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O Sangue do Olimpo - CAP. XI

.. segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Capítulo XI - Leo

AS ASAS DOURADAS ERAM UM pouquinho demais.
Leo até que gostou da biga e dos dois cavalos brancos. Achou legal o vestido cintilante sem mangas que Nice usava (Calipso arrasava naquele estilo, mas isso não era relevante) e seu cabelo preto trançado e preso por uma coroa de louros dourados.
Ela tinha os olhos arregalados e cara de maluca, como se tivesse acabado de beber vinte espressos e andado de montanha-russa, mas isso também não incomodou Leo. Ele podia aceitar até a lança de ponta de ouro apontada para seu peito.
Mas aquelas asas... Eram de ouro polido, até a última pena. Leo podia admirar o trabalho intrincado, mas aquilo era demais – brilhante demais, ofuscante demais. Se as asas dela fossem painéis solares, Nice produziria energia suficiente para abastecer Miami.
— Senhora — disse ele — poderia, por favor, dobrar suas asas? Sua luz está me queimando.
— O quê? — A cabeça de Nice se virou na direção dele como a de uma galinha assustada. — Ah... minha plumagem brilhante. Está bem. Imagino que você não possa morrer em glória se estiver cego e queimado.
Ela recolheu as asas. A temperatura caiu para os cinquenta graus normais de uma tarde de verão.
Leo olhou para os amigos. Frank estava totalmente imóvel, avaliando a deusa. Sua mochila ainda não havia se transformado em arco e aljava de flechas, o que provavelmente era prudente. Ele não devia ter ficado tão assustado, já que não se transformara em um peixinho dourado gigante.
Hazel estava tendo problemas com Arion. O garanhão castanho relinchou e empinou, evitando contato visual com os cavalos brancos que puxavam a biga de Nice.
Quanto a Percy, ele segurava sua caneta mágica como se estivesse tentando decidir se dava alguns golpes de espada ou autografava o meio de transporte de Nice.
Ninguém tomou a iniciativa de falar com a deusa. Leo meio que sentia falta de Piper e Annabeth com eles. Elas eram boas nisso de se comunicar.
Ele achou melhor alguém fazer alguma coisa antes que todos morressem em glória.
— Então! — Ele apontou os indicadores para Nice. — Eu não recebi o memorando e tenho quase certeza de que a informação não constava no folheto de Frank. Pode nos dizer o que está acontecendo aqui?
Os olhos arregalados de Nice deixavam Leo nervoso. Será que seu nariz estava pegando fogo? Isso às vezes acontecia quando ele ficava estressado.
— Nós precisamos da vitória! — gritou a deusa. — É necessário decidir a disputa! Vocês vieram aqui para determinar um vencedor, certo?
Frank pigarreou.
— A senhora é Nice ou Vitória?
— Aaaarghh!
A deusa segurou a cabeça entre as mãos. Seus cavalos empinaram, levando Arion a fazer o mesmo. Ela estremeceu e se dividiu em duas imagens separadas, que lembraram Leo – o que era ridículo – de quando ele ficava deitado no chão de seu apartamento brincando com a mola no rodapé que impedia que a porta batesse na parede. Ele puxava a mola e a soltava: Sproing! E ela ia para a frente e para trás tão rápido que parecia se transformar em duas molas.
Era isso o que Nice parecia: uma mola duplicada.
À esquerda estava a primeira versão: o vestido cintilante, o cabelo preto preso por uma coroa de louros, as asas de ouro dobradas às costas.
À direita havia uma versão diferente, usando uma armadura romana. Pelas bordas de um elmo alto saía um cabelo curto e castanho-claro. Suas asas eram brancas e emplumadas; o vestido, roxo; e a haste da lança trazia uma insígnia romana do tamanho de um prato: um SPQR dourado dentro de uma coroa de louros.
— Eu sou Nice! — exclamou a imagem da esquerda.
— Eu sou Vitória! — exclamou a da direita.
Pela primeira vez Leo entendeu o velho ditado que seu abuelo usava muito: falar da boca para fora. A deusa estava literalmente dizendo duas coisas completamente diferentes. Ela não parava de tremer e se dividir, o que deixou Leo tonto. Ele sentiu vontade de pegar suas ferramentas e regular a marcha lenta em seu carburador, porque aquela vibração toda ia fazer o motor dela se desmantelar.
— Sou eu quem decide a vitória! — gritou Nice. — Antigamente eu ficava no templo de Zeus, era venerada por todos! Eu velava pelos jogos de Olímpia. Oferendas de todo o mundo se empilhavam aos meus pés!
