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A Casa de Hades - CAP. XXV

.. sábado, 8 de março de 2014
Capítulo XXV - Hazel
TUDO CHEIRAVA A VENENO. Dois dias depois de sair de Veneza, Hazel ainda não conseguira deixar de sentir o fedor tóxico de colônia de monstro bovino.
O enjoo marítimo não ajudava. O Argo II navegava pelo Adriático, uma bela imensidão azul brilhante, mas Hazel não conseguia apreciá-la devido ao constante oscilar do navio. No convés, tentava manter os olhos fixos no horizonte, mirando os penhascos brancos que pareciam estar sempre a apenas alguns quilômetros a leste. Que país seria aquele? A Croácia? Não tinha certeza. Hazel só queria voltar a pisar em terra firme.
Mas o que mais lhe provocava náuseas era a doninha.
Na noite anterior, o animal de estimação de Hécate, Gale, aparecera em sua cabine. Hazel acordou de um pesadelo pensando “Que cheiro é esse?” e encontrou o animal peludo em seu peito, observando-a com os olhos negros e redondos.
Nada como acordar gritando, chutar as próprias cobertas e sair pulando pela cabine enquanto uma doninha corre por entre seus pés, chiando e peidando. Os amigos correram até lá para ver se ela estava bem. Foi difícil explicar a presença da doninha. Hazel sabia que Leo estava se esforçando muito para não fazer uma piada.
Pela manhã, quando tudo se acalmou, Hazel decidiu visitar o treinador Hedge, já que ele podia falar com animais.
Ela encontrou a porta de sua cabine entreaberta e ouviu o treinador lá dentro, falando como se estivesse ao telefone, embora não houvesse aparelhos a bordo. Talvez estivesse mandando uma mensagem mágica de Íris. Hazel ouvira dizer que os gregos as usavam bastante.
— Claro, querida — dizia Hedge. — Sim, eu sei, amor. Não, é uma ótima notícia, mas... — Sua voz falhou de emoção.
De repente, Hazel se sentiu horrível por estar espionando. Teria dado meia-volta, mas Gale chiou em seus calcanhares. Hazel bateu à porta do treinador.
Hedge pôs a cabeça para fora, fazendo cara feia como de costume, mas seus olhos estavam vermelhos.
— O que foi? — resmungou.
— Hum... desculpe — disse Hazel. — Está tudo bem?
O treinador deu uma curta risada amarga e abriu a porta.
— Que raio de pergunta é essa?
Não havia mais ninguém na cabine.
— Eu... — Hazel tentou lembrar por que estava lá. — Gostaria de saber se você poderia falar com a minha doninha.
O treinador a olhou com desconfiança. Então baixou a voz:
— Estamos falando em código? Há um intruso a bordo?
— Bem, mais ou menos.
Gale apareceu entre os pés de Hazel e começou a tagarelar.
O treinador pareceu ofendido. Respondeu à doninha e ambos mantiveram o que pareceu ser uma discussão bastante acalorada.
— O que ela falou? — perguntou Hazel.
— Um bocado de grosserias — resmungou o sátiro. — Resumindo: ela está aqui para ver como será.
— Como será o quê?
O treinador Hedge bateu o casco no chão.
— Como vou saber? Ela é uma doninha! Elas nunca dão respostas diretas. Agora, se me dá licença, tenho, hã, coisas...
E fechou a porta na cara dela.

