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O Sangue do Olimpo - CAP. XXIX

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XXIX - Nico

SE TIVESSE QUE ESCOLHER ENTRE a morte e o mercado Zippy Mart de Buford, Nico ficaria indeciso. Na Terra dos Mortos ele pelo menos sabia como transitar. E a comida por lá era mais fresca.
— Ainda não entendi — resmungou o treinador Hedge, andando pelo corredor principal do mercado. — Eles batizaram uma cidade inteira com o nome da mesa do Leo?
— Acho que a cidade veio primeiro, treinador — opinou Nico.
— Ah — O treinador pegou da prateleira uma caixa de donuts se desfazendo em farelos. — Deve ser. Estes donuts parecem ter uns cem anos, no mínimo. Que saudade daquelas tais farturas de Portugal.
Nico sentia dor nos braços só de pensar em Portugal. As marcas das garras de lobisomem ainda riscavam seu bíceps, inchadas e vermelhas. A atendente da loja lhe perguntou se ele tinha entrado em uma briga com um tigre.
Compraram um kit de primeiros socorros, um bloco de papel (para o treinador Hedge escrever mais mensagens em aviõezinhos de papel para a esposa), alguns biscoitos industrializados e refrigerante (já que a mesa da tenda mágica de Reyna só fornecia alimentos saudáveis e água fresca) e alguns itens de camping para o treinador Hedge montar aquelas suas armadilhas inúteis, mas incrivelmente complicadas.
Nico tinha esperança de encontrar roupas novas para comprar.
Haviam deixado San Juan dois dias antes, e ele estava cansado de andar por aí com a camisa florida da ISLA DEL ENCANTORICO, ainda mais com o treinador Hedge vestindo uma igual. Infelizmente, porém, o Zippy Mart só tinha camisetas com a bandeira da Confederação americana ou frases bregas como KEEP CALM E SIGA O CAIPIRA. Nico achou melhor continuar com as araras e palmeiras.
Os três voltaram para o acampamento por uma estrada de pista dupla sob o sol abrasador. Aquela parte da Carolina do Sul parecia formada principalmente por campos cobertos de mato pontuados por postes e árvores cobertas de trepadeiras kudzu. O centro da cidade era uma coleção de barracões de metal portáteis (seis ou sete, provavelmente o mesmo número de habitantes de Buford inteira).
Nico não era muito fã do sol, mas dessa vez o calor foi bem-vindo, ajudando-o a se sentir mais substancial, ancorado no mundo mortal. A cada salto ficava mais difícil voltar das sombras. Mesmo em plena luz do dia, sua mão atravessava objetos sólidos. Seu cinto e sua espada não paravam de cair no chão, sem motivo aparente. Uma vez, quando não estava prestando muita atenção ao caminho, tinha chegado a atravessar uma árvore.
Ele se lembrou do que Jason lhe dissera no palácio de Noto: Talvez seja hora de você parar de se esconder nas sombras.
Bem que eu queria, pensou ele. Pela primeira vez na vida, Nico tinha começado a temer a escuridão, porque podia se fundir a ela permanentemente.
Nico e Hedge não tiveram dificuldades em encontrar o caminho de volta para o acampamento: a Atena Partenos era o ponto de referência mais alto em um raio de quilômetros. Sob sua nova rede de camuflagem, a estátua reluzia com um brilho prateado, como um fantasma de doze metros exageradamente ofuscante.
Pelo visto a Atena Partenos queria que eles visitassem um lugar com caráter educativo, pois tinha aterrissado bem ao lado de um marco histórico em que se lia MASSACRE DE BUFORD, em um acostamento de cascalho no cruzamento do Nada com o Lugar Nenhum.
A barraca de Reyna estava armada em um bosque a cerca de trinta metros da estrada. Havia um monumento retangular formado por centenas de pedras empilhadas na forma de um túmulo enorme. A lápide era um obelisco gigante, e espalhado em volta havia coroas esmaecidas e buquês de flores de plástico pisoteadas, o que tornava o lugar ainda mais triste.
Aurum e Argentum estavam na mata brincando de correr atrás de uma das bolas de borracha do treinador. Desde que tinham sido consertados pelas amazonas, os dois viviam alegres e cheios de energia – ao contrário de sua dona.
