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A Casa de Hades - CAP. XXI

.. sábado, 8 de março de 2014
Capítulo XXI - Annabeth
ANNABETH CONCLUIU QUE OS MONSTROS não iam matá-la. Nem a atmosfera venenosa, nem a paisagem traiçoeira com seus poços, precipícios e rochas afiadas.
Não. O motivo de sua morte seria, muito provavelmente, a overdose de bizarrices que faria seu cérebro explodir.
Primeiro, ela e Percy tiveram que beber fogo para se manterem vivos. Depois, foram atacados por um bando de vampiras, comandado por uma líder de torcida que Annabeth matara dois anos antes. Por fim, foram resgatados por um titã zelador chamado Bob, que tinha cabelos de Einstein, olhos de prata e técnicas mortíferas de luta com vassoura.
Claro. Por que não?
Seguiram Bob pela paisagem estéril e acompanharam o Flegetonte até se aproximarem da tempestade de trevas. De vez em quando, paravam para beber o fogo líquido, o que os mantinha vivos, mas Annabeth não estava nada feliz. Era como se estivesse o tempo todo fazendo gargarejo com ácido de bateria.
Seu único conforto era Percy. De vez em quando, ele a olhava e sorria ou apertava sua mão. Devia estar tão apavorado e arrasado quanto ela, mas Annabeth o amava por tentar fazê-la se sentir melhor.
— Bob sabe o que está fazendo — assegurou Percy.
— Você tem amigos interessantes — murmurou Annabeth.
— Bob é interessante! — O titã se virou e deu um sorriso. — É, obrigado!
A audição do grandalhão era bem aguçada. Annabeth não podia se esquecer disso.
— Então, Bob... — Ela tentou soar despreocupada e simpática, o que não era fácil com a garganta ardendo por causa do fogo líquido. — Como você chegou ao Tártaro?
— Eu pulei — disse ele como se fosse óbvio.
— Você pulou no Tártaro porque Percy disse seu nome?
— Ele precisava de mim. — Seus olhos prateados brilharam em meio à escuridão. — Não tem problema. Estava cansado de varrer o palácio. Venham, estamos quase chegando a um abrigo.
Abrigo.
Annabeth não conseguia imaginar o que aquela palavra significava no Tártaro. Lembrou-se de quando ela, Luke e Thalia eram semideuses sem-teto lutando pela sobrevivência e dependiam dos abrigos que encontravam em sua jornada.
Esperava que, aonde quer que Bob os estivesse levando, houvesse banheiros limpos e uma máquina que vendesse salgadinhos. Conteve o riso. É, estava mesmo ficando maluca.
Annabeth continuou a mancar, tentando ignorar o estômago, que roncava. Observou as costas de Bob enquanto ele os conduzia na direção da muralha de escuridão, agora a apenas algumas centenas de metros de distância. O uniforme azul de zelador tinha um grande rasgo entre as omoplatas, como se alguém houvesse tentado esfaqueá-lo. Havia panos de limpeza saindo de seu bolso. Trazia no cinto uma garrafa plástica, e o líquido azul em seu interior balançava de modo hipnótico.
Annabeth se lembrou da história de Percy sobre como conhecera o titã. Thalia Grace, Nico di Angelo e Percy tinham se unido para derrotar Bob às margens do Lete. Depois de apagar sua memória, não tiveram coragem de matá-lo. O titã se tornou tão gentil, simpático e prestativo que os semideuses o deixaram no palácio de Hades, onde Perséfone prometeu que cuidariam dele. Aparentemente, o rei e a rainha do Mundo Inferior entendiam que “cuidar” de alguém era dar à pessoa uma vassoura e mandá-la limpar sua sujeira. Annabeth achou muita insensibilidade, até mesmo para Hades. Jamais sentira pena de um titã antes, mas não parecia certo pegar um imortal que teve a memória apagada e transformá-lo em um zelador que não recebia salário.
Ele não é seu amigo, lembrou a si mesma.
Morria de medo de que, de repente, Bob se lembrasse de quem era. O Tártaro era o lugar para onde os monstros iam se regenerar. E se ele recuperasse a memória e voltasse a ser Jápeto?
Bem, ela o vira dar cabo daquelas empousai. Annabeth estava desarmada. Ela e Percy não estavam em condições de enfrentar um titã. Olhava nervosamente para o cabo da vassoura de Bob, perguntando-se em quanto tempo aquela lança oculta se projetaria para fora e apontaria para ela.
Seguir Bob pelo Tártaro era um risco absurdo. Infelizmente, não podia pensar em plano melhor.
Seguiam pelas terras desoladas e cinzentas quando um relâmpago vermelho reluziu nas nuvens tóxicas. Apenas mais um dia agradável nas masmorras da criação. Annabeth não podia ver muito longe no ar enevoado, entretanto, quanto mais caminhavam, mais certeza tinha de que estavam descendo.
Ela ouvira descrições conflitantes do Tártaro. Era um poço sem fundo. Uma fortaleza cercada por paredes de metal. Não era nada além de um vazio infinito.
