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O Sangue do Olimpo - CAP. XIX

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XIX - Piper

QUANDO ELA REPETIU O SONHO para Percy, os banheiros do navio explodiram.
— Vocês duas não vão para lá sozinhas de jeito nenhum — disse Percy.
Leo veio correndo pelo corredor, balançando uma chave inglesa.
— Cara, você tinha que destruir o encanamento?
Percy o ignorou. Água corria pelo passadiço. Do casco vinha um barulho ensurdecedor, de mais canos estourando e pias transbordando. Piper achou que Percy não tivera a intenção de causar tanto estrago, mas sua expressão irritada a fez querer deixar o navio o mais rápido possível.
— Vamos ficar bem — disse Annabeth a ele. — Piper previu nós duas indo até lá, então é isso o que precisa acontecer.
Percy olhou para Piper como se tudo aquilo fosse culpa dela.
— E esse sujeito, Mimas? Ele é um gigante, não é?
— Provavelmente — respondeu ela. — Porfírion o chamou de nosso irmão.
— E uma estátua de bronze cercada de fogo — disse Percy. — E aquelas... outras coisas que você mencionou. Mackies?
— Makhai — corrigiu Piper. — Acho que a palavra significa batalhas em grego, mas não sei exatamente como ela se aplica.
— É disso que estou falando! — disse Percy. — Não sabemos o que tem lá. Eu vou com vocês.
— Não — Annabeth pôs a mão no braço dele. — Se os gigantes querem nosso sangue, a última coisa que precisamos é de um garoto e uma garota indo lá juntos. Não se lembra? Eles querem um de cada para seu grande sacrifício.
— Então vou chamar Jason — disse Percy. — E nós dois...
— Cabeça de Alga, você está sugerindo que dois garotos podem resolver isso melhor que duas garotas?
— Não. Quer dizer... não. Mas...
Annabeth o beijou.
— Estaremos de volta antes que você perceba.
Piper subiu as escadas atrás dela antes que todo o convés inferior ficasse alagado com água de privada.

