Curta a página oficial do blogger para receber as notificações direto em seu Facebook, além de novidades que serão apenas postadas lá.

Procurando por algo?

0

O Sangue do Olimpo - CAP. XXXVI

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XXXVI - Leo

NO FIM DO CORREDOR HAVIA uma porta de nogueira com uma placa de bronze:

ASCLÉPIO
Médico, dentista, enfermeiro, veterinário, paramédico, deus, cirurgião,
pai de santo, milagreiro, curandeiro, Ph.D, LTDA.,
MBA, DVD, MP3, RSVP, VIP, BPKCT.

A lista devia continuar, mas, àquela altura, o cérebro de Leo tinha explodido.
Piper bateu à porta.
— Dr. Asclépio?
A porta se abriu de repente. O homem que surgiu tinha um sorriso simpático, rugas ao redor dos olhos, cabelo curto e grisalho e barba bem-aparada. Usava jaleco branco por cima de um terno escuro e tinha um estetoscópio pendurado no pescoço – o estereótipo de um médico, exceto por uma coisa: Asclépio segurava um cajado negro polido com uma píton de verdade enrolada nele.
Leo não gostou de ver outra cobra. A píton o encarou com seus olhos amarelos pálidos, e Leo teve a sensação de que ela não estava programada no modo idiota.
— Olá! — disse Asclépio.
— Doutor — o sorriso de Piper era tão caloroso que teria derretido um boréada. — Nós ficaríamos tão gratos por sua ajuda. Precisamos da cura do médico.
Leo nem era seu alvo, mas o charme de Piper o atingiu de maneira irresistível. Ele teria feito qualquer coisa para ajudá-la a conseguir aquela cura. Teria feito faculdade de medicina, conseguido doze diplomas de doutorado e comprado uma grande píton verde em uma vara.
Asclépio pôs a mão no peito.
— Ah, minha querida, será um prazer.
O sorriso de Piper vacilou.
— O senhor vai nos ajudar? Quer dizer, é claro que vai.
— Venham! Venham! — Asclépio os convidou a entrar em seu consultório.
O sujeito era tão simpático que Leo achou que sua sala estaria cheia de instrumentos de tortura, mas parecia... bem, um consultório médico: uma grande escrivaninha de madeira, estantes cheias de livros de medicina e alguns daqueles modelos de órgãos de plástico com os quais Leo adorava brincar quando criança. Ele se lembrou de quando arranjou problemas uma vez por ter transformado um rim e alguns ossos da perna em um monstro-rim e assustado a enfermeira.
Naquela época, a vida era mais simples.
Asclépio sentou-se na grande poltrona de médico e apoiou o cajado e a cobra na mesa.
— Por favor, sentem-se!
Jason e Piper sentaram-se nas duas cadeiras em frente à mesa. Leo teve que permanecer de pé, o que não foi nenhum problema. Ele não queria ficar cara a cara com a cobra.
— Bem. — Asclépio se recostou. — Mal posso dizer a vocês como é bom conversar com pacientes de verdade. Nos últimos milênios, a papelada ficou fora de controle. Depressa, depressa, depressa. Preencha os formulários. Resolva a burocracia. Sem falar na vigia de alabastro gigante que mata todo mundo na sala de espera. Isso tira toda a graça da medicina!
— É — disse Leo. — Hígia é meio deprimente.
Asclépio sorriu.
— A verdadeira Hígia não é assim, garanto a vocês. Minha filha é muito simpática. De qualquer modo, você fez bem ao reprogramar a estátua. Tem mãos de cirurgião.
Jason sentiu um calafrio.
— Leo com um bisturi? Não dê ideias.
O deus médico riu.
— Bem, o que posso fazer por vocês? — Ele chegou a cadeira para a frente e olhou atentamente para Jason. — Hum... ferimento de espada de ouro imperial, mas cicatrizou bem. Nada de câncer nem problemas cardíacos. Fique atento a essa mancha no seu pé esquerdo, mas tenho certeza de que é benigna.
Jason ficou pasmo.
— Como o senhor...
— Ah, é claro! — disse Asclépio. — Você é um pouco míope! Fácil de resolver.
Ele abriu a gaveta e pegou um bloco de receituário e um estojo de óculos. O deus rabiscou alguma coisa no bloco, depois entregou os óculos e uma folha de papel para Jason.
