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A Casa de Hades - CAP. LII

.. sábado, 15 de março de 2014
Capítulo LII - Leo

LEO SE ACHAVA UM SUJEITO ocupado. Mas quando Calipso cismava com alguma coisa, transformava-se em uma máquina.
Em um dia, ela reuniu material suficiente para uma viagem de uma semana: comida, garrafas de água e ervas medicinais de seu jardim. Teceu uma vela grande o bastante para um pequeno iate e fez cordas suficientes para todo o cordame.
Fizera tanto que, no segundo dia, perguntou se Leo precisava de alguma ajuda em seu projeto.
Ele ergueu a cabeça da placa de circuitos que lentamente montava.
— Se não a conhecesse, acharia que está ansiosa para se livrar de mim.
— Isso é um bônus — admitiu ela.
Calipso estava vestida para trabalhar, com um jeans e uma camiseta branca encardida. Quando ele perguntou sobre a mudança de guarda-roupa, ela respondeu que percebera quão práticos eram aqueles trajes após fazer alguns para Leo.
Vestindo calça jeans, não parecia muito com uma deusa. Sua camiseta estava coberta de grama e manchas de terra, como se tivesse acabado de passar por uma Gaia rodopiante. Estava descalça e o cabelo cor de caramelo estava amarrado em um rabo de cavalo, o que fazia seus olhos amendoados parecerem ainda maiores e mais surpreendentes. As mãos estavam calejadas, repletas de bolhas pelo trabalho com as cordas.
Olhando para ela, Leo sentiu um inexplicável frio no estômago.
— Então — disse ela.
— Então... o quê?
Calipso apontou para o circuito.
— Posso ajudar? Como está indo?
— Ah, hã, estou indo bem. Eu acho. Se conseguir ligar essa coisa ao barco, devo ser capaz de navegar de volta para o mundo.
— Agora tudo que precisa é de um barco.
Tentou ler a expressão no rosto de Calipso. Leo não tinha certeza se ela estava irritada por ele ainda estar ali, ou triste por não estar indo embora também. Então olhou para todos os suprimentos que ela empilhara, mais do que o suficiente para duas pessoas durante vários dias.
— Aquilo que Gaia disse... — ele hesitou — sobre você sair desta ilha. Gostaria de tentar?
Ela franziu a testa.
— Como?
— Bem, não estou dizendo que seria divertido tê-la ao meu lado, sempre reclamando e me olhando de cara feia e tudo o mais. Mas suponho que posso suportar, se quiser tentar.
Sua expressão ficou um pouco mais amena.
— Como é nobre — murmurou Calipso — mas não, Leo. Se tentasse ir com você, sua pequena chance de fuga se reduziria a nenhuma. Os deuses colocaram magia antiga nesta ilha para me manter presa aqui. Um herói pode sair. Eu não. O mais importante é libertá-lo para que possa deter Gaia. Não que eu me importe com o que aconteça com você — acrescentou ela rapidamente — mas o destino do mundo está em jogo.
— Por que se preocuparia com isso? — perguntou Leo. — Quer dizer, depois de ter ficado afastada do mundo por tanto tempo?
Ela arqueou as sobrancelhas, como se estivesse surpresa ao vê-lo fazer uma pergunta sensata.
— Suponho que é porque não gosto que me digam o que fazer, seja Gaia ou qualquer outra pessoa. Por mais que odeie os deuses às vezes, ao longo dos últimos três milênios percebi que são melhores do que os titãs. Eles definitivamente são melhores que os gigantes. Ao menos os deuses mantêm contato. Hermes sempre foi gentil comigo. E seu pai, Hefesto, vem me visitar frequentemente. Ele é uma boa pessoa.
Leo não tinha certeza do que significava seu tom distante. Ela parecia quase estar ponderando o valor dele, não o de seu pai.
Calipso estendeu a mão e fechou a boca de Leo. Ele não tinha percebido que estava aberta.
— Agora, como posso ajudar? — perguntou.
— Hã...
Ele olhou para o seu projeto, mas, quando falou, deixou escapar uma ideia que vinha se formando desde que Calipso fizera as suas roupas novas.
— Sabe aquele pano à prova de fogo? Acha que poderia me fazer um saquinho daquele tecido?
Ele deu as dimensões. Calipso acenou com a mão, impaciente.
— Isso só levará alguns minutos. Vai ajudar em sua missão?
— É. Pode salvar uma vida. E, hum, poderia pegar um pedaço de cristal de sua caverna? Não preciso de muito.
Ela franziu a testa.
— Esse é um pedido estranho.
— Confie em mim.
— Tudo bem. Considere feito. Farei a bolsa à prova de fogo hoje à noite no tear, após me lavar. Mas o que posso fazer agora, enquanto minhas mãos estão sujas?
Ergueu os dedos sujos e calejados. Leo não pôde deixar de pensar que não havia nada mais excitante do que uma garota que não se importava em sujar as mãos. Mas, claro, aquela era apenas um observação generalizada, não se aplicava a Calipso. Obviamente.
— Bem, você poderia enrolar mais algumas bobinas de bronze. Mas esse é um tipo de trabalho especializado...
Ela se sentou no banco ao seu lado e começou a trabalhar, enrolando os fios de bronze mais rápido do que ele seria capaz de fazer.
— É como tecer — disse ela — não é tão difícil.
— Hum. Bem, se você algum dia sair desta ilha e quiser um emprego, me procure. Não é totalmente desajeitada.
Ela sorriu.
— Um emprego, hein? Fazer coisas na sua forja?
— Não. Poderíamos abrir nossa própria oficina — Leo respondeu, surpreendendo a si mesmo.
Abrir uma oficina mecânica sempre fora um de seus sonhos, mas ele nunca dissera aquilo para ninguém.
— Garagem do Leo e da Calipso: conserto de automóveis e monstros mecânicos.
— Frutas e vegetais frescos — sugeriu Calipso.
— Sidra e ensopado — acrescentou Leo — poderíamos até proporcionar entretenimento. Você poderia cantar e eu poderia, tipo, irromper em chamas de vez em quando.
Calipso riu, um som claro, feliz, que fez o coração de Leo disparar.
— Viu? — disse ele — Sou engraçado.
Ela conseguiu parar de rir.
— Você não é engraçado. Agora, de volta ao trabalho, ou nada de cidra e ensopado.
— Sim, senhora.
E trabalharam em silêncio, lado a lado, o resto da tarde.