— Jogos são irrelevantes! — berrou Vitória. — Eu sou a deusa do sucesso em batalha! Os generais romanos me veneravam! O próprio Augusto ergueu para mim um altar no Senado!
— Aaahhh! — gritaram as duas vozes, em agonia. — Precisamos decidir! Precisamos de uma vitória!
Arion começou a empinar com tamanha violência que Hazel teve que desmontar para não cair. Antes que ela conseguisse acalmá-lo, o cavalo desapareceu, deixando uma trilha de vapor pelas ruínas.
— Nice — disse Hazel, dando um cauteloso passo à frente — a senhora está confusa, como todos os deuses. Os gregos e romanos estão à beira de uma guerra. Isso está fazendo seus aspectos entrarem em conflito.
— Eu sei! — A deusa sacudiu sua lança, e a extremidade pareceu vibrar. — Não suporto conflitos sem solução! Quem é mais forte? Quem é o vencedor?
— Senhora, ninguém sairá vencedor — disse Leo. — Se essa guerra acontecer, todos vão perder.
— Ninguém vencerá? — Nice pareceu tão chocada que Leo teve quase certeza de estar com o nariz em chamas. — Sempre há um vencedor! Um vencedor. Todos os outros são perdedores! Do contrário, a vitória não significa nada. Você quer que eu distribua certificados para todos os competidores? Dê um troféu de plástico para cada atleta e soldado, como prêmio de participação? Será que devemos todos nos enfileirar, apertar as mãos e dizer uns para os outros: Bom jogo? Não! A vitória tem que ser real. Deve ser merecida. Isso significa que precisa ser rara e difícil, contra todas as probabilidades, e a derrota é a única alternativa.
Os dois cavalos da deusa começaram a se morder, como se estivessem entrando no espírito da coisa.
— Hum... está bem — disse Leo. — Entendi que a senhora já tem uma opinião formada sobre o assunto. Mas a verdadeira guerra é contra Gaia.
— Ele tem razão — disse Hazel. — Nice, a senhora conduziu a biga de Zeus na última guerra contra os gigantes, não foi?
— É claro!
— Então sabe que Gaia é o verdadeiro inimigo. Precisamos de sua ajuda para derrotá-la. A guerra não é entre gregos e romanos.
— Os gregos devem morrer! — exclamou Vitória.
— Vitória ou morte! — gritou Nice. — Um lado deve prevalecer!
— Eu já estou cheio dessa conversa. É a mesma coisa que meu pai fica gritando na minha cabeça — resmungou Frank.
Vitória olhou para ele.
— Você é filho de Marte, não é? — disse a deusa. — Um pretor de Roma? Nenhum romano verdadeiro pouparia os gregos. Eu não posso tolerar ficar dividida e confusa, não consigo pensar direito! Mate-os! Vença!
— Não vai rolar — disse Frank, apesar de Leo perceber que o olho direito de Zhang tremia.
Leo também estava lutando. Nice emanava ondas de tensão, inflamando seus nervos. Ele sentia como se estivesse agachado e em posição na linha de largada esperando que alguém gritasse: “Vai!”
Estava com o desejo irracional de apertar o pescoço de Frank, o que era estupidez, já que suas mãos não conseguiriam nem envolver todo o pescoço dele.
— Olhe, dona Vitória... — Percy tentou sorrir. — Não queremos interromper sua loucura. Talvez a senhora possa simplesmente terminar essa conversa consigo mesma, e nós voltamos depois, com... hum... algumas armas maiores e talvez uns sedativos.
A deusa brandiu sua lança.
— Vocês vão resolver essa questão de uma vez por todas! Hoje, agora, vocês vão decidir quem será vitorioso! Estão em quatro? Excelente! Faremos duplas. Talvez garotas contra garotos!
Hazel disse:
— Hum... não.
— Com camisa contra sem camisa!
— Não mesmo — disse Hazel.
— Gregos contra romanos! — gritou Nice. — Sim, é claro! Dois e dois. O último semideus de pé será coroado vencedor. Os outros morrerão de maneira gloriosa.
Um desejo de competir pulsava pelo corpo de Leo. Ele teve que se esforçar muito para não pegar um martelo em seu cinto de ferramentas e acertar Frank e Hazel na cabeça.
