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O Sangue do Olimpo - CAP. XVII

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XVII - Piper

PIPER NÃO PODIA ACREDITAR EM como era difícil encontrar um veneno mortal.
Ela e Frank passaram a manhã inteira vasculhando o porto de Pilos. Frank permitiu que apenas Piper fosse com ele, achando que o charme poderia ser útil se eles encontrassem seus parentes que mudavam de forma.
No fim, a espada dela foi mais necessária. Até ali, eles tinham matado um ogro lestrigão na padaria, lutado contra um javali gigante na praça pública e derrotado um bando de pássaros da Estinfália com alguns legumes bem-mirados da cornucópia de Piper.
A garota ficou satisfeita com a distração. Evitava que ela ficasse pensando na conversa que tivera com a mãe na noite anterior, aquele vislumbre do futuro que Afrodite a fizera prometer não contar...
Contudo, o maior desafio de Piper em Pilos eram os anúncios do novo filme de seu pai espalhados por toda a cidade. Os cartazes estavam em grego, mas Piper sabia o que diziam: TRISTAN MCLEAN É JAKE STEEL EM ASSINADO COM SANGUE.
Pelos deuses, que título horrível. Ela desejou que seu pai nunca tivesse estrelado a franquia Jake Steel, mas aquele era um de seus papéis mais populares. Lá estava ele no pôster com a camisa rasgada revelando um abdômen sarado (eca, pai!), uma AK-47 em cada mão e um sorriso confiante e sensual no rosto de traços fortes.
Do outro lado do mundo, na menor e mais fora de mão cidadezinha imaginável, lá estava seu pai. Aquilo deixou Piper triste, desorientada, com saudade de casa e irritada, tudo ao mesmo tempo. A vida seguia. E Hollywood também. Enquanto seu pai fingia salvar o mundo, Piper e seus amigos tinham que fazer isso de verdade. E só faltavam oito dias, a menos que Piper conseguisse cumprir o plano de Afrodite... Do contrário não haveria mais filmes, nem cinemas, nem gente.
Por volta de uma da tarde, Piper finalmente botou o charme para funcionar. Falou com um fantasma da Grécia Antiga em uma lavanderia (numa escala de um a dez para conversas estranhas, com certeza essa era nota onze) e assim recebeu instruções para chegar a uma fortaleza antiga, onde supostamente os descendentes metamorfos de Periclimeno se reuniam.
Depois de uma caminhada penosa pela ilha sob o sol da tarde, eles encontraram a entrada da caverna no meio de um penhasco à beira-mar. Frank insistiu para que Piper esperasse na praia enquanto ele conferia o lugar.
Piper não gostou nada daquilo, mas esperou obedientemente, olhando meio desconfiada para a entrada da caverna e torcendo para não ter conduzido Frank para uma armadilha mortal.
Atrás dela, uma faixa de areia branca circulava o sopé das encostas. Banhistas tomavam sol deitados em toalhas. Crianças pequenas brincavam nas ondas. O mar azul reluzia, convidativo.
Piper teve vontade de surfar naquelas águas. Ela havia prometido ensinar Hazel e Annabeth um dia, se elas fossem a Malibu... Isso se Malibu ainda existisse depois de primeiro de agosto.
Ela olhou para o alto do penhasco. No cume, havia as ruínas de um velho castelo. Piper não sabia se faziam parte do esconderijo ou não. Não havia nenhum movimento lá em cima. A entrada da caverna ficava na face do despenhadeiro, a cerca de trinta metros do topo – um círculo negro na rocha calcária amarelada, como o buraco de um apontador de lápis gigante.
A Caverna de Nêstor, como chamou o fantasma da lavanderia.
Supostamente, o antigo rei de Pilos tinha escondido seu tesouro ali em tempos de crise. O fantasma também disse que Hermes escondera naquela caverna o gado roubado de Apolo. Vacas.
Piper sentiu um calafrio. Quando era pequena, ela e o pai passaram de carro por um abatedouro em Chino. O cheiro foi suficiente para fazê-la virar vegetariana. Desde então, só de pensar em vacas ela passava mal. Suas experiências com Hera, a rainha bovina, os catóblepas em Veneza e as imagens das assustadoras vacas da morte na Casa de Hades também não ajudaram.
