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O Sangue do Olimpo - CAP. XV

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XV - Nico

— LOBOS? — PERGUNTOU REYNA.
Estavam jantando. Haviam comprado comida em uma cafeteria ali perto.
Apesar do aviso de Hades para voltarem correndo, Nico não viu nenhuma grande mudança na praça onde haviam acampado. Reyna tinha acabado de acordar. A Atena Partenos continuava em cima do templo. O treinador Hedge estava divertindo alguns moradores locais com números de sapateado e de artes marciais, de vez em quando cantando em seu megafone, apesar de parecer que ninguém entendia o que ele estava dizendo.
Nico desejou que o treinador não tivesse levado o megafone. Além de ser um troço barulhento e chato, de vez em quando, sem nenhuma razão aparente, o treinador disparava falas aleatórias do Darth Vader em Star Wars ou berrava “A VACA FAZ MUUU!”.
Reyna parecia alerta e enérgica enquanto os três comiam sentados no gramado. Ela e o treinador Hedge ouviram Nico contar seus sonhos, depois seu encontro com Hades na Capela dos Ossos. Ele ocultou alguns detalhes mais íntimos de sua conversa com o pai, apesar de sentir que Reyna entendia muito bem o que era lutar contra os próprios sentimentos.
Quando mencionou Órion e os lobos que supostamente estariam atrás deles, Reyna franziu a testa, confusa.
— A maioria dos lobos é amiga dos romanos — disse ela. — Nunca ouvi falar de Órion saindo para caçar levando uma alcateia.
Nico terminou seu sanduíche de presunto e olhou para o prato de doces, surpreendendo-se com o tamanho de seu apetite.
— Talvez ele tenha falado no sentido figurado: pouquíssimo tempo até que cheguem os lobos. Talvez Hades não estivesse se referindo a lobos de verdade. De qualquer modo, precisamos partir assim que a escuridão começar a gerar sombras.
O treinador Hedge enfiou na mochila um exemplar da revista Guns & Ammo.
— O único problema é que a Atena Partenos ainda está a dez metros do chão. Vai ser divertido levar vocês e todas as nossas coisas até o alto daquele templo.
Nico provou um doce. A mulher da cafeteria os havia chamado de farturas. Pareciam donuts em espiral. Eram deliciosos, a combinação exata de crocância, açúcar e manteiga, mas, quando ele ouvira o nome fartura pela primeira vez, pensou que Percy teria feito um trocadilho escatológico com a semelhança da palavra em português com o termo em inglês para “pum”: fart.
Quanto mais Nico crescia, mais achava Percy infantil, apesar de Percy ser três anos mais velho que ele. Nico achava seu senso de humor ao mesmo tempo simpático e irritante. Resolveu se concentrar no irritante.
Em outros momentos, porém, Percy agia todo sério: ao olhar para Nico do fundo daquele abismo em Roma – No outro lado, Nico! Leve-os para lá! Prometa!
E Nico prometera. Agora parecia não importar quanto ele se ressentia de Percy Jackson. Nico faria qualquer coisa por ele. E se odiava por isso.
— Então... — A voz de Reyna o arrancou de seus pensamentos. — Será que o Acampamento Meio-Sangue vai esperar o dia primeiro de agosto, ou será que eles vão atacar?
— Vamos torcer para que esperem — disse Nico. — Não podemos... Eu não posso levar a estátua mais rápido que isso.
Mesmo a essa velocidade, meu pai acha que eu posso morrer. Nico guardou esse pensamento para si mesmo.
Bem que Hazel podia estar ali com ele. Juntos, eles haviam tirado da Casa de Hades toda a tripulação do Argo II, e fizeram isso viajando nas sombras. Quando os dois uniam seus poderes, Nico sentia como se tudo fosse possível. Com Hazel, a viagem até o Acampamento Meio-Sangue levaria metade do tempo.
Além disso, ele sentira um calafrio ao ouvir as palavras de Hades sobre a morte de um membro da tripulação. Nico não podia perder Hazel. Mais uma irmã, não. De novo, não.
O treinador Hedge, que contava as moedas em seu boné de beisebol, ergueu os olhos.
— Então Clarisse disse que Mellie estava bem. Tem certeza?
— Tenho, treinador. Clarisse está cuidando bem dela.
— Isso me deixa mais tranquilo. Não gostei do que Grover disse sobre Gaia sussurrando no ouvido das ninfas e das dríades. Se os espíritos da natureza se voltarem para o mal... não vai ser nem um pouco bacana.
Nico nunca tinha ouvido falar de algo desse tipo acontecendo. Mas, pensando bem, Gaia também não despertava desde o alvorecer da humanidade.
Reyna deu uma mordida em um doce. Sua cota de malha reluziu ao sol da tarde.
— Estou curiosa sobre esses lobos... Será que entendemos mal a mensagem? A deusa Lupa anda muito quieta. Talvez esteja nos mandando ajuda. Os lobos podem ser dela... para nos defender de Órion e seus caçadores.
A esperança em sua voz era frágil como renda. Nico tentou não a destruir.
— Talvez — disse ele. — Mas Lupa não estaria ocupada com a guerra entre os acampamentos? Achei que ela estivesse enviando lobos para ajudar sua legião.
— Lobos não combatem na linha de frente. E não acho que ela ajudaria Octavian. Os lobos de Lupa talvez estejam patrulhando o Acampamento Júpiter, defendendo-o na ausência da Legião, mas não sei...
Ela cruzou as pernas na altura dos tornozelos; as pontas de ferro de suas botas brilharam. Nico lembrou a si mesmo de nunca enfrentar legionários romanos na base dos chutes.
