretamente). Talvez ela tenha algumas ideias sobre o que devemos fazer.
Quem quer que juntou Percy e eu, quem orquestrou nosso encontro... Tem cheiro de Caos. Eu não posso deixar de pensar que esta era uma experiência para ver que tipo de estrago nós faríamos. Potássio e água. Matéria e antimatéria.
Felizmente, as coisas correram bem. O colar petsuchos está seguramente trancado. Nosso novo crocodilo bebê está mergulhando feliz na nossa piscina. Mas da próxima vez... bem, eu tenho medo que não tenhamos tanta sorte.
Em algum lugar há um garoto chamado Percy com um hieróglifo secreto em sua mão. E eu tenho a sensação de que, mais cedo ou mais tarde eu vou acordar no meio da noite e ouvir uma palavra, falada urgentemente em minha mente: Carter.



2 comentários:

  1. cap 1? mas esse eo livro inteiro não é?

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    1. É mais ou menos :/
      No formato e-PUB (digital) é o "livro" sim,mas na realidade,esse ainda será o capítulo 1 (com mais detalhes,claro!) do livro (assim que for publicado)... Ou seja,para o e-PUB é o livro inteiro,mas enquanto o livro em si não for lançado.

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