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A Casa de Hades - CAP. XI

.. sábado, 8 de março de 2014
Capítulo XI - Leo
LEO ACHOU QUE TINHA OUVIDO o grito de Hazel:
— Vá! Eu cuido de Nico!
Como se Leo pretendesse voltar. Claro, ele esperava que di Angelo estivesse bem, mas tinha seus próprios problemas a resolver. Galgou os degraus com Jason e Frank logo atrás dele.
A situação no convés era ainda pior do que ele temia.
O treinador Hedge e Piper tentavam se libertar da fita adesiva, enquanto um dos macacos anões demoníacos dançava pelo convés, pegando tudo o que não estivesse preso e enfiando em um saco. Tinha cerca de um metro e vinte de altura, ainda mais baixo que o treinador Hedge, com pernas arqueadas e pés de chimpanzé, e suas roupas eram tão extravagantes que deixavam Leo tonto. A calça xadrez verde com bainha virada era presa por suspensórios vermelhos sobre uma blusa feminina listrada de preto e rosa. Usava meia dúzia de relógios de ouro em cada braço e um chapéu de caubói com estampa de zebra, que tinha uma etiqueta de preço pendurada na aba. Seu corpo era coberto por pelos ruivos desgrenhados, embora noventa por cento de seus pelos corporais parecessem estar concentrados nas imensas sobrancelhas.
Leo mal formulara a pergunta Onde está o outro anão? quando ouviu um clique atrás de si e percebeu que levara os amigos para uma armadilha.
— Abaixem-se!
Ele caiu no convés no momento da explosão ensurdecedora.
Anotação mental, pensou Leo, ainda grogue. Não deixar caixas de granadas mágicas onde anões possam alcançá-las.
Ao menos estava vivo. Leo vinha fazendo experiências com todo tipo de armamento a partir da esfera de Arquimedes que recuperara em Roma. Criara granadas que podiam soltar ácido, fogo, estilhaços ou pipoca amanteigada. (Ei, você nunca sabe quando vai ter fome durante uma batalha.)
A julgar pelo zumbido nos ouvidos de Leo, o anão detonara uma granada de luz e som, que ele enchera com um raro frasco de extrato puro e líquido da música de Apolo. Não era letal, mas fazia Leo se sentir como se tivesse caído de barriga em uma piscina.
Ele tentou se levantar. Seus membros não respondiam. Alguém estava puxando a sua cintura, talvez um amigo tentando ajudá-lo? Não. Seus amigos não cheiravam a jaulas de macacos extremamente fedorentas.
Conseguiu se virar. Sua visão estava fora de foco e em tom rosado, como se o mundo estivesse imerso em geleia de morango. Um rosto sorridente e grotesco pairava sobre ele. O anão de pelo castanho vestia-se ainda pior do que o amigo: usava um chapéu-coco verde, como o de um leprechaun, brincos compridos de diamantes e uma camisa preta e branca com listras verticais. Ele exibiu o objeto que acabara de roubar – o cinto de ferramentas de Leo – e então se afastou dançando.
Leo tentou agarrá-lo, mas seus dedos estavam dormentes. O anão saltitou alegremente até a balista mais próxima, que seu amigo de pelo ruivo armava para o lançamento.
O anão de pelo castanho pulou sobre o projétil como se fosse um skate, e seu amigo o disparou para o céu.
Pelo Ruivo desfilou arrogantemente até o treinador Hedge. Deu um beijo estalado no rosto do sátiro e, em seguida, pulou na amurada. Ele fez uma reverência para Leo, tirando o chapéu de caubói de zebra, e deu um mortal de costas sobre a borda.
Leo conseguiu se levantar. Jason já estava de pé, tropeçando e esbarrando nas coisas. Frank se transformara em um gorila de dorso prateado (por quê? Leo não sabia. Talvez para se comunicar com os macacos anões), mas a granada de luz e som o atingira em cheio. Ele estava caído no convés, língua de fora, com os olhos de gorila revirados para cima.
— Piper! — Jason cambaleou até o leme e cuidadosamente retirou a mordaça dela.
— Não perca tempo comigo! Vá atrás deles!
No mastro, o treinador Hedge resmungou:
— Humm!
Leo imaginou que aquilo queria dizer “MATEM-NOS!”. Era fácil de traduzir, já que a maioria das frases do treinador envolvia a palavra matar.
