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A Casa de Hades - CAP. XLIII

.. sábado, 15 de março de 2014
Capítulo XLIII - Piper

PIPER NÃO TINHA PLANEJADO ATIRAR muffins de mirtilo. A cornucópia deve ter sentido seu desconforto e achou que ela e os visitantes gostariam de coisas assadas e quentinhas.
Meia dúzia de muffins suculentos voou do chifre da fartura como tiros de espingarda. Não era um ataque inicial dos mais eficazes.
Quione simplesmente deu um passo para o lado. A maioria dos muffins passou por ela e caiu amurada abaixo. Cada um de seus irmãos, os boreadas, pegou um bolinho e começou a comer.
— Muffins — disse o maior deles.
Cal, Piper lembrou-se, apelido de Calais. Estava vestido exatamente como em Quebec, com chuteiras de couro, calças largas e uma jaqueta vermelha de hóquei, e tinha olhos pretos e vários dentes quebrados.
— Muffins são bons.
— Ah, merci — disse o irmão magrelo, que estava parado na plataforma da catapulta com as asas abertas.
Ela lembrou de seu nome, Zetes. Os cabelos brancos ainda eram daquele estilo mullet horroroso dos tempos da discoteca. O colarinho de sua camisa de seda aparecia acima do peitoral da armadura. Suas calças de poliéster verde-limão eram grotescamente justas, e sua acne só tinha piorado. Apesar disso, ele ergueu as sobrancelhas sugestivamente e sorriu como se fosse um guru da pegação.
— Eu sabia que a garota bonita ia sentir minha falta.
Falava o francês do Quebec, que Piper entendia sem esforço. Graças a sua mãe, Afrodite, ela tinha a mente programada para a língua do amor, apesar de não querer usá-la com Zetes.
— O que está fazendo? — questionou Piper. E depois disse usando o charme: — Solte meus amigos.
Zetes piscou.
— Devíamos soltar os amigos dela.
— É — concordou Cal.
— Não, seus idiotas! — disse Quione bruscamente. — Ela está utilizando o charme. Usem o cérebro!
— Cérebro... — Cal franziu o cenho como se não tivesse certeza do que ela estava falando. — Muffins são bons.
Ele botou o bolinho inteiro na boca e começou a mastigar.
Zetes pegou um mirtilo da cobertura de seu muffin e o mordeu com delicadeza.
— Ah, minha bela Piper... esperei tanto tempo para revê-la. Infelizmente, minha irmã tem razão. Não podemos soltar seus amigos. Na verdade, devemos levá-los para o Quebec, onde vão ser motivo eterno de chacota. Sinto muito, mas são nossas ordens.
— Ordens?
Desde o inverno anterior, Piper esperava que cedo ou tarde Quione mostrasse sua cara congelada. Quando a derrotaram na Casa dos Lobos em Sonoma, a deusa da neve jurara vingança. Mas por que Zetes e Cal estavam ali? No Quebec, os boreadas pareceram quase amistosos – pelo menos comparados a sua irmã glacial.
— Meninos, escutem — disse Piper — sua irmã desobedeceu Bóreas. Ela está trabalhando com os gigantes, tentando despertar Gaia. Planeja tomar o trono do pai de vocês.
Quione riu, um riso suave e frio.
— Querida Piper McLean. Você tenta manipular meus irmãos de mente fraca com seus encantamentos, como uma verdadeira filha da deusa do amor. Que boa mentirosa você é.
— Mentirosa? — gritou Piper. — Você tentou nos matar! Zetes, ela está trabalhando para Gaia!
Zetes se encolheu.
— Ah, bela garota. Estamos todos trabalhando para Gaia agora. Infelizmente, essas ordens foram de nosso pai, o próprio Bóreas.
— O quê? — Piper não queria acreditar naquilo, mas o sorriso convencido de Quione mostrou a ela que era verdade.
— Finalmente meu pai aceitou meu sábio conselho — disse Quione, satisfeita — ou pelo menos ele fez isso antes que sua personalidade romana entrasse em conflito com a grega. Uma pena, pois agora está um tanto incapacitado, mas me deixou no comando. Ordenou que as forças do Vento Norte fossem usadas a serviço do rei Porfírio. E, é claro... da Mãe Terra.
Piper engoliu em seco.
— Mas como vocês conseguiram chegar até aqui? — Com um gesto, mostrou o gelo que cobria todo o navio. — Estamos no verão!
Quione deu de ombros.
— Nossos poderes aumentaram. As leis da natureza estão de cabeça para baixo. Quando a Mãe Terra despertar, vamos refazer o mundo como desejarmos!
— Com hóquei — disse Cal, ainda de boca cheia — e pizza. E muffins.
— Tá, tá — desdenhou Quione — tive que prometer algumas coisas a este grandalhão simplório. E para Zetes...
