Curta a página oficial do blogger para receber as notificações direto em seu Facebook, além de novidades que serão apenas postadas lá.

Procurando por algo?

0

A Casa de Hades - CAP. XLI

.. sábado, 15 de março de 2014
Capítulo XLI - Piper

PIPER NÃO SABIA MUITO SOBRE o Mar Mediterrâneo, mas tinha certeza de que ele não devia congelar em julho.
Depois de dois dias em mar aberto após saírem de Split, nuvens negras dominaram o céu. As ondas ficaram mais fortes, lançando no convés uma chuva fina, que formava uma camada de gelo sobre amuradas e cordas.
— É o cetro — murmurou Nico, erguendo o cajado antigo — só pode ser.
Piper ficou desconfiada. Desde que Jason e Nico voltaram do palácio de Diocleciano, estavam agindo de maneira nervosa e reservada. Algo importante tinha acontecido lá, algo que Jason não queria contar a ela.
Tinha lógica o cetro ter provocado aquela mudança de tempo. A orbe negra no topo parecia drenar a cor do ar, e as águias douradas na base tinham um brilho frio. O cetro supostamente controlava os mortos, e ele definitivamente emitia vibrações ruins. Quando o treinador Hedge viu aquela coisa, ficou pálido e avisou que ia para o quarto se consolar com vídeos de Chuck Norris. (Mas Piper desconfiava que, na verdade, ele estava mandando mensagens de Íris para sua namorada, Mellie; o treinador andava muito agitado em relação a ela, apesar de não contar a Piper qual era o problema.)
Então, sim... Talvez o cetro pudesse provocar uma tempestade de gelo assustadora. Mas Piper não achava que fosse isso. Temia que o motivo fosse outro... Algo ainda pior.
— Não podemos conversar aqui — decidiu Jason — vamos adiar a reunião.
Todos tinham se reunido no tombadilho superior para discutir estratégias conforme se aproximavam de Épiro. Agora estava evidente que lá não era um bom lugar para ficar: o vento varria o gelo pelo convés, o mar se revolvia sob eles.
Piper não se incomodava muito com isso. O balanço e a movimentação das ondas a faziam lembrar das vezes em que fora surfar com o pai na costa da Califórnia. Mas notou que Hazel não estava passando bem. A pobre da garota ficava enjoada até com o mar tranquilo. Ela parecia estar tentando engolir uma bola de sinuca.
— Preciso...
Hazel teve ânsia de vômito e apontou para baixo.
— Claro, desça.
Nico beijou-a no rosto, o que surpreendeu Piper. Ele raramente dava demonstrações de carinho, nem mesmo com a irmã. Parecia odiar qualquer contato físico. Beijar Hazel... era quase como se fosse uma despedida.
— Vou com você.
Frank passou um braço pela cintura de Hazel e a ajudou a descer as escadas. Piper torcia para que Hazel ficasse bem. Nas últimas noites, depois daquela luta contra Círon, tinham conversado muito. Serem as únicas meninas a bordo era meio complicado. Dividiam histórias, reclamavam sobre os hábitos nojentos dos meninos e choravam juntas por Annabeth. Hazel contou como era controlar a Névoa, e Piper se surpreendeu ao descobrir que era muito parecido com usar o charme. Piper se ofereceu para ajudá-la com o que precisasse. Em troca, Hazel prometeu ensiná-la a lutar com espadas, uma habilidade na qual Piper era péssima. Sentia que ganhara uma nova amiga, o que era maravilhoso... supondo que vivessem tempo o bastante para desfrutarem dessa amizade.
Nico espanou um pouco de gelo dos cabelos e franziu o cenho diante do cetro de Diocleciano.
— Eu devia guardar essa coisa. Se está mesmo provocando esse tempo, talvez levá-lo lá para baixo ajude...
— Claro — disse Jason.