Leo olhou para o painel de controle. Sua esfera de Arquimedes não estava mais lá. Ele levou a mão à cintura, onde deveria estar seu cinto de ferramentas. Estava voltando a pensar com clareza e se encheu de indignação. Aqueles anões haviam atacado seu navio. Tinham roubado os seus bens mais preciosos.
A cidade de Bolonha estendia-se abaixo deles: era um quebra-cabeça de edifícios de telhas vermelhas em um vale cercado por colinas verdejantes. Se Leo não encontrasse os anões em algum lugar daquele labirinto de ruas... Não. O fracasso não era uma opção. E nem esperar os seus amigos se recuperarem.
Ele se voltou para Jason.
— Você está se sentindo bem o bastante para controlar os ventos? Preciso de uma carona.
Jason franziu a testa.
— Claro, mas...
— Bom — disse Leo. — Temos que pegar alguns macacos.

* * *

Jason e Leo aterrissaram em uma grande praça repleta de prédios governamentais de mármore branco e cafés ao ar livre. Bicicletas e Vespas entupiam as ruas em torno, mas a praça estava vazia, exceto pelos pombos e alguns velhos tomando café expresso.
Nenhum dos moradores parecia notar o enorme navio de guerra grego pairando sobre a
praça, ou o fato de que Jason e Leo desceram dele voando, Jason empunhando uma espada de ouro, e Leo... bem, Leo de mãos vazias.
— Para onde? — perguntou Jason.
Leo olhou para ele.
— Bem, eu não sei. Deixe-me pegar o GPS de rastreamento de anões em meu cinto de ferramentas e... Ah, espere! Não tenho um GPS rastreador de anões... e nem o meu cinto de ferramentas!
— Tudo bem — resmungou Jason. Ele olhou para o navio como se estivesse tentando se orientar e, em seguida, apontou para o outro lado da praça. — A balista lançou o primeiro anão naquela direção, eu acho. Vamos.
Atravessaram um mar de pombos, então entraram em uma rua transversal com lojas de roupas e sorveterias. As calçadas tinham fileiras de colunas brancas cobertas de pichações. Alguns mendigos pediam trocados (Leo não sabia italiano, mas o significado era óbvio). Ele não parava de levar a mão à cintura, esperando que seu cinto de ferramentas reaparecesse magicamente. Não reapareceu. Tentou não entrar em pânico, mas dependia daquele cinto para quase tudo. Era como se alguém tivesse roubado uma de suas mãos.
— Nós vamos encontrá-lo — prometeu Jason.
Normalmente, Leo teria se tranquilizado. Jason tinha talento para se manter calmo durante uma crise e já tirara Leo de vários apuros. Hoje, porém, Leo só conseguia pensar naquele estúpido biscoito da sorte que quebrara em Roma. A deusa Nêmesis prometera ajudá-lo, e ajudou: deu a ele o código para ativar a esfera de Arquimedes. Naquele dia, Leo não tivera outra escolha a não ser usá-la para salvar os amigos. Mas Nêmesis o avisara que sua ajuda teria um preço.
Leo se perguntou se esse preço já teria sido pago. Percy e Annabeth se foram. O navio estava centenas de quilômetros fora do curso, a caminho de um desafio impossível. Seus amigos contavam com ele para vencer um gigante terrível. E agora não tinha nem o seu cinto de ferramentas nem a esfera de Arquimedes.
Vinha tão ocupado sentindo pena de si mesmo que não percebeu onde estavam até que Jason agarrou seu braço.
— Veja.
Leo olhou para cima. Tinham chegado a uma praça menor. Diante deles havia uma enorme estátua de bronze de Netuno completamente nu.
— Ai, deuses! — Leo desviou o olhar.
Ele não estava com a menor vontade de ver a genitália de um deus logo de manhã cedo.
O deus do mar estava de pé sobre uma grande coluna de mármore, no meio de uma fonte que não estava funcionando (o que parecia um tanto irônico). Em ambos os lados de Netuno sentavam-se despreocupadamente alguns cupidos, tipo, e aí, beleza? O próprio Netuno (evite olhar para a virilha) projetava o quadril para o lado em um movimento à Elvis Presley. Segurava o tridente frouxamente com a mão direita e estendia a esquerda para a frente como se estivesse abençoando Leo, ou, talvez, tentando fazê-lo levitar.
