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A Casa de Hades - CAP. XII

.. sábado, 8 de março de 2014
Capítulo XII - Leo
OS ANÕES NÃO SE ESFORÇARAM muito para despistá-lo, o que deixou Leo desconfiado. Ficavam sempre no seu campo de visão, correndo sobre os telhados de telhas vermelhas, derrubando jardineiras das janelas, comemorando, gritando e deixando um rastro de parafusos e pregos do seu cinto de ferramentas, quase como se quisessem ser seguidos.
Leo correu atrás deles, soltando palavrões a cada vez que suas calças caíam. Ele dobrou uma esquina e viu duas antigas torres de pedra elevando-se até o céu, lado a lado, muito mais altas do que qualquer outra construção nas redondezas – talvez fossem torres de vigia medievais.
Inclinavam-se em direções diferentes, como as alavancas de marcha de um carro de corrida. Os cêrcopes escalaram a torre da direita. Quando chegaram ao topo, deram a volta até a parte de trás e desapareceram.
Teriam entrado? Leo enxergava algumas pequenas janelas cobertas com grades de metal lá no alto, mas duvidava que aquilo detivesse os anões. Ficou olhando durante um minuto, mas os cêrcopes não reapareceram. O que significava que Leo teria de subir até lá e procurar por eles.
— Ótimo — murmurou.
Não tinha nenhum amigo voador para levá-lo até lá. O navio estava longe demais para ele poder pedir ajuda. Talvez pudesse improvisar algum tipo de dispositivo voador com a esfera de Arquimedes, mas só se tivesse o seu cinto de ferramentas – coisa que não tinha.
Leo examinou as construções vizinhas, tentando pensar. Meio quarteirão adiante, duas portas de vidro se abriram e uma senhora idosa saiu devagar, carregando sacolas plásticas de compras.
Um mercado? Humm...
Leo apalpou os bolsos. Para a sua surpresa, ainda tinha alguns euros dos dias que passaram em Roma. Aqueles anões idiotas tinham levado tudo, menos o seu dinheiro.
Correu até a loja o mais rápido que sua calça sem zíper permitia.
Percorreu os corredores procurando coisas que pudessem ser úteis. Não sabia dizer em italiano “Olá, onde estão seus produtos químicos perigosos, por favor?”, mas tudo bem. Também não queria acabar em uma prisão da Itália.
Felizmente, não precisava ler rótulos. Bastava pegar um tubo de pasta de dente para saber que continha nitrato de potássio. Encontrou carvão. Encontrou açúcar e bicarbonato de sódio. A loja vendia fósforos, repelente contra insetos e papel-alumínio. Praticamente tudo de que precisava, além de um fio de varal que poderia usar como cinto. Acrescentou às compras um pouco de junk food italiana, apenas para disfarçar seus produtos mais suspeitos e, em seguida, levou tudo até a caixa registradora. Uma senhora de olhos arregalados fez-lhe algumas perguntas que ele não compreendeu, mas conseguiu pagar, encher a sacola de compras e ir embora correndo.
Ele se agachou junto à porta mais próxima, de onde poderia ficar de olho nas torres. Então começou a trabalhar, conjurando uma fogueira para secar e cozinhar materiais que, de outro modo, teriam levado dias para ficarem prontos.
Vez por outra, lançava um olhar furtivo para a torre, mas não havia nenhum sinal dos anões. Esperava que ainda estivessem lá em cima. Preparar seu arsenal demorou apenas alguns minutos – ele era realmente muito bom nisso – mas pareceram horas.
Jason não apareceu. Talvez ainda estivesse preso na fonte de Netuno, ou percorrendo as ruas à procura de Leo. Ninguém mais do navio veio ajudar. Provavelmente estavam ocupados tirando os elásticos cor-de-rosa do cabelo do treinador Hedge.
Isso significava que Leo estava sozinho com sua sacola de junk food e algumas armas altamente improvisadas feitas de açúcar e creme dental. Ah, e a esfera de Arquimedes. Era um detalhe importante. Esperava não tê-la estragado enchendo-a de pó químico.
Correu para a torre e encontrou a entrada. Começou a subir a escada em espiral, apenas para ser detido diante de uma bilheteria por algum zelador que gritou com ele em italiano.