Reyna estava sentada de pernas cruzadas na entrada da barraca, olhando fixamente para o obelisco funerário. Mal tinha aberto a boca desde a fuga de San Juan, dois dias antes. Nesses dois dias, eles não tinham encontrado monstros, o que preocupava Nico. Eles não sabiam o que havia acontecido com Hylla nem com Thalia, nem com o gigante Órion.
Nico não gostava das Caçadoras de Ártemis. A tragédia as acompanhava aonde fossem, tão fielmente quanto seus cães e aves de caça. A irmã de Nico, Bianca, morrera depois de se juntar às Caçadoras. Depois disso, Thalia Grace se tornara a líder, e ela começara a recrutar ainda mais garotas para sua causa. Isso o irritava, pois era como se a morte de Bianca pudesse ser esquecida. Como se ela pudesse ser substituída.
No Barrachina, ao acordar e encontrar o bilhete das Caçadoras informando sobre o sequestro de Reyna, Nico havia destruído o pátio do restaurante, de tanta raiva. Não queria que as Caçadoras levassem embora mais uma pessoa importante na vida dele.
Felizmente, ele havia resgatado Reyna, mas não gostava de vê-la assim cabisbaixa e taciturna. Toda vez que tentava perguntar a ela sobre o incidente na rua San José – sobre os fantasmas na sacada, todos olhando para ela, sussurrando acusações – Reyna se fechava e o afastava.
Nico sabia algumas coisas sobre fantasmas. Deixá-los entrar em sua cabeça era perigoso. Ele queria ajudar Reyna, mas como ele próprio seguia a estratégia de lidar sozinho com os problemas, rejeitando qualquer um que tentasse se aproximar, não podia criticá-la por agir da mesma forma.
Reyna ergueu os olhos quando os dois se aproximaram.
— Eu descobri.
— Que lugar histórico é este? — perguntou Hedge. — Que bom, porque eu já estava ficando maluco.
— A Batalha de Waxhaws — disse ela.
— Ah, sim... — O treinador assentiu com um ar grave. — Foi um massacre extremamente cruel.
Nico tentou detectar a presença de espíritos inquietos na área, mas não sentiu nada. Algo incomum para um lugar que tinha servido de campo de batalha.
— Tem certeza?
— Em 1780 — explicou Reyna. — Na Guerra de Independência dos Estados Unidos. A maioria dos líderes coloniais eram semideuses gregos. Os generais britânicos eram semideuses romanos.
— Porque na época a Inglaterra era uma espécie de Roma — arriscou Nico. — Um império em seu auge.
Reyna pegou um buquê amassado do chão.
— Acho que sei por que viemos parar aqui. É minha culpa.
— Ah, que isso... — brincou Hedge. — O Zippy Mart de Buford não é culpa de ninguém. Essas coisas acontecem.
Reyna mexia distraidamente nas flores de plástico desbotadas.
— Durante a Guerra de Independência, quatrocentos americanos foram surpreendidos aqui pela cavalaria britânica. As tropas coloniais tentaram se render, mas os britânicos queriam sangue. Massacraram os americanos mesmo depois que eles já tinham baixado as armas. Só uns poucos sobreviveram.
Nico talvez devesse ficar chocado. Mas depois de tantas viagens pelo Mundo Inferior, ouvindo tantas histórias de maldade e mortes, um massacre durante uma guerra não parecia uma grande notícia.
— Reyna, por que isso seria culpa sua?
— O general britânico era Banastre Tarleton.
— Já ouvi falar dele — disse Hedge com uma nota de repulsa na voz. — Sujeito maluco. Eles o chamavam de Benny Açougueiro.
— Isso... — Reyna inspirou com força, trêmula. — Ele era filho de Belona.
— Ah — disse Nico.
Ele olhou para o túmulo enorme. Ainda o incomodava o fato de não conseguir detectar nenhum espírito. Centenas de soldados massacrados naquele lugar... aquilo devia transmitir algum tipo de vibração de morte.
Ele se sentou ao lado de Reyna e resolveu arriscar:
— Então você acha que fomos atraídos até aqui porque você tem algum tipo de ligação com os fantasmas. Como o que aconteceu em San Juan?
