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A Casa de Hades - CAP. XXIV

.. sábado, 8 de março de 2014
Capítulo XXIV - Annabeth
DEPOIS DE ALGUM TEMPO, ANNABETH estava com a impressão de que seus pés tinham virado purê de titã. Continuava a seguir Bob, ouvindo o ruído monótono do líquido dentro de sua garrafa de limpeza balançar.
Fique alerta, disse para si mesma, mas era difícil. Sua mente estava tão dormente quanto as pernas. De vez em quando, Percy segurava sua mão ou fazia algum comentário encorajador, mas dava para perceber que a paisagem sombria também o estava afetando. Seus olhos pareciam mais apagados, como se seu ânimo aos poucos estivesse se extinguindo. Ele se jogou no Tártaro para estar com você, disse uma voz na cabeça dela. Se ele morrer, vai ser sua culpa.
— Pare com isso — disse em voz alta.
Percy franziu a testa.
— O quê?
— Não, você não — ela tentou dar um sorriso reconfortante, mas falhou — preciso parar de falar comigo mesma. Este lugar... está mexendo com a minha cabeça. Me faz ter pensamentos sombrios.
As linhas de preocupação em torno dos olhos verde-mar de Percy se acentuaram.
— Ei, Bob, para onde exatamente estamos indo?
— Ver a Senhora — respondeu o titã. — Névoa da Morte.
Annabeth tentou conter a irritação.
— Mas o que isso significa? Quem é essa Senhora?
— Dizer o nome dela? — Bob olhou por cima do ombro. — Não é uma boa ideia.
Annabeth deu um suspiro. O titã tinha razão. Nomes tinham poder, e dizê-los ali no Tártaro era provavelmente muito perigoso.
— Sabe pelo menos dizer se estamos muito longe? — perguntou ela.
— Não sei — admitiu Bob — só posso sentir. Vamos esperar a escuridão ficar mais escura, aí fazemos um desvio pelo lado.
— Pelo lado — murmurou Annabeth — é claro.
Estava tentada a pedir para descansarem, mas não queria parar. Não ali naquele lugar escuro e frio. A névoa negra penetrava em seus ossos, transformando-os em isopor úmido. Ela se perguntou se Rachel Dare receberia sua mensagem. Se Rachel pudesse de algum modo levar sua proposta para Reyna sem ser morta...
Uma esperança ridícula, disse a voz em sua cabeça. Você só pôs Rachel em perigo. Mesmo que ela encontre os romanos, por que Reyna confiaria em você depois de tudo o que aconteceu?
Annabeth teve vontade de responder à voz aos gritos, mas se controlou. Mesmo que estivesse enlouquecendo, não queria parecer que estava enlouquecendo.
Precisava desesperadamente de algo para animá-la. Um gole de água de verdade. Um momento à luz do sol. Uma cama quente. Uma palavra doce de sua mãe.
De repente, Bob parou e ergueu a mão: Esperem.
— O que foi? — sussurrou Percy.
— Shhh — alertou Bob — ali na frente. Tem algo se movendo.
Annabeth apurou os ouvidos. De algum lugar na neblina vinha um ronco contínuo, como o giro lento do motor de um grande trator. Ela podia sentir as vibrações em seus sapatos.
— Vamos cercá-lo — murmurou Bob — cada um de vocês vá por um lado.
Pela milionésima vez, Annabeth desejou ter sua faca. Pegou um pedaço de obsidiana negra afiada e seguiu pela esquerda. Percy foi pela direita, com a espada na mão.
Bob foi pelo centro com a ponta de sua lança brilhando em meio ao nevoeiro. O ronco ficou mais alto e começou a sacudir o cascalho sob os pés de Annabeth. O barulho parecia vir de um ponto diretamente à frente deles.
— Prontos? — murmurou Bob.
Annabeth se encolheu, se preparando para saltar.
— No três?
— Um — murmurou Percy. — Dois...
Uma figura surgiu na névoa. Bob ergueu a lança.
— Esperem! — gritou Annabeth.
