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O Sangue do Olimpo - CAP. XIII

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XIII - Nico

A ÚLTIMA COISA QUE NICO ouviu foi o resmungo do treinador Hedge:
— Hum. Isso não é bom.
O menino se perguntou o que tinha feito de errado dessa vez. Talvez os houvesse transportado para um antro de ciclopes ou tivessem ido parar trezentos metros acima de outro vulcão. Mas não havia nada que ele pudesse fazer. Tinha perdido a visão. Seus outros sentidos estavam se embotando. Então seus joelhos cederam, e ele desmaiou.
Nico tentou aproveitar ao máximo sua inconsciência.
Sonhos e morte eram velhos amigos. Ele sabia como navegar pela sombria fronteira entre ambos. Assim, enviou seus pensamentos à procura de Thalia Grace.
Passou depressa pelos habituais fragmentos de lembranças dolorosas: a mãe sorrindo para ele, o rosto iluminado pelo sol que se refletia no Grande Canal de Veneza; a irmã Bianca rindo enquanto o arrastava por um shopping de Washington, D.C., com seu chapéu verde cobrindo os olhos e as sardas do nariz. Também viu Percy Jackson em um penhasco coberto de neve em frente à Westover Hall, protegendo Nico e Bianca do manticore, enquanto Nico, segurando a estatueta de Mitomagia, murmurava: Estou com medo. Viu Minos, seu antigo mentor fantasma, conduzindo-o pelo Labirinto. O sorriso de Minos era frio e cruel. Não se preocupe, filho de Hades. Você terá sua vingança.
Era impossível, para ele, evitar que as recordações aflorassem, que inundassem seus sonhos como os fantasmas de Asfódelos, uma multidão triste e sem destino implorando por atenção. Salve-me, pareciam sussurrar eles. Lembre-se de mim. Ajude-me. Conforte-me. Ele não se atrevia a parar e ficar remoendo lembranças, não podia perder tempo. De que lhe serviriam? Só o deixariam arrasado, imerso em desejos e arrependimentos. O melhor a se fazer era manter o foco e seguir em frente.
Sou o filho de Hades, pensou. Vou a qualquer lugar que desejar. As trevas são meu direito inato.
Nico seguiu, penosamente, por um terreno cinza e negro, procurando os sonhos de Thalia Grace, filha de Zeus. Em vez disso, porém, o chão se dissolveu a seus pés e ele caiu em um lugar distante, mas familiar: o chalé de Hipnos, no Acampamento Meio-Sangue.
Semideuses ressonavam nos beliches, debaixo de pilhas de edredons. De um galho escuro posicionado logo acima da cornija da lareira gotejava a água leitosa do Rio Lete, coletada em uma grande bacia. Um fogo agradável crepitava na lareira. Em uma poltrona de couro diante do fogo cochilava o conselheiro-chefe do chalé 15, um sujeito barrigudo com cabelo louro despenteado e rosto apático.
— Clovis — resmungou Nico — pelo amor dos deuses, pare de sonhar com tanta energia!
Clovis abriu os olhos devagar. Virou-se e olhou para Nico, apesar de Nico saber que isso era apenas parte do sonho de Clovis. O verdadeiro Clovis ainda estava roncando em sua poltrona lá no acampamento.
— Ah, oi... — Clovis escancarou a boca em um bocejo. Parecia capaz de engolir um deus menor. — Desculpe. Desviei você do seu caminho de novo?
Nico rangeu os dentes. Não adiantava se aborrecer. O chalé de Hipnos era como a Estação Grand Central das atividades dos sonhos: não dava para viajar a lugar algum sem passar por lá de vez em quando.
— Já que estou aqui... — disse Nico. — Transmita uma mensagem minha. Diga a Quíron que estou a caminho com alguns amigos. Estamos levando a Atena Partenos.
Clovis esfregou os olhos.
— Então é verdade? Mas como vocês vão carregá-la? Alugaram uma van ou algo do tipo?
Nico explicou do modo mais conciso possível. Mensagens enviadas por sonhos geralmente apresentavam detalhes difusos, ainda mais quando o interlocutor era Clovis. Quanto mais simples, melhor.
— Estamos sendo seguidos por um caçador — explicou Nico. — Acho que é um dos gigantes de Gaia. Pode transmitir esse recado a Thalia Grace? Você é melhor do que eu em encontrar pessoas nos sonhos. Preciso da ajuda dela.
— Vou tentar — Clovis tateou a mesinha ao lado da poltrona, à procura de uma caneca de chocolate quente. — Ah, antes que você vá, tem um segundo?
— Clovis, isto é um sonho — lembrou-o Nico. — O tempo é fluido.
Mesmo ao dizer isso, Nico ficou preocupado com o que estaria acontecendo no mundo real. Seu corpo físico talvez estivesse mergulhando em direção à morte ou cercado por monstros. Mas ele não podia se forçar a despertar, não depois da quantidade de energia que havia despendido para viajar nas sombras várias vezes.