— Fique com os óculos e guarde a receita para futura referência, mas estas lentes devem funcionar. Experimente.
— Espere — disse Leo. — Jason é míope?
Jason abriu o estojo.
— Eu... ultimamente tenho tido um pouco de dificuldade para ver as coisas a certa distância — admitiu ele. — Achei que fosse só cansaço. — Ele experimentou os óculos, que tinham uma armação fina de ouro imperial. — Uau. É. Muito melhor.
Piper sorriu.
— Ficou com cara de sério.
— Não sei, cara — disse Leo. — Eu ia preferir lentes de contato... daquelas laranja e brilhantes com pupilas de gato. Seria muito legal.
— Os óculos ficaram ótimos — disse Jason. — Obrigado, Dr. Asclépio, mas não foi por isso que viemos.
— Não? — Asclépio juntou as mãos, apenas tocando as pontas dos dedos. — Bem, vamos ver, então... — Ele se virou para Piper. — Você parece bem, minha querida. Quebrou o braço quando tinha seis anos. Queda de cavalo?
Piper ficou boquiaberta.
— Como você pode saber uma coisa dessas?
— Vegetariana — continuou ele. — Nenhum problema, apenas se lembre de continuar a consumir ferro e proteínas suficientes. Humm... Uma pequena fraqueza no ombro esquerdo. Suponho que tenha sido atingida por algo pesado, há cerca de um mês, talvez?
— Um saco de areia, em Roma — disse Piper. — Isso é impressionante.
— Se incomodar, alterne compressas frias e quentes — aconselhou Asclépio. — E você...
Ele se virou para Leo.
— Minha nossa — a expressão do médico ficou séria. O brilho amistoso desapareceu de seus olhos. — Ah, estou vendo...
A expressão nos olhos do doutor dizia Eu sinto muito mesmo.
O coração de Leo ficou pesado como concreto. Se ele nutria alguma esperança de evitar o que estava por vir, desapareceu naquele instante.
— O quê? — Os óculos novos de Jason brilharam. — Qual o problema com Leo?
— Ei, doutor — ele lançou para o médico um olhar de esqueça. Com sorte, eles já tinham o conceito de sigilo médico na Grécia Antiga. — Nós viemos em busca da cura do médico. O senhor pode nos ajudar? Tenho um pouco de menta pilosiana aqui e uma margarida amarela muito bonita.
Ele pôs os ingredientes na mesa, com cuidado para evitar a boca da serpente.
— Espere — disse Piper. — Tem algum problema com Leo ou não?
Asclépio pigarreou.
— Eu... Não importa. Esqueçam que eu disse qualquer coisa. Bem, vocês querem a cura do médico.
Piper fechou a cara.
— Mas...
— Gente, sério — disse Leo. — Tirando o fato de que Gaia vai destruir o mundo amanhã, eu estou bem. Vamos nos concentrar.
Eles não pareceram muito convencidos, mas Asclépio simplesmente seguiu com a conversa:
— Esta margarida foi colhida por meu pai, Apolo?
— Foi — disse Leo. — Ele mandou beijos e abraços.
Asclépio pegou a flor e a cheirou.
— Espero que meu pai saia bem dessa guerra. Zeus pode ser... bastante injusto. Agora, o único ingrediente que está faltando são os batimentos do deus acorrentado.
— Está comigo — disse Piper. — Pelo menos eu posso invocar os makhai.
— Excelente. Só um instante, querida. — Ele olhou para sua serpente. — Espeto, está pronto?
Leo segurou o riso.
— O nome da sua cobra é Espeto?
Espeto olhou para ele de modo sinistro; então sibilou e abriu uma coroa de espinhos em torno do pescoço, como um basilisco.
O riso de Leo morreu em sua garganta.
— Foi mal — disse ele. — Claro que seu nome é Espeto.
— Ele é um pouco mal-humorado — disse Asclépio. — As pessoas vivem confundindo o meu cajado com o de Hermes, que obviamente tem duas cobras. Há séculos as pessoas consideram o cajado de Hermes o símbolo da medicina, quando, é claro, deveria ser o meu cajado. Espeto se sente ofendido. George e Martha ficam com toda a atenção. Enfim...
Asclépio pôs a margarida e o veneno diante de Espeto.