— Sério mesmo? — perguntou Leo. — Olha, cara, sua torre está infestada de anões macacos. E sou o dedetizador — ergueu a lata de inseticida — está vendo? Dedetizador Molto Buono. Borrifa, borrifa, Ahhhhh!
Ele imitou um anão desmanchando-se, apavorado, o que, por algum motivo, o italiano não pareceu entender.
O sujeito simplesmente estendeu a mão, pedindo dinheiro.
— Caramba, homem — resmungou Leo. — Gastei todo o meu dinheiro em explosivos caseiros e outras coisas — ele remexeu em sua sacola de compras — será que você aceitaria... hã... o que é isso?
Leo ergueu um saco amarelo e vermelho de algo chamado Fonzies. Achava que fosse algum tipo de batatas chips. Para sua surpresa, o zelador deu de ombros e aceitou o saco.
— Avanti!
Leo continuou a subir, mas disse a si mesmo para não se esquecer de estocar Fonzies. Aparentemente, funcionavam melhor do que dinheiro na Itália.
A escada subia, subia e subia. A torre inteira parecia ser apenas uma desculpa para construírem a escada.
Parou ao chegar a um patamar e encostou-se em uma estreita janela gradeada, tentando recuperar o fôlego. Suava como um porco, e seu coração batia forte.
Cêrcopes idiotas. Leo imaginou que assim que chegasse ao topo eles fugiriam antes que tivesse a chance de usar as suas armas, mas precisava tentar.
Continuou subindo.
Finalmente, com as pernas moles como macarrão cozido, chegou ao topo.
O cômodo era do tamanho de um armário de vassouras, com janelas gradeadas nas quatro paredes. Havia sacos de tesouros empilhados pelos cantos e objetos brilhantes espalhados pelo chão. Leo viu a adaga de Piper, um velho livro com capa de couro, alguns dispositivos mecânicos interessantes e ouro suficiente para causar uma indigestão no cavalo de Hazel.
A princípio, achou que os anões tinham ido embora. Então, olhou para cima. Acmon e Passalos estavam pendurados de cabeça para baixo, presos às vigas pelos pés de chimpanzé, jogando pôquer antigravidade. Ao verem Leo, ambos jogaram as suas cartas como confete e irromperam em aplausos.
— Eu disse que ele viria! — gritou Acmon, felicíssimo.
Passalos deu de ombros, pegou um de seus relógios de ouro e o entregou ao irmão.
— Você ganhou. Não achei que ele fosse tão burro.
Ambos pularam das vigas. Acmon usava o cinto de ferramentas. Estava tão perto que Leo teve que resistir ao impulso de tentar agarrá-lo.
Passalos ajeitou o chapéu de caubói e chutou a grade da janela mais próxima, abrindo-a.
— O que o faremos escalar agora, irmão? A cúpula de San Luca?
Leo queria estrangular os anões, mas forçou um sorriso.
— Ah, isso parece divertido! Mas, antes de irem, saibam que esqueceram algo brilhante.
— Impossível! — Acmon fez uma careta. — Fomos muito cuidadosos.
— Tem certeza?
Leo ergueu a sacola de supermercado.
Os anões se aproximaram. Como Leo esperava, sua curiosidade era tão grande que não conseguiam resistir.
— Vejam.
Leo pegou a sua primeira arma, um punhado de produtos químicos secos embrulhados em uma folha de papel-alumínio, e acendeu-a com a mão.
Afastou-se antes da explosão, mas os anões estavam olhando diretamente para o artefato. Pasta de dente, açúcar e repelente de insetos não eram tão bons quanto a música de Apolo, mas causavam uma explosão de som e luz bem decente.
Os cêrcopes gritaram, levando as patas aos olhos. Cambalearam em direção à janela, mas Leo já detonara seus rojões caseiros, mirando-os nos pés descalços dos anões para desequilibrá-los. Então, só para garantir, Leo girou um disco em sua esfera de Arquimedes, o que espalhou uma nuvem branca por toda a sala.
A fumaça não afetava Leo. Como era imune ao fogo, ele entrara em fogueiras fumacentas várias vezes, suportara sopros de dragões e limpara forjas ardentes. Enquanto os anões tossiam e ofegavam, recuperou o cinto de ferramentas que estava com Acmon, retirou calmamente alguns cabos de bungee jump, e amarrou os anões.
