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A Casa de Hades - CAP. XVII

.. sábado, 8 de março de 2014
Capítulo XVII - Frank
FRANK ACORDOU COMO UMA PÍTON, o que o deixou confuso.
Não por estar em uma forma animal. Ele fazia isso o tempo todo. Mas nunca se transformara durante o sono. Tinha certeza de que não adormecera como cobra. Normalmente, dormia como cão.
Descobrira que dormia muito melhor na forma de um buldogue encolhido em seu beliche. Por algum motivo, tinha menos pesadelos. A constante gritaria em sua cabeça quase desaparecia.
Ele não fazia ideia de por que se transformara em uma píton reticulada, mas isso explicava o sonho no qual engolia lentamente uma vaca. Sua mandíbula ainda estava dolorida.
Preparou-se e voltou à forma humana. Imediatamente, a terrível dor de cabeça retornou, junto com as vozes.
Lute contra eles!, gritou Marte. Tome o navio! Defenda Roma!
A voz de Ares gritou em resposta: Mate os romanos! Sangue e morte! Armas gigantescas!
As personalidades romana e grega de seu pai gritavam em sua mente com a habitual trilha sonora de ruídos de batalha: explosões, rifles de assalto, turbinas rugindo – tudo pulsando como se houvesse um amplificador de som no cérebro de Frank.
Ele se sentou no beliche, zonzo de tanta dor. Como fazia todas as manhãs, inspirou profundamente e olhou para o lampião sobre a escrivaninha – uma pequena chama que queimava noite e dia, alimentada pelo azeite de oliva mágico da despensa.
Fogo... o maior medo de Frank. Manter uma chama acesa em seu quarto o aterrorizava, mas também o ajudava a se concentrar. O barulho em sua cabeça tornava-se apenas um ruído de fundo, e assim ele conseguia pensar.
Ele melhorara, mas durante dias fora quase um inútil. Assim que a luta irrompera no Acampamento Júpiter, as duas vozes do deus da guerra haviam começado a berrar sem parar. Desde então, Frank andava por aí confuso, quase incapaz de agir. Vinha se comportando como um idiota, e tinha certeza de que seus amigos achavam que ele tinha perdido o juízo.
Frank não podia lhes dizer o que havia de errado. Eles não podiam fazer nada, e, ouvindo as suas conversas, Frank confirmou que não estavam com o mesmo problema de ter seus divinos pais gritando em seus ouvidos.
Típico de Frank, mas ele tinha de se recompor. Seus amigos precisavam dele, especialmente agora, com a ausência de Annabeth.
Annabeth fora gentil com Frank. Mesmo quando ele estava perturbado e fazendo várias trapalhadas, ela fora paciente e prestativa. Enquanto Ares gritava que os filhos de Atena não eram confiáveis, e Marte ordenava aos berros que ele matasse todos os gregos, Frank passara a respeitar Annabeth.
Agora que estavam sem ela, Frank era a melhor opção do grupo em termos de estrategista militar. Precisariam dele na jornada que tinham pela frente.
Ele se levantou e se vestiu. Felizmente, conseguira comprar roupas novas em Siena dois dias antes, substituindo a roupa suja que Leo usara como isca na mesa Buford. (Longa história). Ele pegou um jeans, uma camiseta verde do exército e separou seu pulôver favorito, mas lembrou que não precisava daquilo. Fazia muito calor. Mais importante: não precisava mais de bolsos para proteger o pedaço de madeira mágica que controlava o seu tempo de vida. Hazel o mantinha em segurança para ele.
Talvez isso devesse deixá-lo nervoso. Se o graveto queimasse, Frank morreria: fim da história. Mas confiava em Hazel mais do que em si mesmo. Saber que ela protegia a sua maior fraqueza o fazia se sentir melhor, como se tivesse colocado o cinto de segurança antes de uma perseguição em alta velocidade.
Ele pendurou no ombro o arco e a aljava, que imediatamente se transformaram em uma mochila comum. Frank adorava aquilo. Jamais teria descoberto a camuflagem de sua aljava sem Leo.
Leo!, rugiu Marte. Ele deve morrer!
Estrangule-o!, gritou Ares. Estrangule todo mundo! Espere, de quem estamos falando mesmo?
Os dois começaram a gritar um com o outro de novo, por cima do som das bombas que explodiam dentro da cabeça de Frank.
Ele se apoiou na parede. Durante dias, Frank ouvira aquelas vozes exigirem a morte de Leo Valdez.
Afinal, fora Leo quem começara a guerra com o Acampamento Júpiter ao disparar uma balista contra o Fórum. Claro, ele estava possuído naquele momento, mas Marte exigia vingança mesmo assim. E Leo piorava as coisas ao debochar sempre de Frank, e Ares exigia que Frank retaliasse cada insulto.
Frank mantinha as vozes sob controle, mas não era fácil.
Em sua viagem pelo Atlântico, Leo dissera algo que não lhe saía da cabeça. Quando descobriram que Gaia, a malvada deusa da terra, pusera todos eles a prêmio, Leo desejou saber o valor.