* * *

Uma hora depois, as duas estavam em uma colina de onde se avistavam as ruínas da Esparta Antiga. Já haviam explorado a cidade moderna, que, estranhamente, fez Piper se lembrar de Albuquerque – um grupo de construções baixas, quadradas e brancas espalhado sobre uma planície aos pés de montanhas arroxeadas. Annabeth tinha insistido em conferir o museu de arqueologia, depois a estátua gigante de metal do guerreiro espartano, no fórum, depois o Museu Nacional da Azeitona e do Azeite de Oliva (sim, isso existia de verdade). Piper aprendeu mais sobre azeite do que jamais quis saber, mas nenhum gigante as atacou. E elas não encontraram nenhuma estátua de um deus acorrentado.
Annabeth parecia relutante em verificar as ruínas nos limites da cidade, mas finalmente elas ficaram sem outros lugares onde procurar. Não havia muito para ver. Segundo Annabeth, a colina onde elas se encontravam agora era a acrópole de Esparta, o ponto mais alto da cidade e sua principal fortaleza, mas nada tinha a ver com a maciça acrópole ateniense que Piper vira em seus sonhos.
A elevação desgastada estava coberta por grama seca, pedras e oliveiras mirradas. Lá embaixo, ruínas se estendiam por cerca de quinhentos metros: blocos de calcário, algumas paredes desmoronadas e buracos no chão contornados por ladrilhos, parecendo poços de água. Piper pensou no filme mais famoso de seu pai, Rei de Esparta, em que os espartanos eram retratados como super-homens invencíveis. Ela achava triste que seu legado tivesse sido reduzido a um terreno cheio de pedras e uma cidadezinha moderna com um museu dedicado ao azeite.
Ela limpou o suor da testa.
— Achei que seria mais fácil encontrar um gigante de dez metros por aqui.
Annabeth olhava fixamente para a forma distante do Argo II flutuando acima do centro da cidade. Segurava o pingente de coral vermelho em seu cordão, presente de Percy quando eles começaram a namorar.
— Você está pensando em Percy — presumiu Piper.
Annabeth assentiu.
Desde a volta do Tártaro, Annabeth contara a Piper muitas coisas assustadoras que tinham acontecido lá. No topo de sua lista: Percy controlando uma poça de veneno e sufocando a deusa Akhlys.
— Ele parece estar se ajustando — disse Piper. — Está sorrindo com mais frequência. Você sabe que ele gosta muito de você.
Annabeth se sentou. Seu rosto de repente ficou pálido.
— Não sei por que de repente pensei nisso. Não consigo tirar essa lembrança da cabeça... a expressão de Percy quando ele estava à beira do Caos.
Talvez Piper só estivesse reagindo ao desconforto de Annabeth, mas ela também começou a se sentir agitada.
Ela pensou no que Jason dissera na noite anterior: Uma parte minha queria fechar os olhos e parar de lutar.
Ela fizera o possível para tranquilizá-lo, mas ainda estava preocupada. Como aquele caçador Cherokee que se transformou em cobra, todos os semideuses tinham por dentro sua própria cota de espíritos ruins. Defeitos fatais. Algumas crises os faziam aflorar. Alguns limites não deviam ser ultrapassados.
Se isso era verdade para Jason, como podia não ser igual para Percy?
O cara tinha literalmente ido ao inferno e voltado. Mesmo quando não tinha a intenção, ele fazia os vasos sanitários explodirem. O que aconteceria se Percy quisesse agir de modo assustador?
— Dê um tempo a ele — ela sentou ao lado de Annabeth. — O cara é louco por você. Vocês passaram por tantas coisas juntos...
— Eu sei... — Os olhos cinza de Annabeth refletiam o verde das oliveiras. — É só que... O titã Bob me avisou que haveria mais sacrifícios pela frente. Eu quero muito acreditar que um dia nós vamos poder ter uma vida normal... Mas eu me permiti ter esse tipo de esperança no verão passado, depois da Guerra dos Titãs. Então Percy desapareceu por meses. Aí nós caímos naquele abismo... — Uma lágrima escorreu pelo rosto de Annabeth. — Piper, se você tivesse visto o rosto do deus Tártaro, aquele turbilhão de escuridão, devorando e vaporizando monstros... Nunca me senti tão impotente. Eu tento não pensar nisso...
Piper segurou as mãos da amiga, que tremiam muito. Ela se lembrou de seu primeiro dia no Acampamento Meio-Sangue, quando Annabeth a levou para um tour. A garota estava abalada pelo desaparecimento de Percy, e, apesar de a própria Piper estar bem desorientada e assustada, confortar Annabeth fez com que ela se sentisse necessária, como se pudesse realmente ter um lugar entre aqueles semideuses absurdamente poderosos.
Annabeth Chase era a pessoa mais corajosa que ela conhecia. Se até ela precisava de um ombro para chorar de vez em quando... bem, era um prazer para Piper oferecer o seu.
— Ei — disse ela com delicadeza. — Não tente reprimir seus sentimentos. Você não vai conseguir. Deixe que eles corram livremente por você até se esgotarem. Você está com medo.
— Pelos deuses, estou com medo, sim.
— Você está com raiva.
— De Percy, por me assustar — disse ela. — De minha mãe, por me mandar naquela missão horrível em Roma. De... bem, praticamente de todo mundo. De Gaia. Dos gigantes. Dos deuses, por serem imbecis.
— De mim? — perguntou Piper.
Annabeth conseguiu soltar uma risada fraca.
— Sim, por ser irritantemente calma.
— É tudo fingimento.
— E por ser uma boa amiga.
— Sei.
— E por ter a cabeça no lugar em relação a garotos e relacionamentos e...
— Desculpe. Tem certeza que você me conhece?
Annabeth deu um soquinho no braço dela.
— Sou uma boba mesmo, sentada aqui falando sobre meus sentimentos quando temos uma missão.
— A batida do coração do deus acorrentado pode esperar.
Piper tentou sorrir, mas seus próprios medos emergiram: ela temia por Jason e seus amigos no Argo II e por si mesma, se não conseguisse fazer o que Afrodite aconselhara. No fim, você só terá forças para uma única palavra. Deve ser a palavra certa, ou você perderá tudo.
— Aconteça o que acontecer — disse ela a Annabeth — sou sua amiga. Só... lembre-se disso, está bem?
Especialmente se eu não estiver por perto para lembrar você, pensou Piper.
Annabeth começou a dizer algo, mas, de repente, um som ensurdecedor veio das ruínas. Um dos buracos no chão, que Piper tinha confundido com poços de água, soltou um jato de chamas que alcançou a altura de um prédio de três andares e parou com a mesma rapidez.
— O que foi isso? — perguntou Piper.
Annabeth deu um suspiro.
— Não sei, mas tenho a sensação de que é melhor irmos lá para dar uma olhada.

