Curta a página oficial do blogger para receber as notificações direto em seu Facebook, além de novidades que serão apenas postadas lá.

Procurando por algo?

0

A Casa de Hades - CAP. XIV

.. sábado, 8 de março de 2014
Capítulo XIV - Percy
QUANDO COMEÇARAM A DESCER O penhasco, Percy se concentrou nos desafios mais imediatos: não perder o equilíbrio, evitar derrubar pedras para não alertar as empousai de sua presença e, é claro, garantir que ele e Annabeth não despencassem para a morte.
Na metade da descida, Annabeth disse:
— Percy, espere. Vamos parar um pouco.
As pernas dela tremiam tanto que Percy se xingou mentalmente por não ter sugerido uma parada antes.
Eles se sentaram juntos em uma saliência ao lado de uma feroz cascata de fogo. Percy passou o braço em torno de Annabeth, que se aconchegou a ele, trêmula de exaustão.
Ele não estava muito melhor. Seu estômago parecia ter encolhido até ficar do tamanho de uma bala de goma. Caso se deparassem com mais alguma carcaça de monstro, temia empurrar uma empousa para fora de seu caminho e tentar devorá-la.
Pelo menos ele tinha Annabeth. Iam encontrar uma saída do Tártaro. Tinham que conseguir. Não acreditava muito em destino e profecias, mas estava convencido de uma coisa: Annabeth e ele precisavam ficar juntos. Não haviam sobrevivido a tanta coisa só para morrerem ali.
— Podia ser pior — arriscou a garota.
— É? — Percy não via como, mas tentou parecer animado.
Ela se aninhou nele. Seus cabelos cheiravam a fumaça, e se fechasse os olhos, Percy quase podia imaginar que estavam junto da fogueira no Acampamento Meio-Sangue.
— Podíamos ter caído no Rio Lete — disse ela. — E perdido nossas lembranças.
Percy sentiu arrepios só de pensar nisso. Já tivera problemas suficientes com amnésia para uma vida inteira. Menos de um mês antes, Hera tinha apagado suas lembranças para botá-lo entre os semideuses romanos. Percy tinha ido parar no Acampamento Júpiter sem saber quem era ou de onde vinha. E alguns anos antes, lutara contra um titã nas margens do Lete, perto do palácio de Hades. Ele atacara o titã com água daquele rio e apagara sua memória.
— É, o Lete — murmurou ele. — Não é meu preferido.
— Qual era mesmo o nome daquele titã? — perguntou Annabeth.
— Hã... Jápeto. Ele disse que significava o Empalador ou algo assim.
— Não, o nome que você lhe deu depois que ele perdeu a memória. Steve?
— Bob — corrigiu Percy.
Annabeth conseguiu dar uma leve risada.
— Bob, o titã.
Os lábios de Percy estavam tão rachados que sorrir doía. Ele se perguntou o que teria acontecido com Jápeto depois que o deixaram no palácio de Hades... se ele ainda estaria feliz em ser Bob, simpático, alegre e bobalhão. Percy esperava que sim, mas o Mundo Inferior parecia despertar o pior em todos: monstros, heróis e deuses.
Observou as planícies cinzentas. Os outros titãs deveriam estar ali no Tártaro, talvez acorrentados ou vagando sem rumo, ou quem sabe escondidos em alguma daquelas fendas escuras. Percy e seus aliados tinham destruído o pior titã, Cronos, mas seus restos mortais podiam ainda estar ali, em algum lugar, um bilhão de partículas raivosas de titã flutuando nas nuvens cor de sangue ou espreitando na neblina negra.
Percy resolveu não pensar mais naquilo e beijou a testa de Annabeth.
— Temos que ir andando. Quer beber mais fogo?
— Eca. Não, obrigada.
Levantaram-se com dificuldade. Parecia impossível descer o resto do penhasco. Tudo que tinham pela frente eram saliências minúsculas, mas Percy e Annabeth seguiram em frente.
O corpo de Percy estava no piloto automático. Sentia câimbras nos dedos. Bolhas começavam a surgir em seus tornozelos. Estava tremendo de fome.
Perguntou-se se iriam morrer de inanição ou se o fogo líquido os manteria vivos. Lembrou-se do castigo de Tântalo, preso para sempre em um lago sob uma árvore frutífera, mas sem poder alcançar nem a água nem o alimento.
Caramba, Percy não pensava em Tântalo havia anos. Aquele sujeito idiota tinha sido brevemente perdoado para ser diretor do Acampamento Meio-Sangue. Provavelmente estava de volta aos Campos de Punição. Percy nunca tinha sentido pena do imbecil antes, mas agora sentia certa compaixão por ele. Podia imaginar como seria sentir cada vez mais fome por toda a eternidade sem jamais conseguir comer.
Continue a descer, disse a si mesmo.
Cheeseburgers, respondeu seu estômago.