* * *

Duas noites depois, o console de orientação estava concluído.
Leo e Calipso estavam sentados na praia, perto do local onde ele destruíra a mesa de jantar, participando de um piquenique noturno. A lua cheia transformava as ondas em prata. A fogueira que fizeram lançava faíscas cor de laranja para o céu. Calipso usava uma camisa branca limpa e uma calça jeans, que aparentemente decidira nunca mais tirar. Atrás deles, nas dunas, os suprimentos estavam cuidadosamente embalados, prontos para a viagem.
— Tudo o que precisamos agora é de um barco — disse Calipso.
Leo assentiu. Sentiu-se tentado a usar a palavra nós. Calipso deixara claro que não iria com ele.
— Amanhã posso começar a cortar a madeira em tábuas — disse Leo. — Em alguns dias, teremos o suficiente para um pequeno casco.
— Você já fez um navio antes — lembrou Calipso — o Argo II.
Leo assentiu. Pensou em todos os meses que passara para criar o Argo II. De algum modo, fazer um barco para sair de Ogígia parecia uma tarefa ainda mais difícil.
— Então, quanto tempo até ir embora? — O tom de Calipso era casual, mas ela não o fitou nos olhos.
— Hã, não tenho certeza. Mais uma semana?
Por algum motivo, dizer aquilo fez Leo se sentir menos agitado. Quando chegara, não via a hora de ir embora. Agora, estava feliz por ter mais alguns dias. Estranho.
Calipso correu os dedos sobre a placa de circuitos terminada.
— Isso demorou muito tempo para ser feito.
— Você não pode apressar a perfeição.
Um sorriso brotou nos cantos dos lábios dela.
— Sim, mas será que vai funcionar?
— Para eu ir embora, claro. Mas, para voltar, precisarei de Festus e...
— O quê?
Leo piscou.
— Festus. Meu dragão de bronze. Assim que descobrir como reconstruí-lo, vou...
— Você me falou sobre Festus — disse Calipso. — Mas o que quer dizer com voltar?
Leo sorriu nervosamente.
— Bem... para voltar aqui, oras! Tenho certeza de que falei sobre isso.
— Você obviamente não falou.
— Não vou deixá-la aqui! Depois do tanto que me ajudou? É claro que voltarei. Assim que reconstruir Festus, ele poderá lidar com um sistema de orientação aperfeiçoado. Há esse astrolábio que eu, hã...
Ele parou de falar, decidindo que era melhor não mencionar que fora construído por uma das antigas paixões de Calipso.
— ...que eu encontrei em Bolonha. Enfim, acho que com esse cristal que você me deu...
— Você não pode voltar — insistiu Calipso.
O coração de Leo quase parou.
— Porque não sou bem-vindo?
— Porque não pode. É impossível. Nenhum homem encontra Ogígia duas vezes. Essa é a regra.
Leo revirou os olhos.
— Sim, bem, você já deve ter notado que não sou muito bom com esse negócio de seguir regras. Voltarei aqui com o meu dragão, e a resgataremos. Nós a levaremos para onde você quiser ir. É mais do que justo.
— Justo... — A voz de Calipso estava quase inaudível.
À luz do fogo, seus olhos pareciam tão tristes que Leo não conseguia encará-los. Será que Calipso achava que ele estava mentindo apenas para fazê-la se sentir melhor? Ele tinha certeza de que voltaria e a libertaria daquela ilha. Como poderia não fazê-lo?
— Como montaria a Oficina mecânica Leo e Calipso sem Calipso? — ele perguntou. — Não sei fazer cidra e ensopado e certamente não sei cantar.
Ela olhou para a areia.
— Bem, de qualquer forma, amanhã começarei com a madeira — acrescentou Leo. — E, em alguns dias...
Ele olhou para a água. Algo oscilava sobre as ondas. Leo assistiu, incrédulo, quando uma grande jangada de madeira foi trazida pela maré e deslizou até parar na praia.