— Tem mais uma coisa — continuou Reyna. — Não consegui entrar em contato com minha irmã, Hylla. É meio preocupante ver que lobos e amazonas estão em silêncio. Se aconteceu alguma coisa na costa oeste... infelizmente acho que a única esperança para os dois acampamentos está conosco. Precisamos devolver logo a estátua. Isso significa que o maior fardo está sobre os seus ombros, filho de Hades.
Nico engoliu em seco. Não estava com raiva de Reyna. Gostava dela, até. Mas volta e meia lhe pediam que fizesse o impossível. E, normalmente, assim que ele o fazia, era esquecido.
Nico se lembrava de como os garotos do Acampamento Meio-Sangue o trataram bem depois da guerra com Cronos. Bom trabalho, Nico! Obrigado por trazer os exércitos do Mundo Inferior para nos salvar! Todo mundo sorrindo. Todos o convidando para se sentar a sua mesa. Depois de mais ou menos uma semana, a recepção a sua presença já não era mais tão calorosa. Os campistas pulavam de susto ao vê-lo aparecer atrás deles. Quando surgia das sombras perto da fogueira, alguém sempre se assustava, e Nico via o desconforto em seus olhos: Você ainda está aqui? Por que está aqui?
Não ajudou muito o fato de, imediatamente após a guerra com Cronos, Annabeth e Percy terem começado a namorar...
Nico deixou sua fartura pela metade. De repente, ela já não estava mais tão gostosa.
Ele se lembrou de sua conversa com Annabeth em Épiro pouco antes de partir com a Atena Partenos.
Ela o havia puxado para um canto, dizendo:
— Ei, preciso falar com você.
Nico havia sido tomado pelo pânico. Ela sabe.
— Eu queria agradecer — prosseguira Annabeth. — Bob... o titã... ele só nos ajudou no Tártaro porque você foi bom para ele. Você disse que nós merecíamos ser salvos. Essa é a única razão para estarmos vivos.
Ela dizia nós com muita facilidade, como se ela e Percy fossem intercambiáveis, inseparáveis.
Nico uma vez tinha lido um conto de Platão. Segundo ele, antigamente todos os seres humanos eram uma combinação de homem e mulher. Todas as pessoas tinham duas cabeças, quatro braços, quatro pernas. Supostamente, o grande poder desses humanos “acoplados” incomodava os deuses, de tal forma que Zeus os dividiu ao meio. Depois disso, os humanos ficaram se sentindo incompletos. E passaram toda a vida em busca de sua outra metade.
E onde eu me encaixo nisso?, perguntou-se Nico.
Essa não era sua história preferida.
Ele queria odiar Annabeth, mas simplesmente não conseguia. Ela se desviara de seu caminho só para agradecer a ele, em Épiro. Era autêntica e sincera. Nunca o ignorava ou o evitava, como a maioria das pessoas fazia. Por que ela não podia ser uma pessoa horrível? As coisas seriam mais fáceis.
O deus do vento, Favônio, o alertara na Croácia: Se deixar a raiva governá-lo, seu destino será ainda mais triste que o meu.
Mas como seu destino seria outra coisa que não triste? Mesmo que Nico sobrevivesse àquela missão, teria que deixar os dois acampamentos para sempre. Era a única forma de encontrar a paz. Bem que Nico queria que houvesse outra opção, uma alternativa não tão dolorosa quanto as águas do Flegetonte, mas ele não via saída.
Reyna o observava, provavelmente tentando ler seus pensamentos. Ela olhou rapidamente para as mãos dele, e Nico percebeu que estava girando o anel de caveira: o último presente que Bianca lhe dera.
— Como podemos ajudar você, Nico? — perguntou Reyna.
Outra pergunta que ele não estava acostumado a ouvir.
— Não sei — admitiu ele. — Vocês já me deixaram descansar o máximo possível. Isso é importante. Talvez você possa me emprestar sua força de novo. Esse próximo salto vai ser o mais longo. Vou precisar reunir energia suficiente para cruzarmos o Atlântico.
— Você vai conseguir — prometeu Reyna. — E, quando estivermos de volta aos Estados Unidos, teremos menos monstros para enfrentar. Talvez eu até consiga ajuda de legionários aposentados da costa leste. Eles são obrigados a ajudar qualquer semideus romano que os convoque.
Hedge resmungou:
— Se é que eles já não foram recrutados por Octavian. Nesse caso, você pode acabar presa por traição.
— Treinador — repreendeu-o Reyna — assim você não está ajudando.
— Ei, só estou avisando. Por mim, ficaríamos mais tempo aqui em Évora. Comida boa, dinheiro bom... e, até agora, nenhum sinal desses lobos em sentido figurado...
Os cães de Reyna se ergueram.
Uivos cortaram o ar, ao longe. Antes que Nico se levantasse, surgiram lobos de todas as direções. Grandes e negras, as feras saltaram de cima dos telhados e cercaram os três.
O maior dos lobos se adiantou, ficou de pé nas patas traseiras e começou a se transformar. Suas patas dianteiras viraram braços. Seu focinho se encolheu até adquirir o formato de um nariz humano pontudo. Seu pelo cinza tornou-se uma capa de peles de animais costuradas. Antes fera, a criatura era agora um homem alto e magro com rosto emaciado e olhos de um vermelho brilhante. Uma coroa de falanges humanas adornava seu cabelo negro ensebado.
— Ah, pequeno sátiro... — O homem sorriu, revelando presas afiadas. — Seu desejo foi atendido! Vocês ficarão em Évora para sempre, porque, para sua infelicidade, meus lobos em sentido figurado são lobos de verdade.

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