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A Casa de Hades - CAP. XXVI

.. sábado, 8 de março de 2014
Capítulo XXVI - Hazel
HAZEL E FRANK TROPEÇARAM UM no outro. Ela acidentalmente bateu com o punho da espada no peito e ficou encolhida no convés, gemendo e tossindo com gosto de veneno de catóblepa na boca. Através de uma névoa de dor, ouviu a figura de proa do navio, Festus, o dragão de bronze, ranger em sinal de alarme e cuspir fogo.
Confusa, Hazel se perguntou se haviam atingido um iceberg. Mas como? No mar Adriático, durante o verão?
O navio virou para bombordo produzindo um ruído impressionante, como postes telefônicos partindo-se ao meio.
— AHH! — gritou Leo em algum lugar atrás dela. — Ela está comendo os remos!
Ela quem?, pensou Hazel. Tentou se levantar, mas algo grande e pesado prendia as suas pernas. Percebeu que era Frank, resmungando, enquanto tentava se desvencilhar de uma pilha de cordas.
Estavam todos atrapalhados. Jason saltou sobre os dois, com a espada em punho, e correu em direção à popa. Piper já estava no tombadilho, atirando comida de sua cornucópia e gritando:
— Ei! Ei! Coma isso, sua tartaruga idiota!
Tartaruga?
Frank ajudou Hazel a se levantar.
— Você está bem?
— Estou — mentiu Hazel, apertando a barriga — agora vá!
Frank subiu correndo os degraus, tirando do ombro a mochila, que instantaneamente se transformou em um arco e uma aljava. No momento em que chegou ao timão, já havia disparado uma flecha e preparava a segunda.
Leo lutava freneticamente com os controles do navio.
— Não consigo retrair os remos. Tira esse bicho daí! Tira esse bicho daí!
No topo do mastro, Nico estava em estado de choque.
— Pelo Estige... É enorme! — gritou. — Bombordo! Para bombordo!
O treinador Hedge foi o último a chegar ao convés. Compensou seu atraso com entusiasmo. Subiu os degraus, sacudindo o taco de beisebol, sem hesitação, galopou até a popa e saltou sobre a amurada com um alegre:
— Rá-RÁ!
Hazel cambaleou até o tombadilho para se juntar aos amigos. O barco estremeceu. Mais remos se partiram, e Leo gritou:
— Não, não, não! Maldita filha de uma mãe cascuda!
Hazel chegou à popa e não podia acreditar no que via.
Quando ouviu a palavra tartaruga, pensou em um animal bonitinho do tamanho de uma caixinha de joias, sentado em uma pedra no meio de um lago. Quando ouviu tartaruga enorme, sua mente tentou se adaptar: muito bem, talvez fosse como uma daquelas tartarugas de galápagos, que vira quando visitou o zoológico, com cascos grandes o bastante para se montar em cima.
Ela não imaginara uma criatura do tamanho de uma ilha. Quando viu a enorme e escarpada cúpula de quadrados pretos e pardos, a palavra tartaruga simplesmente deixou de fazer sentido.
Seu casco era realmente como uma ilha – colinas de ossos, brilhantes vales perolados, florestas de algas e musgos, rios de água do mar escorrendo pelos sulcos de sua carapaça. No lado boreste do navio, outra parte do monstro emergia como um submarino.
Lares de Roma... seria aquilo a cabeça?
Os olhos dourados eram do tamanho de espelhos d’água; as pupilas, fendas horizontais e escuras. A pele brilhava como camuflagem militar molhada, marrom salpicada de verde e amarelo. A boca vermelha e desdentada poderia ter engolido a Atena Partenos em uma única mordida.
Hazel viu quando a criatura partiu meia dúzia de remos.
— Pare com isso! — gritou Leo.
O treinador Hedge estava em cima da tartaruga, batendo inutilmente com o bastão de beisebol e gritando:
— Tome isso! E mais isso!
Jason voou da popa e caiu sobre a cabeça do animal. Golpeou-o bem entre os olhos com a espada dourada, mas a lâmina escorregou para o lado, como se a pele da tartaruga fosse de aço engraxado. Frank lançou flechas nos olhos do monstro, sem sucesso. As pálpebras internas da tartaruga piscavam com incrível precisão, desviando cada disparo. Piper atirou melões na água, gritando:
— Pegue isso, tartaruga idiota!
Mas o animal parecia focado em devorar o Argo II.
— Como chegou tão perto? — questionou Hazel.
Leo ergueu as mãos em desespero.
— Deve ser o casco. Acho que não é detectável pelo sonar. Maldita tartaruga invisível!
— O navio pode voar? — perguntou Piper.