* * *

Havia três buracos lado a lado como furos de uma flauta doce. Todos eram perfeitamente redondos, com sessenta centímetros de diâmetro e as bordas revestidas de pedra calcária; todos mergulhavam direto na escuridão. Em intervalos aleatórios de alguns segundos, uma das três bocas jorrava uma coluna de fogo para o céu. A cada vez, de cor e intensidade diferentes.
— Eles não estavam fazendo isso antes — Annabeth deu uma volta larga nos poços. Ainda parecia abalada e pálida, mas sua mente estava obviamente concentrada no problema atual. — Não parece haver nenhum padrão. O intervalo de tempo, as cores, a altura das chamas... eu não entendo.
— Será que de algum modo nós os ativamos? Talvez aquela onda de medo que você sentiu no alto da colina... Ah, quer dizer, que nós duas sentimos.
Annabeth não pareceu ouvi-la.
— Deve haver alguma espécie de mecanismo... uma placa de pressão, um sensor de movimento.
Chamas jorraram da abertura do meio. Annabeth contou em silêncio. Algum tempo depois, o jato surgiu à esquerda.
— Isso não faz sentido. É inconsistente. Eles precisam seguir algum tipo de lógica.
Piper começou a ouvir uma campainha no ouvido. Alguma coisa naqueles poços...
Cada vez que um deles se acendia, ela era tomada por uma emoção forte: medo, pânico, mas também um desejo poderoso de se aproximar das chamas.
— Não é racional — disse ela. — É emocional.
— Como poços de fogo podem ser emocionais?
Piper estendeu a mão sobre o poço da direita. As chamas jorraram instantaneamente. Ela mal teve tempo de tirar os dedos. Suas unhas fumegaram.
— Piper! — Annabeth correu até ela. — O que você estava pensando?
— Eu não estava pensando. Estava sentindo. O que nós queremos está lá embaixo. Esses buracos são a entrada. Vou ter que pular.
— Ficou maluca? Mesmo que não fique presa lá dentro, você não tem ideia da profundidade.
— Tem razão.
— Você vai ser queimada viva!
— É possível — Piper tirou a espada da cintura e a jogou no poço da direita. — Aviso quando for seguro. Espere até eu chamar.
— Nem pense... — começou Annabeth.
Piper pulou.
Por um instante ela se sentiu flutuar na escuridão, e as laterais do poço queimaram seus braços. Então o espaço se abriu ao seu redor. Instintivamente, ela se encolheu e rolou sobre o chão de pedra, absorvendo a maior parte do impacto da queda.
Chamas jorraram à sua frente, queimando suas sobrancelhas, mas Piper recuperou a espada, tirou-a da bainha e golpeou antes mesmo de parar de rolar. Uma cabeça de dragão de bronze quicou no chão.
Piper se levantou, tentando se situar. Olhou para baixo, para a cabeça de dragão perfeitamente decapitada, e sentiu um instante de culpa, como se tivesse matado Festus. Mas aquele não era Festus.
Havia três estátuas de dragão de bronze lado a lado, alinhadas com os buracos no solo, lá no alto. Piper tinha acertado a do meio. Os dois dragões intactos tinham quase um metro de altura, com os focinhos apontados para cima e as bocas fumegantes abertas. Eles eram claramente as fontes das chamas, mas não pareciam ser autômatos. Não se mexeram nem tentaram atacá-la. Piper calmamente decapitou os outros dois.
Ela esperou. Não jorraram mais chamas para o alto.
— Piper? — A voz de Annabeth ecoou de muito longe, como se ela estivesse berrando do alto de uma chaminé.
— Oi! — gritou Piper.
— Graças aos deuses! Você está bem?
— Estou. Espere um segundo.
Sua visão se ajustou à escuridão. Ela examinou a câmara. A única luz vinha de sua lâmina reluzente e das aberturas dos poços. O teto estava a cerca de dez metros de altura. O normal seria que Piper tivesse quebrado as duas pernas na queda, mas ela não ia reclamar da sorte.