Cale a boca, pensou.
Com fritas, protestou o estômago.
Um bilhão de anos mais tarde, com mais umas dez bolhas nos pés, Percy chegou ao fundo. Ajudou Annabeth a descer, e os dois desabaram no chão.
Diante deles se estendiam quilômetros de terra estéril fervilhando com larvas monstruosas e árvores que pareciam pelos gigantescos de inseto. À direita, o Flegetonte se dividia em braços que riscavam a planície, abrindo-se em um delta de fumaça e fogo. Ao norte, ao longo do curso principal do rio, havia inúmeras entradas de cavernas. Aqui e ali, colunas de rocha se projetavam para o alto como pontos de exclamação.
Ao tocar o solo, Percy o achou estranhamente quente e macio. Tentou pegar um punhado de terra, mas então percebeu que sob uma fina camada de terra e caliça, o chão era uma única grande membrana... que parecia pele.
Quase vomitou, mas conseguiu se conter. Não havia nada em seu estômago além de fogo. Não disse nada a Annabeth, mas começou a sentir que algo os observava, algo grande e maligno. Não conseguia dizer exatamente de onde, porque a presença estava ao seu redor.
Observar também era a palavra errada. Isso pressupunha olhos, e esta coisa apenas sabia que estavam ali. A sequência de penhascos diante deles começava a se parecer menos com degraus e mais com fileiras de dentes enormes. As colunas de pedra pareciam costelas quebradas. E se o solo fosse pele...
Percy se obrigou a pensar em outra coisa. Estava morrendo de medo daquele lugar. Era simples assim.
Annabeth se levantou, limpou a fuligem do rosto e olhou para a escuridão do horizonte.
— Vamos ficar completamente expostos quando atravessarmos essa planície.
Cerca de cem metros à frente deles, uma bolha estourou no chão. Um monstro saiu, abrindo caminho com suas garras... Um telquine com pele lisa, corpo como o de uma foca e membros humanos atrofiados. Conseguiu rastejar apenas alguns metros quando algo saiu disparado da caverna mais próxima, tão rápido que Percy só conseguiu vislumbrar uma cabeça reptiliana verde-escura. O monstro abocanhou o telquine e o arrastou para a escuridão, enquanto a presa guinchava.
Renascer no Tártaro só para ser devorado dois segundos depois. Percy se perguntou se aquele telquine surgiria em algum outro lugar do Tártaro e quanto tempo levaria para que seu corpo tornasse a se formar.
Engoliu em seco, ainda sentindo o sabor amargo do fogo líquido.
— Que a diversão comece.
Annabeth o ajudou a se levantar. Ele olhou para os penhascos uma última vez, mas não havia volta. Teria dado mil dracmas de ouro para que Frank Zhang estivesse com eles naquele momento, o bom e velho Frank, que sempre aparecia quando era necessário e podia se transformar em uma águia ou dragão e carregá-los voando por cima daquela terra idiota, estéril e desolada.
Começaram a andar, evitando as entradas das cavernas e permanecendo perto da margem do rio.
Estavam acabando de contornar uma das colunas quando os olhos de Percy captaram um vislumbre de movimento, algo correndo entre duas rochas à direita deles.
Estavam sendo seguidos por um monstro? Ou talvez fosse algum vilão aleatório a caminho das Portas da Morte.
De repente, ele se lembrou por que enveredaram por aquele caminho e parou de andar.
— As empousai — agarrou o braço de Annabeth — onde elas estão?
Annabeth olhou em volta. Seus olhos cinza reluziram alarmados.
Talvez as empousai tivessem sido apanhadas por aquele réptil na caverna. Se ainda estivessem à frente deles nas planícies, deveriam estar visíveis.
A menos que estivessem escondidas...
Percy sacou a espada tarde demais.
As empousai surgiram das rochas em volta deles, e as cinco formaram um círculo. Uma armadilha perfeita.
Kelli se adiantou mancando com aquelas suas pernas diferentes. Seus cabelos flamejantes caíam em cascata sobre os ombros como a miniatura de uma cachoeira do Flegetonte. O uniforme esfarrapado de líder de torcida estava coberto de manchas de um marrom acobreado, e Percy tinha quase certeza de que não eram de ketchup. Ela o encarou com os olhos vermelhos brilhantes e exibiu as presas.
— Percy Jackson — exclamou ela alegremente — que maravilha! Nem preciso voltar ao mundo mortal para destruir você!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita. Que tal deixar um comentário?

Percyanaticos BR / baseado no Simple | por © Templates e Acessórios ©2013