Ela permaneceu em silêncio por alguns segundos, girando o buquê de plástico na mão.
— Não quero falar sobre San Juan.
— Pois deveria — Nico se sentiu um estranho no próprio corpo. Por que ele estava estimulando Reyna a se abrir? Não era do seu estilo nem da sua conta. Mas mesmo assim ele continuou: — O principal a se ter em mente quando pensamos em fantasmas é que a maioria deles perdeu a voz. Em Asfódelos, milhões de espíritos perambulam sem rumo, tentando se lembrar de quem eram. Sabe por que eles acabam assim? Porque nunca lutaram pelo que acreditavam em vida. Nunca expressaram suas opiniões, por isso nunca foram ouvidos. Nossa voz é nossa identidade. Se não a usamos... — Ele deu de ombros. — Já estamos a meio caminho de Asfódelos.
Reyna franziu a testa.
— Era para ser uma conversa animadora?
O treinador Hedge limpou a garganta.
— Isso está ficando psicológico demais para mim. Vou escrever umas cartas.
E, pegando seu bloco, ele seguiu para o bosque. Nos dois últimos dias ou mais, ele andava escrevendo bastante; e, aparentemente, não só para Mellie. O treinador não revelava detalhes, mas tinha dado a entender que estava recorrendo a seus contatos para obter ajuda na missão. Pelo que Nico sabia, ele podia estar escrevendo até para Jackie Chan.
Nico abriu a sacola de compras. Pegou um pacote de biscoitos recheados e ofereceu um a Reyna.
Ela torceu o nariz.
— Esse biscoito está com cara de que passou do prazo de validade no tempo dos dinossauros.
— Pode ser. Mas eu ando com um apetite enorme. Estou achando qualquer comida gostosa... Menos sementes de romã, que eu já não aguento mais.
Reyna pegou um biscoito e deu uma mordida.
— Os fantasmas de San Juan... eram meus ancestrais.
Nico esperou. A brisa agitou a rede de camuflagem que cobria a Atena Partenos.
— A família Ramírez-Arellano é muito antiga — continuou Reyna. — Não sei a história toda. Meus ancestrais viviam na Espanha na época em que era uma província romana. Meu tatara-alguma-coisa-avô foi um colonizador que veio para Porto Rico com Ponce de León.
— Um dos fantasmas que vi na varanda usava uma armadura de colonizador — lembrou Nico.
— Era ele.
— Então... sua família inteira descende de Belona? Eu achava que você e Hylla fossem filhas dela, não herdeiras.
Nico percebeu tarde demais que não deveria ter mencionado Hylla. Uma expressão de desespero cruzou o rosto de Reyna, mas ela logo conseguiu escondê-la.
— Nós duas somos filhas de Belona. Somos as primeiras verdadeiras filhas de Belona na família Ramírez-Arellano. Mas Belona sempre favoreceu nosso clã. Milênios atrás, ela decretou que teríamos papéis fundamentais em muitas batalhas.
— Como você está tendo agora — disse Nico.
Reyna limpou alguns farelos do queixo.
— Talvez. Alguns de meus ancestrais foram heróis. Outros, vilões. Você viu o fantasma com os tiros no peito?
Nico assentiu.
— Um pirata?
— O mais famoso na história de Porto Rico. Ele era conhecido como o pirata Cofresí, mas seu sobrenome era Ramírez-Arellano. Para construir nossa casa, a villa da família, foi usada parte do tesouro que ele enterrou.
Por um instante, Nico sentiu como se fosse novamente criança. Quase exclamou: Que máximo! Antes mesmo de se interessar por Mitomagia, Nico já era obcecado por piratas. Isso provavelmente havia contribuído para que ele ficasse tão fascinado por Percy, que era filho do deus do mar.
— E os outros fantasmas? — perguntou ele.
Reyna deu mais uma mordida no biscoito.
— O cara de uniforme da Marinha... ele é meu tio-bisavô da Segunda Guerra Mundial, o primeiro latino a se tornar comandante de um submarino. Você entende o quadro geral: vários guerreiros; Belona foi nossa deusa padroeira por gerações.
— Mas ela nunca teve filhos semideuses na família... não antes de vocês.