* * *

Ele estava atordoado demais para se mover, mas Calipso se ergueu.
— Depressa!
Ela correu pela praia, pegou alguns sacos de suprimentos e levou-os até a jangada.
— Não sei quanto tempo ficará aqui!
— Mas...
Leo se levantou. Suas pernas pareciam ter se tornado pedra. Acabara de se convencer de que tinha mais uma semana em Ogígia. Agora, não tinha nem tempo para terminar o jantar.
— Essa é a jangada mágica?
— Dã! — gritou Calipso. — Talvez funcione como deve e o leve para onde quer ir. Mas não podemos ter certeza. A magia da ilha obviamente está instável. Você deve levar o seu dispositivo de orientação para navegar.
Ela pegou o console e correu em direção à jangada, o que fez Leo se mover. Ele a ajudou a prendê-lo à jangada e passar os fios até o pequeno leme na popa. A jangada já era equipada com um mastro, de modo que Leo e Calipso arrastaram a vela para bordo e começaram a trabalhar no cordame.
Trabalharam lado a lado em perfeita harmonia. Nem mesmo entre os campistas de Hefesto, Leo trabalhara com alguém tão intuitiva como aquela jardineira imortal. Em pouco tempo, puseram a vela no lugar e todos os suprimentos a bordo. Leo apertou os botões na esfera de Arquimedes, murmurou uma prece ao seu pai, Hefesto, e o console de bronze celestial ganhou vida. O cordame se esticou. A vela se voltou. A jangada começou a se arrastar pela areia, forcejando para alcançar as ondas.
— Vá — disse Calipso.
Leo virou. Ela estava tão perto que ele não conseguia suportar. Calipso cheirava a canela e a lenha queimada, e achou que nunca voltaria a sentir um aroma tão bom.
— A jangada finalmente chegou — disse ele.
Calipso bufou. Seus olhos podiam estar vermelhos, mas era difícil dizer ao luar.
— Você notou?
— Mas se ela só aparece para os caras de quem você gosta...
— Não abuse da sorte, Leo Valdez. Eu ainda o odeio.
— Tudo bem.
— E você não voltará — insistiu Calipso — então não me faça promessas vazias.
— Que tal uma promessa cheia? — disse ele. — Porque eu, definitivamente...
Ela agarrou o rosto de Leo e puxou-o para um beijo, o que efetivamente o calou.
Apesar de todas as suas brincadeiras e flertes, Leo nunca beijara uma garota antes. Bem, já dera beijinhos fraternais no rosto de Piper, mas aquilo não contava. Aquele era um beijo verdadeiro, de língua. Se Leo tivesse engrenagens e fios em seu cérebro, teriam entrado em curto-circuito.
Calipso o afastou.
— Isso não aconteceu.
— Tudo bem.
A voz de Leo soou mais aguda que o habitual.
— Saia daqui.
— Tudo bem.
Ela deu as costas enxugando os olhos furiosamente e saiu correndo pela areia, a brisa despenteando seu cabelo.
Leo desejou chamá-la, mas a vela se inflou e a jangada deixou a praia. Ele se dedicou a alinhar o console de orientação. Quando voltou a olhar para trás, a ilha de Ogígia era uma linha escura ao longe, a fogueira pulsando como um pequeno coração cor de laranja.
Seus lábios ainda formigavam pelo beijo.
Isso não aconteceu, disse para si mesmo. Não posso estar apaixonado por uma menina imortal.
Ela definitivamente não pode estar apaixonada por mim. Não é possível.
Enquanto a jangada deslizava sobre a água, levando-o de volta ao mundo mortal, entendeu melhor um verso da profecia: Um juramento a manter com um alento final.
Entendeu quão perigosos podem ser os juramentos. Mas Leo não se importava.
— Voltarei para você, Calipso — disse ele ao vento da noite. — Juro pelo Rio Estige.

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