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O Sangue do Olimpo - CAP. XXIII

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XXIII - Reyna

OS SENTIMENTOS DE REYNA NÃO estavam muito embaralhados.
Na verdade, tinham sido jogados em um liquidificador com cascalho e gelo.
Toda vez que encontrava a irmã, ela não sabia se a abraçava, se chorava ou se dava meia-volta e ia embora. Claro que ela amava Hylla. Teria morrido várias vezes se não fosse pela irmã. Mas o passado que elas compartilhavam era mais que complicado.
Hylla deu a volta na mesa, indo ao encontro da irmã. A calça de couro preto e a camiseta de malha preta lhe caíam bem. Em sua cintura brilhava uma corrente com intrincados elos de ouro, o cinto da rainha das amazonas. Ela estava agora com vinte e dois anos, mas podia se passar por gêmea de Reyna. As duas tinham cabelo escuro e comprido, os mesmos olhos castanhos. Até usavam anéis de prata idênticos com o símbolo da mãe, Belona. A diferença mais óbvia entre elas era a grande cicatriz branca na testa de Hylla. Tinha esmaecido após quatro anos; agora podia passar por uma mera ruga de preocupação. Mas Reyna se lembrava do dia em que Hylla ganhara aquela cicatriz, em um duelo a bordo do navio pirata.
— E então? — disse Hylla. — Não tem nada a dizer para sua irmã?
— Obrigada por me sequestrar — disse Reyna. — Por me acertar com um dardo tranquilizante, botar um saco na minha cabeça e me amarrar a uma cadeira.
Hylla revirou os olhos com desdém.
— Regras são regras. Como pretora, você deveria entender isso. O centro de distribuição é uma das nossas bases mais importantes. Temos que controlar o acesso. Não posso abrir exceções. Muito menos para familiares.
— Acho que você fez isso por pura diversão.
— Também.
Será que Hylla era mesmo tão tranquila e controlada quanto parecia?, perguntou-se Reyna. Era impressionante (e um pouco assustador) como a irmã tinha se adaptado rápido a sua nova identidade.
Seis anos antes, Hylla era uma irmã mais velha assustada fazendo o possível para proteger Reyna da fúria do pai. Suas principais habilidades eram correr e encontrar lugares para as duas se esconderem.
Depois, na ilha de Circe, Hylla se esforçava muito para chamar atenção. Usava roupas berrantes e maquiagem. Ria, vivia sorridente e alegre, como se parecer feliz fosse de fato fazê-la feliz. Tinha se tornado uma das assistentes preferidas de Circe.
Depois que seu santuário na ilha foi destruído pelo fogo, elas viraram prisioneiras dos piratas. Hylla mudou mais uma vez. Duelou por sua liberdade, foi mais pirata que os piratas, ganhou tanto o respeito da tripulação que Barba-Negra finalmente as libertou, por medo de que Hylla tomasse seu navio.
Agora ela havia se reinventado de novo como rainha das amazonas.
Claro, Reyna entendia por que a irmã era tão camaleônica. Se ela estivesse sempre mudando, jamais iria fossilizar na mesma coisa em que o pai tinha se transformado...
— Aquelas iniciais na placa do Barrachina — disse Reyna. — HDVM. Hylla Duas Vezes Mortal, seu novo apelido. É uma piadinha?
— Só queria ver se você estava atenta.
— Você sabia que íamos aterrissar no pátio. Como?
Hylla deu de ombros.
— A viagem nas sombras opera por magia. Várias de minhas seguidoras são filhas de Hécate. Foi bem fácil para elas desviar vocês do seu curso, ainda mais com a conexão que nós duas temos.
Reyna tentava manter sua raiva sob controle. Hylla, mais que qualquer outra pessoa, deveria saber como ela se sentiria ao ser arrastada de volta para Porto Rico.
— Quanto trabalho vocês tiveram — observou Reyna. — A rainha das amazonas e a tenente de Ártemis indo às pressas a Porto Rico para nos interceptar, e imediatamente após receberem a mensagem... Imagino que não tenha sido porque você sentiu saudades de mim.
Phoebe, a Caçadora ruiva, riu.
— A garota é esperta.
— Claro — disse Hylla. — Fui eu que ensinei tudo a ela.
Outras amazonas se aproximaram, provavelmente detectando uma luta em potencial. Amazonas amavam a violência como entretenimento, quase tanto quanto piratas.