— Meus olhos! — exclamou Acmon, tossindo. — Meu cinto de ferramentas!
— Meus pés estão pegando fogo! — lamentou-se Passalos. — Isso não é nada brilhante! Não mesmo!
Quando teve certeza de que estavam devidamente imobilizados, Leo arrastou os cêrcopes até um canto e começou a vasculhar seus tesouros. Recuperou a adaga de Piper, alguns de seus protótipos de granadas e uma dezena de outros objetos que os anões haviam roubado do Argo II.
— Por favor! — lamentou-se Acmon. — Não tome nossos brilhos!
— Vamos fazer um acordo! — sugeriu Passalos. — Nós lhe daremos dez por cento se você deixar a gente ir embora!
— Acho que não — murmurou Leo. — É tudo meu agora.
— Vinte por cento!
Naquele momento, ecoou um trovão. Relâmpagos brilharam e as barras da janela mais próxima começaram a derreter, transformando-se em tocos incandescentes de ferro derretido.
Jason entrou voando como Peter Pan, com a eletricidade crepitando em torno dele e de sua espada de ouro fumegante.
Leo assobiou, admirado.
— Cara, você acaba de desperdiçar uma entrada triunfal.
Jason franziu a testa. Então, viu os cêrcopes amarrados.
— Mas que...
— Fiz tudo sozinho — interrompeu Leo. — Sou super especial. Como você me encontrou?
— Hã, a fumaça — conseguiu dizer Jason. — E ouvi estampidos. Houve um tiroteio por aqui?
— Tipo isso.
Leo atirou-lhe a adaga de Piper e continuou a vasculhar o lugar. Lembrou-se do que Hazel dissera sobre encontrar um tesouro que os ajudaria em sua jornada, mas não sabia exatamente o que estava procurando. Havia moedas, pepitas de ouro, joias, clipes de papel, rolos de papel alumínio, abotoaduras.
E sempre voltava a topar com alguns objetos que não pareciam combinar com o conjunto. O primeiro era um antigo dispositivo de navegação feito de bronze, como o astrolábio de um navio. Estava muito danificado e parecia que algumas de suas peças estavam faltando, mas ainda assim Leo o achou fascinante.
— Pode levar! — ofereceu Passalos. — Foi Odisseu quem fez, sabia? Leve-o e deixe a gente ir embora.
— Odisseu? — perguntou Jason. — Tipo, o Odisseu?
— Ele mesmo! — berrou Passalos. — Fez isso quando já estava velho, em Ítaca. É uma de suas últimas invenções. E nós a roubamos!
— Como funciona? — perguntou Leo.
— Ah, não funciona — disse Acmon. — Acho que é por causa de um cristal que está faltando.
Ele olhou para o irmão em busca de ajuda.
— “É o meu maior arrependimento” — disse Passalos. — “Deveria ter pegado um cristal.” Era isso que ele resmungava durante o sono, na noite em que o roubamos — Passalos deu de ombros — não faço ideia do que queria dizer, mas o brilhante é todo seu! Podemos ir agora?
Leo não tinha certeza de por que queria o astrolábio. O objeto estava obviamente quebrado, e ele tinha a sensação de que não era isso que Hécate queria que encontrassem. Ainda assim, guardou-o em um dos bolsos mágicos de seu cinto de ferramentas.
Voltou a atenção para o outro item estranho: o livro com capa de couro. O título era folheado a ouro, escrito em uma língua que Leo não conseguia entender, mas era a única coisa brilhante naquele livro. E não achava que os cêrcopes gostassem muito de ler.
— O que é isso?
Ele balançou o livro diante dos anões, que ainda estavam lacrimejando por causa da fumaça.
— Nada! — disse Acmon. — Só um livro. Tinha uma bela capa de ouro, por isso o roubamos dele.
— Dele quem? — perguntou Leo.
Acmon e Passalos trocaram um olhar nervoso.
— Um deus menor — disse Passalos. — Em Veneza. Realmente, não é nada.
— Veneza — Jason franziu a testa para Leo — não é para lá que devemos ir em seguida?
— É.
Leo examinou o livro. Não entendia o que estava escrito, mas havia muitas ilustrações: foices, plantas diferentes, uma imagem do sol, uma parelha de bois puxando uma carroça. Não conseguia ver a importância daquilo, mas se o livro fora roubado de um deus menor em Veneza – o próximo lugar que Hécate lhes dissera para visitar – então era aquilo que eles estavam procurando.
