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A Casa de Hades - CAP. XXII

.. sábado, 8 de março de 2014
Capítulo XXII - Annabeth
MAIS TARDE, ELA TOMOU UMA decisão. Nunca, jamais dormir no Tártaro.
Os sonhos dos semideuses eram sempre ruins. Mesmo na segurança de seu beliche no acampamento, tinha pesadelos horrorosos. No Tártaro, eles pareciam mil vezes mais reais.
Primeiro, era novamente uma garotinha que não conseguia subir a Colina Meio-Sangue. Luke Castellan segurava sua mão, ajudando-a. Grover Underwood, seu guia sátiro, esperava inquieto no topo, gritando: “Corram! Corram!”
Thalia Grace ficara um pouco para trás, contendo um exército de cães infernais com seu escudo que invocava o terror, Aegis. Do alto do morro, Annabeth podia ver o acampamento no vale – as luzes cálidas dos chalés, a possibilidade de refúgio. Tropeçou e torceu o tornozelo, e Luke a carregou nos braços.
Quando olharam para trás, os monstros estavam a apenas alguns metros de distância. Havia dezenas deles cercando Thalia.
— Podem ir! — gritou ela. — Vou segurá-los.
Ela brandiu sua lança e raios bifurcados varreram as fileiras de monstros; porém, à medida que os cães infernais morriam, outros tomavam seus lugares.
— Corram! — gritou Grover.
Ele os conduziu até o acampamento. Luke o seguiu, enquanto Annabeth chorava, debatendo-se em seus braços e gritando que não podiam deixar Thalia sozinha. Mas era tarde demais.
A cena mudou.
Annabeth, mais velha, subia até o topo da Colina Meio-Sangue. No local da batalha final de Thalia agora erguia-se um pinheiro alto. O céu estava tomado por uma forte tempestade. Os trovões faziam o vale tremer. Um raio caiu na árvore, abrindo uma fenda fumegante que ia até as raízes. No pé da colina, Reyna, pretora de Nova Roma, estava parada na escuridão. Sua capa era da cor de sangue recém-derramado. Sua armadura dourada reluzia. A jovem olhava para cima, com expressão altiva e distante, e suas palavras ecoavam diretamente nos pensamentos de Annabeth.
Você agiu bem, disse Reyna, mas a voz era de Atena. O resto de minha jornada deve ser nas asas de Roma.
Os olhos escuros da pretora ficaram cinzentos como as nuvens da tempestade.
Preciso ficar aqui, disse Reyna. Os romanos devem me trazer.
A colina estremeceu. O chão se moveu em ondas; a grama se transformou nas dobras de seda do vestido de uma deusa enorme. Gaia ergueu-se diante do Acampamento Meio-Sangue.
Seu rosto adormecido era do tamanho de uma montanha. Cães infernais chegavam em bandos pelas colinas. Gigantes de seis braços nascidos da terra e ciclopes selvagens atacavam da praia. Destruíram o refeitório e incendiaram os chalés e a Casa Grande.
Depressa, disse a voz de Atena. A mensagem precisa ser enviada.
O chão se rompeu aos pés de Annabeth e ela caiu na escuridão.
Seus olhos se abriram de repente. Ela gritou e agarrou os braços de Percy. Ainda estava no Tártaro, no Santuário de Hermes.
— Está tudo bem — disse Percy, tranquilizando-a — pesadelos?
Seu corpo formigava de medo.
— Já é... é meu turno de vigia?
— Não, não. Estamos bem. Pode dormir.
— Percy!
— Ei, está tudo bem. Além disso, estava empolgado demais para dormir. Veja.
Bob, o titã, estava sentado de pernas cruzadas ao lado do altar, devorando alegremente uma fatia de pizza.
Annabeth esfregou os olhos, achando que ainda estava sonhando.
— Isso é... pepperoni?
— Oferendas queimadas — explicou Percy. — Sacrifícios do mundo mortal para Hermes, acho. Surgiram em uma nuvem de fumaça. Temos meio cachorro-quente, algumas uvas, um prato de rosbife e um saquinho de M&MS de amendoim.
— M&MS para Bob! — disse o titã, contente. — Hã, tudo bem?
Annabeth não protestou. Percy levou até ela a travessa de rosbife, e ela os devorou com a voracidade de um lobo. Nunca comera algo tão bom. A carne ainda estava quente, com uma crosta doce e apimentada exatamente como a do churrasco do Acampamento Meio-Sangue.
— Eu sei — disse Percy, lendo sua expressão — acho que veio mesmo do Acampamento Meio-Sangue.