O espaço em si era redondo, mais ou menos do tamanho de um heliporto. As paredes eram de blocos de pedra áspera entalhados com inscrições gregas, milhares e milhares delas, como grafite.
Na outra extremidade do salão, sobre uma plataforma de pedra, havia a estátua de um guerreiro em tamanho natural – o deus Ares, supôs Piper – com correntes de bronze pesadas enroladas no corpo, prendendo-a ao chão.
Dos dois lados da estátua assomavam portais escuros, cada um com três metros de altura e uma cara ameaçadora esculpida acima da arcada. Os rostos lembraram a Piper as górgonas, exceto pelo fato de que tinham jubas de leão como cabelo em vez de cobras.
De repente Piper se sentiu muito solitária.
— Annabeth! — chamou ela. — É uma queda longa, mas dá para descer sem problemas. Será que... será que você tem uma corda que possa ajudar a gente a subir de volta?
— Pode deixar!
Minutos depois, ela viu uma corda surgir pelo poço do meio. Annabeth desceu escorregando por ela.
— Piper McLean — reclamou ela. — Esse foi sem dúvida o risco mais idiota que eu já vi alguém correr, e eu namoro um cara que adora correr riscos idiotas.
— Valeu — Piper cutucou com o pé a cabeça de dragão mais próxima. — Estou achando que estes são os dragões de Ares. O dragão é um de seus animais sagrados, não é?
— E ali está o próprio deus acorrentado. Aonde será que aqueles portais...
Piper ergueu a mão.
— Ouviu isso?
O som parecia uma batida de tambor... com eco metálico.
— Está vindo da estátua — concluiu Piper. — A batida do coração do deus acorrentado.
Annabeth sacou sua espada de osso de drakon. À luz fraca, seu rosto tinha uma palidez fantasmagórica, e seus olhos pareciam ter perdido a cor.
— Eu... eu não gosto disso, Piper. Nós precisamos ir embora.
A parte racional de Piper concordou. Sua pele se arrepiou. Suas pernas estavam ansiosas para correr. No entanto, havia alguma coisa estranhamente familiar naquela câmara...
— O santuário está intensificando nossas emoções — concluiu ela. — É como estar perto de minha mãe, só que este lugar irradia medo, não amor. Foi por isso que você começou a ficar deprimida lá no alto da colina. Aqui embaixo é mil vezes pior.
Annabeth examinou as paredes.
— Está bem... Precisamos de um plano para tirar a estátua daqui. Talvez içá-la com a corda, mas...
— Espere — Piper olhou para as caras raivosas de pedra acima dos portais. — Um santuário que irradia medo. Ares tinha dois filhos divinos, não?
— F-fobos e Deimos — Annabeth sentiu um calafrio. — Pânico e Medo. Percy conheceu os dois em Staten Island.
Piper resolveu não perguntar o que os deuses gêmeos do pânico e do medo tinham ido fazer em Staten Island.
— Acho que são os rostos deles acima das entradas dos túneis. Este lugar não é apenas um santuário de Ares. É um templo do medo.
Uma risada grave ecoou pela câmara.
Um gigante surgiu à direita de Piper. Ele não chegou por nenhum dos portais. Simplesmente emergiu da escuridão, como se estivesse camuflado contra a parede.
Ele era pequeno para um gigante, devia ter uns oito metros de altura, o que lhe dava espaço suficiente para golpear com o enorme martelo que tinha nas mãos. Sua armadura, a pele e as pernas de dragão eram todas da cor do carvão. Fios de cobre e placas de circuitos quebradas brilhavam nas tranças de seu cabelo preto como petróleo.
— Muito bom, filha de Afrodite. — O gigante sorriu. — Este é mesmo o Templo do Medo. E eu estou aqui para convertê-las.

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