— Com metade dos remos quebrados? — Leo socou alguns botões e girou a esfera de Arquimedes. — Tenho que tentar uma coisa diferente.
— Ali! — gritou Nico do alto. — Você pode nos levar até aquela restinga?
Hazel olhou para onde ele apontava. A menos de um quilômetro a leste, existia uma longa faixa de terra que corria paralela aos penhascos costeiros. Era difícil ter certeza ao longe, mas a extensão de água entre eles parecia ser de apenas vinte ou trinta metros, possivelmente larga o bastante para o Argo II atravessar, mas definitivamente não era larga o suficiente para uma tartaruga gigante.
— É. Sim — Leo aparentemente compreendeu. Girou a esfera de Arquimedes — Jason, fique longe da cabeça desse bicho! Tive uma ideia!
Jason ainda golpeava o rosto da tartaruga, mas quando ouviu Leo dizer “Tive uma ideia”, fez a única coisa inteligente que conseguiu pensar. Voou para longe dali o mais rápido possível.
— Treinador, hora de partir! — chamou Jason.
— Não, eu resolvo isso! — disse Hedge, mas Jason o agarrou pela cintura e decolou.
Infelizmente, o treinador se debateu tanto que a espada de Jason escorregou e caiu no mar.
— Treinador! — reclamou Jason.
— O quê? — disse Hedge. — Eu a estava dominando!
A tartaruga deu uma cabeçada no casco, quase arremessando toda a tripulação para bombordo. Hazel ouviu um estalo, como se a quilha tivesse se partido.
— Só mais um minuto — disse Leo, com as mãos voando sobre o painel de controle.
— Podemos não estar mais aqui em um minuto!
Frank disparou sua última flecha.
Piper gritou para a tartaruga:
— Vá embora!
Por um momento, realmente funcionou. A tartaruga se afastou do navio e mergulhou a cabeça na água. Mas, então, voltou e bateu com mais força.
Jason e o treinador Hedge aterrissaram no convés.
— Você está bem? — perguntou Piper.
— Tudo bem — murmurou Jason — sem minha espada, mas inteiro.
— Fogo no casco! — gritou Leo, girando o controle do Wii.
Hazel pensou que a popa estava explodindo. Jatos de fogo jorraram atrás deles, atingindo a cabeça da tartaruga. O navio deu uma guinada para a frente, derrubando-a novamente.
Ela se ergueu e viu que o Argo II saltava sobre as ondas a uma velocidade incrível, deixando para trás um rastro de fogo, como um foguete. A tartaruga já estava a uns cem metros, com a cabeça carbonizada e fumegante.
O monstro urrou de frustração e começou a segui-los; suas nadadeiras cortavam a água com tal poder que ela realmente começou a se aproximar. A entrada da restinga ainda estava meio quilômetro mais à frente.
— Alguma coisa para distraí-la — murmurou Leo — não conseguiremos chegar lá a menos que tenhamos alguma coisa para distraí-la.
— Para distraí-la... — repetiu Hazel.
Ela se concentrou e pensou: Arion!
Não sabia se aquilo funcionaria. Mas, imediatamente, avistou algo no horizonte, um borrão de luz e vapor atravessando a água. Em um piscar de olhos, Arion estava no tombadilho.
Deuses do Olimpo, pensou Hazel, como eu amo este cavalo.
Arion bufou como se dissesse: Claro que me ama. Você não é burra.
Hazel montou no cavalo.
— Piper, seu charme pode ser útil.
— Teve uma época em que eu gostava de tartarugas — resmungou Piper, aceitando a mão que lhe era oferecida — agora não!
Hazel esporeou Arion. Ele saltou para fora do barco, atingindo a água a todo galope. A tartaruga nadava com rapidez, mas não era tão rápida quanto Arion. Circulavam sobre a cabeça do monstro, Hazel golpeando com sua espada, Piper gritando orientações aleatórias como:
— Mergulhe! Vire à esquerda! Atrás de você!
A espada não causou dano algum e cada orientação só funcionava por um instante, mas estavam irritando a tartaruga. Arion relinchou com desdém quando a criatura tentou abocanhá-lo, apenas para ficar com a boca cheia de vapor.
Logo, o monstro havia esquecido completamente o Argo II. Hazel continuou golpeando a cabeça. Piper continuou gritando orientações e usando a cornucópia para atirar cocos e frangos assados nos olhos da tartaruga.
Assim que o Argo II adentrou na restinga, Arion interrompeu a perseguição. Aceleraram rumo ao navio, e, pouco depois, estavam de volta ao convés.
