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O Sangue do Olimpo - CAP. XXIV

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XXIV - Reyna

REYNA LEVOU A MÃO À espada, mas então se lembrou de que a haviam confiscado.
— Saiam daqui! — gritou Phoebe, preparando o arco.
Celyn e Naomi correram em direção à porta fumegante, só para serem derrubadas por flechas negras.
Phoebe gritou de raiva, e respondeu com fogo enquanto as amazonas avançavam com escudos e espadas.
— Reyna! — Hylla a puxou pelo braço. — Precisamos ir embora!
— Não podemos simplesmente...
— Minhas guardas vão ganhar tempo para você! — gritou Hylla. — Sua missão precisa ser cumprida.
Mesmo se odiando por isso, Reyna saiu correndo com Hylla.
Quando alcançaram uma porta lateral, Reyna olhou rapidamente para trás. Dezenas de lobos, escuros como os que ela enfrentara em Portugal, jorraram para dentro do armazém. Amazonas corriam para interceptá-los. No vão da porta de metal, tomado pela fumaça, amontoavam-se os corpos das que não haviam resistido: Celyn, Naomi, Phoebe. A Caçadora ruiva que tinha vivido por milhares de anos agora jazia imóvel, os olhos arregalados em choque, uma flecha negra imensa cravada em sua barriga. A amazona Kinzie avançou, grandes facas reluzindo em suas mãos. Saltando os corpos, ela mergulhou na fumaça.
Hylla puxou Reyna. As duas cruzaram a porta e puseram-se a correr, juntas.
— Todas elas vão morrer! — gritou Reyna. — Tem que haver alguma coisa que...
— Não seja estúpida, minha irmã! — Lágrimas brilhavam nos olhos de Hylla. — Órion foi mais esperto que nós. Ele transformou a emboscada em um massacre. Só o que podemos fazer agora é segurá-lo enquanto você foge. Você precisa levar aquela estátua para os gregos e derrotar Gaia!
Guiando Reyna, ela subiu um lance de escadas. As duas seguiram por um labirinto de corredores, até chegarem a um vestiário. Lá, viram-se cara a cara com um grande lobo, mas, antes que a fera pudesse sequer rosnar, Hylla lhe deu um soco bem entre os olhos. O lobo desabou.
— Por aqui. — Hylla correu para a fileira de armários mais próxima. — Suas armas estão aí dentro. Depressa.
Reyna pegou a adaga, o gládio e a mochila. Depois, ainda seguindo a irmã, subiu por uma escada de metal em caracol. A escada terminava no teto do vestiário. Hylla se virou e olhou com uma expressão muito séria para a irmã.
— Não vou ter tempo de explicar isto, ok? Segure firme. Fique bem junto de mim.
Reyna não sabia o que poderia ser pior do que a cena que elas tinham acabado de deixar para trás. Então Hylla abriu uma portinhola de alçapão, que levou as duas até... sua antiga casa.
A sala estava exatamente como Reyna se lembrava. A luz entrava por claraboias opacas posicionadas nos tetos altos. As paredes imaculadamente brancas não tinham nenhum adorno. A mobília era de carvalho, aço e couro branco, totalmente impessoal e masculina. Sacadas se projetavam nas duas extremidades do cômodo, o que sempre fizera Reyna sentir como se estivesse sendo observada (porque, afinal, muitas vezes não era apenas uma sensação).
O pai das duas tinha feito de tudo para dar um visual moderno à centenária hacienda. Tinha instalado as claraboias, pintara tudo de branco para tornar o ambiente mais claro e arejado. Mas só conseguira fazer com que o lugar parecesse um cadáver bem-arrumado em um terno novo.
A portinhola se abriu no interior da enorme lareira. Reyna nunca tinha entendido por que eles tinham uma lareira em Porto Rico, mas ela e Hylla fingiam que era um esconderijo secreto; onde o pai não as encontraria. Imaginavam que, ao entrar ali, viajariam para outros lugares.
