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O Sangue do Olimpo - CAP. XX

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XX - Piper

PIPER SABIA O QUE ERA medo, mas aquilo era diferente.
Ondas de terror quebravam sobre ela. Suas juntas se transformaram em gelatina. Seu coração se recusava a bater.
Suas piores lembranças inundaram sua mente: o pai amarrado e espancado em Monte Diablo; a briga mortal de Percy e Jason no Kansas; os três se afogando no ninfeu em Roma; ela enfrentando sozinha Quione e os boréadas. Mas o pior de tudo foi reviver toda a sua conversa com a mãe sobre o que estava para acontecer.
Paralisada, Piper viu o gigante erguer o martelo para esmagá-las. No último instante, ela saltou para o lado, derrubando Annabeth. O martelo quebrou o chão, salpicando estilhaços de pedra pelas costas de Piper.
O gigante riu.
— Ah, isso não foi justo!
Ele ergueu outra vez o martelo.
— Annabeth, levante-se!
Piper a ajudou a ficar de pé e a arrastou para a extremidade mais distante da câmara, mas Annabeth se movia de modo letárgico, com os olhos arregalados e vidrados.
Piper entendeu por quê. O templo amplificava os medos delas. Piper tinha visto algumas coisas horríveis, mas não eram nada em comparação ao que Annabeth havia experimentado. Se ela estivesse tendo lembranças do Tártaro, realçadas e somadas a outras recordações ruins, sua mente não seria capaz de resistir. Ela podia ficar literalmente louca.
— Eu estou aqui — prometeu Piper, tentando transmitir em sua voz o máximo de segurança. — Nós vamos sair dessa.
O gigante riu.
— Uma filha de Afrodite liderando uma filha de Atena! Agora eu já vi de tudo. Como você planeja me derrotar, menina? Com maquiagem e dicas de moda?
Alguns meses antes, aquele comentário poderia tê-la machucado, mas Piper já tinha superado aquilo. O gigante caminhou pesadamente na direção delas. Felizmente, ele era lento e carregava um martelo pesado.
— Annabeth, confie em mim — disse Piper.
— Um... um plano — gaguejou ela. — Eu vou para a esquerda. Você vai para a direita. Se nós...
— Annabeth, chega de planos.
— O q-quê?
— Chega de planos. Só me siga!
O gigante golpeou com o martelo, mas elas se esquivaram com facilidade. Piper saltou para a frente e cortou a parte de trás do joelho do gigante com sua espada. Enquanto ele urrava de raiva, Piper puxou Annabeth para o túnel mais próximo. Imediatamente elas foram engolidas pela escuridão.
— Suas tolas! — gritou o gigante, de algum lugar atrás delas. — Esse é o caminho errado!
— Não pare — Piper segurava firme a mão de Annabeth. — Está tudo bem. Vamos.
Ela não enxergava nada. Até o brilho de sua espada tinha se apagado. Mas Piper mesmo assim seguia em frente rapidamente e sem hesitar, confiando em suas emoções. Pelo eco de seus passos, o espaço em torno delas devia ser uma caverna ampla, mas ela não podia ter certeza. Então simplesmente seguia na direção que a deixava com mais medo.
— Piper, é como a Mansão da Noite — disse Annabeth. — Precisamos fechar os olhos.
— Não! — exclamou Piper. — Mantenha os olhos abertos. Não podemos tentar nos esconder.
A voz do gigante veio de algum lugar à frente delas:
— Perdidas para sempre. Engolidas pelas trevas.
Annabeth congelou, forçando Piper a parar também.
— Por que nós simplesmente entramos aqui? — perguntou Annabeth. — Estamos perdidas. Nós fizemos exatamente o que ele queria! Devíamos ter aguardado um pouco, conversado com o inimigo, pensado em um plano. Isso sempre funciona!
— Annabeth, eu nunca ignoro seus conselhos — Piper mantinha a voz firme. — Mas, desta vez, preciso fazer isso. Não vamos conseguir derrotar este lugar usando a razão. Você não tem como escapar de suas emoções raciocinando.