O fogo se extinguira, embora os fumegantes escapamentos de bronze ainda se projetassem da popa. O Argo II avançava devagar, impulsionado pelas velas, mas seu plano dera certo. Estavam em segurança naquelas águas, com uma ilha longa e rochosa a boreste e os penhascos brancos do continente a bombordo. A tartaruga parou na entrada da restinga e olhou para eles malignamente, mas não tentou segui-los. Obviamente, seu casco era largo demais.
Hazel desmontou e recebeu um grande abraço de Frank.
— Belo trabalho! — parabenizou ele.
Ela enrubesceu.
— Obrigada.
Piper desmontou ao seu lado.
— Leo, desde quando temos propulsão a jato?
— Ah, sabem... — Leo tentou parecer modesto e falhou. — Foi uma coisinha que bolei em meu tempo livre. Gostaria de ter conseguido mais do que alguns segundos de queima, mas ao menos nos tirou de lá.
— E assou a cabeça da tartaruga — disse Jason, agradecido — o que faremos agora?
— Matem-na! — exigiu o treinador. — Você ainda pergunta? Temos distância suficiente. Temos balistas. Preparem as armas, semideuses!
Jason franziu a testa.
— Treinador, para começo de conversa, você me fez perder a minha espada.
— Ei! Não pedi para ser retirado!
— Em segundo lugar, não acho que as balistas sejam eficazes. Essa carapaça é como a pele do leão da Nemeia. E sua cabeça não é mais macia.
— Então, disparamos goela abaixo — disse o treinador. — Como fizeram com aquele camarão monstruoso no Atlântico. Vamos explodi-la de dentro para fora.
Frank coçou a cabeça.
— Poderia funcionar. Mas, então, teríamos uma carcaça de cinco mil toneladas bloqueando a entrada da restinga. Se não podemos voar com os remos quebrados, como tiraríamos o navio daqui?
— Você aguarda e conserta os remos! — disse o treinador. — Ou simplesmente navega na outra direção, seu marinheiro de água doce.
Frank pareceu confuso.
— O que é um marinheiro de água doce?
— Ei, pessoal! — gritou Nico do alto do mastro. — Quanto a navegar na outra direção, não acho que dê certo.
Ele apontou para além da proa.
A meio quilômetro mais à frente, a longa faixa rochosa se curvava e se encontrava com os penhascos. O canal terminava em um V fechado.
— Não estamos em um estreito — disse Jason. — Estamos em um beco sem saída.
Hazel sentiu frio nos dedos das mãos e dos pés. Na amurada de bombordo, Gale, a doninha, estava sentada sobre as patas traseiras. Olhando para ela, ansiosa.
— É uma armadilha — disse Hazel.
Os outros a encararam.
— Não, está tudo bem — disse Leo — na pior das hipóteses, fazemos os reparos. Pode durar a noite inteira, mas consigo fazer o navio voar de novo.
À entrada do estreito, a tartaruga rugiu. Não parecia interessada em ir embora.
— Bem — Piper deu de ombros — ao menos ela não pode nos pegar. Estamos protegidos.
Aquilo era algo que nenhum semideus deveria dizer. Piper mal terminou de falar quando uma flecha se cravou no mastro principal, a quinze centímetros de seu rosto. A tripulação se dispersou em busca de abrigo, com exceção de Piper, que ficou paralisada, boquiaberta, olhando para a flecha que quase fizera um piercing no seu nariz do modo mais difícil.
— Piper, abaixe! — sibilou Jason.
Mas nenhuma outra flecha foi disparada.
Frank estudou o ângulo do projétil no mastro e apontou para o topo dos penhascos.
— Lá em cima — informou ele. — Um único atirador. Estão vendo?
O sol a impedia de ver claramente, mas Hazel percebeu uma pequena figura na borda do penhasco. Sua armadura de bronze brilhava.
— Ai, caramba! Quem será? — perguntou Leo. — Por que está atirando na gente?
— Pessoal? — A voz de Piper soava trêmula. — Tem um bilhete.
Hazel não tinha percebido, mas havia um pergaminho amarrado à haste da flecha. Não sabia por que, mas aquilo a enfureceu. Foi até lá e retirou o bilhete.
— Hã, Hazel? — disse Leo. — Tem certeza de que é seguro?
Hazel leu o bilhete em voz alta.
— Primeira linha: Parem e entreguem.
— O que isso quer dizer? — reclamou o treinador Hedge. — Estamos parados. Não por querer, mas mesmo assim. Se esse cara está esperando um entregador de pizza, esqueça!
— Tem mais — disse Hazel. — Isto é um assalto. Envie dois dos seus até o topo do penhasco com todos os objetos de valor. Não mais do que dois. Deixem o cavalo mágico. Nada de voar. Sem truques. Apenas subam.
— Subir como? — perguntou Piper.
Nico apontou.
— Por ali.