Nico olhou para Piper e Leo, como se estivesse preocupado com o que poderiam dizer na sua ausência. Piper percebeu que ele estava mais na defensiva, como se estivesse se encolhendo em uma bola psicológica, como quando entrara no transe de morte dentro do jarro de bronze.
Quando ele desceu, Piper estudou a expressão de Jason. Seus olhos estavam carregados de preocupação. O que acontecera na Croácia?
Leo pegou uma chave de fenda no cinto.
— Que grande reunião de equipe. Parece que é só a gente de novo.
Só a gente de novo.
Piper recordou de um dia de inverno em Chicago, em dezembro do ano anterior, quando os três aterrissaram no Millennial Park em sua primeira missão.
Leo não mudara muito, exceto por parecer mais à vontade em seu papel de filho de Hefesto. Ele sempre tivera um excesso de energia nervosa. Agora sabia como usá-la. Suas mãos estavam sempre em movimento. Pegava coisas em seu cinto, mexia nos controles, brincava com sua adorada esfera de Arquimedes. Hoje a havia retirado do painel de controle e desligado Festus, a figura de proa, para manutenção, algo sobre reprogramar seu processador para aprimorar o controle do motor com a esfera, o que quer que isso significasse.
Quanto a Jason, parecia mais magro, mais alto e mais desgastado. O cabelo, antes bem curto, no estilo romano, agora era comprido e desgrenhado. O sulco que Círon fizera do lado esquerdo do couro cabeludo também era interessante, acrescentava um toque de rebeldia. Seus olhos azuis como o céu pareciam de algum modo mais velhos, cheios de preocupação e responsabilidade.
Piper sabia o que seus amigos murmuravam sobre Jason: era perfeito demais, rigoroso demais. Se isso um dia fora verdade, não era mais. A missão tinha acabado com ele, e não apenas fisicamente. As dificuldades que enfrentou não o enfraqueceram, mas ele tinha sido curtido e amaciado como couro, como se estivesse se tornando uma versão mais afável de si mesmo.
E Piper? Só podia imaginar o que Leo e Jason pensavam quando olhavam para ela. Com certeza não se sentia mais a mesma pessoa que era no inverno anterior. Aquela primeira missão para resgatar Hera parecia ter ocorrido séculos atrás.
Tanta coisa havia mudado em sete meses... ela se perguntou como os deuses aguentavam viver milhares de anos. Quantas mudanças eles teriam presenciado? Talvez não fosse de surpreender o fato de os olimpianos parecerem um pouco loucos. Se Piper tivesse vivido por três milênios, teria ficado doidinha.
Ela olhou para a chuva fria. Daria tudo para voltar ao Acampamento Meio-Sangue, onde o clima era controlado até no inverno. As imagens que vira em sua adaga ultimamente... bem, não lhe davam muitos motivos para ficar animada.
Jason apertou seu ombro.
— Ei, vai ficar tudo bem. Estamos perto de Épiro. Só mais um dia, se as indicações de Nico estiverem corretas.
— É — Leo brincava com sua esfera, batendo e apertando as joias — amanhã de manhã, mais ou menos, vamos chegar na costa leste da Grécia. Depois mais uma hora de caminhada e pronto, a CASA DE HADES! Vou comprar uma camiseta de lembrança!
— Oba — murmurou Piper em voz baixa.
Não estava muito ansiosa para mergulhar novamente na escuridão. Ainda tinha pesadelos com o nymphaeum e o hipogeu sob Roma.
Na lâmina de Katoptris, vira imagens parecidas com as que Leo e Hazel descreveram a partir de seus sonhos, uma feiticeira pálida em um vestido dourado, cujas mãos teciam luz dourada no ar como seda em um tear, e um gigante envolto em sombras descendo por um corredor comprido iluminado por tochas nas paredes. Conforme ele passava, as chamas se apagavam. Ela viu uma caverna enorme cheia de monstros (ciclopes, nascidos da terra e coisas mais estranhas) cercando a ela e a seus amigos em tamanha superioridade numérica que não lhes dava qualquer esperança.
