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A Casa de Hades - CAP. IX

.. quinta-feira, 6 de março de 2014
Capítulo IX - Leo
LEO PASSOU A NOITE LUTANDO com uma Atena de doze metros de altura.
Desde que trouxeram a estátua a bordo, estava obcecado em descobrir como funcionava. Tinha certeza de que ela possuía poderes especiais. Tinha de haver um interruptor secreto, uma placa de pressão ou algo assim.
Ele deveria estar dormindo, mas simplesmente não conseguia. Passava horas rastejando sobre a estátua deitada, que ocupava a maior parte do convés inferior. Os pés de Atena estavam enfiados na enfermaria, de modo que quem quisesse um analgésico tinha que se espremer por entre seus dedos de marfim. O corpo da estátua ocupava todo o corredor de bombordo, e sua mão estendida chegava até o interior da casa de máquinas, segurando na palma a estátua em tamanho real de Nice, como se dissesse: Aqui, tome um pouco de Vitória! O rosto sereno de Atena ocupava a maior parte dos estábulos dos pégasos, na popa, que felizmente estavam desocupados. Se Leo fosse um cavalo mágico, ele não gostaria de morar em um estábulo com uma deusa da sabedoria gigante olhando para ele.
A estátua tomava todo o corredor, por isso Leo tinha de subir nela e se esgueirar sob os seus membros, procurando alavancas e botões.
Como sempre, não encontrou nada.
Leo andara pesquisando sobre a estátua. Ele sabia que fora feita a partir de uma estrutura de madeira oca coberta de marfim e ouro, o que explicava por que era tão leve. Estava em muito bom estado, considerando-se que tinha mais de dois mil anos de idade, fora roubada de Atenas, levada para Roma e estivera secretamente escondida na caverna de uma aranha por praticamente dois milênios. A magia, combinada com o excelente trabalho artesanal, devia tê-la mantido intacta, supunha Leo.
Annabeth dissera... bem, ele tentou não pensar em Annabeth. Ainda se sentia culpado por ela e Percy terem caído no Tártaro. Leo sabia que a culpa era dele. Deveria ter trazido todos em segurança a bordo do Argo II antes de começar a prender a estátua. Ele deveria ter percebido que o chão da caverna era instável.
Contudo, lamentar-se não traria Percy e Annabeth de volta. Ele precisava se concentrar nos problemas que podia resolver.
De qualquer forma, Annabeth dissera que a estátua era a chave para derrotar Gaia. Ela poderia pôr fim à rixa entre os semideuses gregos e romanos. Leo imaginava que devia haver ali mais do que simples simbolismo. Talvez os olhos de Atena disparassem raios laser, ou a serpente por trás de seu escudo cuspisse veneno. Ou talvez a figura menor da deusa Nice ganhasse vida e executasse alguns golpes ninja.
Leo imaginava todo tipo de coisas divertidas que a estátua poderia fazer caso ele a tivesse projetado, mas quanto mais a examinava, mais frustrado ficava. A Atena Partenos irradiava magia. Até mesmo ele conseguia sentir. Mas aparentemente não fazia outra coisa além de parecer impressionante.
O navio adernou em uma manobra evasiva. Leo resistiu ao impulso de correr até o timão.
Jason, Piper e Frank estavam de plantão com Hazel agora. Eles podiam lidar com fosse lá o que estivesse acontecendo. Além disso, Hazel insistira em assumir o leme para guiá-los pela passagem secreta que a deusa da magia mencionara.
Leo esperava que Hazel estivesse certa a respeito do longo desvio ao norte. Ele não confiava naquela tal de Hécate e não entendia por que uma deusa esquisita que dava arrepios de repente decidira ser prestativa.
Claro, ele não costumava confiar em magia. Por isso estava tendo tantos problemas com a Atena Partenos. A estátua não tinha peças móveis. Seja lá o que fizesse, aparentemente funcionava com pura feitiçaria... e Leo não gostava disso. Ele queria que aquilo fizesse sentido, como uma máquina.
Finalmente, ficou exausto demais para pensar direito. Encolheu-se sob um cobertor na sala de máquinas e ficou ouvindo o reconfortante murmurar dos geradores. Buford, a mesa mecânica, estava em um canto, em modo de espera, emitindo seus roncos vaporosos: shhh, pfft, shh, pfft.
Leo até gostava de seus aposentos, mas se sentia mais seguro ali, no coração do navio, em uma sala repleta de mecanismos que sabia controlar. Além disso, se passasse mais tempo perto da Atena Partenos, talvez acabasse compreendendo os seus segredos.
— Sou eu ou você, Dona — murmurou, puxando o cobertor até o queixo. — Você vai acabar cooperando.
Ele fechou os olhos e dormiu. Infelizmente, isso significava sonhar.

