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A Casa de Hades - CAP. XLVI

.. sábado, 15 de março de 2014
Capítulo XLVI - Percy

SE AQUELA CRIATURA CHOROSA ERA a ideia que Bob tinha de ajuda, Percy com certeza não queria ser ajudado.
Mesmo assim, o titã avançou a passos largos. Percy se sentiu obrigado a segui-lo. Pelo menos aquela área era menos escura. Não exatamente clara, mas havia ali um tipo de neblina branca e espessa.
— Akhlys! — chamou Bob.
A criatura levantou a cabeça, e o estômago de Percy gritou: Socorro!
O corpo dela já era horrível. Parecia extremamente desnutrida. Os braços e as pernas eram finos como varetas, com joelhos e cotovelos ossudos. Estava vestida com farrapos e tinha as unhas das mãos e dos pés quebradas. Havia terra incrustada em sua pele e amontoada em seus ombros, como se tivesse ficado parada na parte de baixo de uma ampulheta.
O rosto era a imagem da miséria. Os olhos fundos e congestionados vertiam lágrimas. O nariz escorria como um chafariz. Os cabelos prateados, ralos e desgrenhados, estavam grudados à cabeça em mechas sebosas, e suas bochechas tinham cortes e sangravam como se ela tivesse arranhado o próprio rosto.
Percy não conseguia encará-la, por isso desviou o olhar. A mulher tinha no colo um escudo antigo de madeira e bronze, amassado e desgastado, pintado com a imagem dela mesma segurando um escudo. Havia uma imagem dentro da outra, infinitamente.
— O escudo — murmurou Annabeth — é dele. Achei que fosse apenas uma lenda.
— Ah, não — disse a velha repulsiva — o escudo de Hércules. Ele pintou minha imagem em seu escudo para que a última visão de seus inimigos fosse eu, a deusa da miséria — ela tossiu com tanta força que até o peito de Percy doeu — como se Hércules soubesse o que é miséria de verdade. A pintura não ficou nem parecida comigo!
Percy engoliu em seco. Quando ele e os amigos encontraram Hércules no Estreito de Gibraltar o resultado não fora nada bom. Terminara em muitos gritos, ameaças de morte e torrentes de abacaxis.
— O que o escudo dele está fazendo aqui? — perguntou Percy.
A deusa o encarou com seus olhos úmidos e leitosos. O sangue que escorria de suas bochechas pingava e manchava o vestido esfarrapado de pontinhos vermelhos.
— Ele não precisa mais dele, precisa? Veio parar aqui quando seu corpo mortal foi queimado. Um lembrete, imagino, de que nenhum escudo é suficiente. No fim, a miséria vence todos vocês. Até Hércules.
Percy chegou mais para perto de Annabeth. Tentou se lembrar do porquê de terem ido até ali, mas o desespero que sentia prejudicava seu raciocínio. Depois de ouvir Akhlys falar, não achou mais estranho que ela tivesse arranhado o próprio rosto. A deusa irradiava sofrimento.
— Bob — disse Percy — não devíamos ter vindo aqui.
De algum lugar dentro do uniforme de Bob, o gatinho esqueleto concordou com um miado. O titã parecia desconfortável e fez uma careta de dor, como se Bob Pequeno estivesse afiando as garras em suas axilas.
— Akhlys controla a Névoa da Morte — insistiu ele — ela pode esconder vocês.
— Escondê-los? — Akhlys emitiu um som gorgolejante. Ou ela estava rindo, ou estava morrendo sufocada. — Por que eu faria isso?
— Eles precisam chegar às Portas da Morte — Bob respondeu — para retornar ao mundo mortal.
— Impossível! — disse Akhlys. — As forças do Tártaro vão encontrá-los. E matá-los.
Annabeth girou a lâmina de sua espada de osso de drakon, o que, Percy teve que admitir, a deixou intimidante e sensual, como uma princesa bárbara.
— Então acho que essa sua Névoa da Morte não serve para nada — disse a garota.
A deusa mostrou os dentes amarelos e deteriorados.
— Para nada? Quem é você?
— Uma filha de Atena — Annabeth soava corajosa. Percy não entendia como ela conseguia fazer isso — não caminhei por meio Tártaro para uma deusa menor qualquer vir me dizer o que é ou não impossível.
O chão estremeceu. Uma névoa começou a subir, e eles ouviram um pranto agonizante.