— Alguma pista? — perguntou Leo.
Jason franziu a testa.
— Talvez sim, talvez não. Há estátuas dos deuses por toda a Itália. Eu me sentiria melhor se encontrasse Júpiter. Ou Minerva. Qualquer um, menos Netuno.
Leo subiu na fonte seca. Pousou a mão sobre o pedestal da estátua, e uma enxurrada de informações percorreu as pontas de seus dedos. Ele sentiu engrenagens de bronze celestial, alavancas mágicas, molas e pistões.
— É mecânico — disse ele. — Talvez seja a entrada para o esconderijo secreto dos anões.
— Uooou! — gritou uma voz próxima. — Esconderijo secreto?
— Eu quero um esconderijo secreto! — gritou outra voz mais acima.
Jason recuou, espada em punho. Leo quase ficou com torcicolo tentando olhar para dois lugares ao mesmo tempo. O anão de pelo ruivo com chapéu de caubói estava a uns trinta metros deles, sentado a uma das mesas do café mais próximo tomando um expresso com seu pé de macaco. O anão de pelo castanho com chapéu-coco verde estava empoleirado no pedestal de mármore, aos pés de Netuno, pouco acima da cabeça de Leo.
— Se tivéssemos um esconderijo secreto — disse Pelo Ruivo — gostaria que tivesse um poste de bombeiros.
— E um toboágua! — disse Pelo Castanho, que tirava ferramentas aleatórias do cinto de Leo, jogando fora chaves de porcas, martelos e grampeadores.
— Pare com isso!
Leo tentou agarrar os pés do anão, mas não conseguia alcançar o topo do pedestal.
— Muito baixinho? — perguntou Pelo Castanho, compreensivo.
— Você está me chamando de baixinho? — Leo olhou em volta procurando algo para arremessar, mas não havia nada além de pombos, e ele duvidava que conseguisse agarrar algum. — Devolva o meu cinto, seu estúpido...
— Ora, ora! — interrompeu Pelo Castanho. — Nós ainda nem nos apresentamos! Sou Acmon. E o meu irmão ali...
— ... é o bonitão! — O anão de pelo ruivo ergueu a xícara de café expresso. A julgar pelos olhos dilatados e o sorriso meio louco, não precisava de mais cafeína. — Passalos! Cantor de canções! Bebedor de café! Ladrão de coisas brilhantes!
— Ora, vamos! — gritou seu irmão, Acmon. — Eu roubo muito melhor do que você.
Passalos deu uma risadinha irônica.
— Até parece! Só se for melhor em roubar doce de criança!
Ele pegou uma adaga – a adaga de Piper – e começou a palitar os dentes.
— Ei! — gritou Jason. — Essa adaga é da minha namorada!
Ele investiu contra Passalos, mas o anão de pelo ruivo era muito rápido. Saltou da cadeira para a cabeça de Jason, depois deu uma cambalhota e aterrissou ao lado de Leo, com os braços peludos em torno da cintura do semideus.
— Você me salva? — pediu o anão.
— Cai fora!
Leo tentou empurrá-lo, mas Passalos deu uma cambalhota para trás e saiu de seu alcance. A calça de Leo imediatamente escorregou até os joelhos.
Ele olhou para Passalos, que agora estava sorrindo e segurando uma pequena tira dentada de metal. De alguma forma, o anão roubara o zíper da calça de Leo.
— Devolva... o zíper... idiota! — gaguejou Leo, tentando brandir o punho e erguer a calça ao mesmo tempo.
— Ah, não é brilhante o suficiente. — Passalos jogou o zíper fora.
Jason atacou com sua espada. Passalos pulou bem alto e de repente estava sentado no pedestal da estátua, ao lado do irmão.
— Diga que não tenho os meus truques — gabou-se Passalos.
— Tudo bem — disse Acmon. — Você não tem os seus truques.
— Ora! — disse Passalos. — Cadê o cinto de ferramentas? Quero ver.
— Não! — Acmon o afastou com uma cotovelada. — Você já tem a faca e a bola brilhante.
— É, a bola brilhante é bonita.
Passalos tirou o chapéu de caubói. Como um mágico tirando um coelho de uma cartola, ele fez surgir a esfera de Arquimedes e começou a mexer nos antigos discos de bronze.
— Pare! — gritou Leo. — Essa é uma máquina sensível.
Jason ficou ao lado de Leo e olhou para os anões.