Cada vez que via essas imagens, uma voz interior não parava de repetir a mesma frase.
— Gente — disse ela — tenho pensado sobre a Profecia dos Sete.
Era preciso muito para desviar a atenção de Leo de seu trabalho, mas isso foi suficiente.
— O que pensou? — perguntou ele. — Tipo... coisas boas, certo?
Ela reajustou a alça que prendia sua cornucópia ao ombro. Às vezes a trompa da fartura parecia tão leve que se esquecia dela. Em outras, parecia tão pesada quanto uma bigorna, como se o deus do Rio Aqueloo estivesse enviando energias ruins para puni-la por pegar seu chifre.
— Na Katoptris, não paro de ver aquele gigante Clítio, o cara sempre envolto em sombras. Sei que o ponto fraco dele é o fogo, mas em minhas visões ele assopra as chamas aonde quer que vá. Todo tipo de luz é sugado por sua nuvem de escuridão.
— Parece o Nico — Leo comentou — será que são parentes?
Jason fechou a cara.
— Ei, dá um tempo pro Nico, ok? Então, Piper, o que tem esse gigante? O que você está pensando?
Ela e Leo trocaram um olhar intrigado, tipo: Desde quando Jason defende Nico di Angelo? Ela preferiu não comentar.
— Não paro de pensar em fogo — respondeu Piper — como esperamos que Leo derrote esse gigante porque ele é...
— Um cara quente? — sugeriu Leo com um sorriso.
— Humm, acho que a melhor definição é inflamável. Enfim, esse trecho da profecia me incomoda: em tempestade ou fogo, o mundo terá acabado.
— É, já sabemos isso — afirmou Leo — você vai dizer que sou fogo. E que Jason é a tempestade.
Piper assentiu com relutância. Sabia que nenhum deles gostava de discutir o assunto, mas todos deviam ter sentido que era verdade.
O navio lançou-se abruptamente para estibordo. Jason agarrou a amurada congelada.
— Então você está preocupada que um de nós prejudique a missão e acidentalmente destrua o mundo?
— Não — disse Piper — acho que temos interpretado esse trecho do modo errado. O mundo... a Terra. Em grego, a palavra para isso seria...
Ela hesitou, sem querer dizer o nome em voz alta, mesmo no mar.
— Gaia — os olhos de Jason cintilaram com um interesse súbito — você quer dizer que Em tempestade ou fogo, Gaia terá acabado?
— Ah... — Leo deu um sorriso ainda maior — sabe, gosto muito mais da sua versão. Porque se Gaia não resistir a mim, o sr. Fogo, vai ser muito maneiro.
— Ou a mim... a tempestade — Jason a beijou — Piper, isso é incrível! Se estiver certa, são ótimas notícias. Só precisamos descobrir qual de nós destrói Gaia.
— Pode ser — ela se sentiu desconfortável por deixá-los tão esperançosos — mas, vejam, é tempestade ou fogo...
Desembainhou Katoptris e a pôs sobre o painel. Imediatamente a lâmina piscou e acendeu, mostrando a forma escura do gigante Clítio caminhando por um corredor e apagando as tochas.
— Estou preocupada com Leo e essa luta contra Clítio — afirmou — aquele trecho na profecia pode dar a entender que só um de vocês conseguirá. E se o trecho “em tempestade ou fogo” estiver relacionado com o terceiro verso, “Um juramento a manter com um alento final”...
Não concluiu o raciocínio, mas pelas expressões de Jason e Leo, percebeu que eles tinham entendido. Se estivesse interpretando a profecia corretamente, ou Leo ou Jason iria derrotar Gaia. O outro morreria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita. Que tal deixar um comentário?

Percyanaticos BR / baseado no Simple | por © Templates e Acessórios ©2013