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O Sangue do Olimpo - CAP. XLV

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XLV - Nico

A MENOS DE DEZ QUILÔMETROS do acampamento havia um 4x4 preto, estacionado na praia.
Eles prenderam o barco em uma marina particular. Nico ajudou Dakota e Leila a puxarem Michael Kahale para a terra. O grandalhão continuava semiconsciente, balbuciando ordens e incentivos para um time imaginário de futebol americano, ao que pareceu a Nico: “Vermelho doze. Direita trinta e um. Manda um snap!” E então ele caía na gargalhada.
— Vamos deixá-lo aqui — disse Leila. — Só não o amarre. Coitado...
— E o carro? — perguntou Dakota. — As chaves estão no portaluvas, mas... hã... você sabe dirigir?
Leila franziu a testa.
— Achei que você soubesse dirigir. Você já não tem dezessete anos?
— Eu nunca aprendi! — exclamou Dakota. — Estava ocupado.
— Podem deixar comigo — garantiu Nico.
Os dois olharam para ele.
— Mas você tem, tipo, catorze anos — disse Leila.
Nico gostava de ver como os romanos ficavam nervosos perto dele, mesmo sendo mais velhos, maiores e mais experientes em batalha.
— Eu não disse que ia me arriscar ao volante.
Ele se ajoelhou e pôs a mão no chão. Sentiu os túmulos mais próximos, os ossos de humanos enterrados e espalhados por ali, mergulhados no esquecimento. Então procurou mais fundo, estendendo seus sentidos até o Mundo Inferior.
— Jules-Albert. Vamos dar uma volta.
O chão se abriu. Um zumbi em um traje esfarrapado de motorista do século XIX arrastou-se até a superfície. Leila deu um passo para trás.
Dakota gritou como uma criancinha.
— Mas o que é isso, cara? — protestou Dakota.
— É o meu motorista — explicou Nico. — Jules-Albert terminou em primeiro na corrida Paris-Rouen de 1895, mas não pôde receber o prêmio por causa do alimentador automático do seu carro a vapor.
Leila olhava para ele interrogativamente.
— Do que é que você está falando?
— Ele é uma alma inquieta, sempre à procura de mais uma chance de dirigir — disse Nico. — Tem sido meu motorista fiel nos últimos anos.
— Então você tem um chofer zumbi — disse Leila, incrédula.
— Eu vou na frente.
Nico sentou-se no banco do carona. Os romanos entraram atrás, relutantes.
Jules-Albert tinha uma grande qualidade: era imune a emoções. Podia passar o dia inteiro preso no engarrafamento que não perdia a paciência. Era imune à fúria do trânsito. Podia até dirigir na direção de um grupo de centauros selvagens e passar pelo meio deles sem ficar nervoso.
Os centauros eram diferentes de tudo que Nico já vira. Tinham traseiro de baio, peito e braços peludos cobertos de tatuagens e chifres de touro na testa. Nico duvidava muito que eles conseguissem se misturar com os humanos com a mesma facilidade que Quíron.
Havia pelo menos duzentos deles treinando incansavelmente com espadas e lanças, ou assando carcaças de animais sobre fogueiras (centauros carnívoros... Nico teve um calafrio só de pensar). O acampamento deles ficava do outro lado da estradinha rural que serpenteava em volta do perímetro sudeste do Acampamento Meio-Sangue.
O 4x4 foi abrindo caminho, buzinando quando necessário. De vez em quando um centauro olhava pela janela do motorista, via o zumbi e recuava em choque.
— Pela armadura de Plutão — murmurou Dakota. — Chegaram ainda mais centauros ontem à noite.
— Não os olhe nos olhos — alertou Leila. — Eles encaram isso como um desafio para um duelo mortal.
Nico manteve o olhar fixo à frente enquanto o 4x4 avançava. Seu coração batia forte, mas ele não estava com medo. Estava com raiva.