* * *

Após o café da manhã, Hazel ficou parada na amurada de bombordo, tentando acalmar o estômago. Ao lado dela, Gale corria para cima e para baixo da amurada, soltando puns, mas o forte vento do Adriático ajudava a afastar o cheiro.
Hazel se perguntou o que tinha acontecido com o treinador Hedge. Ele devia estar mandando uma mensagem de Íris para alguém, mas se recebera boas notícias, por que parecia tão arrasado? Ela nunca o vira tão abalado. Infelizmente, Hazel duvidava que o treinador pedisse ajuda caso precisasse. Não era exatamente do tipo caloroso e aberto.
A garota olhou para a cordilheira branca ao longe e se perguntou por que Hécate enviara a doninha Gale.
Ela está aqui para ver como será.
Algo estava prestes a acontecer. Hazel passaria por um teste.
Não entendia como poderia aprender magia sem qualquer treinamento. Hécate esperava que ela derrotasse uma feiticeira super poderosa, a senhora do vestido de ouro que Leo vira em seu sonho. Mas como?
Hazel passava todo o seu tempo livre tentando descobrir isso. Olhava para sua espata, tentando fazê-la tomar a forma de uma bengala. Tentava invocar uma nuvem para ocultar a lua cheia. Concentrava-se até seus olhos ficarem vesgos e seus ouvidos estalarem, mas nada acontecia. Não era capaz de manipular a Névoa.
Nas últimas noites, seus sonhos pioraram. Via-se de volta ao Campo de Asfódelos, vagando sem rumo entre fantasmas. Em seguida, estava na caverna de Gaia, no Alasca, onde Hazel e sua mãe morreram com o desabamento do teto, e a voz da deusa da terra uivou de ódio. Via-se na escada do apartamento da mãe em Nova Orleans, cara a cara com o pai. Os dedos frios de Plutão agarravam o seu braço. O tecido de seu terno de lã preta se retorcia de almas aprisionadas. Ele a encarou com olhos escuros e furiosos e disse: Os mortos veem o que acreditam que verão. Os vivos também. Esse é o segredo.
Ele nunca dissera aquilo na vida real. Hazel não tinha ideia do que significava.
Os piores pesadelos pareciam vislumbres do futuro. Hazel se via tropeçando por um túnel escuro enquanto a risada de uma mulher ecoava ao seu redor.
Domine isso se puder, filha de Plutão, provocou a mulher.
E sempre sonhava com as imagens que vira na encruzilhada de Hécate: Leo caindo do céu; Percy e Annabeth deitados e inconscientes, possivelmente mortos, diante de portas de metal negro, e uma figura amortalhada diante deles, o gigante Clítio envolto em escuridão.
Ao seu lado, parada na amurada, Gale, a doninha, chiava, impaciente. Hazel sentiu-se tentada a empurrar aquele bicho estúpido no mar.
Não consigo nem controlar os meus próprios sonhos, quis gritar. Como posso controlar a Névoa?
Sentia-se tão arrasada que não notou a aproximação de Frank até ele estar ao seu lado.
— Está se sentindo melhor?
Frank segurou sua mão, com os dedos cobrindo completamente os dela. Era inacreditável como o namorado crescera. Ele se transformava em tantos animais que Hazel não entendia por que tinha ficado tão surpresa com mais uma transformação... mas de repente Frank crescera até ficar com uma estatura compatível com o próprio peso. Ninguém mais poderia chamá-lo de gordinho ou fofinho. Parecia um jogador de futebol musculoso com um novo centro de gravidade. Os ombros estavam mais largos. Caminhava com mais segurança.
O que Frank fizera naquela ponte em Veneza... Hazel ainda estava pasma. Nenhum deles testemunhara a batalha, mas ninguém duvidava. Frank estava completamente mudado. Até mesmo Leo parara de fazer piadas às suas custas.
— Eu estou... estou bem. — Hazel conseguiu dizer. — E você?
Ele sorriu, enrugando os cantos dos olhos.
— Eu, hã, estou mais alto. Fora isso, tudo bem. Sabe, realmente não mudei por dentro...
Seu tom trazia um pouco de sua antiga insegurança e falta de jeito – era a voz do seu Frank, que sempre tinha medo de ser um desastrado e estragar tudo.
Hazel sentiu-se aliviada. Gostava dessa parte dele. A princípio, sua nova aparência a chocara. Ficou com medo que sua personalidade também tivesse mudado. Agora, Hazel estava começando a relaxar quanto a isso. Apesar de toda a sua força, Frank era o mesmo sujeito adorável de sempre. Ainda era vulnerável. Ainda lhe confiava sua maior fraqueza: o pedaço de madeira mágica que ela carregava no bolso do casaco, junto ao coração.
— Eu sei, e estou feliz com isso — ela apertou a mão dele — não... não é exatamente com você que estou preocupada.
— Como vai Nico? — resmungou Frank.
Hazel estava pensando em si mesma, mas seguiu o olhar de Frank até o topo do mastro, onde Nico estava empoleirado em uma verga.
O garoto dissera que gostava de vigiar porque tinha uma boa visão. Hazel sabia que não era esse o motivo. O topo do mastro era um dos poucos lugares a bordo onde Nico podia ficar sozinho. Os outros lhe ofereceram a cabine de Percy, uma vez que o amigo estava... bem, ausente. Mas Nico se recusou terminantemente. Passava a maior parte do tempo no cordame, onde não precisava conversar com o resto da tripulação.
Desde que fora transformado em um pé de milho em Veneza, tornara-se ainda mais recluso e taciturno.
— Não sei — admitiu Hazel — Nico passou por muita coisa. Foi capturado no Tártaro, aprisionado naquele jarro de bronze, viu a queda de Percy e Annabeth...
— E prometeu nos levar a Épiro — Frank assentiu — tenho a sensação de que ele não gosta de trabalhar em equipe.
Frank se aprumou. Usava uma camiseta bege com a figura de um cavalo e as palavras: PALIO DI SIENA. Ele a comprara havia alguns dias, mas agora estava muito pequena. Quando se espreguiçou, sua barriga apareceu.
Hazel percebeu que estava olhando fixamente. Ela logo desviou o olhar, enrubescida.
— Nico é meu único parente. Não é fácil gostar dele, mas... obrigada por ser gentil com ele.
Frank sorriu.
— Ei, você aguentou minha avó, em Vancouver. Não precisa nem falar em não ser fácil de gostar.
— Eu adorei a sua avó!
Gale, a doninha, correu até eles, peidou e fugiu.
— Eca — Frank balançou a mão para afastar o cheiro — por que esse bicho está aqui, afinal?
Hazel ficou quase feliz por não estarem em terra. Sua agitação era tão grande que com certeza teria ouro e pedras preciosas brotando ao seu redor.
— Hécate enviou Gale para observar.
— Observar o quê?
Hazel tentou tirar forças da presença de Frank, com sua nova aura de solidez e força.
— Não sei — admitiu ela, afinal — algum tipo de teste.

De repente, o barco deu um solavanco.

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