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A Casa de Hades - CAP. IV

.. quinta-feira, 6 de março de 2014
Capítulo IV - Hazel
HAZEL QUERIA CORRER, MAS SEUS pés pareciam presos ao chão branco vitrificado.
Em ambos os lados do cruzamento, dois suportes de metal escuro irromperam da terra como caules de plantas. Hécate prendeu as tochas neles, então caminhou lentamente em torno de Hazel, olhando-a como se fossem parceiras em uma estranha dança.
O cão preto e a doninha a seguiram.
— Você parece com a sua mãe — decidiu Hécate.
Hazel sentiu um nó na garganta.
— Você a conheceu?
— Claro. Marie era uma vidente. Vivia de encantos, maldições e talismãs. Eu sou a deusa da magia.
Aqueles olhos absolutamente negros pareciam atrair Hazel, como se estivessem tentando sugar a sua alma. Durante sua primeira vida em Nova Orleans, as crianças da escola St. Agnes a atormentavam por causa da mãe. Diziam que Marie Levesque era uma bruxa. As freiras murmuravam que a mãe de Hazel tinha coisa com o Diabo.
Se as freiras tinham medo de minha mãe, perguntou-se Hazel, o que achariam desta deusa?
— Muitos me temem — disse Hécate, como se lesse os seus pensamentos. — Mas a magia não é boa e nem má. Trata-se de uma ferramenta, como uma faca. Uma faca é má? Só se o seu dono for mau.
— Minha... minha mãe — gaguejou Hazel. — Ela não acreditava em magia. Não de verdade. Apenas fingia, para ganhar dinheiro.
A doninha chiou e mostrou os dentes. Em seguida, emitiu um ruído de seu traseiro. Em outras circunstâncias, uma doninha soltando gases poderia ser algo engraçado, mas Hazel não riu. Os olhos vermelhos do roedor voltaram-se sinistramente para ela, como pequenas brasas.
— Calma, Gale — disse Hécate. Ela deu de ombros, desculpando-se com Hazel. — Gale não gosta de incrédulos e vigaristas. Ela já foi uma bruxa, sabe?
— Sua doninha era uma bruxa?
— Na verdade é uma tourão — esclareceu Hécate — mas, sim. Gale já foi uma desagradável bruxa humana. Ela cuidava muito mal da higiene pessoal, além de ter muitos, hã, problemas digestivos — Hécate balançou a mão diante do nariz. — Isso dava má fama para meus outros seguidores.
— Tudo bem.
Hazel tentou não olhar para a doninha. Ela realmente não queria saber dos problemas intestinais do roedor.
— De qualquer modo — continuou Hécate —, eu a transformei em um tourão. Ela fica muito melhor assim.
Hazel engoliu em seco. Ela olhou para o cão negro, que esfregava carinhosamente o focinho na mão da deusa.
— E o seu labrador...
— Ah, é Hécuba, ex-rainha de Troia — disse Hécate, como se isso fosse algo óbvio.
A cadela rosnou.
— Você está certa, Hécuba — disse a deusa. — Não temos tempo para longas apresentações. O fato, Hazel Levesque, é que sua mãe podia alegar não acreditar, mas ela detinha a verdadeira magia. E acabou percebendo isso. Quando buscou um feitiço para invocar o deus Plutão, eu a ajudei a encontrá-lo.
— Você...?
— Sim. — Hécate continuou andando ao redor de Hazel. — Eu vi potencial em sua mãe. E vejo ainda mais potencial em você.
Hazel ficou tonta. Ela se lembrou da confissão de sua mãe pouco antes de morrer: como invocara Plutão, como o deus se apaixonara por ela, e como, por causa de sua cobiça, sua filha Hazel nascera amaldiçoada. Hazel era capaz de extrair riquezas da terra, mas qualquer um que as usasse sofreria e morreria.
Agora, aquela deusa estava dizendo que ela provocara tudo aquilo.
— Minha mãe sofreu por causa da magia. A minha vida inteira...
— Sua vida não teria acontecido sem mim — disse Hécate simplesmente. — Eu não tenho tempo para a sua raiva. Nem você, aliás. Sem a minha ajuda, você morrerá.
A cadela rosnou. A tourão trincou os dentes e soltou gases.
Era como se os pulmões de Hazel estivessem se enchendo de areia quente.