— Órion — compreendeu Reyna. — Foi o que trouxe você aqui. O nome dele chamou sua atenção.
— Eu não podia deixar que ele a matasse — disse Hylla.
— É mais que isso.
— Sua missão de escoltar a Atena Partenos...
— ... é importante. Mas também não é só isso. Você tem algum interesse pessoal nessa história. E as Caçadoras também. Por que não abre o jogo?
Hylla passou os polegares pelo cinto de ouro.
— Órion é um problema. Diferente dos outros gigantes, faz séculos que ele caminha pela Terra. Ele gosta de matar amazonas, ou Caçadoras, ou qualquer mulher que ouse ser forte.
— Por quê?
Reyna teve a impressão de que uma onda de medo percorreu as garotas ali em torno dela.
Hylla olhou para Phoebe.
— Quer explicar? Você estava lá.
O sorriso da Caçadora desapareceu.
— Em tempos antigos, Órion se aliou às Caçadoras. Era o melhor amigo de Ártemis. Ninguém era páreo para ele no arco, exceto pela própria deusa, e talvez seu irmão, Apolo.
Reyna sentiu um calafrio. Phoebe parecia não ter mais que catorze anos. E pensar que ela conhecia Órion havia três ou quatro mil anos...
— Até que...? — perguntou Reyna.
As orelhas de Phoebe ficaram vermelhas.
— Órion ultrapassou os limites. Apaixonou-se por Ártemis.
Hylla torceu o nariz em desprezo.
— Sempre acontece com os homens. Eles prometem amizade. Prometem tratar você como igual. No fim, só querem mesmo possuí-la.
Phoebe cutucava a unha do polegar. Atrás dela, as outras duas Caçadoras pareciam inquietas e desconfortáveis.
— Lady Ártemis o rejeitou, é claro — prosseguiu Phoebe. — O que deixou Órion amargurado. Ele começou a partir em viagens cada vez mais longas por florestas e territórios ermos, sempre sozinho. No fim... não sei dizer ao certo o que aconteceu. Um dia, Ártemis voltou para o acampamento e nos contou que Órion tinha morrido. E se recusou a tocar no assunto.
Hylla franziu a testa, o que acentuou a cicatriz branca em sua testa.
— Seja lá o que aconteceu, Órion voltou do Tártaro como o pior inimigo de Ártemis. O maior ódio possível é por alguém que um dia você já amou.
Reyna compreendia isso. Veio-lhe à mente uma conversa que ela tivera com a deusa Afrodite dois anos antes, em Charleston...
— Se ele é um problema tão grande assim, por que Ártemis simplesmente não o mata outra vez? — perguntou Reyna.
Phoebe fez um esgar de insatisfação.
— Falar é fácil. Órion é sorrateiro. Sempre que Ártemis está conosco, ele se afasta. Sempre que nós, Caçadoras, estamos por conta própria, como agora... ele ataca sem avisar e desaparece de novo. Nossa tenente anterior, Zoë Doce-Amarga, passou séculos tentando encontrá-lo para matá-lo.
— As amazonas também tentaram — disse Hylla. — Órion não distingue entre nós e as Caçadoras. Acho que todas nós o lembramos demais de Ártemis. Ele sabota nossos armazéns, embarga nossos centros de distribuição, mata nossas guerreiras...
— Em outras palavras — disse Reyna secamente — fica no caminho dos seus planos de dominação mundial.
Hylla deu de ombros.
— Exatamente.
— Foi por isso que vocês vieram correndo me interceptar — continuou Reyna. — Vocês sabiam que Órion estaria bem atrás de mim. Estão preparando uma armadilha. E eu sou a isca.
Todas as outras garotas deram um jeito de olhar para qualquer outra coisa que não o rosto de Reyna.
— Ah, por favor — reclamou Reyna. — Não me venham agora com crise de consciência. É um bom plano. Como vamos fazer?
Hylla abriu um sorriso satisfeito para suas companheiras.
— Não falei que minha irmã era durona? Phoebe, explique os detalhes a ela.
A Caçadora pendurou o arco no ombro.
— Como eu disse, acreditamos que Órion esteja seguindo você, não a Atena Partenos. O faro dele para semideusas é especialmente aguçado. Ou seja, pelo visto somos a presa natural de Órion.
— Maravilha — disse Reyna. — Então meus amigos... Nico e Gleeson Hedge... eles não correm perigo?