Clovis assentiu.
— É verdade... Bem, acho que você deveria ver o que aconteceu hoje no conselho de guerra. Eu dormi durante algumas partes, mas...
— Me mostre — pediu Nico.
A cena mudou. Nico se viu na sala de recreação da Casa Grande, com todos os líderes do acampamento reunidos à mesa de pingue-pongue.
O centauro Quíron estava a uma das cabeceiras, a parte equina de seu corpo encolhida na cadeira de rodas mágica, o que fez com que ele parecesse um humano normal. Sua barba e seu cabelo castanhos e cacheados tinham mais fios brancos do que alguns meses antes, rugas profundas marcavam seu rosto.
— ... coisas que não podemos controlar — dizia ele. — Agora vamos repassar nossas defesas. Qual é a nossa situação?
Clarisse, do chalé de Ares, sentou-se mais para a frente na cadeira. Ela era a única de armadura completa, o que era a cara dela: Clarisse devia dormir de uniforme de combate. Enquanto falava, gesticulava com a adaga, levando os outros conselheiros a se inclinarem para longe dela.
— Nossa linha de defesa é bastante sólida — disse ela. — Os campistas estão prontos para lutar como nunca antes. Nós controlamos a praia. Nossas trirremes não têm rivais no Estreito de Long Island, mas aquelas idiotas daquelas águias gigantes dominam nosso espaço aéreo. No interior, em todas as três direções, os bárbaros nos isolaram completamente.
— Eles são romanos — opinou Rachel Dare, rabiscando com uma caneta pilot na calça jeans — não bárbaros.
Clarisse apontou a adaga para Rachel.
— E os aliados deles? Você não viu aquela tribo de homens de duas cabeças que chegou ontem? Ou ainda os caras com cabeça de cachorro vermelho-sangue, com uns machados de guerra enormes? Eles me parecem bastante bárbaros. Teria sido bom se você tivesse previsto alguma dessas coisas, se o seu poder de oráculo não tivesse falhado quando mais precisávamos!
O rosto de Rachel ficou tão vermelho quanto seu cabelo.
— Não tenho culpa nenhuma nisso. Tem alguma coisa errada com o dom de profecia de Apolo. Se eu soubesse como resolver...
— Ela tem razão — Will Solace, conselheiro-chefe do chalé de Apolo, pôs a mão com delicadeza no pulso de Clarisse. Poucos membros do acampamento poderiam fazer isso sem ser esfaqueados, mas Will levava jeito para neutralizar a raiva das pessoas. E assim ele a fez baixar a adaga. — Todos do nosso chalé foram afetados. Não foi só Rachel.
O cabelo louro despenteado e os olhos azul-claros de Will lembravam a Nico Jason Grace, mas as semelhanças paravam por aí. Jason era um lutador. Dava para ver isso na intensidade de seu olhar, seu estado de alerta constante, a energia acumulada em seu corpo. Will Solace parecia mais um gato espreguiçando-se ao sol. Seus movimentos eram relaxados e inofensivos, o olhar tranquilo e distante. Com uma camiseta desbotada em que se lia SURF BARBADOS, uma calça transformada em short e chinelos, ele não parecia nem um pouco agressivo para um semideus, mas Nico sabia que, na hora da verdade, ele era corajoso. Nico o tinha visto em ação durante a Batalha de Manhattan, o melhor curandeiro do acampamento, arriscando a própria vida para salvar campistas feridos.
— Não sabemos o que está acontecendo em Delfos — prosseguiu Will. — Meu pai não atendeu a nenhuma oração nem apareceu em nenhum sonho... Quer dizer, todos os deuses estão em silêncio, mas isso não faz muito o gênero de Apolo. Tem alguma coisa errada.
Do outro lado da mesa, Jake Mason resmungou:
— Aposto que é coisa desse romano imundo que está liderando o ataque. Octavian, acho que é esse o nome dele. Se eu fosse Apolo e meu descendente estivesse agindo desse jeito, morreria de vergonha.
— Concordo — disse Will. — Ah, se eu fosse um arqueiro melhor... Não me importaria em acertar meu parente romano e derrubá-lo do alto daquele cavalo enorme dele. Na verdade, bem que eu queria poder usar qualquer um dos dons do meu pai para impedir essa guerra. — Ele baixou os olhos para as mãos, desgostoso. — Mas, infelizmente, sou apenas um curandeiro.
— Seus talentos são essenciais — disse Quíron. — E, infelizmente, acho que em breve serão necessários. Quanto a ver o futuro... e a harpia Ella? Ela não nos deu nenhum conselho dos livros sibilinos?
Rachel balançou a cabeça em negativa.
— A coitada mal se aguenta de tanto medo. Harpias odeiam ficar presas. Desde que os romanos nos cercaram... bem, ela se sente aprisionada. Ela sabe que Octavian quer capturá-la, então Tyson e eu somos obrigados a fazer isso para evitar que ela saia voando.