— Menta pilosiana, morte certa. A maldição de Delos, enraizando o que não pode ser enraizado. Agora o ingrediente final, os batimentos do deus acorrentado, caos, violência e medo da mortalidade. — Ele se virou para Piper. — Querida, pode invocar os makhai.
Piper fechou os olhos.
Um turbilhão de vento invadiu a sala. Vozes raivosas gritavam. Leo sentiu uma vontade estranha de acertar Espeto com um martelo. Queria estrangular o bom doutor com as próprias mãos. Então a cobra abriu a boca e engoliu o vento furioso. Seu pescoço inflou como um balão quando os espíritos da batalha passaram por sua garganta. Depois Espeto engoliu a margarida e o frasco de menta pilosiana, de sobremesa.
— O veneno não vai fazer mal a ele? — perguntou Jason.
— Não, não — garantiu Asclépio. — Esperem só para ver.
No momento seguinte, a cobra Espeto regurgitou um frasco: um tubo de vidro do tamanho do dedo de Leo. Em seu interior brilhava um líquido vermelho-escuro.
— A cura do médico — Asclépio pegou o frasco e o virou para a luz. Sua expressão ficou séria, depois confusa. — Esperem... por que eu concordei em fazer isso?
Piper pôs a mão na mesa com a palma virada para cima.
— Porque nós precisamos disso para salvar o mundo. É muito importante. O senhor é o único que pode nos ajudar.
O charme era tão poderoso que até Espeto, a cobra, ficou mais calmo. Ele se enroscou em torno do cajado e pegou no sono. A expressão de Asclépio se tranquilizou, como se ele estivesse relaxando em uma banheira de água quente.
— É claro — disse o deus. — Tinha esquecido. Mas vocês devem tomar cuidado. Hades odeia quando eu trago pessoas dos mortos. Na última vez que dei essa poção a uma pessoa, o senhor do Mundo Inferior reclamou com Zeus, e eu fui morto por um raio. BUM!
Leo ficou perplexo.
— Você está muito bem para um morto.
— Ah, eu melhorei. Isso foi parte do acordo. Sabe, quando Zeus me matou, meu pai, Apolo, ficou muito aborrecido. Ele não podia descarregar sua raiva diretamente em Zeus; afinal, o rei dos deuses era poderoso demais. Então, em vez disso, Apolo resolveu se vingar nos criadores dos raios. Ele matou alguns dos ciclopes anciãos. Por causa disso, Zeus castigou Apolo... severamente. No fim, para trazer a paz, Zeus concordou em me tornar o deus da cura, com a condição de que eu não trouxesse mais ninguém de volta à vida. — Nesse momento, os olhos de Asclépio se encheram de desconfiança. — E aqui estou eu... dando a cura a vocês.
— O senhor está disposto a abrir uma exceção, pois sabe quanto isso é importante — disse Piper.
— É... — Com relutância, Asclépio entregou o frasco a Piper. — De qualquer modo, a poção deve ser usada o mais rápido possível após a morte. Pode ser injetada ou derramada na boca. E só há o suficiente para uma pessoa — Ele olhou diretamente para Leo. — Vocês entenderam?
— Sim — prometeu Piper. — Tem certeza de que o senhor não quer vir com a gente, Asclépio? Sua guardiã está incapacitada. O senhor seria de grande ajuda a bordo do Argo II.
Asclépio sorriu com saudade.
— O Argo... Na época em que eu era um semideus, viajei no navio original, sabiam? Ah, ser novamente um aventureiro sem preocupações!
— Sim... — murmurou Jason. — Sem preocupações.
— Mas, infelizmente, não posso. Zeus já vai ficar com muita raiva de mim por ajudar vocês. Além disso, minha guardiã logo vai se reprogramar sozinha. Vocês devem partir — Asclépio se levantou. — Desejo tudo de bom para vocês, semideuses. E se tornarem a ver meu pai, por favor... peçam desculpas a ele por mim.
Leo não entendeu o que o médico queria dizer com aquilo, mas eles foram embora.
Quando passaram pela sala de espera, a estátua de Hígia estava sentada em um banco, derramando ácido no rosto e cantando “Brilha, brilha, estrelinha” enquanto a cobra dourada mordia seu pé. A cena pacífica quase foi suficiente para deixar Leo animado.