Octavian havia cercado o Acampamento Meio-Sangue de monstros.
Claro, os sentimentos de Nico em relação ao acampamento grego eram bem conflitantes. Sim, ele tinha se sentido rejeitado ali, deslocado, indesejado e ignorado... mas agora que o local estava à beira da destruição, Nico percebia quanto significava para ele. Aquele era o último lar onde ele e Bianca tinham vivido juntos, o único lugar onde haviam se sentido seguros, mesmo que apenas temporariamente.
Fizeram uma curva na estrada. Nico cerrou os punhos: mais monstros... centenas mais. Homens com cabeça de cachorro circulavam em matilhas, seus machados de guerra reluzindo à luz das fogueiras dos acampamentos. Mais além, via-se uma tribo de homens de duas cabeças vestidos em trapos e cobertores, como mendigos, e armados com uma coleção variada de fundas, porretes e canos de metal.
— Octavian é um idiota — disse Nico entre dentes. — Ele acha que pode controlar essas criaturas?
— E elas não param de chegar — comentou Leila. — Antes que a gente se dê conta... Bem, veja.
A legião estava em formação de combate na base da Colina Meio-Sangue, as cinco coortes em perfeita ordem, seus estandartes resplandecentes e imponentes. Águias gigantes sobrevoavam-nas em círculos. As armas de cerco, seis onagros dourados do tamanho de casas, estavam posicionadas na retaguarda em um semicírculo espaçado, três em cada flanco. Mas, mesmo com toda essa disciplina impressionante, a Décima Segunda Legião parecia pateticamente pequena, uma mancha de valentia semidivina em um mar de monstros vorazes.
Naquele momento, Nico desejou ainda ter consigo o cetro de Diocleciano, mas dificilmente uma legião de guerreiros mortos conseguiria causar sequer um arranhão naquele exército. Nem o Argo II teria muito poder contra aquele tipo de força.
— Preciso neutralizar os onagros — disse Nico. — Não temos muito tempo.
— Você não vai conseguir chegar nem perto — avisou Leila. — Mesmo se convencermos a Quarta e a Quinta inteiras a nos seguir, as outras coortes vão tentar nos deter. E aquelas armas de cerco são operadas pelos seguidores mais leais de Octavian.
— Não vamos nos aproximar pela força — concordou Nico. — Mas sozinho eu posso conseguir. Dakota, Leila... Jules-Albert vai levar vocês até as linhas da legião. Vão, conversem com suas tropas e convençam-nas a seguir sua liderança. Vou precisar de uma distração.
Dakota franziu a testa.
— Tudo bem, mas não vou ferir nenhum de meus camaradas legionários.
— Ninguém está lhe pedindo isso — resmungou Nico. — Mas, se não impedirmos esta guerra, a legião inteira vai ser destruída. Você disse que as tribos de monstros se ofendem com qualquer coisa?
— É — disse Dakota. — Tipo, você faz qualquer comentário para esses caras de duas cabeças sobre como eles cheiram e... Ah. — Ele sorriu. — Se começarmos uma briga... acidentalmente, é claro...
— Conto com vocês — disse Nico.
Leila franziu a testa.
— Mas como você vai...
— Eu vou pegar um atalho — disse ele.
E desapareceu nas sombras.

* * *

Nico achou que estava preparado.
Mas não.
Mesmo depois de três dias e das maravilhosas propriedades curativas da lama gosmenta marrom do treinador Hedge, Nico começou a se dissolver no momento em que mergulhou nas sombras.
Seus braços e suas pernas se vaporizaram. O frio penetrou seu peito.
Vozes de espíritos sussurraram em seus ouvidos: Ajude-nos. Lembre-se de nós. Junte-se a nós.
Ele não havia percebido quanto tinha dependido de Reyna até ali. Sem a força dela, Nico se sentia tão fraco quanto um bezerrinho recém-nascido, cambaleando perigosamente, prestes a cair a cada passo.