— Onde, exatamente, podemos encontrar esse deus menor? — perguntou Leo.
— Não! — gritou Acmon. — Você não pode devolver para ele! Se ele descobrir que a gente o roubou...
— Ele vai destruir vocês — deduziu Jason. — E é o que vamos fazer se não responderem, e estamos muito mais perto de vocês.
Encostou a ponta da espada na garganta peluda de Acmon.
— Tudo bem, tudo bem! — gritou o anão. — La Casa Nera! Calle Frezzeria!
— Isso é um endereço? — perguntou Leo.
Os anões assentiram, desesperados.
— Por favor, não conte que roubamos — implorou Passalos. — Ele não é nada legal!
— Quem é ele? — perguntou Jason. — Que deus?
— Eu... eu não posso dizer — gaguejou Passalos.
— É melhor falar logo — avisou Leo.
— Não — disse Passalos, apavorado. — Quer dizer, eu realmente não consigo dizer. Não consigo pronunciar! Tr... tri... É muito difícil!
— Truh — disse Acmon. — Tru-toh... Tem sílabas demais!
Ambos irromperam em lágrimas.
Leo não sabia se os cêrcopes estavam dizendo a verdade, mas era difícil ficar bravo com anões chorando, por mais malvestidos e irritantes que eles fossem.
Jason baixou a espada.
— O que você quer fazer com eles, Leo? Mandá-los para o Tártaro?
— Por favor, não! — choramingou Acmon. — Levaremos semanas para voltar.
— Isso se Gaia permitir! — fungou Passalos. — Ela controla as Portas da Morte agora. Vai ficar muito zangada conosco.
Leo olhou para os anões. Já enfrentara muitos monstros e nunca se sentira mal por dissolvê-los, mas aquilo era diferente. Teve que admitir que tinha alguma admiração por aqueles sujeitinhos. Eles pregavam boas peças e gostavam de coisas brilhantes. Leo se identificava com eles. Além disso, Percy e Annabeth estavam no Tártaro (Leo esperava que ainda estivessem vivos), caminhando em direção às Portas da Morte. A ideia de enviar aqueles macacos gêmeos até lá para enfrentar o mesmo pesadelo... Bem, não parecia certo.
Imaginou Gaia rindo de sua fraqueza: um semideus de coração mole demais para matar monstros. Lembrou-se de seu sonho sobre o Acampamento Meio-Sangue em ruínas, corpos de gregos e romanos espalhados pelos campos. Lembrou-se de Octavian, falando com a voz da deusa da terra: os romanos estão se deslocando a leste de Nova York. Eles avançam em direção ao seu acampamento, e nada poderá detê-los.
— Nada poderá detê-los — pensou Leo em voz alta. — Eu me pergunto...
— O quê? — indagou Jason.
Leo olhou para os anões.
— Farei um acordo com vocês.
Os olhos de Acmon se iluminaram.
— Trinta por cento?
— Vamos deixá-los com todo o seu tesouro — disse Leo — a não ser as coisas que nos pertencem, o astrolábio e este livro, que vamos devolver para o cara lá em Veneza.
— Mas ele vai nos destruir! — lamentou-se Passalos.
— Não vamos contar onde o conseguimos — prometeu Leo. — E não vamos matar vocês. Vamos deixá-los em liberdade.
— Hã, Leo...? — perguntou Jason, hesitante.
Acmon guinchou de alegria:
— Eu sabia que você era tão inteligente quanto Hércules! Vou chamá-lo de Nádegas Negras, o Retorno!
— Certo, não, obrigado — disse Leo. — Mas, em troca de pouparmos sua vida, vocês terão que fazer algo para nós. Vou enviá-los a um lugar para roubarem algumas pessoas, atormentá-las e infernizar a vida delas de todas as maneiras possíveis. Vocês terão de seguir exatamente as minhas instruções. Têm de jurar pelo Rio Estige.
— Juramos! — disse Passalos. — Roubar pessoas é a nossa especialidade!
— E adoro atormentar! — concordou Acmon. — Para onde estamos indo?
Leo sorriu.
— Já ouviram falar em Nova York?

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