Agora, Hylla fazia essa fantasia se tornar realidade. Ela havia ligado seu esconderijo subterrâneo ao lar de sua infância.
— Hylla...
— Já falei que não temos tempo.
— Mas...
— A casa é minha agora. Passei para o meu nome.
— Você fez o quê?
— Eu estava cansada de fugir do passado, Reyna. Resolvi recuperá-lo.
Reyna a encarava, pasma. Um celular ou uma mala perdida no aeroporto, esse tipo de coisa dava para recuperar. Até um depósito de lixo tóxico. Mas aquela casa, e o que havia acontecido ali? Não tinha como recuperar aquilo.
— Irmã — disse Hylla — estamos perdendo tempo. Você vem ou não?
Reyna olhou para as sacadas, quase esperando que formas luminosas tremeluzissem nos gradis.
— Você os tem visto?
— Alguns.
— E papai?
— Claro que não — respondeu Hylla com aspereza. — Você sabe que ele nunca mais vai voltar.
— Não sei nada sobre isso. Como você pôde voltar? Por quê?
— Para entender! — gritou Hylla. — Você não quer saber o que aconteceu com ele?
— Não! Não há nada para se aprender com fantasmas, Hylla. Você, mais que todo mundo, deveria saber que...
— Estou indo — disse Hylla. — Seus amigos estão a alguns quarteirões daqui. Você vem comigo ou eu digo a eles que você morreu porque ficou perdida no passado?
— Não fui eu que me apossei deste lugar!
Hylla girou nos calcanhares e saiu pisando forte, cruzando a porta da frente.
Reyna olhou para o cômodo mais uma vez. Ela se lembrava de seu último dia ali, quando tinha dez anos. Quase podia ouvir os gritos de raiva do pai ecoando pela sala, o coral de almas lamuriantes nas sacadas internas.
Ela correu para a porta, mergulhando no agradável calor do sol da tarde. A rua não havia mudado: as casas em tons pastel, todas caindo aos pedaços; as pedras azuladas do calçamento; dezenas de gatos dormindo embaixo dos carros ou à sombra das bananeiras.
Reyna teria sentido nostalgia naquele momento... não fosse por sua irmã estar, a poucos metros dela, cara a cara com Órion.
— Ora, ora. — O gigante sorriu. — As duas filhas de Belona juntas. Excelente!

* * *

Reyna tomou aquilo como uma ofensa pessoal.
Ela criara uma imagem de Órion como um demônio feio e enorme, ainda pior que Polibotes, o gigante que havia atacado o Acampamento Júpiter.
Em vez disso, Órion podia passar por humano; um humano alto, musculoso e bonito. Sua pele era da cor de pão torrado. Tinha cabelo preto, raspado dos lados e espetado em cima. Com a calça e o gibão de couro, ambos em estilo medieval, a faca de caça, o arco e a aljava, ele parecia o irmão malvado e bonitão de Robin Hood.
Só os olhos é que estragavam. À primeira vista, ele parecia estar usando óculos militares de visão noturna. Depois Reyna percebeu que não eram óculos. Eram criações de Hefesto: olhos mecânicos de bronze engastados nas enormes órbitas do gigante. Anéis de foco, como os das câmeras manuais, giraram e fizeram clique quando ele olhou para Reyna.
Miras a laser mudaram de vermelho para verde. Reyna teve a desagradável sensação de que ele estava vendo muito mais que sua forma: sua temperatura corporal, seu ritmo cardíaco, seu nível de medo.
Ele segurava junto ao corpo um grande arco de metal e madeira quase tão sofisticado quanto seus olhos. Eram cordas dando inúmeras voltas por uma série de polias que pareciam rodas de trem em miniatura. A empunhadura era de bronze polido, cheia de displays e botões. Ele não tinha nenhuma flecha armada. Não fazia nenhum movimento ameaçador. Possuía um sorriso tão fascinante que Reyna quase esqueceu que aquele sujeito ali era um inimigo, alguém que havia matado pelo menos meia dúzia de Caçadoras e amazonas para chegar até ali.
