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O Sangue do Olimpo - CAP. XXXIX

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XXXIX - Reyna

— EU NO SEU LUGAR NÃO me mexeria, pretora!
Órion estava de pé na superfície da água, quinze metros a estibordo.
Em seu arco, uma flecha pronta para ser disparada.
Reyna percebeu, através de seu olhar cheio de raiva e pesar, as novas cicatrizes que o gigante trazia. As Caçadoras o haviam deixado com marcas cinza e rosa nos braços e no rosto, de forma que ele parecia um pêssego amassado em processo de putrefação. Seu olho mecânico esquerdo estava escurecido. O cabelo tinha sido totalmente queimado, sobrando apenas algumas mechas esfiapadas. Seu nariz estava inchado e vermelho, consequência da corda de arco que Nico tinha feito arrebentar na cara do gigante. Tudo isso deu a Reyna uma pontada malévola de satisfação.
Infelizmente, porém, o gigante continuava com seu sorriso presunçoso.
Aos pés de Reyna, o cronômetro na flecha marcava 4:42.
— Flechas explosivas são muito sensíveis — disse Órion. — Depois que se cravam em um lugar, até o menor movimento pode detoná-las. Eu não ia querer que você perdesse os últimos quatro minutos da sua vida.
Os sentidos de Reyna se aguçaram. Os pégasos, nervosos, batiam os cascos no piso do convés em torno da Atena Partenos. Começava a amanhecer. O vento que soprava da margem trazia um leve aroma de morangos. Deitado ao lado dela no convés, Blackjack tremia e respirava com dificuldade – ainda vivo, mas gravemente ferido.
O coração de Reyna batia tão forte que ela teve medo de seus tímpanos estourarem. Para manter Blackjack vivo, transmitiu sua força a ele. Ela não ia deixá-lo morrer.
Reyna queria gritar insultos para o gigante, mas suas primeiras palavras foram surpreendentemente calmas:
— O que aconteceu com minha irmã?
O branco dos dentes de Órion reluziu em seu rosto arruinado.
— Eu adoraria dizer que ela está morta. Adoraria ver a dor no seu rosto. Infelizmente, pelo que sei, sua irmã ainda está viva. Assim como Thalia Grace e aquelas Caçadoras irritantes. Elas me surpreenderam, tenho que admitir. Fui forçado a fugir para o mar. Passei os últimos dias ferido e sentindo dor, curando-me lentamente e construindo um arco novo. Mas não se preocupe, pretora. Você vai morrer primeiro. Sua preciosa estátua será queimada em uma grande fogueira. Depois que Gaia despertar, quando o mundo mortal estiver em ruínas, vou encontrar sua irmã. Vou dizer a ela que você morreu sofrendo. E depois vou matá-la — ele sorriu. — Então está tudo certo!
4:04.
Hylla estava viva. Thalia e as Caçadoras ainda continuavam por aí, em algum lugar. Mas nada disso importaria se a missão de Reyna falhasse. O sol nascia no último dia do mundo...
Blackjack começou a respirar com mais dificuldade.
Reyna reuniu sua coragem. O cavalo alado precisava dela. Lorde Pégaso a nomeara Amiga dos Cavalos, e ela não iria decepcioná-lo. Por enquanto ela não podia pensar no mundo inteiro. Tinha que se concentrar no que precisava de atenção imediata.
3:54.
— Então — ela encarava Órion com furor no olhar. — Você está ferido e feio, mas não morto. Acho que isso significa que vou precisar da ajuda de um deus para matar você.
Órion deu uma risadinha.
— Infelizmente, os romanos nunca foram muito bons em invocar deuses para ajudá-los. Acho que eles não têm muita consideração por vocês.
Reyna ficou tentada em concordar. Ela havia rezado para a mãe... e fora abençoada com a chegada de um gigante homicida. Um apoio daqueles.
Mas...
Reyna riu.
— Ah, Órion.
O sorriso do gigante vacilou.
— Você tem um senso de humor estranho, garota. Do que está rindo?
— Belona respondeu sim a minha oração. Ela não luta minhas batalhas por mim. Não me garante uma vitória fácil. Ela me dá oportunidades de provar meu valor; me dá inimigos fortes e aliados em potencial.
O olho esquerdo de Órion cintilou.
— Quanta baboseira. Você e sua estátua grega preciosa estão prestes a ser destruídas por uma coluna de fogo. Nenhum aliado pode ajudá-la. Sua mãe a abandonou, assim como você abandonou sua legião.
— Mas ela não fez isso — disse Reyna. — Belona não era apenas uma deusa da guerra. Ela não era como sua forma grega, Ênio, uma mera incorporação da carnificina. O templo de Belona era o lugar onde os romanos recebiam os embaixadores estrangeiros. Guerras eram declaradas lá, mas também se negociavam tratados de paz. Paz duradoura com base na força.
3:01.
Reyna sacou a adaga.
— Belona me deu a chance de fazer a paz com os gregos e aumentar a força de Roma. Eu aceitei a missão. Se eu morrer, vou morrer defendendo essa causa. Por isso digo que minha mãe está comigo hoje. A força dela se somará à minha. Atire sua flecha, Órion. Não vai fazer diferença. Quando eu arremessar esta adaga e perfurar seu coração, você vai morrer.
Órion estava de pé sobre as ondas, imóvel, seu rosto uma máscara de concentração. Seu olho bom brilhou cor de âmbar.
— Você está blefando — gritou ele. — Já matei centenas como você: garotas brincando de guerra, fingindo que estão à altura dos gigantes! Não vou lhe proporcionar uma morte rápida, pretora. Vou vê-la queimar, tal como as Caçadoras me queimaram.