— Deusa menor? — As unhas retorcidas de Akhlys se cravaram no escudo de Hércules, perfurando o metal. — Eu era velha antes do nascimento dos titãs, sua ignorante. Era velha antes de Gaia despertar. A miséria é eterna. A existência é uma miséria. Sou filha dos mais antigos, o Caos e a Noite. Eu era...
— Sim, sim — disse Annabeth — tristeza e miséria, blá-blá-blá. O que importa é que você não tem poder suficiente para esconder dois semideuses com sua Névoa da Morte. Como eu falei: não serve para nada.
Percy pigarreou.
— Hã, Annabeth...
A filha de Atena lhe lançou um olhar de advertência que dizia: colabore. Percy percebeu que Annabeth estava apavorada, mas não havia alternativa. Aquela era a melhor chance que tinham de convencer a deusa a fazer alguma coisa.
— Quer dizer... Annabeth tem razão! — arriscou Percy. — Bob nos fez vir até tão longe porque achava que você podia ajudar. Mas parece que está ocupada demais olhando para esse escudo e chorando. Não posso culpá-la. É a sua cara.
Akhlys deu um gemido de sofrimento e olhou para o titã.
— Por que trouxe essas crianças irritantes até aqui?
Bob emitiu um ruído que era uma mistura de rugido com choramingo.
— Eu achei... achei...
— A Névoa da Morte não existe para ajudar! — gritou Akhlys. — Ela envolve mortais em miséria enquanto suas almas penetram no Mundo Inferior. É a própria respiração do Tártaro, da morte, do desespero!
— Maravilha — disse Percy — será que podemos levar duas porções para viagem?
Akhlys sibilou:
— Peçam algo mais razoável. Também sou a deusa dos venenos. Posso lhes oferecer a morte... Milhares de maneiras de morrer menos dolorosas do que a que escolheram ao decidir seguir para o coração do Tártaro.
Flores brotaram na poeira em torno da deusa... botões roxo-escuro, laranja e vermelhos que tinham um aroma doce e enjoativo. Percy ficou tonto.
— Erva-moura — ofereceu Akhlys — cicuta. Beladona, meimendro ou estricnina. Posso dissolver suas entranhas, fazer seu sangue ferver.
— É muita gentileza sua — Percy respondeu — mas já tomei bastante veneno para uma viagem só. Agora, você pode nos esconder em sua Névoa da Morte ou não?
— É, vai ser divertido — incentivou Annabeth.
A deusa os observou com desconfiança.
— Divertido?
— Claro — assegurou Annabeth — se falharmos, pense como vai ser ótimo para você poder se vangloriar quando morrermos em agonia. Vai poder dizer “Eu avisei! Eu avisei!” por toda a eternidade.
— Ou, se tivermos sucesso... — completou Percy — pense em como os monstros aqui embaixo vão sofrer. Nosso objetivo é fechar as Portas da Morte. Isso vai provocar muitos gemidos e lamentos.
Akhlys pareceu considerar a ideia.
— Gosto de sofrimento. E também de lamentos.
— Então está combinado — disse Percy — faça a gente ficar invisível.
Akhlys levantou com dificuldade. O escudo de Hércules caiu para o lado e rolou até um arbusto de plantas venenosas.
— Não é tão simples assim — explicou a deusa — a Névoa da Morte chega no momento em que se está perto do fim. Só então seus olhos ficam nublados. E o mundo desaparece.
Percy sentiu a boca seca.
— Tudo bem. Mas... isso vai nos esconder dos monstros?
— Ah, vai — disse Akhlys — se sobreviverem ao processo, vão passar despercebidos pelas forças do Tártaro. Não há a menor esperança de sobreviverem, claro, mas, se estão mesmo decididos, podem vir. Vou mostrar o caminho.
— O caminho para onde, exatamente? — perguntou Annabeth.
A deusa já estava se arrastando para a escuridão.
Percy virou-se, à procura de Bob, mas o titã havia desaparecido. Como é que um cara prateado de três metros de altura com um gatinho muito barulhento desaparece do nada?
— Ei! — gritou Percy para Akhlys. — Onde está nosso amigo?
— Ele não pode seguir este caminho — retrucou a deusa — ele não é mortal. Venham, tolinhos. Venham experimentar a Névoa da Morte.
Annabeth suspirou e segurou a mão de Percy.
— Bem... Não pode ser tão ruim assim, não é?
O comentário era tão ridículo que Percy riu, apesar de isso fazer seus pulmões doerem.
— Verdade. Mas no próximo encontro, vamos jantar em Nova Roma.
Juntos, seguiram as pegadas da deusa entre as plantas venenosas, rumo às profundezas da névoa.

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