— Ah, minhas vontades são simples — Zetes passou a mão no cabelo e piscou para Piper — eu devia tê-la mantido em nosso palácio quando nos conhecemos, querida Piper. Mas logo voltaremos para lá, juntos, e vamos viver um romance incrível.
— Obrigada, mas não, obrigada — disse Piper — agora solte Jason.
Ela concentrou todo seu poder nas palavras, e Zetes obedeceu. Estalou os dedos, e Jason descongelou imediatamente. Ele desabou no chão, sem fôlego e exalando vapor. Mas pelo menos estava vivo.
— Seu imbecil! — Quione estendeu a mão, e Jason recongelou, agora deitado no convés como um tapete de pele de urso. Ela repreendeu Zetes. — Se quer a garota como recompensa, deve provar que pode controlá-la. Não o contrário!
— Sim, é claro — Zetes parecia envergonhado.
— E em relação a Jason... — Os olhos castanhos de Quione brilharam. — Ele e o resto de seus amigos vão se unir a nossa corte de estátuas de gelo no Quebec. Jason Grace vai ficar uma graça no salão do trono.
— Que inteligente — murmurou Piper — você levou o dia inteiro para pensar nessa piada?
Pelo menos Piper sabia que Jason ainda estava vivo, o que diminuiu um pouco seu pânico. O congelamento podia ser revertido. Isso significava que seus outros amigos provavelmente ainda estavam vivos sob o convés. Ela só precisava de um plano para libertá-los.
Infelizmente, não era Annabeth. Não era tão boa em elaborar planos do nada. Precisava de tempo para pensar.
— E Leo? — disse abruptamente. — Para onde você o mandou?
A deusa da neve caminhou com passos leves em torno de Jason, observando-o como se ele fosse uma escultura.
— Leo Valdez merecia um castigo especial.  Eu o mandei para um lugar do qual nunca poderá voltar.
Piper mal conseguia respirar. Pobre Leo. A ideia de nunca mais voltar a vê-lo quase acabou com ela. Quione deve ter visto isso em seu rosto.
— Ah, minha querida Piper! — Ela deu um sorriso triunfante. — Mas isso é por um bem maior. Não podia tolerar Leo nem mesmo como uma estátua de gelo... não depois que me insultou. O tolo se recusou a reinar ao meu lado! E seu poder sobre o fogo... — Ela sacudiu a cabeça. — Não podemos deixá-lo se aproximar da Casa de Hades. Lorde Clítio gosta ainda menos de fogo do que eu.
Piper agarrou sua adaga.
Fogo, pensou. Obrigada por me lembrar, sua bruxa.
Ela examinou o convés. Como fazer fogo? Havia uma caixa cheia de frascos de fogo grego perto de uma das balistas, mas estava longe demais. Mesmo que conseguisse chegar lá sem ser transformada em uma estátua de gelo, o fogo grego queimaria tudo, incluindo o navio e todos os seus amigos. Tinha que haver outra maneira. Seus olhos se dirigiram à proa.
Ah.
Festus, a figura de proa, podia expelir muitas chamas. Infelizmente, estava desligado. E Piper não tinha ideia de como reativá-lo. Nunca teria tempo de descobrir os botões certos no painel de controle do navio. Tinha uma vaga lembrança de Leo mexendo no interior da cabeça do dragão de bronze, resmungando sobre um disco de controle; mas mesmo que Piper conseguisse chegar à proa, não saberia o que fazer.
Apesar disso, seu instinto lhe disse que Festus era sua melhor chance. Só precisava convencer seus captores a deixá-la chegar perto o suficiente...
— Bem! — Quione interrompeu seus pensamentos. — Sinto que nosso tempo aqui esteja no fim. Zetes, por favor...
— Espere! — disse Piper.
Era um comando simples, e funcionou. Os boreadas e Quione encararam a garota, atentos. Piper estava quase certa de que poderia controlar os irmãos com o charme, mas Quione era um problema. Seu poder não funcionava muito bem se a pessoa não estivesse atraída por ela, ou se fossem seres poderosos como os deuses ou se a vítima soubesse sobre o charme e estivesse esperando por ele. Todas as alternativas se aplicavam a Quione.
O que Annabeth faria?
Enrolaria, pensou Piper. Na dúvida, continue falando.
— Você tem medo de meus amigos.  Então por que simplesmente não os mata?
Quione riu.
— Você não é uma deusa, ou iria entender. A morte é tão curta, tão... insatisfatória. Suas almas mortais insignificantes vão para o Mundo Inferior, e o que acontece? O melhor que posso esperar é vocês serem mandados para os Campos de Punição ou Asfódelos, mas semideuses são insuportavelmente nobres. A chance de irem para o Elísio ou renascerem é muito grande. Por que iria querer recompensar seus amigos se posso castigá-los por toda a eternidade?
— E eu? — Piper odiou perguntar. — Por que ainda estou viva e não fui congelada?
Quione olhou com aborrecimento para os irmãos.
— Um dos motivos é Zetes ter pedido você como recompensa.