Não, disse ele a si mesmo. Eu sou Nico di Angelo, filho de Hades. Eu controlo as sombras, e não elas que me controlam.
Ele voltou ao mundo mortal tropegamente, no alto da Colina Meio- Sangue.
Caiu de joelhos, agarrando-se ao pinheiro de Thalia para se apoiar. O Velocino de Ouro não estava mais nos galhos. O dragão guardião havia desaparecido. Talvez tivessem sido levados para um lugar mais seguro, agora que a batalha era iminente. Nico não sabia. Mas, olhando para as forças romanas em posição de combate próximo ao vale, seu ânimo vacilou.
O onagro mais próximo estava cem metros colina abaixo, em uma trincheira protegida com arame farpado, guardado por uma dúzia de semideuses. Estava carregado, pronto para disparar. Um projétil do tamanho de um Honda Civic, revestido por flocos de ouro que cintilavam, repousava no enorme cesto de lançamento. Com uma certeza fria, Nico entendeu o que Octavian estava tramando.
O projétil era uma mistura de carga incendiária com ouro imperial.
Mesmo em pequenas quantidades, o ouro imperial era incrivelmente volátil. Exposto a muito calor ou pressão, explodiria com um impacto devastador e, é claro, era mortal tanto para monstros quanto para semideuses. Se aquele onagro acertasse o Acampamento Meio-Sangue, tudo na zona de impacto seria aniquilado – vaporizado pelo calor ou desintegrado pelos estilhaços. E os romanos tinham seis onagros, todos abastecidos com farta munição.
— Isso é maligno — disse Nico.
Ele tentou pensar. Estava amanhecendo. Não tinha a menor condição de neutralizar todas as seis armas antes que o ataque começasse, mesmo que encontrasse forças para viajar nas sombras tantas vezes assim. Se conseguisse mais uma vez, já seria um milagre.
Ele viu a tenda do comando romano, atrás da legião, mais à esquerda.
Octavian devia estar lá, tomando seu café da manhã a uma distância segura da luta. Ele não liderava suas tropas em combate. Aquele ser desprezível desejava destruir o acampamento de longe, esperar que a poeira baixasse para só então marchar sobre a área derrotada sem resistência.
Nico sentiu um aperto na garganta, de tanto ódio que sentiu. Ele se concentrou na tenda, visualizando o salto que teria que dar. Se conseguisse assassinar Octavian, quem sabe não resolveria o problema?
A ordem para o ataque talvez nunca viesse a ser dada. Ele estava prestes a entrar em ação quando uma voz às suas costas chamou:
— Nico?
Ele se virou de imediato, a espada instantaneamente na mão, quase decapitando Will Solace.
— Abaixe isso! — sussurrou Will. — O que você está fazendo aqui?
Surpreso, Nico ficou sem palavras. Will e dois outros campistas estavam agachados no mato, com binóculos pendurados no pescoço e facas na cintura. Usavam calça jeans e camiseta pretas, o rosto pintado de graxa como tropas de elite.
— Eu? — perguntou Nico. — O que vocês estão fazendo aí? Querem morrer?
Will fez cara feia.
— Ei, estamos espionando o inimigo. Tomamos precauções.
— Ah, é, se vestiram de preto em pleno nascer do sol. Pintaram o rosto, mas não cobriram essa cabeleira loura. Chamariam menos atenção se estivessem agitando uma bandeira amarela.
As orelhas de Will ficaram vermelhas.
— Lou Ellen nos envolveu em um pouco de Névoa também.
— Oi. — A garota ao lado dele agitou os dedos em saudação. Parecia um pouco envergonhada. — Nico, não é? Ouvi falar muito de você. E este é Cecil, do chalé de Hermes.
Nico se ajoelhou ao lado deles.
— O treinador Hedge conseguiu chegar ao acampamento?
Lou Ellen deu uma risadinha nervosa.
— Já não era sem tempo, né?
