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A Casa de Hades - CAP. LXXIII

.. sábado, 15 de março de 2014
Capítulo LXXIII - Hazel

HAZEL NÃO ESTAVA ORGULHOSA DE ter chorado.
Após o túnel desabar, chorou e gritou como uma criança de dois anos fazendo birra. Não podia mover os escombros que separavam a ela e a Leo dos outros. Se a terra se movesse mais um pouco, tudo poderia desabar sobre as suas cabeças. Ainda assim, socou as pedras e gritou palavrões que teriam lhe valido uma lavagem da boca com sabão de lixívia na Academia St. Agnes.
Leo olhou para Hazel, com os olhos arregalados e sem palavras.
Não estava sendo justa com ele.
A última vez que estiveram sozinhos, partilharam um flashback e o apresentara a Sammy, seu bisavô e o primeiro namorado de Hazel. Ela o sobrecarregara com uma bagagem emocional da qual Leo não precisava, e deixara-o tão confuso que quase foi morto por um monstruoso camarão gigante.
Agora, ali estavam os dois, sozinhos novamente, enquanto seus amigos podiam estar morrendo nas mãos de um exército de monstros, e ela estava dando um chilique.
— Sinto muito.
Ela limpou o rosto.
— Ei, sabe... — Leo deu de ombros. — Já ataquei algumas pedras também.
Ela engoliu com dificuldade.
— Frank está... ele...
— Ouça — disse Leo — Frank Zhang tem habilidades. Provavelmente vai se transformar em um canguru e dar alguns golpes de jiu-jitsu marsupial naquelas carrancas horrorosas.
Ele a ajudou a se levantar. Apesar do pânico fervendo dentro dela, Hazel sabia que Leo estava certo. Frank e os outros não estavam desamparados. Descobririam um jeito de sobreviver. O melhor que ela e Leo podiam fazer era seguir em frente.
Ela olhou para Leo. Seu cabelo crescera e estava mais bagunçado, o rosto mais magro, de modo que ele se parecia menos com um diabinho e mais com um desses elfos de contos de fadas. A maior diferença estava nos olhos. Estavam constantemente à deriva, como se Leo estivesse procurando por algo.
— Leo, sinto muito.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Ok. Mas por quê?
— Por... — Ela gesticulou ao redor, impotente. — Tudo. Por pensar que você era Sammy, por iludi-lo. Quer dizer, não pretendia, mas se eu fiz isso...
— Ei.
Leo apertou-lhe a mão, mas Hazel nada percebeu de romântico no gesto.
— As máquinas foram feitas para funcionar.
— O quê?
— Acredito que o universo é basicamente como uma máquina. Não sei quem fez isso, se foram as Parcas, os deuses, ou o Deus com D maiúsculo, ou qualquer outro ente. Mas funciona como deve a maior parte do tempo. Claro, algumas peças quebram e as coisas dão errado de vez em quando, mas, na maioria das vezes... tudo acontece por um motivo. Tipo nos encontrarmos.
— Leo Valdez, você é um filósofo — maravilhou-se Hazel.
— Não. Sou apenas um mecânico. Mas acho que meu bisabuelo, Sammy, manjava das coisas. Ele a deixou ir, Hazel. Meu trabalho é lhe dizer que está tudo bem. Você e Frank... vocês combinam. Todos superaremos isso. Espero que tenham a chance de serem felizes. Além disso, Zhang não consegue amarrar os sapatos sem a sua ajuda.
— Isso é cruel — repreendeu Hazel, mas sentiu como se algo estivesse se desatando dentro dela, um nó de tensão que vinha carregando havia semanas.
Leo realmente mudara. Hazel estava começando a pensar que encontrara um bom amigo.
— O que aconteceu com você enquanto esteve sozinho? — perguntou ela. — Quem conheceu?
Os olhos de Leo estremeceram.
— É uma longa história. Eu vou contá-la um dia, mas ainda estou esperando para ver onde isso vai dar.
— O universo é uma máquina. Por isso vai dar tudo certo — disse Hazel.
— Tomara.
— Desde que não seja uma de suas máquinas — acrescentou Hazel — porque elas nunca fazem o que devem.
— Muito engraçadinha. — Leo invocou fogo em sua mão. — Agora, qual o caminho, Miss Mundo Inferior?