— O que seria suicídio — Butch Walker, filho de Íris, cruzou os musculosos braços. — Com essas águias romanas pelo ar, não é seguro voar. Já perdi dois pégasos.
— Pelo menos Tyson trouxe alguns de seus amigos ciclopes para ajudar — disse Rachel. — Já é alguma coisa.
À mesa de comidas e bebidas, Connor Stoll riu. Tinha uma das mãos cheia de biscoitos Ritz e a outra com um naco de queijo.
— Uma dúzia de ciclopes adultos? É uma notícia muito boa, isso sim! Além do mais, Lou Ellen e o restante do chalé de Hécate andam armando barreiras mágicas, e o chalé de Hermes inteiro está espalhando pelas colinas todo tipo de arapucas, armadilhas e surpresas para os romanos!
Jake Mason franziu a testa.
— A maioria das quais foi roubada do bunker 9 e do chalé de Hefesto.
Clarisse concordou com um resmungo.
— Eles roubaram até as minas terrestres em volta do chalé de Ares. Como pode, roubar minas terrestres ativas?
— Nós as confiscamos em nome do esforço de guerra — Connor jogou na boca um pedaço do queijo. — Além do mais, vocês têm muitos brinquedos por lá. Precisam dividir com os outros!
Quíron virou-se para a esquerda, onde o sátiro Grover Underwood estava sentado em silêncio, dedilhando sua flauta de Pã.
— Grover? Quais são as notícias dos espíritos da natureza?
Grover deu um suspiro.
— Mesmo em um dia bom, é difícil organizar ninfas e dríades. Com Gaia se movimentando, elas estão quase tão desorientadas quanto os deuses. Katie e Miranda, do chalé de Deméter, estão lá fora agora mesmo, tentando ajudar, mas se a Mãe Terra despertar... — Ele lançou um olhar nervoso para os outros à mesa. — Bem, não posso prometer que as florestas estarão seguras. Nem as montanhas. Nem as plantações de morangos. Nem...
— Que ótimo — Jake Mason deu uma cotovelada de leve em Clovis,  que começava a cochilar. — E então, o que fazemos?
— Atacamos — respondeu Clarisse, dando um soco na mesa e assustando todo mundo. — Os romanos estão recebendo mais reforços a cada dia. Sabemos que eles planejam invadir em primeiro de agosto. Por que deixar que eles determinem quando começar a batalha? Tudo leva a crer que eles estão esperando para reunir mais forças. Já estão em maior número. Devemos atacar agora, antes que fiquem ainda mais fortes. Faremos a batalha chegar até eles!
Malcolm, o conselheiro interino do chalé de Atena, tossiu na mão fechada.
— Clarisse, eu entendo seu ponto de vista. Mas você não estudou engenharia romana? O acampamento temporário deles tem defesas mais sólidas que o Meio-Sangue. Se atacarmos na base deles, seremos massacrados.
— Então vamos sentar e esperar? — retrucou Clarisse. — Deixar que eles reúnam todas as suas forças enquanto cada vez mais se aproxima o momento de Gaia despertar? A esposa do treinador Hedge está sob minha proteção. Eu não vou deixar que nada aconteça com ela. Ela está grávida. E devo minha vida a Hedge. Além disso, tenho treinado os campistas mais que você, Malcolm. O moral deles está baixo. Todo mundo está com medo. Se ficarmos sitiados por mais nove dias...
— O melhor é seguirmos o plano de Annabeth. — Connor Stoll parecia sério como sempre, apesar da boca toda suja de farelos de biscoito. — Temos que esperá-la trazer aquela estátua mágica de Atena de volta.
Clarisse revirou os olhos com desdém.
— Se aquela pretora romana trouxer a estátua de volta, você quer dizer. Não entendo onde Annabeth estava com a cabeça quando resolveu colaborar com o inimigo... Mesmo se a romana conseguir nos trazer a estátua, o que é impossível, por que acreditaríamos que isso vai nos trazer a paz? A estátua chega e, de repente, os romanos vão baixar as armas e começar a dançar e a jogar flores?
Rachel pousou a caneta na mesa.
— Annabeth sabe o que está fazendo. Temos que buscar a paz. A menos que consigamos unir gregos e romanos, os deuses não serão curados. A menos que os deuses sejam curados, não há como matar os gigantes. E a menos que matemos os gigantes...
— Gaia vai despertar — completou Connor. — Fim do jogo. Olhe, Clarisse, Annabeth me mandou uma mensagem do Tártaro. Do Tártaro. Não é pouca coisa, não. Se alguém consegue fazer isso... bom, eu vou dar ouvidos a esse alguém.
Clarisse abriu a boca para responder, mas, quando falou, foi com a voz do treinador Hedge:
— Nico, acorde. Temos problemas.

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