Hylla sacou suas facas.
— Reyna, vá embora daqui. Eu dou um jeito nesse monstro.
Órion deu uma risadinha.
— Hylla Duas Vezes Mortal, você é corajosa. Suas tenentes também eram. E agora elas estão mortas.
Hylla deu um passo à frente.
Reyna segurou o braço da irmã.
— Órion! — chamou ela. — Suas mãos já estão bem sujas de sangue de amazonas. Talvez seja a hora de experimentar uma romana.
Com um clique, os olhos do gigante se dilataram. Pontos de laser vermelho dançaram pelo peitoral de Reyna.
— Ah, a jovem pretora. Admito que estava curioso. Antes de matá-la, talvez você possa me esclarecer: por que uma filha de Roma está se esforçando tanto pelos gregos? Você deixou seu posto, abandonou sua legião, tornou-se uma desertora... em troca de quê? Jason Grace a desprezou. Percy Jackson também. Não acha que já foi bastante... qual é a palavra... rejeitada?
Os ouvidos de Reyna zumbiram. Ela se lembrou do aviso de Afrodite, dois anos antes, em Charleston: Você não vai encontrar amor onde deseja ou espera. Nenhum semideus vai curar seu coração.
Ela se obrigou a sustentar o olhar do gigante.
— Eu não me defino pelos garotos que podem ou não gostar de mim.
— Bravas palavras. — O sorriso do gigante era de enfurecer. — Mas você não é diferente das amazonas, nem das Caçadoras, nem da própria Ártemis. Fala de força e independência, mas, assim que encara um homem de verdadeira força, sua confiança desmorona. Você se sente ameaçada por meu grande poder, e porque esse poder atrai você. Então fuja ou se renda, ou você vai morrer.
Hylla livrou o braço da mão de Reyna.
— Vou matar você, gigante. Vou cortá-lo em pedacinhos tão pequenos...
— Hylla — interrompeu Reyna. Ela não se importava com o que pudesse acontecer, só sabia que não podia ver a irmã morrer. Precisava atrair a atenção do gigante para si mesma. — Você diz ser forte, Órion. No entanto, não conseguiu manter os votos da Caçada. Morreu rejeitado. E agora fica de pau-mandado da sua mãe. Então me explique, de que forma exatamente você é ameaçador?
Órion trincou os dentes. Seu sorriso ficou mais tenso e mais frio.
— Boa tentativa — reconheceu ele. — Você está tentando me desestabilizar. Acha que, se conseguir ganhar tempo com essa conversinha, seus reforços vão chegar para salvá-las. Infelizmente, pretora, não há reforços. Queimei o refúgio subterrâneo de sua irmã com seu próprio fogo grego. Ninguém sobreviveu.
Com um rugido, Hylla se lançou à frente e atacou. Órion a acertou com a extremidade do arco, lançando-a para trás. Hylla caiu na rua.
Órion puxou uma flecha da aljava.
— Pare! — gritou Reyna.
Seu coração martelava em seu peito. Ela precisava encontrar a fraqueza do gigante.
O Barrachina ficava a poucos quarteirões dali. Se as duas conseguissem chegar até lá, talvez Nico pudesse transportá-los. E as Caçadoras não podiam estar todas mortas... Elas estavam patrulhando o perímetro inteiro da cidade antiga. Com certeza ainda havia algumas delas por aí...
— Órion, você perguntou o que me motiva. — Ela manteve a voz firme. — Não quer a resposta antes de nos matar? Aposto que fica intrigado em ver as mulheres insistindo em rejeitar um cara grande e bonitão como você.
O gigante armou a flecha no arco.
— Agora você me confundiu com Narciso. Não vai conseguir me comprar com lisonjas.
— Claro que não — disse Reyna. Hylla se levantou com uma expressão assassina no rosto, mas Reyna tentou expandir seus sentidos, transmitir à irmã o tipo mais difícil de força: o autocontrole. — Mas mesmo assim... você deve ficar furioso. Primeiro, levou um fora de uma princesa mortal...