Hazel examinou o caminho à sua frente. A uns dez metros dali, o túnel se dividia em quatro artérias menores, todas idênticas, mas a da esquerda irradiava frio.
— Por ali — concluiu — parece ser o mais perigoso.
— Estou nessa — disse Leo.
Eles começaram a descer.

* * *

Assim que chegaram ao primeiro arco, Gale, a doninha, os encontrou.
Gale correu até Hazel e enroscou-se em volta de seu pescoço, guinchando, zangada, como se dissesse: Onde você esteve? Você está atrasada.
— Essa doninha flatulenta outra vez — reclamou Leo — se essa coisa soltar um pum assim tão perto do meu fogo, vamos explodir.
Gale chiou um palavrão de doninha para Leo.
Hazel mandou os dois se calarem. Podia sentir que o túnel à frente inclinava-se levemente para baixo por cerca de uns cem metros e, em seguida, abria-se em uma grande câmara. Nela havia uma presença... fria, pesada, poderosa. Hazel não sentia nada parecido desde a caverna no Alasca, onde Gaia a obrigara a ressuscitar Alcioneu, o gigante. Hazel frustrara os planos da deusa na ocasião, mas precisou fazer a caverna desabar, sacrificando a sua vida e a de sua mãe. Ela não estava ansiosa para passar por uma experiência semelhante.
— Leo, prepare-se — sussurrou ela — estamos perto.
— Perto de quê?
Uma voz feminina ecoou pelo corredor:
— Perto de mim.
Uma onda de náusea atingiu Hazel com tanta força que seus joelhos dobraram. O mundo inteiro rodou. Seu senso de direção, geralmente impecável no subterrâneo, ficou completamente confuso.
Ela e Leo pareciam não terem se movido, mas subitamente se viram cem metros mais abaixo no corredor, na entrada da câmara.
— Bem-vindos — disse a voz feminina — aguardei ansiosamente por isso.
Os olhos de Hazel esquadrinharam a caverna. Não conseguia ver quem estava falando. O lugar lembrava o Panteão de Roma, só que era decorado no estilo Hades Moderno. As paredes de obsidiana eram entalhadas com cenas de morte: vítimas da peste, cadáveres no campo de batalha, câmaras de tortura com esqueletos pendurados em gaiolas de ferro, tudo adornado com pedras preciosas que de algum modo tornavam as cenas ainda mais medonhas.
Como no Panteão, o teto abobadado era composto por um padrão de painéis quadrados rebaixados, mas ali cada painel era uma estela, uma lápide com inscrições em grego antigo. Hazel se perguntou se de fato havia cadáveres por trás delas. Com seus sentidos subterrâneos fora de sintonia, não era possível ter certeza.
Hazel não viu outras saídas. No cume do teto, onde ficaria a claraboia do Panteão, brilhava um círculo de pedra negra, como se para reforçar a ideia de que não havia nenhum jeito de escapar daquele lugar: nenhum céu lá em cima, apenas a escuridão.
Os olhos de Hazel voltaram-se para o centro da câmara.
— Sim — murmurou Leo — são portas, com certeza.
A uns quinze metros dali, havia um conjunto de portas de elevador isoladas, com painéis entalhados em prata e ferro. Havia fileiras de correntes em ambos os lados, fixando a moldura a grandes ganchos no chão.
A área ao redor das portas estava repleta de entulho negro. Com uma sensação de raiva crescente, Hazel percebeu que ali havia um antigo altar para Hades, que fora destruído para abrir espaço para as Portas da Morte.
— Onde você está? — gritou Hazel.
— Não nos vê? — provocou a voz feminina. — Pensei que Hécate a escolhera por suas habilidades.
Outro surto de mal-estar tomou conta do intestino de Hazel. Em seu ombro, Gale rosnou e soltou gases, o que não ajudou.
Manchas escuras flutuaram diante dos olhos de Hazel. Piscou para afastá-las, mas só ficaram mais escuras. As manchas se consolidaram em uma figura sombria de seis metros de altura que pairava junto às Portas.