Quando Piper começou a pensar que Frank estava demorando demais, ele apareceu na entrada da caverna. Vinha acompanhado de um homem alto de cabelos grisalhos em um terno de linho branco e gravata amarelo-clara.
O homem colocou um objeto pequeno e brilhante – parecia uma pedra ou um pedaço de vidro – nas mãos de Frank. Ele e Frank trocaram algumas palavras. Frank assentiu, sério. Em seguida, o homem se transformou em uma gaivota e saiu voando.
Frank desceu pela pedra até alcançar Piper.
— Eu os encontrei — disse ele.
— Percebi. Você está bem?
Ele olhou para a gaivota, que voava na direção do horizonte.
O cabelo bem curto de Frank apontava para a frente como uma flecha, tornando seu olhar ainda mais intenso. Suas medalhas romanas – Coroa Mural, centurião, pretor – brilhavam na gola da camisa. A tatuagem SPQR, com as lanças cruzadas de Marte, se destacava à luz forte do sol. Ele ficou bem com a roupa nova. O javali gigante deixara as antigas muito sujas, então Piper o levara para fazer compras de emergência em Pilos. Agora Frank usava calça jeans preta, botas de couro cru e uma camisa verde-escura da Henley que se ajustava bem em seu corpo. Ele não se sentia à vontade com a camisa. Estava acostumado a se esconder em roupas largas, mas Piper lhe garantira que ele não precisava se preocupar mais com isso. Desde seu estirão de crescimento em Veneza, o corpo de Frank tinha se acomodado muito bem a seus músculos.
Você não mudou, Frank, dissera Piper a ele. Você só está mais você.
Era uma coisa boa que Frank Zhang ainda fosse tão meigo e falasse de modo tão doce. Do contrário, ele seria um cara assustador.
— Frank? — chamou ela, delicadamente.
— Oi, desculpe. — Ele se concentrou nela. — Meus, hum... primos, acho que posso chamá-los assim... eles vivem aqui há gerações. Todos descendem de Periclimeno, o argonauta. Contei a eles minha história, sobre como a família Zhang foi da Grécia para Roma, depois para a China e, por fim, para o Canadá. Contei a eles sobre o fantasma do legionário que vi na Casa de Hades, que me disse para vir a Pilos. Eles... não pareceram surpresos. Disseram que isso já aconteceu antes, parentes perdidos há muito tempo voltarem para casa.
Piper percebeu a tristeza em sua voz.
— Você esperava alguma coisa diferente?
Ele deu de ombros.
— Uma recepção mais calorosa. Uns balões. Não sei. Minha avó me contou que eu iria fechar o ciclo, restaurar a honra de nossa família, essas coisas. Mas meus primos aqui... eles foram meio frios, distantes, como se não me quisessem por perto. Acho que não gostaram de eu ser filho de Marte. Sinceramente, acho que também não gostaram de eu ser chinês.
Piper olhou para o céu. A gaivota tinha desaparecido havia muito tempo, o que provavelmente era uma coisa boa. Ela ficaria tentada a derrubá-la com um presunto tender.
— Se seus primos pensam assim, eles são idiotas. Não sabem como você é incrível.
Frank alternava o peso do corpo de um pé para o outro.
— Eles ficaram um pouco mais amistosos quando eu disse que estava só de passagem. E me deram um presente de despedida.
Ele abriu a mão, revelando o brilho de um frasco metálico do tamanho de um colírio.
Piper resistiu à vontade de se afastar.
— Isso é o veneno?
Frank assentiu.
— Eles chamam isso de menta pilosiana. Aparentemente, a planta nasceu do sangue de uma ninfa que morreu em uma montanha perto daqui muito tempo atrás. Eu não perguntei sobre os detalhes.
O frasco era tão pequeno... Piper se perguntou se aquilo seria suficiente. Normalmente ela não desejaria mais veneno mortal. Nem sabia como aquele negócio iria ajudá-los a obter a cura do médico que Nice havia mencionado. Mas, se essa cura realmente fosse capaz de enganar a morte, Piper ia querer preparar seis doses, uma para cada um de seus amigos.
Frank rolou o frasco na palma da mão.
— Eu queria que Vitellius Reticulus estivesse aqui.
Piper achou que não tinha ouvido direito.
— Ridiculus quem?
Um sorriso passou rapidamente pelo rosto dele.