* * *

Tentando salvar a própria vida, ele corria pela antiga oficina de sua mãe, onde ela morrera em um incêndio quando Leo tinha oito anos.
Ele não sabia bem o que o estava perseguindo, mas sentia que se aproximava com rapidez – algo grande, escuro e cheio de ódio. Esbarrou em bancadas, derrubou caixas de ferramentas e tropeçou em cabos elétricos.
Viu a saída e correu naquela direção, mas uma figura surgiu à sua frente: uma mulher trajando uma túnica de terra seca rodopiante, com o rosto coberto por um véu de poeira.
Aonde vai, heroizinho?, perguntou Gaia. Fique e conheça meu filho favorito.
Leo correu para a esquerda, mas o riso da deusa da terra o seguiu.
Na noite em que sua mãe morreu, eu o avisei. Disse que as Parcas não me permitiriam matá-lo naquela ocasião. Mas agora você escolheu o seu caminho. Sua morte está próxima, Leo Valdez.
Ele se chocou contra uma mesa de desenho, o antigo local de trabalho de sua mãe. A parede atrás da mesa era decorada com desenhos feitos por Leo com giz de cera. Ele soluçou em desespero e tentou voltar, mas a coisa que o perseguia estava agora em seu caminho, um ser colossal envolto em sombras de forma vagamente humanoide, com a cabeça quase tocando o teto, seis metros mais acima.
As mãos de Leo se incendiaram. Ele atacou o gigante, mas a escuridão engoliu o fogo. Leo tateou à procura do cinto de ferramentas, mas os bolsos estavam costurados. Ele tentou falar – dizer qualquer coisa que pudesse salvar sua vida – mas não conseguia emitir som algum, como se o ar tivesse sido roubado de seus pulmões.
Meu filho não permitirá fogos hoje à noite, disse Gaia do fundo do armazém. Ele é o vazio que engole toda a magia, o frio que engole qualquer fogo, o silêncio que engole todas as vozes.
Leo quis gritar: E eu sou o cara que vai dar o fora!
Sua voz não funcionava, então usou os pés, correndo para a direita, esquivando-se das gigantescas mãos sombrias que tentavam agarrá-lo, e atravessou a porta mais próxima.
Subitamente, viu-se no Acampamento Meio-Sangue, só que o lugar estava em ruínas. Os chalés eram cascas carbonizadas. Campos queimados ardiam ao luar. O pavilhão de jantar desmoronara em uma pilha de escombros brancos, e a Casa Grande estava em chamas, e suas janelas brilhavam como olhos de demônios.
Leo continuou a correr, certo de que o gigante de sombra ainda estava atrás dele. Desviou de corpos de semideuses gregos e romanos. Queria verificar se estavam vivos. Queria ajudá-los. Mas por algum motivo sabia que seu tempo estava se esgotando.
Leo correu em direção às únicas pessoas vivas que viu – um grupo de romanos na quadra de vôlei. Dois centuriões casualmente inclinados contra seus dardos, conversando com um sujeito louro alto e magricela, vestindo uma toga roxa.
Leo tropeçou.
Era aquele estranho Octavian, o áugure do Acampamento Júpiter, que estava sempre clamando por guerra.
Octavian se voltou para ele, mas parecia estar em transe. Estava com o rosto relaxado e de olhos fechados. Quando falou, foi com a voz de Gaia: Isto não pode ser evitado. Os romanos estão se deslocando a leste de Nova York. Eles avançam em direção ao seu acampamento, e nada poderá detê-los.
Leo se sentiu tentado a dar um soco no rosto de Octavian. Em vez disso, continuou correndo. Subiu a Colina Meio-Sangue. No cume, um raio partira o pinheiro gigante.
Ele parou, atônito. A parte de trás da colina fora devastada. Mais além, o mundo inteiro desaparecera. Leo viu apenas nuvens bem lá embaixo, um tapete prateado estendendo-se sob o céu escuro.
Uma voz aguda disse:
— Bem?
Leo se assustou.          
No pinheiro partido, havia uma mulher ajoelhada à entrada de uma caverna que se abrira entre as raízes da árvore.