Então ele entendeu por que Annabeth não quisera mandar ninguém cujos pais tivessem rivalidades inatas. Se Jason estivesse ali, ele e Percy provavelmente já estariam no chão querendo arrancar a cabeça um do outro.
Ele se obrigou a relaxar.
— Olhe, dona, nós não vamos começar os Jogos vorazes aqui. Não vai rolar.
— Mas você receberá honrarias fabulosas! — Nice pegou, de uma cesta ao seu lado, uma coroa espessa de folha de louros. — Esta coroa de folhas pode ser sua! Você pode usá-la na cabeça! Pense na glória!
— Leo tem razão — disse Frank, apesar de estar com os olhos fixos na coroa. Tinha uma expressão um pouco cobiçosa demais para o gosto de Leo. — Nós não lutamos uns contra os outros. Nós lutamos contra os gigantes. A senhora deveria nos ajudar.
— Muito bem!
A deusa ergueu a coroa de louros em uma das mãos e a lança na outra.
Percy e Leo se entreolharam.
— Hum... isso significa que a senhora vai nos ajudar? — perguntou Percy. — Vai combater os gigantes?
— Isso será parte do prêmio — disse Nice. — Quem vencer, eu vou considerar meu aliado. Vamos lutar juntos contra os gigantes, e eu vou conceder a vitória a vocês. Mas só pode haver um vencedor. Os outros devem ser derrotados, mortos, totalmente destruídos. Então, o que decidem, semideuses? Vocês terão sucesso em sua missão ou vão se apegar a ideias tolas de amizade e prêmios de participação nos quais todos vencem?
Percy destampou sua caneta. Contracorrente cresceu e se transformou em uma espada de bronze celestial. Leo teve medo de que Percy a usasse contra eles. Era difícil demais resistir à aura de Nice.
Em vez disso, porém, Percy apontou sua lâmina para a deusa.
— E se nós a enfrentássemos?
— Há! — Os olhos de Nice brilharam. — Caso se recusem a lutar uns contra os outros, vocês serão persuadidos!
Nice abriu as asas, e quatro penas de metal caíram, rodopiando como ginastas, crescendo e desenvolvendo pernas e braços até tocarem o solo como quatro réplicas metálicas em tamanho humano da deusa, cada uma armada com uma lança de ouro e uma coroa de louros de bronze celestial que se parecia sinistramente com um frisbee de arame farpado.
— Para o estádio! — gritou Nice. — Vocês têm cinco minutos para se preparar. Depois teremos derramamento de sangue!

* * *

Leo estava prestes a dizer: E se nos recusarmos a ir para o estádio?
Ele nem precisou fazer a pergunta.
— Corram! — berrou Nice. — Vão para o estádio, ou minhas Niceias vão matá-los aí onde estão!
As mulheres de metal abriram as mandíbulas e emitiram um som que parecia a torcida do Superbowl com eco. Elas brandiram as lanças e investiram contra os semideuses.
Não foi o melhor momento de Leo. Ele foi tomado pelo pânico e saiu correndo. O único consolo foi que seus amigos fizeram a mesma coisa, e eles não eram nada covardes.
As quatro mulheres de metal os seguiram formando um semicírculo espaçado.
Todos os turistas haviam desaparecido. Talvez tivessem escapado para o conforto do ar-condicionado do museu, ou talvez Nice os tivesse de algum modo forçado a sair dali.
Os semideuses correram, tropeçando em pedras, saltando paredes desmoronadas, desviando de colunas e de placas de informação. Atrás deles, as rodas da biga de Nice faziam um estrondo e seus cavalos relinchavam.
Sempre que Leo pensava em reduzir a velocidade, as mulheres de metal gritavam de novo (do que Nice as havia chamado mesmo? Niceias? Nicetes?), deixando-o apavorado.
Ele odiava ficar apavorado. Era vergonhoso.
— Por aqui! — Frank acelerou na direção de uma espécie de abertura entre dois muros de terra encimados por uma arcada de pedra. Aquilo lembrou Leo dos túneis pelos quais os jogadores de futebol americano entram correndo no campo. — Esta é a entrada do antigo estádio olímpico. É chamada de “A cripta”!
— Não é um bom nome! — berrou Leo.
— Por que estamos indo para lá? — perguntou Percy, arfante. — Se é onde ela nos quer...
As Nicetes gritaram de novo, e todo pensamento racional abandonou Leo. Ele correu para o túnel. Quando chegaram ao arco, Hazel gritou:
— Esperem!
