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A Casa de Hades - CAP. XLVII

.. sábado, 15 de março de 2014
Capítulo XLVII - Percy

PERCY SENTIA FALTA DE BOB.
Tinha se acostumado a ter o titã ao seu lado, iluminando o caminho com seus cabelos prateados e a temível vassoura de guerra. Agora, seu único guia era uma senhora cadavérica com sérios problemas de autoestima.
À medida que avançavam devagar pela planície poeirenta, a névoa foi ficando tão densa que Percy teve que resistir ao impulso de afastá-la com as mãos. Só conseguia seguir a trilha de Akhlys porque por onde a deusa passava brotavam plantas venenosas.
Se aquele ainda era o corpo de Tártaro, Percy achava que deviam estar na sola do pé, uma área áspera e calosa onde cresciam apenas as plantas mais nojentas.
Finalmente chegaram ao fim do dedão. Pelo menos era o que parecia ser. A névoa, então, se dissipou, e eles se viram em uma península em meio a um vazio negro como breu.
— Chegamos — Akhlys se virou e lançou um olhar maligno para eles.
O sangue de suas bochechas escorria e pingava na veste. Os olhos doentios da deusa pareciam úmidos e inchados, mas de algum modo entusiasmados. Será que a miséria consegue parecer entusiasmada?
— Hã... ótimo. Mas chegamos onde? — perguntou Percy.
— À beira da morte final — disse Akhlys — onde a Noite encontra o vazio abaixo do Tártaro.
Annabeth avançou alguns centímetros e espiou o precipício.
— Pensei que não existisse nada abaixo do Tártaro.
— Mas há, com certeza há... — Akhlys tossiu — até o Tártaro teve que surgir de algum lugar. Este é o limite da escuridão mais antiga, que era minha mãe. Abaixo ficam os domínios de Caos, meu pai. Aqui vocês estão mais perto do nada do que qualquer mortal jamais esteve. Não conseguem sentir?
Percy percebia o que a deusa queria dizer. O vazio parecia atraí-lo, roubando o ar de seus pulmões e o oxigênio de seu sangue. Ele olhou para Annabeth e viu que os lábios dela estavam ficando azuis.
— Não podemos ficar parados aqui — disse o semideus.
— Não mesmo! — disse Akhlys. — Vocês não sentem a Névoa da Morte? Estão passando por ela agora mesmo. Vejam!
Havia uma fumaça branca se acumulando aos pés de Percy. Conforme aquilo o envolvia e subia por seu corpo, ele se deu conta de que a fumaça não o estava cercando, mas emanava dele. Todo seu corpo estava se dissolvendo. Examinou as mãos e viu que estavam turvas e indistintas. Nem conseguia dizer quantos dedos tinha. Esperava que ainda fossem dez.
Ele se virou para Annabeth e sufocou um gemido.
— Você... hã...
Não conseguiu falar. Ela parecia morta.
Estava pálida, com os olhos escuros e fundos. Seus lindos cabelos tinham secado e se transformado em um emaranhado feito teias de aranha. Parecia ter ficado presa em um mausoléu frio e escuro por décadas, secando e murchando devagar até virar uma casca ressecada. Quando se virou para olhar para ele, seus traços momentaneamente se turvaram em uma névoa.
O sangue de Percy circulava como seiva em suas veias.
Por anos ele se preocupara com a morte de Annabeth. Quando você é um semideus, isso vem no pacote. A maioria dos meios-sangues não vivia muito. Você já sabia que o próximo monstro que enfrentasse poderia ser o último. Mas ver Annabeth daquele jeito era doloroso demais. Percy preferiria pular no Rio Flegetonte, ou ser atacado por arai, ou pisoteado por gigantes.
— Ah, deuses — soluçou Annabeth. — Percy, você...
Percy olhou para os próprios braços. Viu apenas bolhas de névoa branca, mas para Annabeth ele devia estar parecendo um cadáver. Deu alguns passos, apesar de não ser fácil. Seu corpo parecia não ter substância, como se fosse feito de gás hélio e algodão-doce.
— Já estive melhor — reconheceu — não consigo me mexer direito. Mas estou bem.
Akhlys riu.
— Ah, com certeza você não está bem.
Percy franziu a testa.
— Mas agora vamos passar sem ser vistos? Podemos chegar às Portas da Morte?
— Bem, talvez vocês conseguissem — respondeu a deusa. — Se sobrevivessem. O que não vai acontecer.
Akhlys abriu os dedos retorcidos. Mais plantas brotaram na beira do precipício: cicutas, ervas-mouras e oleandros avançaram na direção dos pés de Percy como um tapete letal.
— A Névoa da Morte não é simplesmente um disfarce, sabiam? É um estado. Eu não poderia lhes dar esse presente a menos que ele fosse seguido pela morte, morte de verdade.
— É uma armadilha — disse Annabeth.
A deusa deu uma gargalhada.
— Vocês não esperavam que eu os traísse?
— Esperávamos — responderam Percy e Annabeth ao mesmo tempo.
— Ora, então nem foi realmente uma armadilha, não é? Foi mais um acontecimento inevitável. A miséria é inevitável. A dor...
— É, é — rosnou Percy — vamos logo à luta.
Ele sacou a Contracorrente, mas a lâmina tinha virado fumaça. Quando golpeou Akhlys, a espada apenas esvoaçou ao redor dela como uma brisa suave.
A boca arruinada da deusa se abriu em um sorriso.
— Ah, será que me esqueci de dizer? Vocês agora são apenas névoa, uma sombra anterior à morte. Talvez, se tivessem tempo, pudessem aprender a controlar sua nova forma. Mas não têm. E como não podem me tocar, temo que qualquer luta contra a miséria seja causa perdida.
Suas unhas cresceram e viraram garras. Sua mandíbula se deslocou, e os dentes amarelados se alongaram em presas.

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