— Mérope — disse Órion, em tom de escárnio. — Garota bonita, mas burra. Se tivesse o mínimo de bom senso, teria entendido que eu estava apenas flertando com ela.
— Já sei — disse Reyna. — Ela gritou e chamou os guardas.
— Na hora, eu estava desarmado. Ninguém leva o arco e as facas quando está cortejando uma princesa. Os guardas me prenderam com facilidade. O pai dela, o rei, me cegou e me exilou.
Logo acima da cabeça de Reyna, uma pedrinha rolou sobre um telhado de telhas de cerâmica. Talvez fosse sua imaginação, mas ela se lembrava daquele som das muitas noites em que Hylla fugia do quarto trancado e subia pelo telhado para ver como ela estava.
Foi preciso toda a sua força de vontade para não olhar para cima.
— Mas você agora tem olhos novos — disse ela ao gigante. — Hefesto ficou com pena de você.
— Sim... — O olhar de Órion perdeu o foco. Reyna sabia disso porque os pontos das miras a laser desapareceram do peito dela. — Fui parar em Delos, onde conheci Ártemis. Tem ideia de como é estranho conhecer sua arqui-inimiga e acabar atraído por ela? — Ele riu. — Ora, o que estou dizendo, pretora? É claro que você sabe. Deve sentir pelos gregos o que eu senti por Ártemis, um fascínio culpado, uma admiração que se transforma em amor. Mas amor demais é como veneno, ainda mais quando ele não é correspondido. Se você ainda não entendeu isso, Reyna Ramírez-Arellano, vai entender em breve.
Hylla avançou, mancando, as facas ainda nas mãos.
— Irmã, por que está deixando esse animal falar? Vamos acabar com ele.
— Como se você fosse conseguir — refletiu Órion. — Muitos tentaram. Nem o próprio irmão de Ártemis, Apolo, conseguiu me matar, nos tempos antigos. Teve que trapacear para se livrar de mim.
— Ele não gostava que você andasse com a irmã dele?
Reyna ficou atenta, ansiosa por ouvir mais sons dos telhados, mas não ouviu nada.
— Apolo era ciumento. — Os dedos do gigante se fecharam em torno da corda do arco. Órion a tensionou, acionando as engrenagens e polias da arma. — Ele tinha medo de que eu seduzisse Ártemis e a fizesse se esquecer de seus votos de castidade. Quem sabe? Sem a interferência de Apolo, talvez acontecesse isso mesmo. Ela teria sido mais feliz.
— Como sua criada? — gritou Hylla com raiva. — Sua mulherzinha obediente?
— Isso agora não importa — disse Órion. — Apolo me infligiu a loucura, o desejo de matar todos os animais da terra. Abati milhares antes que minha mãe, Gaia, finalmente pusesse um fim a meu acesso de fúria. Ela invocou um escorpião gigante da terra, que me matou com uma picada nas costas. Sou grato a ela por isso.
— Você é grato a Gaia — disse Reyna — por matar você.
As pupilas mecânicas de Órion se fecharam em espiral, virando minúsculos pontos reluzentes.
— Minha mãe me mostrou a verdade. Eu estava lutando contra minha própria natureza, o que não me trouxe nada além de infelicidade. Os gigantes não nasceram para amar mortais nem deuses. Gaia me ajudou a aceitar o que sou. No fim, todos temos que voltar para casa, pretora. Temos que abraçar nosso passado, por mais amargo e sombrio que ele seja. — Ele apontou com o queixo para a villa atrás de Reyna. — Exatamente como você fez. Você tem sua própria cota de fantasmas, não é mesmo?
Reyna sacou a espada. Não há nada para se aprender com fantasmas, dissera ela à irmã. Talvez com gigantes também não.
— Esta não é minha casa — disse ela. — E nós não somos iguais.
— Eu já vi a verdade. — O gigante falava como se realmente quisesse ajudar. — Você se agarra à fantasia de que pode fazer seus inimigos a amarem. Não pode, Reyna. Não há amor para você no Acampamento Meio-Sangue.
