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A Casa de Hades - CAP. VI

.. quinta-feira, 6 de março de 2014
Capítulo VI - Annabeth
O IMPACTO NÃO A MATOU, mas o frio quase conseguiu.
A água congelante expulsou o ar de seus pulmões. Seus membros ficaram rígidos e ela soltou Percy e começou a afundar. Gemidos estranhos enchiam seus ouvidos, milhões de vozes infelizes, como se o rio fosse feito de tristeza destilada. As vozes eram piores que o frio. Elas a faziam afundar e deixavam seu corpo dormente.
Por que lutar?, perguntaram a ela. Você já está morta mesmo. Nunca vai sair deste lugar.
Ela podia submergir até o fundo e se afogar, deixar que o rio levasse seu corpo. Seria mais fácil. Podia simplesmente fechar os olhos...
Percy agarrou sua mão e a puxou de volta para a realidade. Ela não conseguia vê-lo na água escura, mas de repente não queria mais morrer. Juntos, nadaram e chegaram à superfície.
Annabeth encheu os pulmões, agradecida pelo ar, por mais sulfuroso que fosse. A água girava em volta deles, e ela se deu conta de que Percy estava criando um rodamoinho para fazê-los flutuar.
Apesar de não conseguir ver o que havia ao redor, sabia que aquilo era um rio. E rios tinham margens.
— Terra — disse com voz rouca. — Vá para o lado.
Percy parecia morto de exaustão. Normalmente a água o revigorava, mas não aquela água. Controlá-la devia ter exigido toda a sua energia. O rodamoinho começou a se dissipar.
Annabeth passou um braço pela cintura dele e lutou contra a corrente. O rio estava contra ela: milhares de vozes chorosas murmurando em seus ouvidos, em seus pensamentos.
Vida é desespero, diziam elas. Nada faz sentido, e depois você morre.
— Sem sentido — murmurou Percy.
Seus dentes batiam de frio. Ele parou de nadar e começou a afundar.
— Percy! — gritou ela. — O rio está mexendo com a sua cabeça. É o Cócito, o Rio das Lamentações. Ele é feito de infelicidade!
— Infelicidade — concordou ele.
— Resista!
Ela movia as pernas e fazia um enorme esforço para manter os dois na superfície. Outra piada cósmica para a diversão de Gaia: Annabeth morre tentando impedir que o namorado, o filho de Poseidon, se afogue.
Não vai acontecer, sua bruxa, pensou Annabeth.
Abraçou Percy com mais força e o beijou.
— Conte-me sobre Nova Roma — pediu. — Quais eram seus planos para nós?
— Nova Roma... para nós...
— É, Cabeça de Alga. Você disse que poderíamos ter um futuro, lá! Me fale sobre isso!
Annabeth nunca tivera vontade de deixar o Acampamento Meio-Sangue. Era o único lar de verdade que conhecera. Mas alguns dias antes, no Argo II, Percy dissera que imaginava um futuro para os dois entre os semideuses romanos. Na cidade de Nova Roma, veteranos da legião podiam se estabelecer com segurança, fazer faculdade, se casar e até ter filhos.
— Arquitetura — murmurou Percy. Seus olhos começaram a entrar em foco. — Achei que você ia gostar das casas, dos parques. Tem uma rua cheia de chafarizes bem legais.
Annabeth já conseguia vencer a correnteza. Seus membros pareciam sacos de areia molhada, mas Percy agora a estava ajudando. A linha escura da margem estava a alguns metros de distância.
— Faculdade — disse ela, ofegante. — Será que poderíamos estudar juntos?
— É... É — concordou ele, com um pouco mais de segurança.
— O que você estudaria, Percy?
— Não sei — admitiu ele.
— Biologia marinha? — sugeriu ela. — Oceanografia?
— Surfe? — perguntou ele.
Ela riu. O som produziu uma onda pela água, e o impacto fez os lamentos se reduzirem a um ruído de fundo. Annabeth se perguntou se alguém já havia rido antes no Tártaro, apenas uma risada pura e simples de prazer. Ela duvidava.
Usou o que restava de suas forças para alcançar a beira do rio. Seus pés afundaram no leito arenoso, e ela e Percy saíram da água com dificuldade. Os dois tremiam, ofegavam e desmoronaram sobre a areia escura.
Annabeth queria se encolher junto de Percy e dormir. Queria fechar os olhos, na esperança de que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo, e acordar no Argo II, em segurança e junto de seus amigos (bem... tão em segurança quanto pode estar um semideus).
Mas, não. Eles estavam mesmo no Tártaro. Aos seus pés, o Rio Cócito passava rugindo, uma torrente de tristeza e infelicidade líquidas. O ar sulfuroso fazia os pulmões e a pele de Annabeth arderem. Quando olhou para os braços, viu que já estavam cobertos com feias manchas vermelhas. Ela tentou se sentar, mas ofegou de dor.
A praia não era de areia. Estavam sentados em um campo de cacos de vidro afiados, alguns dos quais agora estavam nas mãos de Annabeth.
Então o ar era ácido. A água era infelicidade. O chão era vidro quebrado. Tudo ali era feito para machucar e matar. Annabeth respirou fundo com dificuldade e se perguntou se as vozes no Cócito estavam certas. Talvez lutar pela vida não fizesse sentido. Eles estariam mortos em menos de uma hora.