— Que tipo de ajuda? — perguntou.
Hécate ergueu os braços pálidos. Os três portais pelos quais entrara – norte, leste e oeste – começaram a girar com a Névoa. Um turbilhão de imagens em preto e branco brilhou e cintilou, como nos velhos filmes mudos que ainda passavam às vezes nos cinemas quando Hazel era pequena.
No portal oeste, semideuses romanos e gregos com armaduras completas lutavam entre si na encosta de uma colina, sob um grande pinheiro. A grama estava repleta de feridos e moribundos. Hazel viu a si mesma montando Arion, avançando pela luta corpo a corpo e gritando, tentando pôr um fim à violência.
No portal leste, Hazel viu o Argo II caindo sobre os Apeninos. Seu cordame estava em chamas. Um pedregulho atingira o tombadilho. Outro perfurara o casco. O navio se rompeu como uma abóbora podre, e o motor explodiu.
As imagens do portal norte eram ainda piores. Hazel viu Leo inconsciente – ou morto – caindo através das nuvens. Ela viu Frank cambaleando sozinho por um túnel escuro, segurando o braço, com a camisa encharcada de sangue. E viu-se em uma vasta caverna repleta de fios de luz, como uma teia luminosa. Ela lutava para avançar enquanto, ao longe, Percy e Annabeth estavam deitados e imóveis ao pé de duas portas de metal preto e prata.
— Escolhas — disse Hécate. — Você está em uma encruzilhada, Hazel Levesque. E eu sou a deusa das encruzilhadas.
O chão sob os pés de Hazel tremeu. Ela olhou para baixo e viu o reflexo de moedas de prata... milhares de antigos denários romanos irrompendo na superfície ao seu redor, como se toda a colina estivesse fervilhando. Ela estava tão agitada por conta das visões nos portais que devia ter invocado toda a prata dos campos ao redor.
— Neste lugar, o passado fica próximo à superfície — disse Hécate. — Nos tempos antigos, duas grandes estradas romanas se encontravam neste ponto. Notícias eram trocadas. Negócios eram realizados. Amigos se encontravam, e inimigos lutavam. Exércitos inteiros tinham de escolher uma direção. Encruzilhadas sempre são lugares de decisão.
— Como... como Jano.
Hazel se lembrou do santuário de Jano na Colina dos Templos, no Acampamento Júpiter. Os semideuses iam até lá para tomar decisões. Lançavam uma moeda, cara ou coroa, e esperavam que o deus de duas faces os guiasse pelo bom caminho.
Hazel sempre odiara aquele lugar. Nunca entendera por que seus amigos estavam tão dispostos a colocar suas escolhas na mão de um deus. Depois de tudo o que passara, Hazel confiava na sabedoria dos deuses tanto quanto confiava em uma máquina caça-níqueis de Nova Orleans.
A deusa da magia sibilou, enojada.
— Jano e seus portais. Para ele, todas as opções são preto ou branco, sim ou não, dentro ou fora. Na verdade, não é tão simples assim. Sempre que você chega a uma encruzilhada, há ao menos três maneiras de prosseguir... quatro, se você contar com a possibilidade de retornar. Você está em uma encruzilhada assim agora, Hazel.
Hazel olhou de novo para cada portal: uma guerra de semideuses, a destruição do Argo II, sua ruína e a de seus amigos.
— Todas as escolhas são ruins.
— Todas as escolhas implicam riscos — corrigiu a deusa. — Mas qual é o seu objetivo?
— Meu objetivo? — Hazel apontou impotente para os portais. — Nenhum deles.
Hécuba rosnou. Gale, a tourão, descreveu um círculo ao redor dos pés da deusa, peidando e mostrando os dentes.
— Você poderia voltar — sugeriu Hécate. — Retornar a Roma... mas as forças de Gaia estão esperando por isso. Nenhum de vocês sobreviverá.
— Então... o que você sugere?
Hécate se aproximou da tocha mais próxima. Ela pegou um punhado de fogo e esculpiu as chamas até ter em suas mãos um pequeno mapa em relevo da Itália.
— Você pode ir para oeste — Hécate afastou o dedo do mapa flamejante — volte para a América com o seu prêmio, a Atena Partenos. Seus companheiros em casa, gregos e romanos, estão à beira da guerra. Volte agora e talvez salve muitas vidas.