— A deusa... Belona se apaixonou por meu pai, Julian, que era soldado no Iraque. Ele era... — A voz de Reyna vacilou. Ela jogou fora o buquê de flores de plástico. — Eu não consigo. Não consigo falar sobre ele.
Uma nuvem passou no céu, cobrindo o bosque de sombras. Nico não queria forçá-la. Que direito ele tinha?
Ele deixou de lado os biscoitos... e percebeu que as pontas de seus dedos estavam virando fumaça. A luz do sol retornou. Suas mãos voltaram a ser sólidas, mas Nico sentiu uma agulhada nos nervos. Como se tivesse sido puxado no exato momento em que ia cair da beira de um terraço muito alto.
Nossa voz é nossa identidade, ele tinha dito a Reyna. Se não a usamos, já estamos a meio caminho de Asfódelos.
Ele odiava quando seu próprio conselho se aplicava a si mesmo.
— Meu pai certa vez me deu um presente — disse Nico. — Um zumbi.
Reyna o encarou.
— O quê?
— Jules-Albert. Ele é francês.
— Um... um zumbi francês?
— Hades não é o melhor dos pais, mas às vezes ele tem esses momentos em que cisma de querer se aproximar de mim. Acho que a intenção era usar o zumbi como uma oferenda de paz. Ele disse que Jules-Albert podia ser meu chofer.
— Um zumbi francês como chofer — comentou Reyna, o canto da boca se retorcendo em ironia.
Nico se deu conta de como aquilo soava ridículo. Ele nunca havia contado a ninguém sobre Jules-Albert, nem mesmo a Hazel. Mas mesmo assim ele continuou:
— Hades achava que eu deveria, você sabe, tentar agir como um adolescente moderno. Fazer amigos. Conhecer o século XXI. Ele entendia vagamente que pais mortais levam os filhos de carro a muitos lugares. Como não podia fazer isso, a solução que encontrou foi me arranjar um zumbi.
— Para levar você ao shopping. Ou a uma lanchonete drive-thru.
— Acho que sim — Nico sentia que seus nervos começavam a se acalmar. — Porque não há nada que ajude você a fazer amigos mais rápido que um cadáver em decomposição com sotaque francês.
Reyna riu.
— Desculpe... eu não deveria estar rindo disso.
— Tudo bem. A questão é que... eu também não gosto de falar sobre o meu pai. Mas às vezes — ao dizer isso, ele a olhava nos olhos — é preciso.
Reyna ficou séria.
— Não conheci meu pai em seus melhores dias. Hylla disse que ele era mais carinhoso quando ela era muito pequena, antes de eu nascer. Ele era um bom soldado... corajoso, disciplinado, sabia manter a cabeça fria durante as batalhas. Era bonito e podia ser muito charmoso. Belona o abençoou, como fez com tantos de meus ancestrais, mas isso não era suficiente para meu pai. Ele queria se casar com ela.
No meio das árvores, o treinador murmurava coisas para si mesmo enquanto escrevia. Três aviõezinhos de papel já subiam em espiral para o céu, levados pela brisa para só os deuses sabiam onde.
— Meu pai se dedicou completamente a Belona — prosseguiu Reyna. — Uma coisa é respeitar o poder da guerra. Outra é se apaixonar por isso. Não sei como ele conseguiu, mas conquistou o coração da deusa. Minha irmã nasceu pouco antes de ele ir para o Iraque para seu último período em serviço. Ele se reformou com honras e voltou para casa como um herói. Se... se tivesse conseguido se adaptar à vida civil, acho que teria ficado tudo bem.
— Mas ele não conseguiu — concluiu Nico.
— Não. Pouco depois de voltar, ele teve um último encontro com Belona... foi nessa... hã... ocasião que eu fui concebida. Belona deu a ele um vislumbre do futuro. Explicou por que nossa família era tão importante para ela. Disse que o legado de Roma nunca se extinguiria enquanto houvesse alguém de nossa linhagem para defender nossa terra natal. Isso tudo... Acho que a intenção dela era oferecer consolo, mas meu pai ficou obcecado.
— Muitas vezes é difícil superar a guerra.
