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A Casa de Hades - CAP. LXI

.. sábado, 15 de março de 2014
Capítulo LXI - Percy

PERCY AINDA NÃO TINHA MORRIDO, mas já estava cansado de ser um cadáver.
Enquanto seguiam penosamente para o coração do Tártaro, o garoto não parava de olhar para o próprio corpo, perguntando-se como aquele podia ser ele. Os braços eram como duas varetas envoltas em couro descolorido. Suas pernas esqueléticas se dissolviam em fumaça a cada passo. Tinha aprendido, mais ou menos, a se mover dentro da Névoa da Morte, mas a mortalha mágica ainda parecia uma camada de gás hélio.
Estava preocupado que a Névoa da Morte ficasse presa a ele para sempre, mesmo que de algum modo conseguissem sobreviver ao Tártaro. Não queria passar o resto da vida parecendo um figurante de The Walking Dead.
Percy tentou se concentrar em outra coisa, mas não havia nenhuma boa opção. Sob seus pés, o chão reluzia em um roxo nojento, com veias pulsando. À luz mortiça das nuvens de sangue e envolta na Névoa da Morte, Annabeth parecia um zumbi recém-saído da tumba.
A vista mais deprimente do mundo estava bem diante deles.
Um exército de monstros se estendia até o horizonte: bandos de arai aladas, tribos de ciclopes, espíritos malignos esvoaçantes. Milhares de vilões, talvez dezenas de milhares, todos aguardando irrequietos e espremidos uns contra os outros. A visão lembrava o corredor principal superlotado de uma escola no intervalo entre duas aulas, mas neste caso os estudantes eram mutantes muito fedidos que exageraram nos esteroides.
Bob os conduziu na direção do exército. Não tentou se esconder. Não que isso fosse adiantar. Como uma figura prateada de três metros de altura, Bob não era bom em passar despercebido.
A uns trinta metros dos monstros mais próximos, Bob se virou para Percy.
— Fiquem quietos e atrás de mim. Eles não vão notar vocês.
— Tomara — murmurou Percy.
No ombro do titã, Bob Pequeno acordou de seu cochilo, ronronou um pouco, quase provocando um terremoto, e arqueou as costas, tornando-se esquelético por um segundo e voltando ao normal logo em seguida. Pelo menos ele não parecia nervoso.
Annabeth examinou as próprias mãos de zumbi.
— Bob, se estamos invisíveis... como você consegue nos ver? Quer dizer, tecnicamente você é, você sabe...
— Sei. Mas nós somos amigos.
— Nix e seus filhos podiam nos ver — lembrou Annabeth.
Bob deu de ombros.
— Aquilo foi nos domínios de Nix. É bem diferente.
— Hã... está bem.
Annabeth não pareceu muito convencida, mas já tinham chegado. Não havia escolha.
Percy olhou fixamente para o enxame de monstros malignos.
— Bem, pelo menos não vamos ter que nos preocupar em esbarrar com nenhum outro amigo nesta multidão.
Bob sorriu.
— É! Isso é uma boa notícia! Agora, vamos. A Morte está perto.
— As Portas da Morte estão perto — corrigiu Annabeth — cuidado com o que diz.
Enfiaram-se na multidão. Percy tremia tanto que teve medo de acabar tirando a Névoa da Morte de cima de si. Não era a primeira vez que via um grande grupo de monstros. Já havia lutado contra um exército deles durante a Batalha de Manhattan. Mas aquilo era diferente. Sempre que lutara contra monstros no mundo mortal, Percy pelo menos sabia que estava defendendo seu lar. Isso lhe dava coragem, por pior que estivesse a situação. Ali, Percy era o invasor. Estava tão deslocado no meio daquela multidão de monstros quanto o Minotauro estaria na estação central de Nova York na hora do rush.
A poucos metros, um grupo de empousai devorava a carcaça de um grifo enquanto os companheiros do animal morto voavam ao redor, grasnando furiosos. Um nascido da terra de seis braços e um ogro lestrigão se atacavam com pedras, mas Percy não soube ao certo se era sério ou se só estavam brincando. Um fio escuro de fumaça, que o garoto imaginou ser um eidolon, possuiu um ciclope e fez com que o monstro batesse na própria cara, em seguida o deixou e partiu em busca de outra vítima.
— Percy, veja — sussurrou Annabeth.
A alguns metros, havia uma figura com roupas de vaqueiro chicoteando cavalos que exalavam fogo. O sujeito usava um chapéu de caubói por cima dos cabelos oleosos, jeans GG e botas de couro pretas. De lado, podia passar por humano, até que se virou, e Percy viu que a parte superior de seu corpo era dividida em três tórax, cada um vestido em uma camisa de faroeste de cor diferente.
Sem sombra de dúvida, aquele era Geríon, que tinha tentado matar Percy dois anos antes no Texas. Aparentemente, o rancheiro maligno queria um novo rebanho. A ideia de esse cara sair cavalgando pelas Portas da Morte fez com que o corpo de Percy voltasse a doer. As costelas latejavam onde as arai o haviam acertado com a maldição que Geríon lançou à beira da morte na floresta. Ele queria ir até o vaqueiro de três troncos, dar um soco na cara dele e berrar: muito obrigado, Tex! Infelizmente, não podia.
Quantos outros velhos inimigos estariam naquela multidão? Percy começou a se dar conta de que cada um de seus triunfos tinha sido apenas uma vitória temporária. Por mais forte ou sortudo que fosse, não importava quantos monstros destruísse, Percy um dia seria derrotado. Era apenas um mortal. Ia ficar velho demais, fraco demais ou lento demais. Ia morrer. E aqueles monstros... eles eram eternos. Sempre voltavam. Talvez demorasse meses ou anos para se reconstituírem, talvez até séculos. Mas iam renascer.
Ao vê-los reunidos no Tártaro, Percy se sentiu tão desamparado quanto as almas no Rio Cócito. E daí que era um herói? E daí que realizara feitos corajosos? O mal sempre estava presente, regenerando-se, fervilhando sob a superfície. Percy não passava de um pequeno estorvo para aqueles seres imortais. Eles só precisavam esperar. Um dia, os filhos ou filhas de Percy poderiam ter que enfrentar todos aqueles monstros novamente.
Filhos e filhas.
O pensamento o atingiu em cheio. O desespero se foi tão rápido quanto havia surgido. Olhou para Annabeth. Sua namorada ainda parecia um cadáver enevoado, mas Percy a imaginou com sua verdadeira aparência: os olhos cinza determinados, os cabelos louros presos para trás com uma bandana, o rosto abatido e coberto de fuligem, mas linda como sempre.
Tudo bem, talvez os monstros sempre voltassem. Mas os semideuses faziam o mesmo. O Acampamento Meio-Sangue tinha sobrevivido por muitas gerações. Assim como o Acampamento Júpiter. Mesmo separados, os dois locais tinham sobrevivido. Agora, se gregos e romanos pudessem se unir, ficariam ainda mais fortes.
Ainda havia esperança: ele e Annabeth tinham chegado até ali. As Portas da Morte estavam quase ao seu alcance.
Filhos e filhas. Uma ideia ridícula. Um pensamento maravilhoso. Bem ali no meio do Tártaro, Percy sorriu.
— Qual o problema? — murmurou Annabeth.
Com seu disfarce de zumbi da Névoa da Morte, Percy provavelmente parecia estar fazendo uma careta de dor.
— Nada — disse ele. — Eu estava só...
De algum lugar mais à frente, ouviram uma voz profunda e retumbante:
— JÁPETO!

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