— Eu beijo magnificamente bem — declarou Zetes. — Você vai ver, querida.
A ideia embrulhou o estômago de Piper.
— Mas esta não é a única razão — disse Quione. — A outra é que eu odeio você, Piper. Profundamente. Sem você, Jason teria ficado comigo em Quebec.
— Isso não é muita pretensão sua?
Os olhos de Quione ficaram duros como os diamantes do arco em seu cabelo.
— Você é um peso morto, a filha de uma deusa que não serve para nada. O que pode fazer sozinha? Nada. De todos os sete semideuses, você não tem objetivo, não tem poder. Quero que você fique neste navio, à deriva e desamparada, enquanto Gaia desperta e o mundo acaba. E só para garantir que você permaneça fora do caminho...
Ela gesticulou para Zetes, que pegou alguma coisa no ar – uma esfera do tamanho de uma bola de tênis coberta de pontas de gelo.
— Uma bomba — explicou Zetes — especialmente para você, meu amor.
— Bombas! — Cal riu. — Um dia bom! Bombas e muffins!
— Hã... — Piper baixou a adaga, que parecia ainda mais inútil do que o normal. — Flores já bastariam.
— Ah, a bomba não vai matar a garota bonita — Zetes franziu o cenho — bem... estou quase certo disso. Mas quando o invólucro frágil se romper em... ah, daqui a pouco... ele vai liberar a força dos ventos do norte. O barco vai ser levado para longe de sua rota. Para muito, muito longe.
— Isso mesmo — a voz de Quione estava carregada de falsa simpatia — vamos levar seus amigos para nossa coleção de estátuas, liberar os ventos e lhe dar adeus! Você pode assistir ao fim do mundo do... bem, do fim do mundo! Talvez consiga usar o charme nos peixes e se alimentar com sua cornucópia. Pode andar de um lado para outro no convés deste barco e assistir a nossa vitória na lâmina de sua adaga. Quando Gaia tiver despertado, e o mundo que você conhece estiver morto, aí Zetes pode retornar e torná-la sua esposa. O que vai fazer para nos deter, Piper? Uma heroína? Há! Você é uma piada.
Aquelas palavras doeram como chuva de granizo, principalmente porque Piper tinha pensado exatamente as mesmas coisas. O que ela podia fazer? Como podia salvar seus amigos? Estava quase surtando – pulando enfurecida sobre seus inimigos e sendo morta por eles.
Olhou para a expressão arrogante de Quione e percebeu que a deusa estava torcendo por isso. Queria que Piper surtasse. Queria diversão.
A garota reuniu toda sua coragem. Lembrou-se das colegas que zombavam dela na Escola da Vida Selvagem. Lembrou-se de Drew, a cruel conselheira-chefe que ela substituíra no chalé de Afrodite; de Medeia, que enfeitiçara Jason e Leo em Chicago; e Jane, a velha assistente de seu pai, que sempre a tratara como uma criança mimada e inútil. Por toda sua vida foi menosprezada, chamada de inútil por todos.
Isso nunca foi verdade, murmurou outra voz, uma voz parecida com a de sua mãe. Todos eles repreenderam você por temê-la e invejá-la. Assim como Quione. Use isso!
Piper não estava com vontade, mas forçou uma risada. Tentou de novo, e a risada saiu com mais facilidade. Logo, estava às gargalhadas, se dobrando de rir. Calais se juntou a ela, até ser cutucado com o cotovelo por Zetes.
O sorriso de Quione vacilou.
— O que foi? Qual é a graça? Acabei de condenar você!
— Me condenar! — Piper voltou a rir. — Ah, deuses... desculpe. — Tentou recuperar o fôlego e parar de rir. — Ah, nossa... está bem. Você acha mesmo que não tenho poder nenhum? Acha mesmo que não sirvo para nada? Deuses do Olimpo! Seu cérebro deve ter ressecado com o frio. Você não sabe do meu segredo, não é?
Os olhos de Quione se estreitaram.
— Você não tem segredo nenhum. Está mentindo.
— Está bem, como quiser — disse Piper — vá em frente e leve meus amigos. Me deixe aqui... sem poder fazer nada — ela resfolegou — sim. Gaia vai ficar muito satisfeita com você.
Um turbilhão de neve girou em torno da deusa. Nervosos, Zetes e Calais olhavam um para o outro.
— Irmã — disse Zetes — se ela tem mesmo algum segredo...
— Pizza? — arriscou Cal. — Hóquei?
— ...precisamos descobrir qual é — terminou Zetes.
Quione obviamente não tinha acreditado. Piper tentava se manter séria, mas fez os olhos dançarem travessos e bem-humorados.
Vá em frente, desafiou ela. Pague para ver.
— Que segredo? — perguntou Quione. — Conte para nós!
Piper deu de ombros.
— Como quiser — apontou despreocupadamente para a proa — por aqui, pessoal do gelo.

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