As palavras de Afrodite ecoaram em sua cabeça: Nenhum semideus vai curar seu coração.
Reyna observava o belo e cruel rosto do gigante, com seus olhos mecânicos brilhantes. Por um momento terrível, ela entendeu por que mesmo uma deusa, até uma virgem eterna como Ártemis, se deixaria levar pelas palavras melosas de Órion.
— Eu podia ter matado você vinte vezes agora mesmo — disse o gigante. — Você se dá conta disso, não? Quero poupá-la, e isso só depende de você. Só preciso de um pequeno voto de confiança. Diga-me onde está a estátua.
Reyna quase deixou a espada cair. Onde está a estátua...
Órion não tinha localizado a Atena Partenos. A camuflagem das Caçadoras tinha funcionado. Durante todo aquele tempo, o gigante estava seguindo o rastro de Reyna, o que significava que mesmo se ela morresse agora, Nico e o treinador Hedge estariam a salvo. A missão não estava perdida.
Ela sentiu como se tivesse tirado uma armadura de cinquenta quilos.
Deu uma risada. O som ecoou pela rua de pedras.
— Phoebe foi mais esperta que você — disse ela. — Ao seguir meu rastro, você perdeu a estátua. Agora meus amigos estão livres para prosseguir com a missão.
Órion franziu o lábio.
— Ah, mas eu vou encontrá-los, pretora. Depois que acabar meu assunto com você.
— Então — falou Reyna — acho que vamos ter que acabar com você primeiro.
— Essa é a minha irmãzinha — disse Hylla com orgulho.
E as duas atacaram juntas.

* * *

O disparo do gigante teria perfurado Reyna, mas Hylla foi mais rápida: interceptou a flecha em pleno ar e então se lançou sobre Órion enquanto Reyna tentava golpeá-lo no peito. Mas o gigante interceptou os dois ataques com o arco.
Ele chutou Hylla para trás, fazendo-a cair sobre o capô de um Chevrolet velho. Meia dúzia de gatos saiu correndo de sob o carro. O gigante então girou, repentinamente com uma adaga na mão, e Reyna por pouco não conseguiu desviar do golpe.
Ela atacou de novo, cortando o gibão de couro de Órion, mas mal conseguiu arranhar seu peito.
— Você luta bem, pretora — reconheceu ele. — Mas não o suficiente para sobreviver.
Reyna desejou que sua espada se estendesse em um pilum.
— Minha morte não significa nada.
Se Nico e Hedge pudessem prosseguir com a missão em paz, ela estava totalmente disposta a morrer lutando. Mas primeiro pretendia machucar tanto aquele gigante que ele jamais esqueceria o nome dela.
— E a morte da sua irmã? — perguntou Órion. — Significa alguma coisa?
Antes mesmo que Reyna pudesse piscar, ele lançou uma flecha na direção do peito de sua irmã. Um grito se formou na garganta de Reyna, mas, sabe-se lá como, Hylla pegou a flecha.
Hylla desceu do capô do carro e quebrou a flecha com uma das mãos.
— Eu sou a rainha das amazonas, seu idiota. Uso o cinto real. Com a força que ele me transmite, vou vingar as amazonas que você matou hoje.
Hylla agarrou o para-choque dianteiro do Chevrolet e arremessou o carro inteiro na direção de Órion com tanta facilidade como se estivessem em uma piscina e ela jogasse água na cabeça dele.
O Chevrolet esmagou Órion contra a parede de uma casa. O estuque rachou. Uma bananeira tombou. Mais gatos saíram correndo.
Reyna foi correndo na direção dos destroços, mas o gigante, urrando, empurrou o carro para longe.
— Vocês vão morrer juntas! — prometeu ele.
Duas flechas surgiram armadas em seu arco, a corda já totalmente tensionada.
Nesse instante, os telhados explodiram com um estrondo.
— MORRA!
Saltando para a rua, Gleeson Hedge surgiu bem atrás de Órion. Ele acertou a cabeça do gigante com tanta força que o taco de beisebol, da famosa marca Louisville Slugger, partiu-se ao meio.