A mulher não era Gaia. Mais parecia uma Atena Partenos viva, com a mesma toga dourada e os braços nus de marfim. Quando ela se levantou, Leo quase caiu da borda do mundo.
Seu rosto era belo como o de uma rainha, com maçãs do rosto proeminentes, grandes olhos escuros e cabelo cor de alcaçuz trançado em um elegante penteado grego, enfeitado com uma espiral de esmeraldas e diamantes que para Leo lembrava uma árvore de Natal. Sua expressão irradiava puro ódio. Tinha os lábios retorcidos. O nariz franzido.
— O filho do deus remendão — zombou ela. — Você não é ameaça, mas suponho que minha vingança deva começar em algum lugar. Faça a sua escolha.
Leo tentou falar, mas estava paralisado de tanto medo. Entre aquela rainha furiosa e o gigante que o perseguia, não tinha ideia do que fazer.
— Ele estará aqui em breve — avisou a mulher. — Meu amigo sombrio não lhe dará o luxo de uma escolha. É o precipício ou a caverna, garoto!
Subitamente, Leo entendeu o que ela queria dizer. Ele estava encurralado. Poderia saltar do precipício, mas isso seria suicídio. Mesmo que houvesse terra sob aquelas nuvens, morreria na queda, ou talvez simplesmente caísse para sempre.
Mas a caverna... ele olhou para a entrada escura entre as raízes da árvore. Cheirava a podridão e morte. Ele ouviu corpos movendo-se lá dentro, vozes sussurrando nas sombras. A caverna era a casa dos mortos. Se ele entrasse, nunca sairia.
— Sim — disse a mulher.
Trazia ao redor do pescoço um estranho pingente de bronze e esmeralda, como um labirinto circular. Seus olhos estavam tão zangados que Leo finalmente entendeu por que se dizia que alguém ficava “louco de raiva”. Aquela mulher havia enlouquecido de tanto ódio.
— A Casa de Hades o espera — disse ela. — Você será o primeiro roedor insignificante a morrer em meu labirinto. Tem apenas uma chance de escapar, Leo Valdez. Aproveite-a.
Ela fez um gesto em direção ao penhasco.
— Você está doida — disse ele, recuperando a fala.
Não devia ter dito aquilo. Ela o agarrou pelo pulso.
— Talvez eu devesse matá-lo agora, antes da chegada de meu amigo das trevas.
Passos faziam a encosta tremer. O gigante se aproximava, envolto em sombras, enorme, pesado e sedento de sangue.
— Você já ouviu falar sobre morrer em um sonho, rapaz? — perguntou a mulher. — Isso é possível, nas mãos de uma feiticeira!
O braço de Leo começou a fumegar. O toque da mulher era ácido. Ele tentou se libertar, mas os dedos dela pareciam feitos de aço.
Leo abriu a boca para gritar. O enorme volume do gigante pairou sobre ele, obscurecido por camadas de fumaça negra.
O gigante ergueu o punho e uma voz penetrou em seu sonho.
— Leo — Jason sacudia o seu ombro. — Ei, cara, por que você está agarrando a Nice?
Leo abriu os olhos. Seus braços estavam ao redor da estátua em tamanho natural na mão de Atena. Ele deve ter se debatido durante o sono e se agarrado à deusa da vitória, como costumava se agarrar ao travesseiro na infância quando tinha pesadelos. (Cara, isso era tão embaraçoso quando acontecia em lares adotivos...)
Ele se desvencilhou da estátua e se sentou, esfregando o rosto.
— Nada — murmurou. — Estávamos apenas nos abraçando. Hã, o que está acontecendo?
Jason não caçoou dele. Esta era uma coisa que Leo apreciava no amigo. Os olhos azul gelo do garoto estavam calmos e sérios. A pequena cicatriz em sua boca estremeceu, como sempre acontecia quando trazia más notícias.

— Conseguimos atravessar as montanhas — contou ele. — Estamos quase chegando a Bolonha. Você deve encontrar a gente no refeitório. Nico tem novas informações.

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