Bob se deteve bem a tempo. A ponta de sua lança parou a poucos centímetros da cabeça de um pequeno filhote de gato de pelagem bege, laranja e preta.
— Rrrrrriauuuu? — fez o filhote, obviamente nada impressionado com o plano de ataque deles.
O animalzinho esfregou a cabeça no pé de Bob e ronronou alto.
Parecia impossível, mas o ronco grave e vibrante vinha do filhote. Quando ronronava, o chão tremia e os seixos dançavam. O gatinho fixou seus olhos amarelos como lâmpadas em uma rocha bem entre os pés de Annabeth e saltou até lá.
O gato podia ser um demônio ou um horrível monstro do Mundo Inferior disfarçado. Mas Annabeth não conseguiu resistir. Ela o pegou e aninhou no colo. O bichinho estava muito magro, mas, fora isso, parecia perfeitamente normal.
— Como ele...? — Ela nem conseguia formular a pergunta direito. — O que um gatinho desses está fazendo...?
O gato foi ficando impaciente e se desvencilhou de seus braços. Caiu no chão com um baque surdo, foi até Bob e começou a ronronar enquanto se esfregava nas botas do titã.
Percy riu.
— Alguém gostou de você, Bob.
— Deve ser um monstro bom. — Bob ergueu os olhos, preocupado. — Não é?
Annabeth sentiu um nó na garganta. Ao ver o titã enorme e aquele gatinho minúsculo lado a lado, de repente, sentiu-se insignificante em comparação à vastidão do Tártaro. Aquele lugar não tinha respeito por nada, bom ou mau, pequeno ou grande, inteligente ou não. O Tártaro engolia titãs, semideuses e gatinhos indiscriminadamente.
Bob se ajoelhou e pegou o filhote. Ele cabia perfeitamente na palma de sua mão, mas queria explorar. Escalou o braço do titã, aninhou-se em seu ombro, fechou os olhos e começou a ronronar como um trator. De repente, seu pelo brilhou. Com um clarão repentino, o gatinho se transformou em um esqueleto fantasmagórico, como se estivesse sendo visto por uma máquina de raios-X. Depois virou um gatinho normal outra vez.
Annabeth piscou.
— Vocês viram...?
— Vi — Percy franziu a testa — ah, cara... Eu conheço esse gatinho. É um daqueles do Smithsonian.
Annabeth tentou entender do que Percy estava falando. Ela nunca tinha ido ao Smithsonian com ele... Então se lembrou de quando tinha sido capturada pelo titã Atlas vários anos antes. Percy e Thalia lideraram uma expedição para resgatá-la. Pelo caminho, viram Atlas conjurar esqueletos guerreiros de dentes de dragão no Museu Smithsonian. Segundo Percy, a primeira tentativa do titã não deu certo. Ele plantou por engano dentes de tigres-dentes-de-sabre, invocando um bando de gatinhos esqueletos.
— Esse é um deles? — perguntou Annabeth. — Como chegou aqui?
Percy estendeu as mãos sem saber o que dizer.
— Atlas disse a seus servos que se livrassem dos filhotes. Talvez tenham destruído os gatos e eles renasceram no Tártaro. Não sei.
— É bonitinho — disse Bob enquanto o gatinho cheirava sua orelha.
— Mas não será perigoso? — perguntou Annabeth.
O titã coçou o pescoço do bichinho. Annabeth não sabia se era uma boa ideia sair por aí com um gato criado a partir de um dente pré-histórico, mas isso agora obviamente não importava. O titã e o gato tinham ficado amigos.
— Vou chamá-lo de Bob Pequeno — disse Bob. — Ele é um monstro legal.
Fim de papo. O titã pegou sua lança, e eles continuaram a caminhar para o interior da escuridão.

* * *

Annabeth andava quase em transe, tentando não pensar em pizza. Para se manter distraída, observava Bob Pequeno, o gatinho, que andava e ronronava nos ombros de Bob, transformando-se de vez em quando em um esqueleto brilhante de gatinho e em seguida voltando a ser a bola de pelo tricolor.