O riso do gigante ecoou como uma detonação subterrânea.
— Desespere-se, Annabeth Chase! Eu sou Mimas, nascido para matar Hefesto. Sou o algoz dos planos, o destruidor das máquinas bem-lubrificadas. Nada dá certo em minha presença. Mapas são lidos equivocadamente. Aparelhos quebram. Dados são perdidos. As melhores mentes viram mingau!
— E-eu já enfrentei piores que você! — exclamou Annabeth.
— Ah, sei! — Dessa vez, a voz do gigante soou muito mais próxima. — Você não está com medo?
— Nunca!
— Claro que estamos com medo — corrigiu Piper. — Aterrorizadas!
Ela sentiu um movimento no ar. Bem a tempo, Piper empurrou Annabeth para o lado.
CRASH!
De repente, elas estavam de volta à câmara circular. A luz fraca agora era quase cegante. O gigante estava ali bem perto delas, tentando arrancar o martelo do chão onde ele o cravara. Piper se lançou sobre ele e enfiou sua lâmina na coxa do gigante.
— UGHHHHH!
Mimas soltou o martelo e arqueou as costas.
Piper e Annabeth se esconderam atrás da estátua acorrentada de Ares, que ainda pulsava com um som metálico: tum-tum, tum-tum, tum-tum.
O gigante Mimas se virou para elas. O ferimento em sua perna já estava se curando.
— Vocês não podem me derrotar — rosnou ele. — Na última guerra, foram necessários dois deuses para me derrotar. Eu nasci para matar Hefesto, e teria feito isso se Ares não tivesse se aliado a ele! Vocês deveriam ter ficado paralisadas de medo. Teriam tido uma morte mais rápida.
Alguns dias antes, ao enfrentar Quione no Argo II, Piper tinha começado a falar sem pensar, seguindo seu coração independentemente do que dizia seu cérebro. Naquele momento, ela fez a mesma coisa: foi para a frente da estátua e encarou o gigante, apesar de seu lado racional gritar: FUJA, SUA IDIOTA!
— Este templo — disse ela. — Os espartanos não acorrentaram Ares para que seu espírito ficasse na cidade.
— Ah, não?
Os olhos do gigante brilharam de divertimento. Ele agarrou o martelo e o arrancou do chão.
— Este templo é dos meus irmãos, Deimos e Fobos — a voz de Piper tremia, mas ela não tentou esconder isso. — Os espartanos vinham aqui se preparar para as batalhas, encarar seus medos. Ares foi acorrentado para lembrá-los de que a guerra tinha consequências. O poder dele, os espíritos da batalha, os makhai, não deveriam ser libertados a menos que se entendesse como eles eram terríveis, a menos que se sentisse medo.
Mimas riu.
— Uma filha da deusa do amor me dando uma lição sobre guerra. O que você sabe sobre os makhai?
— Você já vai descobrir.
Piper correu direto para o gigante, fazendo-o se desequilibrar.
Quando viu a espada dentada vindo em sua direção, os olhos dele se arregalaram, e Mimas cambaleou para trás e bateu a cabeça na parede. Uma rachadura irregular se abriu e subiu pelas pedras. Poeira choveu do teto.
— Piper, este lugar é instável! — alertou Annabeth. — Se não sairmos...
— Nem pense em fugir!
Piper correu na direção da corda delas, que pendia do teto. Pulou o mais alto que podia e a cortou.
— Piper, você ficou maluca?
Provavelmente, pensou ela. Mas Piper sabia que aquela era a única maneira de sobreviver. Ela tinha que contrariar a razão e, em vez disso, seguir a emoção, manter o gigante no chão.
— Isso doeu! — Mimas esfregou a cabeça. — Você sabe que não pode me matar sem a ajuda de um deus, e Ares não está aqui! Da próxima vez que eu enfrentar aquele idiota petulante, vou fazê-lo em pedaços. Para começar, eu nem teria que lutar contra ele se Damásen, aquele tolo covarde, tivesse feito seu trabalho...
