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A Casa de Hades - CAP. XXXVII

.. sexta-feira, 14 de março de 2014
Capítulo XXXVII - Annabeth
FICAR CEGA FOI BEM RUIM. Ser separada de Percy foi horrível.
Mas agora que conseguia enxergar de novo, vê-lo morrer lentamente envenenado por sangue de górgona sem poder fazer nada para impedir era a pior maldição de todas.
Bob carregava Percy em seu ombro como se fosse um saco de equipamentos esportivos, e o gatinho esqueleto Bob Pequeno se aninhou nas costas de Percy, ronronando. Bob caminhava a passos rápidos, mesmo para um titã, o que tornava praticamente impossível para Annabeth acompanhá-lo.
Parecia que seus pulmões não iam aguentar mais. Sua pele voltou a ficar coberta por bolhas. Provavelmente precisava de mais um gole de fogo líquido, mas o Rio Flegetonte tinha ficado para trás. Seu corpo estava tão cansado e dolorido que ela havia esquecido como era não sentir dor.
— Falta muito?
— Demais — respondeu Bob — mas talvez não.
Grande ajuda, pensou Annabeth, mas estava praticamente sem fôlego para falar.
A paisagem mudou de novo. Ainda estavam descendo a encosta, o que deveria facilitar a locomoção; mas o solo se inclinava justamente no ângulo errado; íngreme demais para correr, traiçoeiro demais para poderem baixar a guarda por um momento sequer. A superfície era de cascalho solto em alguns pontos e coberta de limo em outros. Annabeth precisava desviar de pelos curtos afiados o suficiente para atravessarem seu pé, e montes de... bem, não eram exatamente rochas. Pareciam mais verrugas do tamanho de melancias. Se Annabeth tivesse que imaginar onde estava (e não queria fazer isso), diria que Bob a estava conduzindo pelo enorme intestino do Tártaro.
O ar estava mais pesado e fedia a esgoto. Talvez a escuridão não estivesse tão densa quanto antes, mas só conseguia ver Bob por causa do brilho dos cabelos prateados e da ponta de sua lança. Percebeu que ele não a retraíra desde que enfrentaram as arai. Isso não a tranquilizou nem um pouco.
Percy não parava quieto, o que fazia o gatinho mudar de posição para se ajeitar nas costas dele. De vez em quando, seu namorado gemia de dor, e Annabeth sentia um forte aperto no coração.
Ela se lembrou de quando tomou chá com Piper, Hazel e Afrodite em Charleston. Deuses, isso parecia ter acontecido havia tanto tempo... Afrodite tinha suspirado de saudade dos bons tempos da velha Guerra Civil, falando sobre como o amor e a guerra sempre caminhavam juntos.
A deusa tinha apontado para Annabeth com orgulho, usando-a como exemplo para as outras garotas: uma vez prometi a ela que ia tornar sua vida amorosa interessante. E não foi o que fiz?
Annabeth teve vontade de esganar a deusa do amor. Já vivera coisas interessantes mais do que o suficiente. Agora só queria um final feliz. Sem dúvida isso era possível, independentemente do que as lendas diziam sobre heróis trágicos. Tinha que haver exceções, certo? Se o sofrimento fosse recompensado, então ela e Percy mereciam receber o grande prêmio.
Pensou nas fantasias de Percy sobre Nova Roma. Os dois poderiam morar lá e frequentar a faculdade juntos. No início, ficou horrorizada com a ideia de viver entre os romanos. Ainda se ressentia deles por a terem afastado de Percy.
Agora aceitaria essa oferta com prazer. Se sobrevivessem àquilo. Se Reyna tivesse recebido a mensagem. Se um milhão de coisas impossíveis acontecessem.
Pare com isso, repreendeu-se ela.
Tinha que se concentrar no presente, em pôr um pé na frente do outro, em completar aquela caminhada intestinal morro abaixo uma verruga gigante de cada vez. Seus joelhos estavam fracos, como se estivessem a ponto de arrebentar. Percy gemia e murmurava algo que ela não conseguia entender.
De repente, Bob parou.
— Vejam.
Mais à frente, no escuro, o terreno se aplainava e terminava em um pântano negro. Pairava no ar uma névoa sulfúrica amarela. Mesmo sem luz solar, havia plantas de verdade: moitas de juncos, árvores esqueléticas sem folhas e até algumas flores de aparência doentia desabrochavam naquele lugar tétrico. Trilhas escorregadias serpenteavam entre os poços de piche borbulhantes. Impressas no lamaçal bem à frente de Annabeth havia pegadas do tamanho de tampas de latas de lixo, com dedos compridos e pontudos.
Desanimada, Annabeth tinha quase certeza de a quem elas pertenciam.
— Drakon?
— É — Bob sorriu para ela — isso é bom.
— Hã... por quê?
— Porque estamos perto.
Bob entrou no pântano.
Annabeth teve vontade de gritar. Odiava estar à mercê de um titã, ainda mais de um que começava a recuperar a memória e os estava levando até um gigante “bom”. Não gostava nem um pouco da ideia de atravessar um pântano que era obviamente território de um drakon.
Mas Bob estava com Percy. Se ela hesitasse, ia perdê-los no escuro. Por isso, correu atrás dele, pulando de uma faixa de musgo para outra e rezando a Atena para não cair em algum buraco.
Pelo menos o terreno obrigava Bob a ir mais devagar. Quando Annabeth o alcançou, não foi difícil ficar bem atrás dele e de olho em Percy, que delirava e estava com a testa quente demais. Várias vezes balbuciou Annabeth, e ela teve que se segurar para não chorar. O gatinho apenas ronronou mais alto e procurou uma posição mais confortável.
Finalmente a névoa amarela se abriu e revelou uma clareira lamacenta que parecia uma ilha no meio do pântano repugnante. O solo estava pontilhado de árvores decrépitas e montes de verrugas. No meio, havia uma enorme cabana de teto abobadado feita de ossos e couro esverdeado. Uma coluna de fumaça se erguia de um buraco no teto da cabana. A entrada estava coberta por cortinas de pele escamosa de réptil, e era ladeada por duas tochas feitas de fêmures colossais que queimavam com uma luz forte amarela.
O que mais chamou a atenção de Annabeth foi o crânio de drakon. A cinquenta metros, mais ou menos entre eles e a cabana, um carvalho enorme projetava-se do chão a um ângulo de 45 graus. As mandíbulas de um crânio de drakon envolviam o tronco como se a árvore fosse a língua do monstro morto.
— É — murmurou Bob — isso é muito bom.
Nada naquele lugar parecia bom para Annabeth.
Antes que ela pudesse protestar, Bob Pequeno arqueou as costas e chiou. Atrás deles, um rugido poderoso ecoou pelo pântano, um som que Annabeth ouvira pela última vez na Batalha de Manhattan.
Ela se virou e viu o drakon correndo na direção deles.

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