A ideia deixou Annabeth morta de saudades de casa. Em todas as refeições, os membros do acampamento queimavam parte da comida em honra a seus pais divinos. A fumaça supostamente agradava aos deuses, mas Annabeth nunca tinha pensado para onde aquela comida ia depois de queimada. Talvez as oferendas reaparecessem nos altares dos deuses no Olimpo... ou mesmo ali, no meio do Tártaro.
— M&MS de amendoim — disse Annabeth. — Connor Stoll sempre queimava um pacote para o pai no jantar.
Lembrou-se de quando se sentava no refeitório e observava o sol se pôr no estreito de Long Island. Aquele foi o lugar em que ela e Percy se beijaram de verdade pela primeira vez. Seus olhos ficaram marejados.
Percy pôs a mão em seu ombro.
— Ei, isso é bom. Comida de verdade, de casa, certo?
Ela assentiu. Terminaram de comer em silêncio.
Bob engoliu seus últimos M&MS.
— A gente tem que ir agora. Eles vão chegar em alguns minutos.
— Alguns minutos?
Annabeth ia tentar sacar sua faca quando lembrou que não estava mais com ela.
— É... bem, eu acho que são alguns minutos... — Bob coçou os cabelos prateados. — O tempo é uma coisa meio complicada no Tártaro. Não é igual.
Percy subiu com cautela até a borda da cratera e olhou na direção de onde tinham vindo.
— Não estou vendo nada, mas isso não quer dizer muito. Bob, de quais gigantes estamos falando? Quais titãs?
Bob resmungou.
— Não sei os nomes. Devem ser seis, talvez sete. Posso senti-los.
— Seis ou sete? — Annabeth achou que ia pôr a comida toda para fora. — E eles podem sentir você?
— Não sei — Bob sorriu — Bob é diferente! Mas eles com certeza podem farejar semideuses. Vocês dois têm um cheiro muito forte! Bom e forte. Como... humm. Como pão com manteiga derretida.
— Pão com manteiga. Nossa, que ótimo — disse Annabeth.
Percy voltou para perto do altar.
— É possível matar um gigante no Tártaro? Quer dizer, já que não temos um deus para nos ajudar?
Olhou para Annabeth como se ela soubesse a resposta.
— Percy, não sei. Viajar pelo Tártaro, lutar contra os monstros aqui... é a primeira vez que alguém faz isso. Será que Bob poderia nos ajudar a matar um gigante? Será que um titã conta como deus? Simplesmente não sei.
— É... — disse Percy. — O.k.
Annabeth podia ver a preocupação nos olhos dele. Por anos Percy contara com ela para encontrar respostas. Agora, quando ele mais precisava, Annabeth não conseguia ajudá-lo. Odiava estar tão perdida, mas nada do que aprendera no Acampamento Meio-Sangue a havia preparado para o Tártaro. Só tinha certeza de uma coisa: precisavam seguir em frente. Não podiam ser pegos por seis ou sete imortais hostis.
Ela se levantou, ainda desorientada por conta dos pesadelos. Bob começou a arrumar tudo, juntou o lixo em uma pequena pilha e borrifou o líquido da garrafa de seu cinto no altar, limpando-o com um pano.
— Vamos para onde, agora? — perguntou Annabeth.
Percy apontou para a muralha de trevas e tempestade.
— Bob diz que é para lá. Aparentemente, as Portas da Morte...
— Você contou a ele? — exclamou Annabeth. Não teve a intenção de ser dura, mas Percy estremeceu.
— Enquanto você estava dormindo — admitiu Percy. — Annabeth, Bob pode nos ajudar. Precisamos de um guia.
— Bob ajuda! — concordou o titã. — Vamos para as Terras Sombrias. As Portas da Morte... Humm, ir andando direto até elas seria ruim. Lá há muitos monstros. Nem Bob pode varrer tantos assim. Eles matariam Percy e Annabeth em dois segundos — o titã franziu a testa — acho que são segundos, o tempo é complicado no Tártaro.
— Está bem — resmungou Annabeth. — Mas tem outro jeito?
— Escondidos — disse Bob. — A Névoa da Morte pode ocultar vocês.
— Ah... — Annabeth de repente se sentiu muito pequena à sombra do titã. — Hã... O que é essa Névoa da Morte?
— Ela é perigosa — advertiu Bob — mas se a senhora lhes der a Névoa da Morte, talvez vocês consigam se esconder. Se pudermos evitar a Noite. A senhora é muito ligada à Noite. Isso não é bom.
— A Senhora — repetiu Percy.
— É. — Bob apontou para a escuridão absoluta à frente deles. — É melhor irmos.
Percy olhou para Annabeth, obviamente em busca de alguma orientação, mas ela não tinha nada a oferecer. Estava pensando em seu pesadelo, na árvore de Thalia rachada por um raio, em Gaia se erguendo na encosta e lançando seus monstros contra o Acampamento Meio-Sangue.