Annabeth soltou um grito gutural:
— Não fale mal de Damásen!
Ela correu para cima de Mimas, que por pouco não conseguiu desviar a lâmina de drakon com o cabo de seu martelo. Ele tentou agarrar Annabeth, mas Piper se lançou sobre ele, cortando o rosto do gigante com sua lâmina.
— AHHH!
Mimas cambaleou.
Uma pilha de dreadlocks caiu no chão com mais uma coisa: algo grande e carnudo que jazia em uma poça de icor dourado.
— Minha orelha! — gritou Mimas, cheio de dor.
Antes que o gigante pudesse se recuperar, Piper puxou Annabeth pelo braço, e juntas elas entraram correndo pelo segundo túnel.
— Eu vou derrubar este templo! — urrou o gigante. — A Mãe Terra vai me libertar, mas vocês serão esmagadas!
O chão tremeu. O som de pedras se quebrando ecoava por toda a volta delas.
— Piper, pare — implorou Annabeth. — C-como você está lidando com isso? O medo, a raiva...
— Não tente controlá-los. Este lugar é para isso. Você tem que aceitar o medo, se adaptar a ele, se deixar levar como se estivesse nas corredeiras de um rio.
— Como você sabe disso?
— Eu não sei. Eu apenas sinto.
Em algum lugar ali perto, uma parede desmoronou com o barulho de tiros de canhão.
— Você cortou a corda — disse Annabeth. — Agora nós vamos morrer aqui embaixo!
Piper segurou o rosto da amiga e a puxou para a frente até as suas testas se tocarem. Pelas pontas de seus dedos, ela sentia o pulso acelerado da outra.
— Não dá para ser racional com o medo. Nem com o ódio. Ambos são como o amor: são emoções quase idênticas. É por isso que Ares e Afrodite gostam um do outro. Seus filhos gêmeos, Medo e Pânico, foram gerados tanto pelo amor quanto pela guerra.
— Mas eu não... Isso não faz sentido.
— Não — concordou Piper. — Pare de pensar sobre isso. Apenas sinta.
— Eu odeio isso.
— Eu sei. Você não pode planejar seus sentimentos, Annabeth. É como sua relação com Percy, e sobre o futuro... É impossível controlar todas as possibilidades. Você precisa aceitar isso. Deixe que assuste você. Confie que vai ficar tudo bem mesmo assim.
Annabeth balançou a cabeça.
— Não sei se consigo.
— Então, por enquanto, se concentre em vingar Damásen, e Bob.
Um momento de silêncio.
— Eu estou bem agora.
— Ótimo, porque preciso de sua ajuda. Vamos sair correndo daqui juntas.
— E depois?
— Não tenho ideia.
— Pelos deuses, odeio quando é você que está liderando.
Piper riu, o que surpreendeu até ela mesma. Medo e amor estavam mesmo ligados. Naquele momento, ela se agarrou ao amor que sentia pela amiga.
— Vamos lá!
Elas correram para nenhum lugar em especial e se viram de volta na câmara principal, às costas do gigante. Cada uma cortou uma das pernas de Mimas, fazendo-o cair de joelhos.
O gigante uivou. Mais pedaços de pedra caíram do teto.
— Mortais fracas! — Mimas lutou para se levantar. — Nenhum de seus planos pode me derrotar!
— Isso é bom — disse Piper. — Porque eu não tenho um plano.
Ela correu na direção da estátua de Ares.
— Annabeth, mantenha nosso amigo ocupado!
— Ah, ele está ocupado!
— ARGHHHH!
Piper olhou para o rosto cruel de bronze do deus da guerra. A estátua vibrava com o ruído baixo de uma pulsação metálica.
Os espíritos da batalha, pensou ela. Eles estão lá dentro, esperando para ser libertados.
Mas não cabia a ela fazer isso, não até que tivesse provado a própria coragem.
