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O Sangue do Olimpo - CAP. XLI

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XLI - Piper

PIPER NÃO SE SURPREENDEU COM a chegada dos homens-cobra.
Tinha passado a semana inteira pensando naquela vez em que encontrara o bandido Círon, no Argo II. Haviam acabado de escapar de uma tartaruga gigante quando ela fez a besteira de dizer: “Estamos protegidos.” No mesmo instante, uma flecha acertou o mastro principal, a poucos centímetros de seu nariz.
Piper havia tirado disso uma lição valiosa: nunca ache que está segura e nunca, nunca tente as Parcas anunciando que você acha que está seguro.
E foi por isso que, quando o navio atracou na Baía de Pireu, perto de Atenas, Piper resistiu a uma grande vontade de dar um suspiro de alívio.
Claro, eles tinham finalmente alcançado seu destino. Em algum lugar próximo dali – depois dos vários navios de cruzeiro, depois das colinas pontilhadas de casas e prédios – eles encontrariam a Acrópole.
De um jeito ou de outro, a jornada dos sete terminaria aquele dia.
Mas isso não significava que ela podia relaxar. A qualquer instante, uma surpresa terrível podia surgir do nada.
E a surpresa foram três sujeitos com rabo de cobra em vez de pernas.
Piper estava de vigia enquanto os outros se preparavam para o combate – conferindo armas e armaduras, carregando balistas e catapultas – quando avistou os homens-cobra se aproximando pelas docas, rastejando entre multidões de turistas mortais que os ignoravam solenemente.
— Hã... Annabeth? — chamou Piper.
Annabeth e Percy foram até ela.
— Ah, que ótimo — disse Percy. — Dracaenae.
Annabeth apertou os olhos.
— Acho que não. Pelo menos são diferentes das que eu já vi. As dracaenae têm dois rabos de cobra no lugar das pernas. Esses caras só têm um.
— Verdade — disse Percy. — E a parte de cima do corpo deles também parece mais humana. Não é toda escamosa e verde e tal. E aí, vamos recebê-los na base da conversa ou da luta?
Piper preferia optar pela luta. Só conseguia pensar na história que contara a Jason sobre o caçador Cherokee que tinha virado cobra por quebrar seu tabu. Aqueles três ali deviam ter comido muita carne de esquilo.
Estranhamente, o que vinha à frente do trio lembrou a Piper seu pai quando deixara a barba crescer para seu papel em Rei de Esparta. O homem-cobra vinha com a cabeça bem erguida. Tinha o rosto moreno e cinzelado, os olhos negros como basalto, o cabelo preto cacheado brilhando de gel. Seu tronco era bem musculoso, coberto só por uma clâmide grega – um manto de lã branca que se usava transpassado, preso apenas no ombro. Da cintura para baixo, o estranho tinha um corpo gigante de serpente, com uns dois metros e meio de cauda, que ondulava atrás dele enquanto ele se movia.
Em uma das mãos ele carregava um cajado com uma cintilante joia verde no topo. Na outra, trazia uma travessa coberta com uma redoma de prata, como um prato a ser servido em um jantar grã-fino.
Os dois sujeitos atrás dele pareciam ser guardas. Usavam peitorais de bronze e elmos elaborados, com uma crista de crina de cavalo no topo. A lança que cada um portava tinha uma pedra verde na ponta; o escudo oval tinha gravada uma grande letra K grega, capa.
Eles pararam a alguns metros do Argo II. O líder da comitiva olhou para cima e observou os semideuses. Sua expressão era intensa, mas inescrutável. Ele podia tanto estar com raiva quanto preocupado, ou mesmo precisando desesperadamente ir ao banheiro.
— Permissão para subir a bordo.
A voz rouca do estranho lembrou a Piper uma navalha sendo passada em um amolador, como na barbearia de seu avô em Oklahoma.
— Quem é você? — perguntou ela.
Ele fixou os olhos negros nela.
— Eu sou Cécrope, o primeiro e eterno rei de Atenas. Gostaria de lhes dar as boas-vindas a minha cidade — ele ergueu a travessa coberta. — Trouxe bolo.