— Gaius Vitellius Reticulus, apesar de às vezes também o chamarmos de Ridiculus. Ele era um dos Lares da Quinta Coorte. Meio bobão, mas era filho de Esculápio, o deus da medicina. Se alguém soubesse alguma coisa sobre essa tal cura do médico... seria ele.
— Um deus da medicina seria bom — concordou Piper. — Melhor que ter uma deusa da vitória histérica e amarrada a bordo.
— Ei, você tem sorte. Minha cabine é a que fica mais perto dos estábulos. Fico a noite inteira ouvindo: PRIMEIRO LUGAR OU MORTE! NOVE E MEIO NÃO É UMA BOA NOTA! Leo precisa criar uma mordaça melhor do que a minha meia velha.
Piper deu de ombros. Ela ainda não entendia por que tinha sido uma boa ideia capturar a deusa. Quanto mais cedo se livrassem de Nice, melhor.
— Então seus primos... eles tinham alguma ideia do que vai acontecer agora? Ou sobre esse deus acorrentado que devemos encontrar em Esparta?
Frank ficou com uma expressão sombria.
— É, infelizmente eles tinham algo a dizer sobre isso. Vamos voltar para o barco e eu conto a você.
Os pés de Piper a estavam matando. Ela se perguntou se conseguiria convencer Frank a se transformar em águia gigante e carregá-la, mas antes que pudesse perguntar, ouviu pegadas na areia atrás deles.
— Olá, turistas simpáticos! — Um pescador magro com um chapéu de capitão branco e a boca cheia de dentes de ouro sorriu para eles. — Passeio de barco? Muito barato!
Ele apontou para a água, onde um barco com motor aguardava.
Piper sorriu de volta. Ela adorava quando conseguia se comunicar com os moradores locais.
— Sim, por favor — disse ela, com uma boa dose de charme. — E gostaríamos que nos levasse a um lugar especial.

* * *

O capitão do barco os deixou no Argo II, que estava ancorado a cerca de quinhentos metros da praia. Piper botou uma pilha de euros nas mãos dele.
Ela não era totalmente contra usar o charme em mortais, mas havia decidido ser o mais justa e cuidadosa possível. Nada mais de roubar BMWs em concessionárias de automóveis.
— Obrigada — disse ela. — Se alguém perguntar, você nos levou para uma volta ao redor da ilha e nos mostrou os pontos turísticos. Depois nos deixou nas docas em Pilos. Você nunca viu um navio de guerra gigante.
— Nenhum navio de guerra — concordou o capitão. — Obrigado, turistas americanos simpáticos.
Eles subiram a bordo do Argo II, e Frank sorriu de um jeito estranho para ela.
— Bem, foi um prazer matar javalis gigantes com você.
Piper riu.
— O prazer foi meu, Sr. Zhang.
Ela o abraçou, o que pareceu deixá-lo sem graça, mas Piper não podia evitar gostar de Frank. Não só ele era um namorado bom e atencioso para Hazel, mas, sempre que Piper o via usando o velho emblema de pretor de Jason, ela se sentia grata por ele ter se oferecido para aquele trabalho. Frank havia tirado uma grande responsabilidade dos ombros de Jason e o liberado (ou assim Piper esperava) para buscar um futuro diferente no Acampamento Meio-Sangue... supondo, é claro, que todos eles sobrevivessem aos oito dias seguintes.
A tripulação se reuniu para uma reunião rápida na proa, principalmente porque Percy estava de olho em uma serpente-marinha vermelha gigante que nadava a bombordo.
— Aquela coisa é vermelha mesmo — murmurou Percy. — Será que é sabor cereja?
— Por que você não nada até lá e descobre? — perguntou Annabeth.
— Que tal não?
— Enfim — disse Frank. — Segundo meus primos de Pilos, o deus acorrentado que estamos procurando em Esparta é meu pai... Quer dizer, a forma grega dele, Ares. Aparentemente, os espartanos tinham uma estátua dele acorrentada em sua cidade para que o espírito da guerra nunca os deixasse.
— Ok — disse Leo. — Os espartanos eram esquisitos. Mas, bem, temos Vitória amarrada lá embaixo, então acho que não podemos falar nada.
Jason se apoiou na balista da proa.
— Então nosso próximo destino é Esparta. Mas como é que a batida do coração de um deus acorrentado pode nos ajudar a encontrar uma cura para a morte?