— Talvez — repetiu Hazel — mas Gaia deve acordar na Grécia. É lá que os gigantes estão se reunindo.
— Verdade. Gaia escolheu o dia primeiro de agosto, a Festa de Spes, deusa da esperança, para a sua ascensão ao poder. Ao acordar no Dia da Esperança, ela pretende destruir para sempre toda a esperança. Mesmo que você consiga chegar à Grécia a tempo, conseguirá detê-la?
— Eu não sei.
Hécate correu o dedo ao longo dos Apeninos flamejantes.
— Você pode ir para leste, atravessando as montanhas, mas Gaia vai fazer de tudo para impedi-la de cruzar a Itália. Ela lançou os deuses da montanha contra vocês.
— Percebemos — disse Hazel.
— Qualquer tentativa de atravessar os Apeninos resultará na destruição de seu navio. Ironicamente, esta pode ser a opção mais segura para a sua tripulação. Prevejo que todos vocês sobreviveriam à explosão. É possível, embora improvável, que você ainda possa chegar a Épiro e fechar as Portas da Morte. Você poderia encontrar Gaia e impedir a sua ascensão. Mas, a essa altura, ambos os acampamentos dos semideuses estariam destruídos. Você não teria um lar para onde voltar — Hécate sorriu — provavelmente, a destruição de seu navio os deixaria presos nas montanhas. Isso significaria o fim de sua missão, mas pouparia você e seus amigos de muita dor e sofrimento nos dias que virão. A guerra contra os gigantes teria de ser ganha ou perdida sem vocês.
Ganha ou perdida sem nós.
Uma pequena e culpada parte de Hazel achou aquilo tentador. Ela ansiava pela chance de ser uma garota normal. Não queria mais nenhuma dor ou sofrimento para si ou para seus amigos. Eles já haviam sofrido tanto...
Hazel olhou para o portal do meio, atrás de Hécate. Viu Percy e Annabeth caídos diante daquelas portas pretas e prata. Uma enorme forma escura, vagamente humanoide, pairava agora sobre eles com o pé erguido, como se estivesse a ponto de esmagar Percy.
— E eles? — perguntou Hazel, com a voz falhando. — Percy e Annabeth?
Hécate deu de ombros.
— Oeste, leste, ou sul... eles morrem.
— Não é uma opção — disse Hazel.
— Então você tem apenas um caminho, embora seja o mais perigoso.
Hécate arrastou o dedo pelos Apeninos em miniatura, deixando uma linha branca brilhante sobre as chamas vermelhas.
— Há uma passagem secreta aqui no norte, um lugar sob o meu controle, por onde Aníbal cruzou certa vez quando marchou contra Roma.
A deusa traçou uma longa volta... até o topo da Itália, depois para leste sobre o mar e, em seguida, para o sul, ao longo da costa ocidental da Grécia.
— Depois de atravessarem a passagem, vocês viajarão para o norte até Bolonha, e, depois, para Veneza. A partir daí, navegarão no Mar Adriático até o seu objetivo: Épiro, na Grécia.
Hazel não era muito boa em geografia. Não tinha ideia de como era o Mar Adriático. Nunca ouvira falar de Bolonha, e tudo o que sabia sobre Veneza eram histórias vagas sobre canais e gôndolas. Mas uma coisa era óbvia:
— Isso é tão fora de mão...
— Justamente por isso Gaia não vai esperar que vocês sigam por este caminho — disse Hécate — posso ocultar um pouco o seu progresso, mas o sucesso de sua viagem dependerá de você, Hazel Levesque. Você deverá aprender a usar a Névoa.
— Eu? — O coração de Hazel estava disparado. — Usar a Névoa como?
Hécate apagou seu mapa da Itália. Em seguida, acenou em direção a Hécuba. A Névoa se concentrou ao redor da labradora até ela estar completamente envolvida por um casulo branco.
A neblina desapareceu com um sonoro puft! e, no lugar da cadela, surgiu uma gatinha preta e tristonha com olhos dourados.
— Miau — reclamou.
— Eu sou a deusa da Névoa — explicou Hécate. — Sou responsável por manter o véu que separa o mundo dos deuses do mundo dos mortais. Meus filhos aprendem a usar a Névoa a seu favor, para criar ilusões ou influenciar as mentes dos mortais. Outros semideuses também podem fazer isso. Assim como você, Hazel, se quiser ajudar os seus amigos.