Quer dizer, posso entender por que não sou tão caro quanto Percy ou Jason, talvez..., dissera, mas valho, tipo, dois ou três Franks.
Era apenas mais uma das piadas idiotas de Leo, mas ele havia colocado o dedo na ferida. No Argo II, Frank definitivamente se sentia como o JMV, ou Jogador Menos Valioso. Claro, ele podia se transformar em animais. Mas e daí? Sua maior utilidade até agora fora virar uma doninha para escapar de uma oficina subterrânea, e até mesmo isso fora ideia de Leo. Frank era mais conhecido pelo Fiasco do Peixe Dourado Gigante, em Atlanta, e também por ontem, após ter se transformado em um gorila de duzentos quilos apenas para ser derrubado por uma granada de som e luz.
Leo ainda não fizera nenhuma piada sobre gorilas às suas custas, mas era apenas uma questão de tempo.
Mate-o!
Torture-o! Depois mate!
Os dois lados do deus da guerra pareciam estar brigando dentro da cabeça de Frank, usando seu cérebro como ringue.
Sangue! Armas!
Roma! Guerra!
Fiquem quietos, ordenou Frank.
Surpreendentemente, as vozes obedeceram.
Muito bem, pensou Frank.
Talvez pudesse finalmente controlar aqueles irritantes minideuses. Talvez hoje fosse um bom dia.
Mas a esperança foi destruída assim que subiu ao convés superior.

* * *

— O que são esses bichos? — perguntou Hazel.
O Argo II estava atracado a um cais muito movimentado. De um lado estendia-se um canal  de navegação com cerca de meio quilômetro de largura. Do outro, a cidade de Veneza: telhados vermelhos, cúpulas metálicas nas igrejas, torres com campanários e edifícios banhados pelo sol, pintados em todas as cores daqueles doces em forma de coração típicos do Dia dos Namorados: vermelho, branco, ocre, rosa e laranja.
Por toda parte havia estátuas de leões: sobre pedestais, em cima das portas de entrada, nos pórticos dos edifícios maiores. Havia tantos que Frank concluiu que o leão devia ser o mascote da cidade.
Em lugar de ruas, canais verdes tomados por lanchas cortavam os bairros. Ao longo das docas, as calçadas estavam abarrotadas de turistas fazendo compras nos quiosques de camisetas, lotando as lojas e relaxando ao longo dos quilômetros de mesas de cafés ao ar livre, como um bando de leões-marinhos. E Frank tinha achado que Roma era cheia de turistas... Veneza era uma loucura.
Mas Hazel e o restante de seus amigos não estavam prestando atenção em nada disso. Reuniam-se à amurada a boreste olhando para dezenas de estranhos monstros peludos misturados à multidão.
Cada monstro era mais ou menos do tamanho de uma vaca, com as costas curvadas como as de um cavalo exaurido, pelo cinzento emaranhado, patas finas e cascos negros fendidos. A cabeça das criaturas parecia pesada demais para o pescoço. Os longos focinhos de tamanduá chegavam quase até o chão. As longas jubas acinzentadas cobriam completamente seus olhos.
Frank observou uma das criaturas vagar pesadamente pelo passeio, farejando e lambendo o chão com a língua comprida. Os turistas passavam ao seu lado sem esboçarem surpresa. Alguns chegavam até mesmo a acariciá-lo. Frank se perguntou como aqueles mortais podiam estar tão calmos. Então, a figura do monstro tremeluziu. Por um instante, sua aparência era a de um velho e gordo beagle.
— Os mortais pensam que são cães de rua — resmungou Jason.
— Ou animais de estimação perambulando por aí — disse Piper. — Meu pai fez um filme em Veneza certa vez. Eu me lembro de ele ter dito que havia cachorros em todo lugar. Os venezianos adoram cães.
Frank franziu a testa. Sempre se esquecia de que o pai de Piper era Tristan McLean, um grande astro do cinema. Ela não falava muito sobre ele. Piper era uma garota muito equilibrada para alguém que havia crescido em Hollywood. Frank achava isso ótimo. A última coisa de que precisavam naquela missão era de paparazzi tirando fotos de todos os seus fracassos épicos.
— Mas o que são esses bichos? — Ele repetiu a pergunta de Hazel. — Parecem... vacas desnutridas com pelo de pastor inglês.
Esperou que alguém lhe desse alguma explicação. Ninguém disse nada.
— Talvez sejam inofensivos — sugeriu Leo. — Estão ignorando os mortais.
— Inofensivos — debochou Gleeson Hedge.
O sátiro trajava seu short de ginástica de sempre, camiseta esporte e apito de treinador. Parecia mal-humorado, como de costume, mas ainda tinha um elástico cor-de-rosa no cabelo, preso pelos anões ardilosos em Bolonha. Frank estava com medo de avisá-lo.