* * *

Quando voltaram ao Argo II, eles se reuniram no refeitório e contaram tudo para os outros.
— Não gostei do jeito como Asclépio olhou para Leo... — disse Jason.
— Ah, ele só percebeu a dor que eu sinto no coração — Leo tentou sorrir. — Estou morrendo de saudade de Calipso.
— Isso é tão lindo — disse Piper. — Mas não sei se é bem isso.
Percy olhou com uma expressão séria para o frasco vermelho reluzente que estava sobre a mesa, bem no meio.
— Qualquer um de nós pode morrer, certo? Então vamos precisar manter essa poção sempre à mão.
— Isso supondo que apenas um de nós morra — observou Jason. — Só tem uma dose.
Hazel e Frank olharam para Leo.
Ele lançou para os dois um olhar que dizia Parem com isso.
Os outros não viam o quadro completo: Em tempestade ou fogo, o mundo terá acabado... Jason ou Leo. Em Olímpia, Nice tinha avisado que um dos quatro semideuses que estavam lá iria morrer: Percy, Hazel, Frank ou Leo. Só um nome estava nessas duas listas: Leo. E para que o plano dele funcionasse, o garoto não poderia ter ninguém por perto quando apertasse o gatilho.
Seus amigos nunca aceitariam sua decisão. Iam discutir. Iam tentar salvá-lo. Iam insistir em procurar outra maneira.
Mas Leo estava convencido de que dessa vez não havia outra maneira. Era como Annabeth sempre dizia: lutar contra uma profecia nunca funcionava. Só criava mais problemas. Ele tinha que garantir que aquela guerra terminaria, de uma vez por todas.
— Temos que manter nossas opções em aberto — sugeriu Piper. — Precisamos, tipo, designar uma pessoa para levar a poção, alguém que possa reagir rapidamente e curar quem quer que seja morto.
— Boa ideia, Miss Universo — mentiu Leo. — Eu escolho você.
Piper piscou.
— Mas... Annabeth é mais sábia. Hazel pode chegar mais rápido em Arion. Frank pode se transformar em animais...
— Mas você tem o coração — Annabeth apertou a mão da amiga. — Leo tem razão. Quando chegar a hora, você vai saber o que fazer.
— É — concordou Jason. — Tenho a sensação de que você é a melhor escolha, Pipes. Você vai estar lá com a gente no fim, aconteça o que acontecer, tempestade ou fogo.
Leo pegou o frasco.
— Todo mundo de acordo?
Ninguém se opôs.
Leo olhou nos olhos de Hazel. Você sabe o que precisa fazer.
Ele puxou um pedaço de camurça de seu cinto de ferramentas e fez um grande teatro para embrulhar a cura do médico. Depois, entregou o embrulho para Piper.
— Então, tudo bem — disse ele. — Próxima parada: Atenas. Preparem-se para encarar alguns gigantes.
— É... — murmurou Frank. — Tenho certeza de que vou dormir bem.
Depois que as pessoas deixaram a mesa, Jason e Piper tentaram dar uma prensa em Leo. Queriam conversar sobre o que tinha acontecido no consultório do deus, mas Leo se esquivou.
— Tenho que trabalhar no motor — disse ele, o que era verdade.
Quando chegou à sala das máquinas, com apenas Buford, a Mesa Maravilhosa, como companhia, Leo respirou fundo. Levou a mão ao cinto de ferramentas e pegou o verdadeiro frasco com a cura do médico, não a versão truque-da-Névoa que entregara a Piper.
Buford soprou vapor sobre ele.
— Ei, cara, eu tive que fazer isso — defendeu-se Leo.
Buford ativou o Hedge holográfico: “VISTA ALGUMA COISA!”
— Olhe, esse é o único jeito. Do contrário, todos nós vamos morrer.
Buford emitiu um ruído agudo e melancólico, depois foi chacoalhando para um canto, emburrado.
Leo olhou para o motor. Ele tinha gastado muito tempo construindo-o. Havia dedicado meses de suor, dor e solidão. Agora o Argo II se aproximava de seu destino final. A vida inteira de Leo, a infância com Tía Callida, a morte da mãe no incêndio do armazém, seus anos como filho adotivo, os meses no Acampamento Meio-Sangue com Jason e Piper... Tudo isso culminaria na manhã seguinte em uma única batalha final.
Ele abriu o painel de serviço.
A voz de Festus crepitou pelo sistema de comunicação.
— É, parceiro — concordou Leo. — Está na hora.
Mais estalidos.
— Eu sei. Juntos até o fim?
Festus emitiu um ruído agudo, concordando.
Leo conferiu o antigo astrolábio de bronze, que agora estava com o cristal de Ogígia encaixado. Só podia torcer para que funcionasse.
— Vou voltar para você, Calipso — murmurou Leo. — Eu jurei pelo Rio Estige.
Ele acionou um botão e ligou o sistema de navegação on-line. Ajustou o timer para vinte e quatro horas.
Por fim, abriu a saída de ventilação do motor e empurrou lá dentro o frasco com a cura do médico. O frasco desapareceu nas entranhas do navio com um tump definitivo.
— Agora é tarde demais para voltar atrás — disse Leo.
Ele se encolheu no chão e fechou os olhos, determinado a aproveitar o ruído familiar do motor pela última vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita. Que tal deixar um comentário?

Percyanaticos BR / baseado no Simple | por © Templates e Acessórios ©2013