Ao mesmo tempo, Nico di Angelo surgiu na frente do gigante. O menino cortou a corda do arco de Órion com sua espada estígia, fazendo polias e engrenagens rangerem e zunirem e a corda se recolher com centenas de quilos de força, acertando Órion no nariz como um chicote de couro.
— AAAAHHHHHHH!
Órion cambaleou e deixou o arco cair.
Caçadoras de Ártemis surgiram nos telhados, enchendo Órion de flechas de prata até deixá-lo parecido com um porco-espinho brilhante. Ele foi cambaleando às cegas, segurando o nariz; icor dourado escorria por seu rosto.
Alguém segurou Reyna pelo braço.
— Vamos embora!
Thalia Grace tinha voltado.
— Vá com ela! — ordenou Hylla.
Reyna sentia como se seu coração estivesse se despedaçando.
— Irmã...
— Você precisa ir! AGORA! — Era exatamente o que Hylla tinha lhe dito seis anos antes, na noite em que fugiram da casa do pai. — Vou segurar Órion o máximo possível.
Hylla agarrou uma das pernas do gigante, desequilibrou-o e o arremessou longe. Órion foi parar a vários quarteirões dali, para consternação geral de mais dezenas de gatos. As Caçadoras partiram atrás dele pelos telhados, disparando flechas que explodiam em fogo grego, envolvendo o gigante em chamas.
— Sua irmã tem razão — disse Thalia. — Você precisa ir.
Nico e Hedge se juntaram a ela, ambos exibindo um ar de plena satisfação consigo mesmos. Aparentemente, tinham feito algumas compras na lojinha do Barrachina, pois, em vez das camisas sujas e rasgadas, usavam agora espalhafatosos modelos com estampa tropical.
— Nico — disse Reyna — você está...
— Não quero ouvir nem uma palavra sobre a camisa — avisou ele. — Nem uma palavra.
— Por que vocês vieram atrás de mim? — perguntou ela. — Vocês podiam ter ido embora ilesos. O gigante estava seguindo o meu rastro. Se tivessem simplesmente...
— De nada, docinho — resmungou o treinador. — Não podíamos ir embora sem você. Agora vamos dar o fora daqui...
Ele então olhou por cima dos ombros de Reyna e perdeu a voz.
Reyna se virou.
Atrás dela, as sacadas do segundo andar de sua antiga casa estavam cheias de figuras reluzentes: um homem com uma barba bifurcada e armadura enferrujada de colonizador; outro homem barbado, em roupas de pirata do século XVIII, com a camisa salpicada de furos de tiro; uma mulher com uma camisola ensanguentada; um capitão da Marinha americana usando uniforme de gala; e mais uma dúzia de outros fantasmas que Reyna conhecia de sua infância, todos a encarando acusadoramente. As vozes deles sussurravam em sua mente: Traidora. Assassina.
— Não...
Reyna sentiu como se tivesse dez anos outra vez. Queria se encolher no canto do quarto e tapar os ouvidos para fazer as acusações sumirem.
— Reyna, quem são eles? — perguntou Nico, segurando seu braço. — O que...?
— Não consigo — suplicou ela. — N-não consigo.
Ela havia passado muitos anos construindo uma represa dentro de si mesma para conter seus medos. Agora a represa tinha se rompido, levando embora suas forças.
— Está tudo bem — Nico olhou atentamente para as sacadas. Os fantasmas não estavam mais lá, mas Reyna sabia que eles não tinham ido embora de verdade. Eles nunca iam. — Vamos embora daqui logo, logo — prometeu Nico. — Vamos andando.
Thalia pegou o outro braço de Reyna, e os quatro foram correndo na direção do restaurante, da Atena Partenos. Às suas costas, Reyna ouvia urros de dor de Órion e explosões de fogo grego.
E, em sua mente, as vozes ainda sussurravam: Assassina. Traidora. Você nunca conseguirá fugir de seu crime.

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