2:31.
Blackjack arquejava, batendo as patas no chão. O céu começava a ficar cor-de-rosa. Um vento mais forte arrancou a rede de camuflagem da Atena Partenos, fazendo o tecido prateado voar, tremulando, para longe. A estátua brilhou às primeiras luzes do dia, e Reyna imaginou como a deusa ficaria linda na colina que se erguia acima do acampamento grego.
Isso precisa acontecer, pensou ela, torcendo para que os pégasos sentissem o que ela pretendia fazer. Vocês têm que completar a jornada sem mim.
Reyna fez uma reverência para a Atena Partenos.
— Senhora, foi uma honra escoltá-la.
Órion escarneceu:
— Agora resolveu conversar com estátuas inimigas? Esqueça. Você não tem nem dois minutos de vida.
— Ah, mas eu não vivo de acordo com os seus horários, gigante — disse Reyna. — Um romano não espera pela morte. Um romano vai ao encontro dela e a recebe segundo os próprios termos.
Ela arremessou a adaga. Acertou em cheio: bem no meio do peito do gigante.
Órion gritou em agonia. Que belo último som a se ouvir.
Ela puxou para a frente do corpo o manto que vestia e se jogou em cima da flecha explosiva, determinada a proteger Blackjack e os outros pégasos e, com sorte, proteger também os mortais que dormiam no convés inferior. Reyna não tinha ideia se seu corpo seria suficiente para conter a explosão ou se o manto abafaria as chamas, mas aquela era sua melhor chance de salvar seus amigos e a missão.
Ela se retesou inteira, esperando morrer. Sentiu a pressão quando a flecha detonou... mas não foi o que ela esperava. A explosão fez apenas um leve pop contra suas costelas, como um balão de aniversário cheio demais. Seu manto ficou desconfortavelmente quente. Nenhuma chama escapou de sob seu corpo.
Por que ela ainda estava viva?
Levante-se, ordenou uma voz em sua cabeça.
Em transe, Reyna obedeceu. Ondas de fumaça escapavam de seu manto. Ela percebeu algo diferente: o tecido roxo brilhava como se a trama tivesse filamentos de ouro imperial. Aos pés de Reyna, parte do chão tinha sido reduzida a um círculo de carvão, mas o manto não estava nem chamuscado.
Aceite meu aegis, Reyna Ramírez-Arellano, disse a voz. Pois hoje você provou ser uma verdadeira heroína do Olimpo.
Reyna olhava atônita para a Atena Partenos, que brilhava envolvida por uma leve aura.
O aegis... Reyna lembrava, de seus anos de estudo, que o termo aegis não se aplicava apenas ao escudo de Atena. Significava também a capa da estátua. Segundo a lenda, Atena às vezes cortava pedaços de seu enorme manto e os jogava sobre as estátuas de seus templos ou sobre algum herói que ela escolhesse proteger.
O manto de Reyna, que a garota usava fazia anos, de repente tinha mudado. O tecido havia absorvido a explosão.
Ela tentou dizer alguma coisa, agradecer à deusa, mas a voz não saía.
A aura de luz da estátua se extinguiu. O ruído nos ouvidos de Reyna desapareceu. Ela percebeu que Órion ainda gritava de dor, cambaleando pela superfície da água.
— Você errou! — Ele arrancou a adaga do peito e a atirou nas ondas. — Ainda estou vivo!
Ele armou o arco e disparou, mas a cena se desenrolou como que em câmera lenta. Reyna puxou o manto para a frente do corpo. A flecha se despedaçou contra o tecido. Ela então correu na direção da amurada e saltou sobre o gigante.
Era uma distância impossível de se transpor com um salto, mas Reyna sentia uma onda de poder percorrer suas pernas, como se pegasse emprestada a força de sua mãe, Belona – recompensa por toda a força que Reyna emprestara aos outros ao longo dos anos.
Reyna apoiou-se no arco do gigante e o usou para dar impulso, saltando como uma ginasta. Foi parar nas costas de Órion. Ela o agarrou pela cintura com as pernas, depois torceu o manto em uma espécie de corda e a enrolou no pescoço do gigante com toda a sua força.
Ele instintivamente largou o arco. Órion tentou agarrar-se ao tecido cintilante do manto, mas, ao tocá-lo, seus dedos soltaram fumaça e criaram bolhas. Uma fumaça de odor acre e pungente começou a subir de seu pescoço.
Reyna apertou com mais força.
— Isto é por Phoebe — rosnou ela no ouvido do gigante. — Por Kinzie. Por todas as que você matou. Você vai morrer pelas mãos de uma garota.
Órion se debatia e lutava, mas a força de vontade de Reyna era inabalável. O poder de Atena impregnava seu manto. Belona a abençoava com força e determinação. Não apenas uma – duas deusas poderosas a ajudavam, mas era Reyna quem tinha que terminar de matá-lo.
E ela assim o fez.
O gigante caiu de joelhos e afundou na água. Reyna não o soltou até ele parar de se debater e seu corpo dissolver na espuma do mar. O olho mecânico desapareceu sob as ondas. O arco começou a afundar.
Reyna deixou que a arma dele sumisse na água. Não estava interessada em espólios de guerra, não tinha nenhum desejo de deixar qualquer parte do gigante sobreviver. Assim como a mania de seu pai e todos os outros fantasmas cheios de raiva que preenchiam seu passado, Órion não tinha nada para ensinar a ela. Ele merecia ser esquecido.
Além do mais, estava amanhecendo.
Reyna voltou nadando para o iate.

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