Percy tossiu ao seu lado.
— O cheiro deste lugar é igualzinho ao do meu ex-padrasto.
Annabeth conseguiu dar um leve sorriso. Não conhecia Gabe Cheiroso, mas já ouvira várias histórias sobre ele. Amava Percy por tentar melhorar seu ânimo.
Se tivesse caído no Tártaro sozinha, pensou Annabeth, estaria condenada. Depois de tudo pelo que passara no subterrâneo de Roma e de ter encontrado a Atena Partenos, aquilo era simplesmente demais. Ela teria se encolhido e chorado até se transformar em outro fantasma e se dissolver no Cócito.
Mas não estava sozinha. Tinha Percy. E aquilo significava que não podia desistir.
Ela se concentrou para avaliar a situação. Seu pé continuava envolto na tala improvisada com madeira e plástico bolha, ainda emaranhado em teias de aranha. Mas quando o moveu, não sentiu dor. A ambrosia que comera nos túneis sob Roma devia finalmente ter curado a sua fratura.
Sua mochila tinha desaparecido, perdida durante a queda, ou talvez levada pelo rio. Odiou ter perdido o laptop de Dédalo, com todos os seus programas e informações fantásticos, mas tinha problemas piores: sua faca de bronze celestial tinha sumido, a arma que carregava desde os sete anos.
Quando percebeu essa perda, quase desmoronou, mas não podia se permitir pensar muito nisso. Mais tarde teria tempo para chorar. O que mais eles tinham?
Sem comida, sem água... basicamente sem suprimentos.
É. Um começo bastante promissor.
Annabeth olhou para Percy, que estava com uma aparência péssima. Seus cabelos negros estavam grudados na testa, e a camiseta, toda esfarrapada. Seus dedos haviam ficado em carne viva por terem se agarrado à beira do precipício antes de caírem. O mais preocupante de tudo: ele não parava de tremer, e seus lábios estavam azuis.
— Precisamos ficar em movimento ou vamos ter hipotermia — disse Annabeth. — Você consegue se levantar?
Ele assentiu com a cabeça. Os dois fizeram um grande esforço para ficar de pé.
Annabeth o abraçou pela cintura, mas não tinha certeza de quem estava dando apoio a quem. Ela examinou os arredores. Acima, não viu sinal do túnel pelo qual haviam caído. Não conseguia enxergar nem o teto da caverna, apenas nuvens cor de sangue flutuando no ar cinza e enevoado. Era como olhar através de uma mistura de cimento com sopa de tomate.
A praia de cacos de vidro se estendia por uns cinquenta metros, até a beira de um precipício. De onde estava, Annabeth não conseguia ver o que havia abaixo, mas a borda tremeluzia com luz vermelha como se estivesse iluminada por grandes fogueiras.
Uma lembrança distante a incomodou, algo sobre o Tártaro e fogo. Antes que pudesse pensar melhor, Percy arquejou.
— Veja! — Ele apontou rio abaixo.
A uns trinta metros de distância, um carro italiano azul-bebê familiar tinha batido de frente na areia. Parecia exatamente o Fiat que caíra sobre Aracne e a arremessara no abismo.
Annabeth esperava estar errada, mas quantos carros esportivos italianos poderia haver no Tártaro? Parte dela não queria chegar nem perto do veículo, mas ela precisava descobrir. Agarrou a mão de Percy com força, e os dois foram cambaleantes na direção do carro destruído.
Um dos pneus tinha se soltado e estava flutuando sobre um rodamoinho em um remanso do Cócito. As janelas do Fiat tinham se espatifado, e uma camada de vidro mais claro cobria a praia escura como se fosse neve. Sob o capô amassado havia os restos reluzentes de um gigantesco casulo de seda, a armadilha que Annabeth fizera Aracne tecer. Não havia dúvida de que estava vazia. Riscos na areia formavam uma trilha que levava rio abaixo... como se algo pesado e com várias pernas tivesse corrido para se esconder na escuridão.
— Ela está viva. — Annabeth estava tão horrorizada, tão revoltada com toda aquela injustiça, que teve ânsias de vômito.
— É o Tártaro — disse Percy. — Lar e corte dos monstros. Talvez aqui embaixo eles não possam ser mortos.
Olhou envergonhado para Annabeth, como se percebesse que não estava ajudando o moral da equipe.
— Ou talvez esteja gravemente ferida e tenha rastejado para morrer em algum lugar.
— Vamos torcer para que seja isso — concordou Annabeth.
Percy ainda tremia. Annabeth também não estava se sentindo mais aquecida, apesar do ar quente e úmido. Os cortes de vidro em suas mãos ainda sangravam, o que era estranho. Ela costumava se curar rapidamente. Sua respiração foi ficando entrecortada.
— Este lugar está nos matando — disse ela. — Quer dizer, ele vai literalmente nos matar, a menos que...
Tártaro. Fogo . A lembrança distante surgiu em sua mente. Ela olhou para a terra adiante, para o penhasco iluminado por chamas.
Era uma ideia absolutamente louca. Mas podia ser sua única chance.
— A menos que o quê? — perguntou Percy. — Você tem um plano brilhante, não tem?
— É um plano — murmurou Annabeth. — Não sei se brilhante. Temos que encontrar o Rio de Fogo.

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