— Então está decidido — disse Percy — acho que vamos ver uma senhora para falar sobre uma Névoa da Morte.
— Esperem — disse Annabeth.
Sua mente passou por um turbilhão. Ela pensou no sonho com Luke e Thalia. Lembrou-se das histórias que Luke contara sobre o pai dele, Hermes, o deus dos viajantes, guia dos espíritos dos mortos, deus da comunicação.
Ficou algum tempo olhando para o altar negro.
— Annabeth? — Percy parecia preocupado.
Ela caminhou até a pilha de lixo e pegou um guardanapo razoavelmente limpo. Lembrou-se da visão de Reyna parada sob os restos fumegantes do pinheiro de Thalia, falando com a voz de Atena.
Preciso ficar aqui. Os romanos devem me trazer. Depressa. A mensagem deve ser enviada.
— Bob — disse ela. — As oferendas queimadas no mundo mortal aparecem neste altar, certo?
Bob, aparentando desconforto, franziu a testa, como se fosse um aluno que não se preparou para um teste surpresa.
— Sim?
— E o que acontece se eu queimar algo aqui no altar?
— Hã...
— Tudo bem — disse Annabeth. — Você não sabe. Ninguém sabe porque isso nunca foi feito.
Havia uma chance, pensou ela, uma ínfima chance de que uma oferenda queimada naquele altar aparecesse no Acampamento Meio-Sangue.
Não dava para ter certeza, mas se funcionasse...
— Annabeth? — Percy tornou a dizer. — Você está planejando alguma coisa. Está com aquela cara de estou planejando alguma coisa.
— Não tenho uma cara de estou planejando alguma coisa.
— Tem, tem sim. Você franze a testa e aperta os lábios, e...
— Tem uma caneta? — perguntou ela.
— Está brincando, certo? — Ele sacou a Contracorrente.
— É, mas você consegue usá-la para escrever?
— Eu... eu não sei — admitiu ele. — Nunca tentei.
Ele destampou a caneta. Como sempre, ela se transformou em uma grande espada.
Annabeth o havia visto fazer aquilo centenas de vezes. Percy costumava simplesmente descartar a tampa quando ia lutar. Ela sempre reaparecia mais tarde em seu bolso. E quando a encostava na ponta da espada, a lâmina voltava à forma de uma caneta esferográfica.
— E se você colocar a tampa na outra ponta da espada? — perguntou Annabeth. — Como faria se fosse realmente escrever alguma coisa.
— Hã... — Percy pareceu ter ficado em dúvida, mas pôs a tampa no cabo da espada.
Contracorrente se transformou de novo em uma caneta esferográfica, e agora a ponta de escrever estava exposta.
— Posso? — Annabeth tirou-a da mão dele.
Então apoiou o guardanapo no altar e começou a escrever. A tinta da Contracorrente reluzia com cor de bronze celestial.
— O que está fazendo? — perguntou Percy.
— Enviando uma mensagem. Só espero que Rachel a receba.
— Rachel? Está falando da nossa Rachel? A Rachel do Oráculo de Delfos?
— Ela mesma — confirmou, contendo um sorriso.
Sempre que Annabeth mencionava o nome de Rachel, Percy ficava nervoso. Houve uma época em que Rachel estivera a fim de Percy. Mas já fazia muito tempo. As duas garotas tinham se tornado amigas. Annabeth, porém, não se importava em deixar Percy um pouco desconfortável. É sempre bom manter o namorado esperto.
Annabeth terminou o bilhete e dobrou o guardanapo. Na parte externa, escreveu:

Connor,
Entregue isto a Rachel. Não é uma brincadeira. Não seja idiota.
Beijos,
Annabeth

Respirou fundo. Estava pedindo a Rachel Dare que fizesse algo absurdamente perigoso, mas era a única maneira que conseguia imaginar de se comunicar com os romanos, a única forma de evitar o derramamento de sangue.
— Agora só preciso queimar isso. Alguém tem fósforo?
Do cabo de vassoura de Bob surgiu a ponta de uma lança. Ela soltou faíscas ao bater no altar e irrompeu em chamas prateadas.
— Ah, obrigada.
Annabeth pôs fogo no guardanapo e o deixou no altar. Ela o observou virar cinzas e se perguntou se estaria louca. Será que a fumaça conseguiria sair do Tártaro?
— Temos que ir agora — aconselhou Bob — temos mesmo que ir. Antes que matem a gente.
Annabeth encarou a parede de trevas à frente deles. Em algum lugar lá atrás havia uma senhora que fornecia uma Névoa da Morte que talvez conseguisse ocultá-los dos monstros, um plano concebido por um titã, um de seus piores inimigos. Outra dose de bizarrice para fundir seu cérebro de vez.
— Tudo bem — disse ela. — Estou pronta.

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