O gigante Clítio estava envolto em fumaça negra, assim como aparecera em sua visão na encruzilhada, mas agora Hazel podia distinguir vagamente a sua forma: pernas de dragão com escamas cinzentas, um enorme tronco humanoide envolto por uma armadura de ferro estígio, cabelo comprido e trançado que parecia ser feito de fumaça. Sua pele era tão escura quanto a da Morte (Hazel devia saber, já que conhecera a Morte pessoalmente). Seus olhos brilhavam, frios como diamantes. Não portava nenhuma arma, mas isso não o tornava menos aterrorizante.
Leo assobiou.
— Sabe, Clítio... para um cara tão grande, até que você tem uma bela voz.
— Idiota — sibilou a mulher.
A meio caminho entre Hazel e o gigante, o ar tremulou. A feiticeira apareceu.
Trajava um elegante vestido sem mangas tecido com fios de ouro e tinha o cabelo escuro preso em um coque rodeado de diamantes e esmeraldas. Em torno de seu pescoço, usava um pingente em forma de labirinto em miniatura, preso à ponta de uma corrente cravejada de rubis que fizeram Hazel pensar em gotas de sangue cristalizadas.
A mulher era bela de um jeito atemporal, régia – como uma estátua que você pode até admirar, mas jamais poderia amar. Seus olhos brilhavam com malícia.
— Pasifae — disse Hazel.
A mulher inclinou a cabeça.
— Minha querida Hazel Levesque.
Leo tossiu.
— Vocês se conhecem? Como parceiras de Mundo Inferior, ou...
— Silêncio, idiota — a voz de Pasifae era tranquila, mas repleta de veneno — não tenho tempo para meninos semideuses, sempre tão cheios de si, tão atrevidos e destrutivos.
— Ei, moça — protestou Leo — não destruo as coisas. Sou um filho de Hefesto.
— Um faz-tudo — retrucou Pasifae — pior ainda. Conheci Dédalo. Suas invenções só me trouxeram problemas.
Leo piscou.
— Dédalo... tipo, o Dédalo? Bem, então deve saber tudo sobre a gente, os faz-tudo. Gostamos mais de consertar, construir e, ocasionalmente, enfiar chumaços de oleado na boca de senhoras rudes...
— Leo.
Hazel estendeu o braço sobre o peito dele. Ela tinha a sensação de que a feiticeira estava a ponto de transformá-lo em algo desagradável caso Leo não calasse a boca.
— Deixe-me resolver isso, certo?
— Ouça a sua amiga — disse Pasifae — seja um bom menino e deixe as mulheres conversarem.
Pasifae caminhou lentamente diante deles, examinando Hazel com os olhos tão cheios de ódio que fizeram a sua pele formigar. O poder irradiava da feiticeira como o calor de uma fornalha. Sua expressão era perturbadora e vagamente familiar...
De algum modo, porém, o gigante Clítio irritava mais Hazel.
Ele ficou em segundo plano, silencioso e imóvel, exceto pela fumaça escura que emanava de seu corpo, acumulando em torno de seus pés. Ele era a presença mais fria que ela já sentira, como um grande depósito de obsidiana, tão pesado que Hazel não poderia movê-lo, poderoso, indestrutível e completamente desprovido de emoção.
— Seu... seu amigo não fala muito — observou.
Pasifae olhou para o gigante e fungou com desdém.
— Reze para que ele fique em silêncio, minha querida. Gaia me deu o prazer de lidar com você, mas Clítio é o meu, hum, seguro. Apenas entre nós, como feiticeiras irmãs, creio que ele também está aqui para manter os meus poderes sob controle, no caso de esquecer as ordens de minha nova senhora. Gaia é muito cuidadosa.
Hazel estava tentada a retrucar, dizendo que não era uma feiticeira. Não queria saber como Pasifae planejava “lidar” com eles, ou como o gigante mantinha a sua magia sob controle. Mas endireitou as costas e tentou parecer confiante.
— Seja lá o que esteja planejando, não vai funcionar — disse Hazel — matamos cada monstro que Gaia pôs diante de nós. Se vocês forem espertos, sairão do nosso caminho.
Gale, a doninha, rangeu os dentes em sinal de aprovação, mas Pasifae não pareceu impressionada.
— Você não me parece ter muito valor — ponderou a feiticeira — mas, afinal, semideuses nunca parecem. Meu marido, Minos, o rei de Creta? Era filho de Zeus. Apenas olhando para ele, jamais desconfiaria. Ele era quase tão magrelo quanto aquele ali.