Eles pararam aos solavancos. Percy se inclinou para a frente, com dificuldade para respirar. Leo percebeu que ele parecia estar perdendo o fôlego com mais facilidade do que antes, provavelmente por causa do terrível ar ácido que tinha sido forçado a respirar no Tártaro.
Frank olhou para trás.
— Não as vejo mais. Elas desapareceram.
— Será que desistiram? — perguntou Percy, cheio de esperança.
Leo examinou as ruínas.
— Não. Só nos conduziram até onde queriam que chegássemos. Mas o que, afinal, eram aquelas coisas? As Nicetes...
— Nicetes? — Frank coçou a cabeça. — Acho que eram Niceias.
— É — Hazel parecia mergulhada em pensamentos enquanto passava a mão pelo arco de pedra. — Em algumas lendas, Nice tinha um exército de pequenas vitórias que podia enviar a qualquer lugar do mundo.
— Como os duendes do Papai Noel — disse Percy. — Só que do mal. E de metal. E muito barulhentas.
Hazel pressionou os dedos contra o arco, como se estivesse sentindo sua pulsação. Depois do túnel estreito, as paredes de terra se abriam em um descampado amplo com elevações suaves dos dois lados, como arquibancadas.
Leo achou que, naqueles tempos, o estádio devia ser ao ar livre e grande o suficiente para arremesso de disco, lançamento de dardo, arremesso de peso nu ou o que mais aqueles gregos malucos costumassem fazer para ganhar um monte de folhas.
— Este lugar é assombrado — murmurou Hazel. — As pedras estão embebidas em muito sofrimento.
— Por favor, me diga que você tem um plano — pediu Leo. — De preferência, um que não envolva embeber meu sofrimento nessas pedras.
Os olhos de Hazel estavam tempestuosos e distantes, do jeito que tinham ficado na Casa de Hades, como se ela estivesse olhando para outra realidade.
— Essa era a entrada dos competidores. Nice disse que nós temos cinco minutos para nos preparar. Depois ela espera que passemos pela arcada e comecemos os jogos. Não temos permissão para deixar o campo até que um de nós saia vitorioso.
Percy se apoiou em sua espada.
— Tenho quase certeza de que lutas até a morte não eram um esporte olímpico.
— Bem, hoje são — murmurou Hazel. — Mas posso garantir alguma vantagem para nós. Quando passarmos, vou erguer alguns obstáculos no campo... esconderijos para ganharmos tempo.
Frank franziu a testa.
— Como no Campo de Marte... trincheiras, túneis, esse tipo de coisa? Você consegue fazer isso com a Névoa?
— Acho que sim. Nice provavelmente iria gostar de ver uma pista de obstáculos. Posso usar essas expectativas contra ela mesma. Mas seria mais do que isso. Posso utilizar qualquer passagem subterrânea, até mesmo este túnel, para acessar o Labirinto. Posso trazer parte dele para a superfície.
— Ei, ei, ei. — Percy fez um sinal pedindo tempo. — O Labirinto é do mal. Já discutimos isso.
— Hazel, ele tem razão — Leo se lembrava muito bem de como ela o conduzira pelo labirinto ilusório na Casa de Hades. Eles quase morriam a cada dois metros. — Quer dizer, eu sei que você é boa com magia. Mas já temos quatro Nicetes histéricas com que nos preocupar...
— Vocês vão ter que confiar em mim — disse ela. — Agora só temos dois minutos. Quando passarmos pelos arcos, poderei pelo menos manipular o terreno em nosso favor.
Percy soltou um suspiro.
— Já é a terceira vez que sou forçado a lutar em estádios; uma em Roma e, antes disso, no próprio Labirinto. Odeio participar de joguinhos para a diversão dos outros.
— Nenhum de nós gosta — afirmou Hazel. — Mas temos que surpreender Nice. Vamos fingir lutar até conseguir neutralizar aquelas Nicetes... Nossa, esse nome é horroroso. Então deteremos Nice, como Juno disse.
— Faz sentido — concordou Frank. — Vocês sentiram como ela estava poderosa, tentando fazer com que pulássemos na garganta um do outro. Se Nice estiver emanando essas vibrações para todos os gregos e romanos, não teremos como impedir uma guerra. Precisamos detê-la.
— E como vamos fazer isso? — perguntou Percy. — Batemos na cabeça dela e a jogamos em um saco?
As engrenagens mentais de Leo começaram a girar.
— Na verdade — disse ele — é mais ou menos isso. Tio Leo trouxe brinquedos para todos vocês, pequenos semideuses.

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