— Ainda não consigo entender por que você viaja com homens — resmungou Phoebe. — Mas eu diria que eles estão mais seguros sem você por perto. Fiz o possível para camuflar a estátua. Com sorte, Órion vai seguir você até aqui, direto para nossas linhas de defesa.
— E quando isso acontecer? — perguntou Reyna.
Hylla dirigiu a ela o tipo de sorriso frio que em outros tempos deixava os piratas de Barba-Negra nervosos.
— Thalia e a maioria de suas Caçadoras estão vigiando o perímetro de Viejo San Juan. Assim que Órion se aproximar de nós, vamos saber. Montamos armadilhas em todos os pontos por onde ele pode tentar passar. Tenho minhas melhores guerreiras em alerta. Vamos pegar o gigante. Depois, de um jeito ou de outro, vamos mandá-lo de volta para o Tártaro.
— É realmente possível matá-lo? — perguntou Reyna, incerta. — Achei que a maioria dos gigantes só pudesse ser destruída por um deus e um semideus lutando juntos.
— É o que pretendemos descobrir — disse Hylla. — Com Órion capturado, essa sua missão e dos seus amigos vai ser muito mais fácil. Vocês poderão seguir caminho com nossa bênção.
— Vocês podiam nos dar mais que uma bênção — disse Reyna. — As amazonas enviam produtos para o mundo inteiro. Por que não fornecer um transporte seguro para a Atena Partenos? Ou nos levar até o Acampamento Meio-Sangue até primeiro de agosto...
— Não posso — disse Hylla. — Se eu pudesse, irmã, eu a levaria, mas com certeza você já sentiu a raiva que emana da estátua. Nós, amazonas, somos filhas honorárias de Ares. A Atena Partenos nunca toleraria nossa interferência. Além disso, você sabe como as Parcas são. Para que a missão tenha sucesso, vocês devem entregar a estátua pessoalmente.
A decepção de Reyna deve ter ficado evidente.
Phoebe a cutucou com o ombro, como um gato tentando parecer sociável.
— Ei, não fique assim. Vamos ajudar você o máximo possível. O setor de manutenção da Amazon consertou aqueles seus cães de metal. E temos uns presentes de despedida muito legais.
Celyn entregou a Phoebe uma bolsinha de couro.
— Vamos ver... — disse Phoebe, remexendo dentro da bolsinha. — Poções de cura. Dardos tranquilizantes iguais aos que usamos em vocês. Humm, o que mais? Ah, sim!
Ela ergueu triunfantemente um tecido prateado dobrado em formato retangular.
— Um lenço? — perguntou Reyna.
— Melhor que isso. Afaste-se um pouco.
Phoebe jogou no chão o tecido, que imediatamente se expandiu, tornando-se uma barraca de camping de três por três metros.
— Tem ar-condicionado — disse Phoebe. — Cabem quatro pessoas. No interior tem uma mesa para refeições e sacos de dormir. Qualquer equipamento extra que você guardar dentro da barraca desmonta junto. Quer dizer, no limite do razoável... Não tente botar sua estátua gigante aí.
Celyn deu um riso de escárnio e comentou:
— Se os homens que viajam com você começarem a ficar irritantes, é só deixá-los aí dentro.
Naomi franziu a testa.
— Isso não ia funcionar... ou ia?
— Enfim — disse Phoebe. — Essas barracas são maravilhosas. Tenho uma igualzinha. Uso sempre. Quando estiver pronta para fechá-la, a palavra de comando é Actáion.
E nisso a barraca voltou a ser um pequeno retângulo de tecido.
Phoebe o pegou, guardou na bolsinha e a entregou a Reyna.
— Eu... eu não sei o que dizer — gaguejou Reyna. — Obrigada.
— Ownnn... — Phoebe deu de ombros. — É o mínimo que posso fazer por...
A uns quinze metros delas, uma porta se abriu com violência. Uma amazona veio correndo na direção de Hylla, uma garota de terninho preto que trazia o cabelo castanho comprido preso em um rabo de cavalo.
Reyna a reconheceu da batalha no Acampamento Júpiter.
— Kinzie, não é?
A garota assentiu distraidamente.
— Pretora.
A recém-chegada sussurrou algo no ouvido de Hylla, e a expressão da rainha das amazonas se nublou.
— Entendo — Ela olhou de relance para Reyna. — Tem alguma coisa errada. Perdemos contato com as defesas externas. Estou com medo de que Órion...
Atrás de Reyna, as portas de metal explodiram.

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