Will deu uma cotovelada nela.
— Sim. Hedge está bem. Ele chegou bem a tempo para o nascimento do bebê.
— O bebê! — Nico sorriu, o que fez com que os músculos de seu rosto doessem. Não estava acostumado a fazer essa expressão. — Mellie e a criança estão bem?
— Estão. Um menininho sátiro muito fofinho. — Will deu de ombros. — Mas fui eu que fiz o parto. Você já fez um parto alguma vez?
— Hum... não.
— Eu precisava espairecer. Foi por isso que me ofereci para esta missão. Pelos deuses do Olimpo, minhas mãos estão tremendo até agora. Olhe só!
Will pegou a mão dele. Nico sentiu uma corrente elétrica percorrer sua coluna e tirou a mão rápido.
— Aham — respondeu ele secamente. — Bom, não temos tempo para ficar de conversinha. Os romanos vão atacar ao amanhecer, e eu preciso...
— A gente sabe — disse Will. — Mas, se você pretende viajar nas sombras até aquela tenda, pode esquecer.
Nico o olhou com hostilidade.
— O quê?
Ele esperava que Will ficasse assustado ou desviasse o olhar. Era o que a maioria das pessoas fazia. Mas os olhos azuis de Will permaneceram fixos nos dele, irritantemente determinados.
— O treinador Hedge me contou tudo sobre as suas viagens nas sombras. Você não pode fazer isso de novo.
— Acabei de fazer isso de novo, Solace. E estou ótimo.
— Não, não está. Eu sou um curandeiro. Senti a escuridão nas suas mãos no mesmo instante em que toquei em você. Mesmo que conseguisse chegar àquela tenda, você não estaria em condições de lutar. Só que você não conseguiria chegar lá. Mais um mergulho e você não volta. Você não vai viajar nas sombras. Ordens médicas.
— O acampamento está prestes a ser destruído...
— E nós vamos deter os romanos — disse Will. — Mas vamos fazer isso do nosso jeito. Lou Ellen vai usar a Névoa. Vamos dar um jeito de andar por aí discretamente e provocar o máximo de dano possível a esses onagros. Sem viagem nas sombras.
— Mas...
— Não.
Lou Ellen e Cecil viravam a cabeça de um lado para outro como se estivessem assistindo a uma partida de tênis muito intensa.
Nico deu um suspiro de exasperação. Ele odiava trabalhar em grupo. As pessoas só sabiam tolher seu estilo, deixando-o desconfortável. E Will Solace... Nico reconsiderou a opinião que fazia do filho de Apolo. Ele sempre achara Will um cara tranquilo e despreocupado, mas, aparentemente, o garoto sabia ser teimoso e irritante também.
Nico olhou lá para baixo, para o Acampamento Meio-Sangue, onde o restante dos gregos se preparava para a guerra. Mais além das tropas e das balistas, o lago de canoagem reluzia em um tom rosado às primeiras luzes do amanhecer. Nico se lembrou de quando chegara ao Acampamento Meio-Sangue pela primeira vez, aterrissando bem no carro do sol de Apolo, que tinha virado um ônibus escolar flamejante.
Ele se lembrou de Apolo, sorridente e bronzeado e todo descolado com seus óculos escuros.
Ao vê-lo, Thalia tinha comentado: Uau, Apolo é quente!
Ele é o deus do sol, retrucara Percy.
Não foi isso o que eu quis dizer.
Por que Nico estava pensando isso naquele momento? A lembrança aleatória o deixou nervoso.
Ele tinha chegado ao Acampamento Meio-Sangue graças a Apolo. Agora, no que provavelmente seria seu último dia no acampamento, estava preso a um filho de Apolo.
— Que seja — disse Nico. — Mas temos que correr. E eu digo o que vamos fazer.
— Tudo bem — concordou Will. — Desde que você não me peça para fazer mais partos de bebês sátiros, vamos nos dar muito bem.

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