Piper olhou de soslaio para os amigos.
— Uma armadilha?
— Provavelmente — disse Annabeth.
— Pelo menos ele trouxe a sobremesa. — Percy sorriu para os homens-cobra. — Bem-vindos a bordo!

* * *

Cécrope concordou em deixar seus guardas no convés superior com Buford, a mesa, que os mandou deitar no chão e pagar vinte flexões. Os guardas pareceram encarar aquilo como um desafio.
Enquanto isso, o rei de Atenas foi conduzido ao refeitório para um encontro de apresentações.
— Sente-se, por favor — convidou Jason.
Cécrope torceu o nariz.
— O povo serpente não senta.
— Então continue de pé, por favor — disse Leo.
Ele partiu o bolo e comeu um pedaço antes que Piper tivesse a chance de alertá-lo: poderia estar envenenado, ou não ser comestível para mortais, ou só ruim mesmo.
— Uau! — Ele sorriu. — O povo serpente sabe mesmo fazer um bolo. Tem um gostinho de laranja, com um toque de mel. Só precisava de um pouco de leite.
— O povo serpente não bebe leite — disse Cécrope. — Somos répteis com intolerância à lactose.
— Eu também! — disse Frank. — Quer dizer, tenho intolerância à lactose. Embora eu possa ser um réptil às vezes...
— Enfim — interrompeu Hazel. — Rei Cécrope, o que o traz aqui? Como sabia de nossa chegada?
— Sei de tudo o que acontece em Atenas — disse Cécrope. — Sou o fundador da cidade, fui o primeiro rei, nascido desta terra. Fui eu quem julguei a disputa entre Atena e Poseidon, eu que escolhi Atena como patrona da cidade.
— Sem ressentimentos — murmurou Percy.
Annabeth deu uma cotovelada nele.
— Já ouvi falar de você, Cécrope. Você foi o primeiro a oferecer sacrifícios a Atena. Construiu para ela o primeiro santuário na Acrópole.
— Exato — a resposta de Cécrope soou amarga, como se ele estivesse arrependido da decisão. — Meu povo eram os atenienses originais, os gemini.
— Gêmeos? Tipo o signo do zodíaco? — perguntou Percy. — Eu sou de Leão.
— Não, seu idiota — disse Leo. — Não é nada disso.
— Vocês dois querem parar com isso? — brigou Hazel. — Acho que ele está querendo dizer gemini como duplo, metade homem, metade cobra. É esse o nome do povo dele. Ele é um geminus, no singular.
— Sim... — Cécrope se inclinou para longe de Hazel como se de algum modo ela o tivesse ofendido. — Milênios atrás, fomos expulsos para o subterrâneo pelos humanos de duas pernas, mas eu conheço os caminhos da cidade melhor do que ninguém. Vim alertá-los. Se tentarem se aproximar da Acrópole pela superfície, vocês serão destruídos.
— Quer dizer... por você? — perguntou Jason, interrompendo sua degustação do bolo.
— Pelos exércitos de Porfírion — disse o rei cobra. — Em volta de toda a Acrópole há grandes armas de cerco... onagros.
— Mais onagros? — protestou Frank. — Eles estavam em liquidação ou o quê?
— Os ciclopes — deduziu Hazel. — Eles estão fornecendo onagros tanto para Octavian quanto para os gigantes.
— Como se precisássemos de mais provas de que Octavian está do lado errado — resmungou Percy.
— E essa não é a única ameaça — continuou Cécrope. — O ar está cheio de espíritos da tempestade e grifos. Todos os caminhos para a Acrópole estão sendo patrulhados pelos Nascidos da Terra.
Frank tamborilou os dedos na cúpula que protegia o bolo.
— Então o que faremos? Vamos desistir? Não viemos até aqui para isso.
— Eu lhes ofereço uma alternativa — disse Cécrope. — A passagem subterrânea até a Acrópole. Por Atena, pelos deuses, ajudarei vocês.