— Quem são vocês dois, afinal de contas?
— Os cêrcopes! — Acmon olhou para Jason com suspeita. — E aposto que você é um filho de Júpiter, não é mesmo? Eu sempre acerto.
— Igual ao Nádegas Negras — concordou Passalos.
— Nádegas Negras?
Leo resistiu ao impulso de tentar agarrar os pés dos anões de novo. Ele tinha certeza de que Passalos quebraria a esfera de Arquimedes a qualquer momento.
— É, sabe? — disse Acmon, sorrindo. — Hércules. Nós o chamávamos de Nádegas Negras porque ele costumava sair por aí pelado. Ele ficou com a bunda tão bronzeada que...
— Pelo menos tinha senso de humor! — disse Passalos. — Ele ia nos matar quando o roubamos, mas nos deixou ir porque gostou de nossas piadas. Não era como vocês dois. Ranzinzas, ranzinzas!
— Ei, eu tenho senso de humor — rosnou Leo. — Devolva as nossas coisas e vou contar uma piada de morrer de rir.
— Boa tentativa! — Acmon tirou uma chave catraca do cinto de ferramentas e girou-a como se fosse uma matraca. — Ah, muito legal! Vou ficar com isso, com certeza! Obrigado, Nádegas Azuis!
Nádegas Azuis?
Leo olhou para baixo. Suas calças haviam escorregado até os tornozelos outra vez, revelando sua cueca azul.
— Chega! — gritou. — Devolvam. Minhas coisas. Agora. Ou vocês vão ver como anões em chamas são engraçados.
Suas mãos se incendiaram.
— Ah, agora sim — aprovou Jason, apontando a espada para o céu.
Nuvens negras começaram a se juntar sobre a praça. Ouviu-se um trovão.
— Ai, que meda! — ironizou Acmon.
— Sim — concordou Passalos. — Se ao menos tivéssemos um local secreto para nos escondermos.
— Infelizmente, esta estátua não é a porta de um esconderijo secreto — disse Acmon. — Tem uma finalidade diferente.
Leo sentiu um frio no estômago. O fogo de suas mãos se apagou e ele percebeu que algo estava muito errado.
— Uma armadilha — gritou, pulando para fora da fonte.
Infelizmente, Jason estava muito ocupado convocando a sua tempestade.
Leo, caído no chão, virou-se a tempo de ver cinco cordas douradas saírem dos dedos da estátua de Netuno. Uma quase prendeu os seus pés. As outras cordas foram lançadas na direção de Jason, laçando-o como se fosse um bezerro em um rodeio e deixando-o de cabeça para baixo.
Um relâmpago atingiu o tridente de Netuno, enviando ondas de eletricidade por toda a estátua, mas os cêrcopes já tinham desaparecido.
— Bravo! — Acmon aplaudia de uma mesa de um café próximo. — Você dá uma bela pinhata, filho de Júpiter!
— Dá mesmo! — concordou Passalos. — Hércules já nos pendurou de cabeça para baixo, sabia? Ah, como a vingança é doce!
Leo conjurou uma bola de fogo. Ele a arremessou mirando em Passalos, que tentava fazer malabarismos com dois pombos e a esfera de Arquimedes.
— Opa! — O anão esquivou-se da explosão, derrubando a esfera e deixando os pombos voarem.
— Hora de ir embora! — decidiu Acmon.
Ele baixou a ponta do chapéu-coco e saltou de mesa em mesa. Passalos olhou para a esfera de Arquimedes, que rolara até parar entre os pés de Leo.
Leo conjurou outra bola de fogo.
— Pode vir — rosnou.
— Tchau!
Passalos deu um mortal de costas e seguiu o irmão.
Leo pegou a esfera de Arquimedes e correu até Jason, que ainda estava pendurado de cabeça para baixo, completamente amarrado, com exceção do braço da espada. Tentava cortar as cordas com a lâmina de ouro, mas não estava se saindo muito bem.
— Espere — disse Leo. — Se eu encontrar um interruptor para soltar você...
— Vá! — rosnou Jason. — Eu o encontro quando sair dessa.
— Mas...
— Vá atrás deles!
A última coisa que Leo queria era ficar a sós com os anões macacos, mas os cêrcopes já estavam dobrando a esquina no outro extremo da praça. Leo deixou Jason pendurado e correu atrás deles.

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