— Mas... — Hazel olhou para a gata. Ela sabia que, na verdade, era Hécuba, a labradora preta, mas não conseguia acreditar. A gata parecia tão real. — Eu não vou conseguir fazer isso.
— Sua mãe tinha o dom — disse Hécate. — O seu é ainda maior. Como filha de Plutão que voltou dos mortos, você entende o véu entre os mundos melhor do que a maioria. Você pode controlar a Névoa. Caso contrário... bem, seu irmão Nico já a advertiu. Os espíritos sussurraram para ele, contaram-lhe sobre o seu futuro. Quando chegar à casa de Hades, você encontrará uma inimiga formidável. Ela não pode ser vencida pela força ou pela espada. Só você poderá derrotá-la, e para isso precisará de magia.
Hazel sentiu as pernas ficarem fracas. Ela se lembrou da expressão séria de Nico enquanto ele apertava seu braço com força. Você não pode contar para os outros. Ainda não. A coragem deles já está no limite.
— Quem? — perguntou Hazel com a voz trêmula. — Quem é essa inimiga?
— Não pronunciarei o nome dela — disse Hécate. — Isso seria o mesmo que alertá-la sobre a sua presença antes de você estar pronta para enfrentá-la. Vá para o norte, Hazel. Pratique invocar a Névoa durante a viagem. Quando chegar a Bolonha, procure os dois anões. Eles os levarão a um tesouro que poderá ajudá-los a sobreviver na Casa de Hades.
— Não entendi.
— Miau — reclamou a gatinha.
— Está bem, está bem, Hécuba — a deusa moveu a mão outra vez.
A gata desapareceu e a labradora preta ocupou o seu lugar.
— Você vai entender, Hazel — prometeu a deusa. — De vez em quando, enviarei Gale para verificar o seu progresso.
A tourão sibilou, com os olhos vermelhos e redondos repletos de malícia.
— Maravilha — murmurou Hazel.
— Antes de chegar a Épiro, você deverá estar preparada. Se conseguir, então talvez nos encontremos novamente... para a batalha final.
Uma batalha final, pensou Hazel. Ah, que alegria.
Hazel perguntou-se se seria capaz de impedir as previsões que vira na Névoa: Leo caindo pelo céu; Frank cambaleando no escuro, sozinho e gravemente ferido; Percy e Annabeth à mercê de um gigante sombrio. Ela odiava os enigmas dos deuses e seus conselhos obscuros. E estava começando a detestar encruzilhadas.
— Por que está me ajudando? — perguntou Hazel. — No Acampamento Júpiter disseram que você tomou o partido dos titãs na última guerra.
Os olhos escuros de Hécate brilharam.
— Porque eu sou uma titã, filha de Perses e Astéria. Muito antes de os Olimpianos chegarem ao poder, eu dominava a Névoa. Apesar disso, na Primeira Guerra dos Titãs, há milênios, lutei ao lado de Zeus contra Cronos. Eu não estava cega para a crueldade de Cronos. E esperava que Zeus se mostrasse um rei melhor.
Ela deu uma curta risada amarga.
— Quando Deméter perdeu a filha Perséfone, sequestrada por seu pai, eu a guiei com as minhas tochas pela noite mais escura, ajudando-a na busca. E quando os gigantes se ergueram pela primeira vez, de novo fiquei do lado dos deuses. Lutei contra meu arqui-inimigo, Clítio, criado por Gaia para absorver e derrotar toda a minha magia.
— Clítio — Hazel nunca ouvira esse nome, mas pronunciá-lo fez os seus membros parecerem mais pesados. Ela olhou para as imagens no portal norte: a enorme forma escura pairando sobre Percy e Annabeth. — Ele é a ameaça na Casa de Hades?
— Ah, ele está lá à sua espera — disse Hécate. — Mas primeiro você deve derrotar a bruxa. Se não conseguir...
Ela estalou os dedos, escurecendo todos os portais. A Névoa se dissipou, e as imagens desapareceram.
— Todos precisamos fazer escolhas — disse a deusa. — Quando Cronos se rebelou pela segunda vez, cometi um erro. Eu o apoiei. Estava cansada de ser ignorada pelos chamados deuses maiores. Mesmo com todos os meus anos de serviço fiel, ainda desconfiavam de mim, não permitiam que eu ocupasse um lugar no seu salão...