A câmara tornou a trepidar. Surgiram mais rachaduras nas paredes. Piper olhou para as imagens esculpidas acima dos portais: os rostos gêmeos carrancudos de Medo e Pânico.
— Meus irmãos — disse Piper. — Filhos de Afrodite... Eu lhes ofereço um sacrifício.
Ela pôs sua cornucópia aos pés de Ares. O chifre mágico tinha ficado tão conectado a suas emoções que podia amplificar sua raiva, seu amor ou seu pesar e, de acordo com esses sentimentos, despejar sua generosidade. Ela torcia para que aquilo agradasse aos deuses do medo.
Ou talvez eles apenas gostassem de seguir uma dieta rica em frutas e verduras frescas.
— Estou apavorada — confessou ela. — Não quero fazer isso. Mas aceito que seja necessário.
Ela girou sua espada e decepou a cabeça de bronze da estátua.
— Não! — berrou Mimas.
Um jato de fogo jorrou violentamente do pescoço cortado da estátua. As chamas giraram em torno de Piper e encheram a câmara com um turbilhão de emoções: ódio, medo e sede de sangue, mas também amor, porque ninguém podia encarar uma batalha sem amar alguma coisa – os companheiros, a família, o lar.
Piper abriu os braços; os makhai a colocaram no centro de seu rodamoinho.
Vamos responder ao seu chamado, sussurraram eles em sua mente. Apenas uma única vez, quando precisar de nós, destruição, ruína e carnificina irão atendê-la. Nós vamos completar sua cura.
As chamas desapareceram com a cornucópia, e a estátua de Ares se transformou em pó.
— Menina tola! — Mimas correu na direção dela, com Annabeth seguindo logo atrás. — Os makhai a abandonaram!
— Ou talvez eles tenham abandonado você! — gritou Piper.
Mimas levantou o martelo, mas tinha se esquecido de Annabeth. Ela deu uma estocada em sua coxa, e o gigante cambaleou para a frente, desequilibrado. Piper avançou com calma até ele e enfiou a espada em sua barriga.
Mimas deu de cara no portal mais próximo. Ele virou de costas no momento em que o rosto de pedra de Pânico se soltou da parede e caiu em cima dele para um beijo de uma tonelada.
O grito do gigante foi interrompido no meio. Seu corpo ficou imóvel. Depois ele se desintegrou em uma pilha de pó de oito metros de altura.
Annabeth encarou Piper.
— O que acabou de acontecer?
— Não sei direito.
— Piper, você foi maravilhosa, mas esses espíritos de fogo que você evocou...
— Os makhai...
— Como isso vai nos ajudar a encontrar a cura que estamos procurando?
— Não sei. Eles disseram que eu posso invocá-los quando chegar a hora. Talvez Ártemis e Apolo possam explicar...
De repente, um pedaço da parede despencou como se fosse uma geleira.
Annabeth tropeçou na orelha decepada do gigante e quase caiu.
— Temos que ir embora daqui.
— Estou trabalhando nisso — disse Piper.
— E, hum, acho que essa orelha é seu espólio de guerra.
— Que nojo.
— Daria um escudo lindo.
— Cale a boca, Chase — Piper olhou fixamente para o segundo portal, o que ainda tinha o rosto de Medo esculpido. — Obrigada, irmãos, por me ajudarem a matar o gigante. Mas preciso de mais um favor: uma saída. E podem acreditar em mim, estou devidamente apavorada. Eu ofereço a vocês essa, hum, bela orelha como sacrifício.
O rosto de pedra não respondeu. Outro pedaço da parede se soltou e caiu. Abriram-se ainda mais rachaduras no teto.
Piper agarrou a mão de Annabeth.
— Vamos passar por este portal. Se isso funcionar, nós talvez saiamos na superfície.
— E se não funcionar?
Piper levantou a cabeça e olhou para o rosto de Medo.
— Vamos descobrir.
A câmara desmoronava em volta das duas quando elas mergulharam na escuridão.

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