Piper sentiu um arrepio na nuca. Ela se lembrou do que a giganta Peribeia lhe dissera em sonho: que os semideuses encontrariam amigos e inimigos em Atenas. Talvez a giganta estivesse falando de Cécrope e seu povo serpente. Mas alguma coisa na voz dele não agradava a Piper, aquele tom de navalha no amolador, como se ele estivesse se preparando para fazer um corte profundo.
— Mas...? — perguntou ela.
Cécrope virou seus insondáveis olhos negros para ela.
— Só um grupo pequeno de semideuses, não mais que três, pode passar despercebido pelos gigantes. Do contrário, eles detectariam a presença de vocês pelo cheiro. Mas nossas passagens subterrâneas podem levá-los direto às ruínas da Acrópole. Lá, vocês poderão neutralizar em segredo as armas de cerco para permitir que o restante da sua tripulação se aproxime. Com sorte, podem pegar os gigantes de surpresa. Assim têm a chance de impedir a cerimônia.
— Cerimônia? — perguntou Leo. — Ah... tipo para despertar Gaia.
— Já começou, agora mesmo — avisou Cécrope. — Não estão sentindo a terra trepidar? Os gemini são a melhor chance de vocês.
Piper notou avidez na voz dele. Quase fome.
Percy olhou para os outros ao redor da mesa.
— Alguma objeção?
— Só algumas — disse Jason. — Estamos às portas do inimigo. E você está nos pedindo para nos dividir. Não é assim que as pessoas acabam morrendo nos filmes de terror?
— Além do mais — acrescentou Percy — Gaia quer que cheguemos ao Partenon. Quer que nosso sangue molhe as pedras e todo esse lixo psicopata. Não estaríamos indo direto para as mãos dela?
Os olhos de Annabeth encontraram os de Piper. Em silêncio, ela fez uma pergunta: O que está achando disso tudo?
Piper não estava acostumada com aquilo, com Annabeth olhando para ela em busca de conselhos. Desde Esparta elas haviam aprendido que juntas podiam enfrentar problemas de dois modos diferentes. Annabeth via as coisas de forma lógica, o movimento tático, enquanto Piper tinha reações instintivas que eram tudo menos lógicas. Juntas, ou elas resolviam os problemas duas vezes mais rápido, ou confundiam uma à outra completamente.
A oferta de Cécrope fazia sentido. Ou pelo menos parecia a opção menos suicida. Mas Piper tinha certeza de que o rei cobra estava ocultando suas verdadeiras intenções. Ela só não sabia como provar isso...
Então se lembrou de algo que seu pai lhe dissera anos antes: Seu nome é Piper porque seu avô Tom achou que você teria uma voz poderosa. Você ia aprender todas as canções Cherokee, até mesmo a canção da cobra.
Um mito de uma cultura totalmente diferente, mas lá estava ela, encarando o rei do povo serpente.
Ela começou a cantar “Summertime”, uma das músicas preferidas do pai. Cécrope ficou olhando para ela em deslumbramento. Até começou a balançar o corpo.
No início, a garota sentiu vergonha de estar cantando na frente de todos os seus amigos e de um homem-cobra. Seu pai sempre dissera que Piper tinha uma voz boa, mas ela não gostava de chamar atenção. Não gostava nem de cantar em grupo, em volta da fogueira no acampamento. Agora sua voz era a única a soar no refeitório. Todos ouviam, atônitos. Quando ela terminou a primeira estrofe, todos ficaram alguns segundos em silêncio.
— Pipes — disse Jason. — Eu não sabia.
— Isso foi lindo — concordou Leo. — Talvez não... você sabe, lindo como Calipso, mas mesmo assim...
Piper encarava o rei cobra.
— Quais são suas verdadeiras intenções?
— Enganar vocês — respondeu ele, em transe, ainda balançando o corpo. — Queremos levá-los para os túneis e destruí-los.
— Por quê? — perguntou Piper.
— A Mãe Terra nos prometeu grandes recompensas. Se derramarmos o sangue de vocês sob o Partenon, será suficiente para completar o despertar de Gaia.
— Mas você serve a Atena — insistiu Piper. — Você fundou a cidade.