— Valdez, quantos monstros inofensivos já encontramos? A gente devia apontar essas balistas e botar para quebrar!
— Hã, não — disse Leo.
Pela primeira vez, Frank concordou com Leo. Havia muitos monstros. Seria impossível atingir um sem acertar também a multidão de turistas. Além disso, se aquelas criaturas entrassem em pânico e desatassem a correr...
— Teremos de passar por eles e torcer para que sejam pacíficos — disse Frank, já odiando a ideia — é a única maneira de encontrarmos o dono do livro.
Leo tirou o manual encadernado em couro de debaixo do braço. Ele colara uma nota adesiva na capa com o endereço que os anões lhe deram em Bolonha.
— La Casa Nera — leu. — Calle Frezzeria.
— A Casa Negra — traduziu Nico di Angelo. — Calle Frezzeria é a rua.
Frank tentou não recuar ao perceber que Nico estava ao seu lado. O sujeito era tão quieto e sombrio que parecia desaparecer quando não estava falando. Hazel podia ter voltado dos mortos, mas Nico era muito mais fantasmagórico.
— Você fala italiano? — perguntou Frank.
Nico lançou-lhe um olhar de advertência, tipo: Cuidado com o que pergunta. Mas respondeu calmamente:
— Frank está certo. Precisamos encontrar esse endereço. E a única maneira de fazer isso é andando pela cidade. Veneza é um labirinto. Teremos que enfrentar as multidões e esses... seja lá o que forem.
Um trovão retumbou no céu claro de verão. Eles tinham enfrentado tempestades na noite anterior. Frank achara que haviam terminado, mas agora não tinha certeza. O ar estava tão quente e abafado quanto o de uma sauna a vapor.
Jason franziu a testa ao fitar o horizonte.
— Talvez eu devesse ficar a bordo. Tinha muitos venti na tempestade de ontem à noite. Se decidirem atacar o navio outra vez...
Não precisou terminar. Todos haviam sentido a fúria dos espíritos do vento. Jason fora o único que tivera alguma chance de combatê-los.
O treinador Hedge resmungou:
— Bem, estou fora também. Se vocês, bebezinhos de coração mole, vão passear por Veneza sem nem mesmo dar uns tabefes na cabeça desses animais peludos, não quero nem saber. Não gosto de expedições tediosas.
— Tudo bem, treinador — disse Leo, sorrindo. — Ainda temos que consertar o mastro de proa. Então, precisarei de sua ajuda na sala de máquinas. Tenho uma ideia para uma nova instalação.
Frank não gostou do brilho nos olhos de Leo. Desde que o filho de Hefesto encontrara a esfera de Arquimedes, vinha planejando um monte de “novas instalações”. Normalmente elas explodiam ou produziam fumaça, que subia até a cabine de Frank.
— Bem — Piper mudou o peso do corpo de um pé para o outro. — Quem quer que vá deve saber lidar com animais. Eu, bem... admito não ser muito boa com vacas.
Frank percebeu que havia uma história por trás daquele comentário, mas resolveu não perguntar.
— Eu vou — disse ele.
Não sabia dizer por que se oferecera, talvez por estar ansioso para ser útil para variar. Ou talvez por não querer que se adiantassem dizendo: Animais? Frank pode se transformar em animais! Ele é que deve ir!
Leo deu um tapinha no ombro dele e entregou-lhe o livro com capa de couro.
— Ótimo. Se você passar por alguma loja de ferragens, pode me trazer algumas tábuas 2x4 e um galão de alcatrão?
— Leo — censurou Hazel. — Ele não está indo fazer compras.
— Eu vou com Frank — ofereceu-se Nico.
Os olhos de Frank começaram a tremer. As vozes dos deuses da guerra ficaram mais altas dentro de sua cabeça: Mate-o! Escória grega!
Não! Eu amo a escória grega!
— Hã... você é bom com animais? — perguntou.
Nico forçou um sorriso.
— Na verdade, a maioria dos animais me odeia. Eles podem sentir a morte. Mas há algo nesta cidade... — Sua expressão se tornou sombria. — Muitas mortes. Espíritos inquietos. Se eu for, talvez consiga mantê-los afastados. Além disso, como você notou, eu falo italiano.
Leo coçou a cabeça.
— Muitas mortes, hein? Pessoalmente, estou tentando evitar muitas mortes. Mas divirtam-se!
Frank não sabia o que o assustava mais: as monstruosas vacas peludas, as hordas de fantasmas inquietos ou ir a algum lugar sozinho com Nico di Angelo.
— Também vou — Hazel tomou o braço de Frank — três é o melhor número para uma missão de semideuses, certo?
Frank tentou não parecer muito aliviado. Ele não queria ofender Nico. Mas se voltou para Hazel e agradeceu com os olhos: Obrigado, obrigado, obrigado.
Nico fitou os canais, como se estivesse se perguntando quais novos e interessantes tipos de maus espíritos poderiam estar espreitando por lá.
— Tudo bem, então. Vamos encontrar o dono deste livro.

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