Havia no penhasco uma escadaria estreita entalhada, que ia até o topo. A tartaruga, o beco sem saída, o penhasco... Hazel tinha a sensação de que aquela não era a primeira vez que o autor da carta emboscara um navio ali.
Pigarreou e continuou a ler em voz alta:
— Refiro-me a todos os seus valores. Caso contrário, minha tartaruga e eu vamos destruí-los. Vocês têm cinco minutos.
— Use as catapultas! — gritou o treinador.
— P.S. — leu Hazel. — Nem pensem em usar suas catapultas.
— Maldição! — exclamou o treinador. — Esse cara é bom.
— O bilhete está assinado? — perguntou Nico.
Hazel balançou a cabeça negativamente. Ouvira uma história no Acampamento Júpiter, sobre um ladrão que trabalhava com uma tartaruga gigante, mas, como sempre, assim que precisava de uma informação, esta ficava irritantemente ocultada em sua memória, fora de seu alcance.
Gale, a doninha, encarou Hazel, esperando para ver o que ela faria.
O teste ainda não acontecera, pensou Hazel. Distrair a tartaruga não fora suficiente. Hazel não provara poder manipular a Névoa... principalmente porque não conseguia manipular a Névoa.
Leo estudou o topo do penhasco e murmurou.
— Não é uma boa trajetória. Mesmo que pudesse armar a catapulta antes que o cara fizesse chover flechas, não acho que conseguiria atingi-lo. Está a centenas de metros, quase em linha reta para cima.
— Sim — resmungou Frank. — Meu arco também é inútil. Ele tem uma enorme vantagem estando acima de nós. Não conseguiria atingi-lo.
— E, hum... — Piper cutucou a flecha que estava cravada no mastro. — Tenho a sensação de que é bom de tiro. Não creio que pretendesse me atingir. Mas se quisesse...
Não precisou continuar. Quem quer que fosse o ladrão, podia acertar um alvo a centenas de metros de distância. Poderia matá-los antes que pudessem reagir.
— Eu vou — disse Hazel.
Odiava a ideia, mas tinha certeza de que Hécate planejara aquilo como uma espécie de desafio doentio. Esse seria o teste de Hazel – a sua vez de salvar o navio. Como se precisasse de uma confirmação, Gale correu ao longo da amurada e pulou sobre seu ombro, pronta para pegar uma carona.
Os outros olharam para ela.
Frank agarrou seu arco.
— Hazel...
— Não, prestem atenção — disse ela — esse ladrão quer objetos de valor. Posso ir até lá, invocar ouro, joias, tudo o que ele quiser.
Leo ergueu uma sobrancelha.
— Acha que realmente vai nos deixar ir embora se lhe dermos o que quer?
— Não temos muita escolha — disse Nico. — Entre aquele cara e a tartaruga...
Jason ergueu a mão. Os outros ficaram em silêncio.
— Vou também — disse ele — a carta exige duas pessoas. Levo Hazel até lá e a trago de volta. Além do mais, não gostei dessa escadaria. Se Hazel cair... bem, posso usar os ventos para evitar que cheguemos ao chão do jeito mais doloroso.
Arion relinchou em protesto, como se dissesse: Você vai sem mim? Está brincando, certo?
— É preciso, Arion — disse Hazel — Jason... Sim. Acho que você está certo. É o melhor plano.
— Só gostaria de ter a minha espada — Jason olhou feio para o treinador — está lá, no fundo do mar, e não temos Percy para recuperá-la.
O nome Percy passou por eles como uma nuvem. O clima no convés ficou ainda mais sombrio.
Hazel estendeu um braço. Não pensou. Apenas se concentrou na água e invocou o ouro imperial.
Foi uma ideia idiota. A espada estava muito longe dali, provavelmente a centenas de metros de profundidade. Mas sentiu um puxão rápido em seus dedos, como uma mordida em uma linha de pesca, e a espada de Jason saiu da água e acabou em sua mão.
— Tome — disse ela, entregando-a.
Os olhos de Jason se arregalaram.
— Como...? Estava a quase um quilômetro daqui!
— Tenho praticado — disse ela, embora não fosse verdade.
Esperava não ter acidentalmente amaldiçoado a espada de Jason ao invocá-la, assim como amaldiçoava as joias e os metais preciosos.
De alguma forma, porém, pensou, com armas era diferente. Afinal, Hazel retirara um bocado de equipamento de ouro imperial da baía da geleira e o entregara para a Quinta Coorte. E fora um sucesso.
Hazel decidiu não se preocupar com isso. Estava com tanta raiva de Hécate e tão cansada de ser manipulada pelos deuses que não deixaria que problemas insignificantes a impedissem de continuar.
— Agora, se não há outras objeções, temos que encontrar com um ladrão.

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