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A Casa de Hades - CAP. XLVIII

.. sábado, 15 de março de 2014
Capítulo XLVIII - Percy

AKHLYS SE LANÇOU SOBRE PERCY, e por uma fração de segundo o semideus pensou: Ora, eu sou apenas fumaça. Ela não pode me atingir, certo?
Ele imaginou as Parcas no Olimpo rindo de sua ingenuidade: LOL, seu noob!
As garras da deusa arranharam seu peito e queimaram como água fervente. Percy cambaleou para trás, mas não estava acostumado ao corpo de fumaça. As pernas se moviam muito devagar. Os braços pareciam lenços de papel. Desesperado, arremessou a mochila nela, pensando que talvez ficasse sólida quando saísse de suas mãos, mas não teve essa sorte. Ela fez um ruído baixo e abafado ao cair.
Akhlys rosnou e se agachou, preparando-se para saltar. Teria arrancado o rosto de Percy com uma mordida se Annabeth não tivesse avançado e gritado bem no ouvido da deusa:
— Ei!
Akhlys levou um susto e se virou na direção do som.
Ela atacou, mas Annabeth era mais ágil que Percy. Talvez não estivesse se sentindo tão feita de fumaça, ou talvez simplesmente tivesse mais treinamento de combate. Vivia no Acampamento Meio-Sangue desde os sete anos. Provavelmente tivera aulas que Percy nunca frequentara, como Técnicas de Luta para Quando se Estiver em Forma de Fumaça.
Annabeth deu uma cambalhota, passando por baixo das pernas da deusa, e voltou a ficar de pé. Akhlys se virou e atacou, mas Annabeth estava preparada e se esquivou, como uma toureira.
Percy estava tão atônito que desperdiçou alguns segundos preciosos. Ficou olhando para o cadáver de Annabeth, envolto em névoa, mas se movendo com a rapidez e a confiança de sempre. Então, entendeu por que ela estava fazendo aquilo: para ganhar tempo. O que significava que ele precisava ajudar.
Tentou raciocinar, desesperado, querendo bolar um plano para derrotar a miséria. Como ele poderia lutar se não conseguia tocar em nada?
No terceiro ataque de Akhlys, Annabeth não teve a mesma sorte. Tentou se virar de lado, mas a deusa agarrou seu pulso, puxou-a com força e jogando-a longe. Antes que a deusa pudesse dar o bote, Percy avançou, gritando e brandindo a espada. Ainda se sentia tão sólido quanto um lenço de papel, mas a raiva pareceu deixá-lo mais ágil.
— E aí, feliz? — gritou ele.
Akhlys se voltou para ele, largando o braço de Annabeth.
— Feliz?
— É! — Ele se agachou quando a deusa tentou golpear sua cabeça. — Você está que é pura alegria!
— Argh! — Ela atacou de novo, mas estava sem equilíbrio.
Percy deu um passo para o lado e recuou, atraindo a deusa para mais longe de Annabeth.
— Simpática! — chamou ele. — Agradável!
A deusa rosnou, estremeceu e partiu na direção de Percy. Cada elogio parecia atingi-la como uma bofetada.
— Vou matá-lo bem devagar! — grunhiu ela com os olhos e o nariz escorrendo, e sangue pingando das bochechas. — Vou cortá-lo em pedaços em um sacrifício para a Noite!
Annabeth conseguiu ficar de pé. Começou a remexer em sua sacola, com certeza à procura de algo que pudesse ser útil.
Percy queria lhe dar mais tempo. Ela era o cérebro. Era melhor que ele fosse atacado enquanto a filha de Atena bolava um plano brilhante.
— Fofa! — berrou Percy. — Tão macia e quentinha que dá vontade de abraçar!
Akhlys emitiu um grunhido engasgado, como um gato tendo uma convulsão.
— Uma morte lenta! — gritou ela. — Uma morte por mil venenos!
Ao redor dela cresciam plantas venenosas que se avolumavam e explodiam como balões de gás. Uma seiva verde e branca se acumulava em poças e começava a se espalhar pelo chão na direção de Percy. Os vapores de aroma adocicado o deixavam tonto.
— Percy! — A voz de Annabeth pareceu distante. — Hã, ei, Miss Simpatia! Felicíssima! Sorriso encantador! Aqui!
Mas a deusa da miséria estava concentrada em Percy. O garoto tentou recuar outra vez. Infelizmente, estava cercado pelo icor venenoso, que corroía o chão e fazia o ar arder. Percy se viu preso em uma ilha de poeira não muito maior que um escudo. A alguns metros de distância, sua mochila virou fumaça e desapareceu em uma poça repugnante. Percy não tinha para onde ir.
Ele se agachou, apoiando-se em um joelho. Queria mandar Annabeth correr, mas não conseguia falar. Sua garganta estava seca como folhas mortas.
Desejou que houvesse água no Tártaro, um belo lago em que pudesse mergulhar para se curar, ou talvez um rio que conseguisse controlar. Já ficaria satisfeito só com uma garrafa de água mineral.