— Aqui — anunciou Bob.
Ele parou tão de repente que Annabeth quase esbarrou em suas costas.
Bob olhou para a esquerda, como se estivesse mergulhado em pensamentos.
— É aqui? — perguntou Annabeth. — Onde nós desviamos?
— É — concordou Bob. — Mais escuro, então desviamos para o lado.
Annabeth não sabia dizer se estava realmente mais escuro, mas o ar parecia mais frio e denso, como se tivessem entrado em um microclima diferente. Mais uma vez se lembrou de São Francisco, onde era possível ir de um bairro ao outro e sentir a temperatura cair dez graus.
Perguntou-se se os titãs teriam construído seu palácio no Monte Tamalpais porque a região da Baía de São Francisco os lembrava do Tártaro.
Que pensamento deprimente. Só titãs veriam um lugar tão bonito como um potencial posto avançado do Mundo Inferior, um lar infernal longe de casa.
Bob seguiu para a esquerda. Eles foram atrás. O ar definitivamente ficou mais frio. Annabeth se encostou em Percy para se aquecer. O namorado a envolveu com um braço. Era uma sensação boa estar perto dele, mas ela não conseguia relaxar.
Entraram em uma espécie de floresta. Árvores negras muito altas se erguiam na escuridão, perfeitamente redondas e sem galhos, como monstruosos folículos capilares. O chão era liso e claro.Com a nossa sorte, pensou Annabeth, estamos andando pelo sovaco do Tártaro.
De repente, ela ficou completamente alerta, como se alguém houvesse soltado o elástico do estilingue em sua nuca. Encostou a mão no tronco da árvore mais próxima.
— O que é isso? — perguntou Percy, erguendo a espada.
Bob se virou e olhou para trás, confuso.
— Vamos parar?
Annabeth ergueu a mão para pedir silêncio. Não sabia o que a alertara. Nada parecia diferente. Então se deu conta de que o tronco estava oscilando. Perguntou-se por um instante se era o ronronar do gato. Mas Bob Pequeno continuava adormecido no ombro do Bob Grande.
A alguns metros de distância, outra árvore estremeceu.
— Há algo se movendo acima da gente — murmurou Annabeth. — Vamos ficar juntos.
Bob e Percy se aproximaram, e os três ficaram de costas uns para os outros.
Annabeth forçou a vista para tentar ver acima deles na escuridão, mas nada se moveu. Tinha quase chegado à conclusão de que estava paranoica quando o primeiro monstro caiu no chão a menos de dois metros de distância.
A primeira coisa que lhe ocorreu foi: as Fúrias.
A aparência era praticamente a mesma: uma velha enrugada com asas de morcego, esporões de metal e olhos vermelhos reluzentes. Usava um vestido de seda preta esfarrapado, e seu rosto estava distorcido e com aparência faminta, como uma avó demoníaca pronta para matar.
Bob grunhiu quando outra caiu diante dele, e em seguida mais uma na frente de Percy. Em pouco tempo estavam cercados por meia dúzia das criaturas, e outras mais sibilavam nas árvores acima.
Então não podiam ser fúrias. Só havia três delas, e aquelas bruxas aladas não tinham chicotes. Isso não tranquilizou Annabeth. Os esporões dos monstros pareciam perigosos o suficiente.
— O que são vocês? — indagou ela.
As arai, sibilou uma voz. As maldições!
Annabeth tentou localizar quem havia falado, mas nenhum dos demônios tinha mexido a boca. Seus olhos pareciam mortos; as expressões, imóveis, como a de um fantoche. A voz simplesmente se propagou no ar como a de um narrador de um filme, como se uma única mente controlasse todas as criaturas.
— O que... o que vocês querem? — perguntou Annabeth, tentando manter um tom confiante.
A voz soltou uma gargalhada maligna. Amaldiçoá-los, é claro! Destruí-los mil vezes em nome da Mãe Noite!
— Só mil vezes? — murmurou Percy. — Ah, ainda bem... achei que estávamos com problemas.
O círculo de mulheres demoníacas se fechou.

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