Ela apontou para Leo.
— Uau — murmurou Leo — Minos deve ter feito algo realmente horrível para merecer você.
As narinas de Pasifae se inflaram.
— Ah... você não faz ideia. Ele era orgulhoso demais para fazer os sacrifícios adequados a Poseidon, de modo que os deuses puniram a mim por sua arrogância.
— O Minotauro — lembrou-se Hazel subitamente.
A história era tão revoltante e grotesca que Hazel sempre tampava os ouvidos quando a contavam no Acampamento Júpiter. Pasifae fora condenada a se apaixonar pelo touro premiado do marido. Dera à luz o Minotauro, metade homem, metade touro.
Agora, enquanto Pasifae a fuzilava com os olhos, Hazel percebeu por que sua expressão era tão familiar.
A feiticeira tinha no olhar a mesma amargura e ódio que a mãe de Hazel exibia de vez em quando. Em seus piores momentos, Marie Levesque olhava para a filha como se fosse uma criança monstruosa, uma maldição dos deuses, a fonte de todos os seus problemas. É por isso que a história do Minotauro incomodava Hazel. Não apenas a imagem repulsiva de Pasifae e do touro, mas a ideia de que uma criança, qualquer criança, pudesse ser considerada um castigo para seus pais, um monstro a ser trancado e odiado. Para Hazel, o Minotauro sempre fora a vítima da história.
— Sim — disse Pasifae afinal — minha desgraça era insuportável. Depois que meu filho nasceu e foi trancado no labirinto, Minos se recusou a ter qualquer coisa comigo. Disse que tinha arruinado a sua reputação! E você sabe o que aconteceu com Minos, Hazel Levesque? Por seus crimes, por seu orgulho? Foi recompensado. Tornou-se um juiz dos mortos no Mundo Inferior, como se tivesse o direito de julgar os outros! Hades deu-lhe essa posição. Seu pai.
— Plutão, na verdade.
Pasifae zombou.
— Irrelevante. Então como percebe, odeio semideuses, tanto quanto odeio os deuses. Gaia me prometeu que, se qualquer um dos seus irmãos sobreviverem à guerra, poderei vê-los morrer lentamente em meu novo domínio. Só gostaria de ter mais tempo para torturar vocês corretamente. Que pena...
No centro da câmara, as Portas da Morte emitiram um agradável som de sino. O botão verde de SUBIR no lado direito da moldura começou a brilhar. As correntes estremeceram.
— Ali, estão vendo? — Pasifae deu de ombros, se desculpando. — As portas estão funcionando. Mais doze minutos, e elas se abrirão.
O estômago de Hazel estremeceu quase tanto quanto as correntes.
— Mais gigantes?
— Felizmente, não — disse a feiticeira — estão todos mobilizados no mundo mortal, prontos para o ataque final — Pasifae lançou-lhe um sorriso frio — não, imagino que as Portas estejam sendo utilizadas por outra pessoa... alguém não autorizado.
Leo deu um passo à frente. Fumaça emanava de seus punhos.
— Percy e Annabeth.
Hazel não conseguia falar. Não tinha certeza se o nó na garganta era de alegria ou frustração. Se os amigos tivessem conseguido chegar às Portas, se realmente apareceriam ali em doze minutos...
— Ah, não se preocupe — Pasifae fez um gesto de desdém — Clítio cuidará deles. Quando ouvirem a campainha outra vez, alguém do nosso lado precisará apertar o botão de SUBIR ou as Portas não se abrirão, e quem estiver lá dentro... puf. Já era. Ou talvez Clítio os deixe sair para lidar com eles pessoalmente. Isso depende de vocês.
Hazel sentiu um gosto metálico na boca. Ela não queria perguntar, mas tinha de fazê-lo.
— Como exatamente isso depende de nós?
— Bem, obviamente, precisamos de apenas um grupo de semideuses vivos — disse Pasifae — os dois sortudos serão levados para Atenas e sacrificados para Gaia no Banquete da Esperança.
— Obviamente — murmurou Leo.
— Então? Serão vocês dois, ou seus amigos no elevador? — A feiticeira estendeu as mãos. — Veremos quem ainda estará vivo em doze... na verdade, onze minutos agora.
A caverna se dissolveu em escuridão.

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