— Você vai alimentar a escuridão eterna — prometeu Akhlys — vai morrer nos braços da Noite!
Percy ouvia Annabeth ao longe, gritando e arremessando pedaços de carne-seca de drakon na deusa. O veneno verde e branco continuava a se acumular. Pequenos filetes escorriam das plantas, aumentando o lago venenoso ao seu redor.
Lago, pensou. Rio. Água.
Provavelmente era só o seu cérebro fritando com os vapores venenosos, mas Percy riu. O veneno era líquido. Se aquilo escorria como água, devia ser parcialmente feito de água.
Ele se lembrou de uma aula de ciências em que aprendeu que a maior parte do corpo humano era composta de água. Se lembrou de quando fez sair a água dos pulmões de Jason, em Roma... Se tinha conseguido controlar aquilo, então por que não outros líquidos?
Era uma ideia maluca. Poseidon era o deus do mar, não de todos os líquidos. Entretanto, o Tártaro tinha suas próprias regras. O fogo era bebível. O chão era o corpo de um deus sombrio. O ar era ácido, e semideuses podiam ser transformados em cadáveres de fumaça.
Então por que não tentar? Não tinha mais nada a perder.
Encarou fixamente a grande poça de veneno que o cercava. Concentrou-se tanto que algo em seu interior estalou, como se uma bola de cristal tivesse se espatifado em seu estômago. Sentiu o calor fluir por seu corpo. A poça de veneno parou de se aproximar.
Os vapores foram soprados para longe dele, na direção da deusa. O lago de veneno fluiu na direção dela com pequenas ondas e marolas.
Akhlys gritou.
— O que é isso?
— Veneno. É sua especialidade, não?
Ele levantou. Ficou cada vez mais furioso, sentindo a raiva fervendo dentro de si. O veneno continuou a correr na direção da deusa, e os vapores começaram a fazê-la tossir. Os olhos dela lacrimejaram ainda mais.
Ah, ótimo, pensou Percy. Mais água.
Percy imaginou o nariz e a garganta dela se enchendo com as próprias lágrimas.
Akhlys não conseguia falar.
— Eu...
A onda de veneno alcançou seus pés e começou a borbulhar como gotas de água em uma superfície quente de metal. Ela gemeu e recuou, trôpega.
— Percy! — chamou Annabeth.
Ela havia se aproximado da beira do precipício, apesar de o veneno não estar indo em sua direção. Parecia estar morrendo de medo. Demorou para Percy se dar conta de que ela estava com medo dele.
— Pare... — suplicou ela com voz rouca.
Ele não queria parar. Queria sufocar aquela deusa. Queria vê-la se afogar no próprio veneno. Queria ver quanta miséria a deusa Miséria poderia aguentar.
— Percy, por favor...
O rosto de Annabeth ainda estava pálido e cadavérico, mas seus olhos eram os mesmos de sempre. A angústia neles fez a raiva de Percy desaparecer.
Ele se virou para a deusa. Fez a poça retroceder e escorrer pela beira do penhasco.
— Vá embora! — gritou ele.
Para um quase esqueleto ambulante, Akhlys podia correr bem rápido quando queria. A deusa se afastou aos tropeços, caiu de cara e se levantou de novo, uivando enquanto corria escuridão adentro.
Assim que foi embora, as poças de veneno evaporaram. As plantas venenosas viraram pó e foram levadas pelo vento.
Annabeth cambaleou na direção dele. Parecia um cadáver envolto em névoa, mas Percy sentiu seu toque quando ela agarrou os braços dele.
— Percy, por favor, não, nunca mais... — a voz dela falhou. — Algumas coisas não são feitas para serem controladas. Por favor.
Ele ainda se sentia poderoso, mas a raiva estava desaparecendo. O vidro estilhaçado dentro dele estava começando a perder o corte.
— É — concordou — é, tudo bem.
— Temos que sair de perto deste precipício — disse Annabeth — se Akhlys nos trouxe aqui como algum tipo de sacrifício...
Percy tentou raciocinar. Estava ficando acostumado a se mexer com a Névoa da Morte ao seu redor. Sentia-se mais sólido, mais parecido com seu antigo eu. Mas seu cérebro ainda parecia feito de algodão-doce.
— Ela falou algo sobre nos dar à noite como alimento — lembrou — o que queria dizer com isso?
A temperatura caiu. O abismo diante deles parecia respirar.
Percy agarrou Annabeth e juntos se afastaram da beirada quando uma presença emergiu do vazio, uma forma tão vasta e sombria que ele teve a impressão de só então compreender o significado de escuro.
— Imagino — disse a escuridão, em uma voz feminina tão suave quanto um forro de caixão — que ela se referia à Noite com N maiúsculo. Afinal de contas, eu sou a única.

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