Ao dizer isso, Nico estava se lembrando de Pietro, um vizinho seu na época em que morava na Itália, quando criança. Pietro tinha voltado inteiro da campanha africana de Mussolini, mas, depois de bombardear civis etíopes com gás de mostarda, sua mente nunca mais fora a mesma.
Apesar do calor, Reyna puxou seu manto para se cobrir.
— Parte do problema foi o estresse pós-traumático. Ele não conseguia parar de pensar na guerra. Depois, foi a dor constante que ele sentia por conta de uma bomba que tinha explodido na beira de uma estrada e deixado estilhaços no ombro e no peito do meu pai. Mas era mais que isso. Com o passar dos anos, enquanto eu crescia, ele... ele mudou.
Nico não disse nada. Nunca ninguém havia conversado com ele assim tão abertamente, à exceção, talvez, de Hazel. Ele sentiu como se estivesse vendo um bando de aves pousar em um campo: um movimento mais brusco poderia assustá-las.
— Ele ficou paranoico — continuou Reyna. — Achou que as palavras de Belona eram um alerta de que nossa família seria exterminada e que o legado de Roma seria extinto. Via inimigos em toda a parte. Colecionava armas. Transformou nossa casa em uma fortaleza. À noite, trancava a mim e a Hylla nos nossos quartos. Se fugíssemos, ele gritava, quebrava móveis... Bem, aterrorizava nossa vida. Às vezes chegava a pensar que nós éramos os inimigos. Ele se convenceu de que o estávamos espionando, tentando sabotá-lo. Foi quando os fantasmas começaram a aparecer. Acho que eles sempre estiveram lá, mas, com a agitação do meu pai, começaram a se manifestar. Os fantasmas sussurravam coisas ruins no ouvido dele, alimentando suas suspeitas. Um dia, por fim... não sei dizer exatamente quando... percebi que ele tinha deixado de ser meu pai. Tinha se transformado em um dos fantasmas.
Nico sentiu um bloco de gelo se formar em seu peito.
— Um quadro de mania — concluiu ele. — Já vi isso acontecer. Um humano que vai se degenerando até que não é mais humano. Só restam suas piores qualidades. Sua loucura...
Pela expressão de Reyna, estava claro que a explicação de Nico não ajudava em nada.
— O que quer que fosse — disse Reyna — ficou impossível continuar morando com ele. Hylla e eu fugíamos de casa sempre que podíamos, mas acabávamos... voltando... e enfrentando a raiva dele. Não sabíamos mais o que fazer. Ele era a única família que tínhamos. Na última vez que voltamos, ele estava tão furioso que literalmente brilhava. Não conseguia mais tocar as coisas fisicamente, mas conseguia movê-las... como um poltergeist, algo assim. Ele arrancou as lajotas do piso. Rasgou o sofá. E no fim arremessou uma cadeira que acertou Hylla. Minha irmã desabou no chão. Ela só ficou inconsciente, mas achei que tivesse morrido. Hylla tinha passado tantos anos me protegendo... Eu perdi o controle naquele momento. Peguei a arma mais próxima que encontrei: uma herança de família, o sabre do pirata Cofresí. Eu... eu não sabia que era feito de ouro imperial. Corri na direção do espírito do meu pai e...
— Você o vaporizou — completou Nico.
Reyna tinha os olhos marejados.
— Eu matei meu próprio pai.
— Não, Reyna, não. Aquele não era seu pai. Era um fantasma. Pior ainda: uma mania. Você estava protegendo sua irmã.
Ela girou o anel de prata no dedo.
— Você não entende. Patricídio é o pior crime que um romano pode cometer. É imperdoável.
— Você não matou seu pai. Ele já estava morto — insistiu Nico. — Você derrotou um fantasma!
— Não faz diferença! — Reyna começou a chorar. — Se as pessoas descobrirem isso no Acampamento Júpiter...
— Você será executada — disse uma terceira voz.
Na margem do bosque havia um legionário romano de armadura completa, empunhando um pilum. Cabelos castanhos fartos caíam sobre seus olhos. O nariz obviamente tinha sido quebrado pelo menos uma vez, o que tornava seu sorriso ainda mais sinistro.
— Obrigado por sua confissão, ex-pretora. Você facilitou muito o meu trabalho.

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