Pela tensão em seu rosto, Piper via que ele ainda sentia dor. Ela se lembrou do que Afrodite tinha lhe dito: Não é apenas o ferimento de espada, querida. É a verdade infeliz que ele viu em Ítaca. Se o pobre garoto não se mantiver firme, essa verdade vai devorá-lo inteiro.
— Piper? — chamou Hazel.
Ela se virou.
— Desculpe. O que foi?
— Eu perguntei sobre as visões — lembrou Hazel. — Você me disse que tinha visto alguma coisa na lâmina da sua adaga.
— Ah... isso.
Piper desembainhou Katoptris com relutância. Desde que ela a usara para golpear a deusa da neve, Quione, as visões na lâmina tinham se tornado mais frias e duras, como imagens gravadas em gelo. Ela vira águias voando em círculos sobre o Acampamento Meio-Sangue e uma onda de terra destruindo Nova York. Tinha visto cenas do passado: o pai surrado e amarrado no topo do Monte Diablo, Jason e Percy lutando contra gigantes no Coliseu romano, o deus-rio Aqueloo estendendo a mão para ela, implorando pela cornucópia que Piper havia cortado de sua cabeça.
— Eu, hum... — Ela tentou clarear os pensamentos. — Não estou vendo nada agora. Mas uma visão sempre se repete: Annabeth e eu estamos explorando umas ruínas...
— Ruínas! — Leo esfregou as mãos. — Agora estamos chegando a algum lugar. Quantas ruínas pode haver na Grécia?
— Fique quieto, Leo — repreendeu Annabeth. — Piper, você acha que era Esparta?
— Talvez — disse Piper. — Enfim... de repente nós estamos em um lugar escuro, como uma caverna. Ficamos de frente para uma estátua de bronze de um guerreiro. Na visão, eu toco o rosto da estátua, e à nossa volta surge um turbilhão de chamas. Isso foi tudo o que vi.
— Chamas — Frank franziu a testa. — Não gosto dessa visão.
— Nem eu — Percy não tirava o olho da serpente-marinha vermelha, que ainda deslizava entre as ondas uns cem metros a bombordo. — Se a estátua engolfa as pessoas em fogo, devemos mandar Leo.
— Também amo você, cara.
— Você entendeu. Você é imune. Ah, tanto faz, me dê umas dessas lindas granadas de água e eu vou. Ares e eu já nos enfrentamos antes.
Annabeth ficou olhando para a costa de Pilos, já distante agora.
— Se Piper viu nós duas procurando a estátua, então somos nós que devemos ir. Vamos ficar bem. Sempre há um jeito de sobreviver.
— Nem sempre — alertou Hazel.
Como ela era a única no grupo que tinha realmente morrido e voltado à vida, sua observação meio que quebrou o clima.
Frank mostrou o frasco de menta pilosiana.
— E esse negócio? Depois da Casa de Hades eu meio que esperava não ter que beber veneno de novo.
— Guarde isso em segurança — disse Annabeth. — Por enquanto, é tudo o que podemos fazer. Depois que resolvermos essa situação do deus acorrentado, seguimos para a ilha de Delos.
— A maldição de Delos — lembrou Hazel. — Isso parece divertido.
— Espero que Apolo esteja lá — disse Annabeth. — Ele vivia em Delos. É o deus da medicina. Deve poder nos aconselhar.
Piper se lembrou das palavras de Afrodite: Você deve ser a ponte entre romanos e gregos, minha filha. Nem tempestade nem fogo terão sucesso sem você.
Afrodite a alertara sobre o que estava por vir, contara a ela o que teria que fazer para deter Gaia. Se teria coragem ou não... Piper não sabia.
A bombordo, a serpente-marinha sabor cereja soltou um jato de vapor.
— É, com certeza ela está nos observando — concluiu Percy. — Talvez fosse melhor ir pelo ar por algum tempo.
— Que seja pelo ar, então! — disse Leo. — Festus, faça as honras!
O dragão de bronze rangeu e estalou. O motor do navio começou a trabalhar. Os remos se ergueram e se expandiram em hélices com o som de noventa guarda-chuvas se abrindo ao mesmo tempo, e o Argo II subiu ao céu.
— Devemos chegar a Esparta pela manhã — anunciou Leo. — E lembrem-se de vir ao refeitório à noite, meus caros, porque o chef Leo vai fazer seus famosos tacos de tofu superapimentados!

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