Uma história o descrevia como o contrário do céu, o interior oco de um enorme domo de rocha invertido. Essa parecia a descrição mais precisa, porém, se o Tártaro fosse um domo, Annabeth achava que era como o do céu: sem um fundo de verdade, mas composto por várias camadas, cada uma mais escura e menos acolhedora que a anterior.
E nem isso contava toda a horrível verdade...
Passaram por uma bolha que brotava do chão. Era translúcida e do tamanho de uma minivan. Em seu interior estava o corpo semiformado de um drakon. Bob perfurou-a com a lança sem pensar duas vezes. Ela explodiu em um gêiser de gosma amarela e fumegante, e o drakon se desintegrou.
Bob continuou em frente.
Monstros são espinhas na pele do Tártaro, pensou Annabeth. E estremeceu. Às vezes desejava não ter uma imaginação tão fértil, porque agora estava certa de que caminhavam por algo vivo. Toda aquela paisagem bizarra, o domo, poço ou fosse qual fosse seu nome, era o corpo do deus Tártaro, a mais antiga encarnação do mal. Assim como Gaia habitava a superfície da Terra, Tártaro habitava as profundezas.
Se aquele deus os notasse caminhando por sua pele, como pulgas em um cachorro... Chega. Chega de pensar nisso.
— Aqui — disse Bob.
Pararam no topo de uma elevação. Abaixo deles, em uma depressão parecida com uma cratera lunar, havia um círculo de colunas de mármore em ruínas cercando um altar de rocha negra.
— Um santuário de Hermes — explicou Bob.
Percy franziu a testa.
— Um santuário de Hermes no Tártaro?
Bob riu com prazer.
— É. Caiu de algum lugar há muito tempo. Talvez do mundo mortal. Talvez do Olimpo. Enfim, os monstros não chegam perto dali. A maioria.
— Como sabia que isso estava aqui? — perguntou Annabeth.
O sorriso de Bob desapareceu. Seu rosto ficou sem expressão.
— Não lembro.
— Tudo bem — apressou-se em dizer Percy.
Annabeth ficou furiosa consigo mesma. Antes de Bob virar Bob, ele era Jápeto, o titã. Como todos os seus irmãos, tinha sido prisioneiro no Tártaro por eras. É claro que conhecia bem o lugar. Mas se ele se recordava desse santuário, podia começar a lembrar de outros detalhes de sua velha prisão e de sua velha vida. Isso não seria nada bom.
Penetraram na cratera e entraram o círculo de colunas. Annabeth desabou em uma placa rachada de mármore, exausta demais para dar um passo que fosse. Percy ficou de pé ao seu lado, em uma postura protetora, examinando os arredores. A enorme tempestade negra agora estava a menos de trinta metros, ocultando tudo o que havia adiante. A borda da cratera impedia a visão da terra estéril por onde tinham vindo. Ficariam bem escondidos ali, mas, caso algum monstro se deparasse com eles, seriam pegos de surpresa.
— Você disse que havia alguém atrás da gente — lembrou Annabeth. — Quem?
Bob limpava a base do altar com sua vassoura, agachando-se de vez em quando para examinar o chão, como se estivesse à procura de algo.
— É, vocês estão sendo seguidos. Eles sabem que vocês estão aqui. Gigantes e titãs. Os derrotados. Eles sabem.
Os derrotados...
Annabeth tentou controlar o medo. Quantos titãs e gigantes ela e Percy tinham enfrentado ao longo dos anos? Cada um dos inimigos parecera um desafio impossível. Se todos estivessem ali embaixo no Tártaro, caçando Percy e Annabeth...
— Então por que estamos parando? Devíamos seguir em frente.
— Daqui a pouco — disse Bob. — Mortais precisam de descanso. Aqui é um bom lugar. É o melhor lugar... por perto. Vou proteger vocês.
Annabeth olhou para Percy transmitindo silenciosamente a seguinte mensagem: Ah, não. Andar por aí com um titã já era ruim o bastante. Dormir sob a guarda do titã... não era preciso ser filha de Atena para saber que aquilo era maluquice.
— Por enquanto você dorme — disse Percy — eu e Bob ficamos de vigia.
Bob concordou.
— Isso, boa. Quando você acordar, a comida deve ter chegado!
O estômago de Annabeth roncou à menção de comida. Não imaginava como Bob faria surgir alimento no meio do Tártaro. Talvez também fosse cozinheiro além de zelador. Não queria dormir, mas foi traída por seu corpo. Suas pálpebras viraram chumbo.
— Percy, me acorde para o segundo turno. Não dê uma de herói.
Ele deu aquele sorriso sarcástico que ela aprendera a amar.
— Quem, eu?
Ele a beijou com lábios febris e ressecados.
— Durma.
Annabeth se sentiu como se estivesse de volta ao chalé de Hipnos, no Acampamento Meio-Sangue, caindo de sono. Encolheu-se no chão duro e fechou os olhos.

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