Cécrope sibilou baixinho:
— E, em troca, a deusa me abandonou. Atena me substituiu por um rei de duas pernas, um humano. Levou minhas filhas à loucura; elas pularam para a morte dos penhascos da Acrópole. Os atenienses originais, os gemini, foram expulsos para os subterrâneos e esquecidos. Atena, a deusa da sabedoria, nos deu as costas, mas a sabedoria também vem da terra. Somos, fundamentalmente, filhos de Gaia. A Mãe Terra nos prometeu um lugar ao sol no mundo da superfície.
— Gaia está mentindo — disse Piper. — Ela pretende destruir o mundo da superfície, e não dá-lo a ninguém.
Cécrope mostrou as presas.
— Então não vamos ficar pior do que estávamos sob o domínio dos traiçoeiros deuses!
Ele ergueu o cajado, mas Piper começou outra estrofe de “Summertime”.
Os braços do rei cobra amoleceram; seus olhos ficaram vidrados. Depois de mais alguns versos, Piper arriscou mais uma pergunta:
— As defesas dos gigantes, a passagem subterrânea até a Acrópole... Até que ponto é verdade o que você nos contou?
— É tudo verdade — respondeu Cécrope. — A Acrópole está, sim, fortemente defendida, como descrevi. Qualquer aproximação pela superfície seria impossível.
— Então você poderia nos guiar por seus túneis — disse Piper. — Isso também é verdade?
Cécrope franziu a testa.
— Sim...
— E se você mandasse seu povo não nos atacar — prosseguiu ela — eles obedeceriam?
— Sim, mas... — Cécrope estremeceu. — Sim, eles obedeceriam. Mas só três de vocês poderiam ir sem atrair a atenção dos gigantes.
Uma sombra cobriu os olhos de Annabeth.
— Piper, tentar isso seria loucura. Ele vai nos matar na primeira oportunidade.
— É — concordou o rei cobra. — Só a música dessa garota me controla. Eu a odeio. Por favor, cante mais.
Piper cantou mais um verso para ele.
Leo entrou na dança: pegou duas colheres e começou a batucar na mesa até levar um tapa de Hazel no braço.
— Eu devo ir — disse Hazel. — Se é no subterrâneo.
— Nunca — disse Cécrope. — Uma filha do Mundo Inferior? Meu povo se revoltaria com a sua presença. Nem a melhor música encantada pelo charme seria suficiente para impedi-los de exterminar vocês.
Hazel engoliu em seco.
— Talvez seja melhor eu ficar por aqui mesmo.
— Eu e Percy — sugeriu Annabeth.
— Hum... — Percy ergueu a mão. — Vou levantar o assunto aqui de novo. Isso é exatamente o que Gaia quer, nós dois, nosso sangue molhando as pedras etcetera e tal.
— Eu sei — Annabeth exibia uma expressão grave no rosto. — Mas é a escolha mais lógica. Os santuários mais antigos da Acrópole são dedicados a Poseidon e Atena. Cécrope, isso não ocultaria nossa aproximação?
— Sim — admitiu o rei cobra. — Seria difícil identificar o... o cheiro de vocês. As ruínas sempre irradiam o poder desses dois deuses.
— E eu — disse Piper ao terminar a música. — Vocês vão precisar de mim para manter nosso amigo aqui na linha.
Jason apertou a mão dela.
— Ainda não suporto a ideia de nos dividirmos.
— Mas é nossa melhor chance — disse Frank. — Eles três entram lá escondidos, neutralizam os onagros e criam uma distração. Aí a gente chega voando e disparando o fogo das balistas.
— Isso — disse Cécrope. — Esse plano pode funcionar. Se eu não matar vocês primeiro.
— Tive uma ideia — disse Annabeth. — Frank, Hazel, Leo... vamos conversar. Piper, pode neutralizar musicalmente nosso amigo aqui?
Piper começou outra música: “Happy Trails”, uma canção boba que seu pai cantava para ela antigamente, sempre que voltavam de Oklahoma para Los Angeles. Annabeth, Leo, Frank e Hazel saíram para discutir estratégias.
— Muito bem — Percy se levantou e estendeu a mão a Jason. — Então nos vemos de novo na Acrópole, cara. É a minha vez de matar alguns gigantes.

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