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A Casa de Hades - CAP. LVII

.. sábado, 15 de março de 2014
Capítulo LVII - Jason

JASON NÃO SABIA BEM O que esperar: tempestade ou fogo.
Enquanto aguardava por sua audiência diária com o senhor do Vento Sul, tentou decidir qual das personalidades do deus, a romana ou a grega, era a pior. Mas após cinco dias no palácio, Jason estava certo de apenas uma coisa: era pouco provável que ele e sua tripulação saíssem vivos dali.
Encostou-se no guarda-corpo da varanda. O ar estava tão quente e seco que parecia sugar a umidade de seus pulmões. Durante a última semana, sua pele escurecera e o cabelo ficara branco como palha de milho. Sempre que se olhava no espelho, ele se assustava com seu olhar selvagem e vazio, como se tivesse ficado cego ao vagar a esmo em um deserto.
Trinta metros abaixo, o mar da baía brilhava junto à praia de areia vermelha. Estavam em algum lugar da costa norte da África. E essa foi a única informação que os espíritos do vento deram a ele.
De onde Jason estava, o palácio se estendia para ambos os lados, uma colmeia de salas, túneis, varandas, colunas e quartos cavernosos esculpidos nos penhascos de arenito, tudo projetado para que o vento soprasse através deles e fizesse o maior barulho possível. Os constantes sons de órgão lembraram a Jason o covil flutuante de Éolo, no Colorado, exceto que aqui os ventos pareciam não ter pressa.
O que era parte do problema.
Em seus melhores dias, os venti do sul eram lentos e preguiçosos. Nos piores, eram tempestuosos e raivosos. A princípio deram boas vindas ao Argo II, já que qualquer inimigo de Bóreas era amigo do Vento Sul, mas pareciam ter se esquecido de que os semideuses eram seus hóspedes. Os venti rapidamente perderam o interesse em ajudar a consertar o navio. E o humor de seu rei piorava a cada dia.
No cais, os amigos de Jason trabalhavam no Argo II. A vela principal fora reparada, o cordame, substituído. Naquele momento, eles remendavam os remos. Sem Leo, ninguém sabia como consertar as partes mais complicadas do navio, mesmo com a ajuda de Buford, a mesa, e Festus (que agora estava permanentemente ligado graças ao charme de Piper – e ninguém entendia isso). Mas continuavam tentando.
Hazel e Frank estavam ao leme, mexendo nos controles. Piper transmitia as ordens deles para o treinador Hedge, que estava pendurado na lateral do navio, martelando as mossas nos remos. Hedge era a pessoa certa para martelar coisas.
Não pareciam estar fazendo muito progresso, mas, considerando o que tinham passado, era um milagre que o navio ainda estivesse inteiro.
Jason estremeceu ao se lembrar do ataque de Quione. Ele ficara impotente – congelado não uma, mas duas vezes, enquanto Leo era lançado para o céu e Piper foi obrigada a salvar a todos sozinha.
Graças aos deuses eles tinham Piper. Ela se considerava um fracasso por não ter evitado a explosão da bomba de vento, mas a verdade é que salvara toda a tripulação de virar esculturas de gelo em Quebec. Ela também conseguiu direcionar a explosão da esfera de gelo, de modo que, embora o navio tivesse sido arremessado até o meio do Mediterrâneo, não sofrera grandes danos.
Lá do cais, Hedge gritou:
— Tentem agora!
Hazel e Frank puxaram algumas alavancas. Os remos a bombordo ficaram enlouquecidos, subindo e descendo como se estivesse fazendo uma ola. O treinador Hedge tentou se esquivar, mas um remo o atingiu no traseiro e o lançou para o alto. Ele caiu gritando nas águas da baía.
Jason suspirou. Naquele ritmo, jamais seriam capazes de navegar, mesmo que os venti do sul permitissem. Em algum lugar ao norte, Reyna estava voando para Épiro, supondo-se que ela tivesse encontrado seu bilhete no palácio de Diocleciano. Leo estava perdido e em perigo. Percy e Annabeth... bem, na melhor das hipóteses ainda estavam vivos, tentando chegar às Portas da Morte. Jason não podia deixá-los na mão.
Um farfalhar o fez se virar. Nico di Angelo estava à sombra da coluna mais próxima. Ele tirara a jaqueta. Agora vestia apenas uma camiseta e um jeans preto. Trazia sua espada e o cetro de Diocleciano pendurados no cinto.
Os vários dias sob o sol quente não bronzearam a pele dele. Se muito, parecia ainda mais pálida. O cabelo escuro caía em seus olhos. O rosto ainda estava magro, mas ele definitivamente parecia estar em melhor forma do que quando deixaram a Croácia. Nico recuperara peso suficiente para não parecer desnutrido. Os músculos de seus braços estavam surpreendentemente firmes, como se tivesse passado a semana anterior treinando com a espada.
Jason achava que ele vinha praticando escondido como invocar espíritos com o cetro de Diocleciano para, em seguida, lutar com eles. Após a expedição em Split, nada o surpreenderia.
— Alguma palavra do rei? — perguntou Nico.
Jason balançou a cabeça.
— A cada dia ele me recebe mais tarde.
— Precisamos ir embora — disse Nico — logo.
Jason tinha a mesma sensação, mas ouvir Nico dizendo aquilo o deixou ainda mais tenso.
— Está sentindo alguma coisa?
— Percy está perto das Portas — respondeu — ele precisará de nós para atravessá-las com vida.
Jason percebeu que ele não mencionara Annabeth, mas decidiu não comentar.
— Tudo bem. Mas se não conseguirmos consertar o navio...
— Prometi levá-los à Casa de Hades — disse Nico — de um jeito ou de outro, é o que farei.
— Você não pode viajar nas sombras com todos nós. E precisamos de todos nós para chegar às Portas da Morte.
A esfera no topo do cetro de Diocleciano brilhou na cor roxa. Na última semana, ela parecia estar sintonizada com o humor de Nico di Angelo. Jason não tinha certeza se aquilo era uma coisa boa.
— Então você precisa convencer o rei do Vento Sul a ajudar — a voz de Nico fervia de raiva — eu não vim até aqui e sofri tantas humilhações...
Jason teve que se forçar a não levar a mão à espada. Sempre que Nico ficava com raiva, todos os instintos de Jason berravam: Perigo!
— Veja, Nico, eu estou aqui se você quiser conversar sobre, você sabe, o que aconteceu na Croácia. Entendo como é difícil...
— Você não entende nada.
— Ninguém vai julgá-lo.
A boca de Nico se contorceu em um sorriso de escárnio.
— Sério? Seria uma novidade. Sou o filho de Hades, Jason. Pela forma como as pessoas me tratam, parece que ando por aí coberto de sangue ou água de esgoto. Não pertenço a lugar algum. Nem mesmo sou deste século. Mas parece que isso não é suficiente para me excluir. Preciso ser... ser...
— Cara, não é como se você tivesse escolha! É apenas quem você é.
— Apenas quem eu sou... — a varanda estremeceu. Padrões formaram-se no chão de pedra, como ossos subindo à superfície. — Para você é fácil dizer. O menino de ouro, o filho de Júpiter. A única pessoa que me aceitou foi Bianca, e ela morreu! Não escolhi nada disso. Meu pai, o que sinto...
Jason tentou pensar em algo para dizer. Ele queria ser amigo de Nico. Sabia que era a única maneira de ajudá-lo. Mas Nico não facilitava as coisas.
Ele ergueu as mãos em submissão.
— É, está bem. Mas, Nico, é você quem escolhe como viver a sua vida. Você quer confiar em alguém? Então arrisque acreditar que sou seu amigo de verdade e que vou aceitá-lo. É melhor do que se esconder.
O piso entre os dois rachou. A fenda sibilou. O ar ao redor de Nico tremulou com luz espectral.
— Esconder? — A voz de Nico soava mortalmente calma.
Os dedos de Jason coçavam para sacar a espada. Ele conhecera muitos semideuses assustadores, mas estava começando a perceber que Nico di Angelo – pálido e magro como era – podia ser mais poderoso do que imaginara.
Contudo, não desviou o olhar do de Nico.
— Sim, se esconder. Você fugiu dos dois acampamentos. Está com tanto medo de ser rejeitado que nem mesmo tenta. Talvez seja hora de parar de se esconder nas sombras.
No momento em que a tensão tornou-se insuportável, Nico desviou os olhos. A fissura se fechou no piso da varanda. A luz fantasmagórica desapareceu.
— Honrarei minha promessa — disse Nico, não mais alto do que um sussurro — vou levá-los a Épiro. Ajudarei vocês a fechar as Portas da Morte. E só. Então vou embora... para sempre.
Atrás deles, as portas da sala do trono se abriram com uma rajada de ar escaldante.
Uma voz sem corpo disse: O sr. Austro o receberá agora.
Por mais que temesse aquela audiência, Jason sentiu-se aliviado. Naquele momento, discutir com um deus do vento caduco parecia mais seguro do que fazer amizade com um filho de Hades furioso. Ele virou-se para se despedir de Nico, mas o outro já desaparecera – misturando-se novamente à escuridão.

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