A tourão Gale chiou com raiva.
— Isso não importa mais — a deusa suspirou — fiz as pazes com o Olimpo. Mesmo agora que estão por baixo, com suas personalidades gregas e romanas lutando entre si, eu os ajudarei. Grega ou romana, sempre fui apenas Hécate. Vou ajudá-los na luta contra os gigantes, se você se mostrar digna dessa ajuda. Portanto, a escolha é sua, Hazel Levesque. Você vai confiar em mim... ou vai me desprezar, como os deuses do Olimpo fizeram tantas vezes?
O sangue rugia nos ouvidos de Hazel. Poderia confiar naquela deusa sombria, que dera para a sua mãe a magia que arruinara a sua vida? Não. E não gostara muito do cão de Hécate e da doninha peidona.
Mas também sabia que não podia deixar Percy e Annabeth morrerem.
— Seguirei para o norte — respondeu — usaremos a sua passagem secreta pelas montanhas.
Hécate assentiu, com uma ponta de satisfação no rosto.
— Você escolheu bem, mas o caminho não será fácil. Muitos monstros enfrentarão vocês. Até mesmo alguns de meus próprios servos passaram para o lado de Gaia, na esperança de destruir o seu mundo mortal.
A deusa pegou as duas tochas de seus suportes.
— Prepare-se, filha de Plutão. Se você conseguir derrotar a bruxa, nós nos encontraremos novamente.
— Vou conseguir — prometeu Hazel — e, Hécate? Saiba que não estou escolhendo um de seus caminhos. Farei o meu próprio.
A deusa arqueou as sobrancelhas. A tourão se contorceu, e a cadela rosnou.
— A gente vai descobrir uma maneira de deter Gaia — disse Hazel. — E vamos resgatar os nossos amigos do Tártaro. Manteremos a tripulação e o navio unidos e impediremos que o Acampamento Júpiter e o Acampamento Meio-Sangue entrem em guerra. Faremos tudo.
A tempestade uivava, e as paredes negras do tornado giravam cada vez mais rápido.
— Interessante — disse Hécate, como se Hazel fosse o resultado inesperado de uma experiência científica. — Essa seria uma magia especial.
Uma onda negra obscureceu o mundo. Quando Hazel voltou a enxergar, a tempestade, a deusa e seus minions haviam desaparecido. Hazel ficou na encosta da colina sob o sol da manhã, sozinha em meio às ruínas, com exceção de Arion, que trotava ao seu lado, relinchando, impaciente.
— Concordo — disse Hazel para o cavalo. — Vamos sair daqui.

* * *

— O que aconteceu? — perguntou Leo quando Hazel embarcou no Argo II.
As mãos da menina ainda tremiam por conta da conversa com a deusa. Ela olhou pela amurada e viu o rastro de poeira levantado por Arion enquanto ele cruzava as colinas da Itália. Queria que o amigo tivesse ficado, mas não podia culpá-lo por querer se afastar daquele lugar o mais rápido possível.
O campo brilhava à medida que o sol de verão iluminava o orvalho matinal. Na colina, as velhas ruínas brancas permaneciam silenciosas – nenhum sinal de estradas antigas, deusas ou doninhas peidonas.
— Hazel — chamou Nico.
Seus joelhos falharam. Nico e Leo a agarraram pelos braços e ajudaram-na a subir os degraus do tombadilho. Ela ficou envergonhada por estar desfalecendo como uma donzela de conto de fadas, mas a sua energia se esgotara. A lembrança daquelas cenas na encruzilhada a enchiam de pavor.
— Estive com Hécate — conseguiu dizer.
Ela não contou tudo. Lembrou-se da advertência de Nico: a coragem deles já está no limite. Mas falou sobre a passagem secreta pelas montanhas ao norte, e sobre a rota que, segundo Hécate, poderia levá-los até Épiro.
Quando terminou o relato, Nico segurou sua mão. Os olhos dele estavam repletos de preocupação.
— Hazel, você encontrou Hécate em uma encruzilhada. Isso é... isso é algo a que muitos semideuses não sobreviveriam. E aqueles que sobrevivem nunca são os mesmos. Tem certeza de que você...
— Eu estou bem — insistiu ela.
Mas sabia que não estava. Hazel se lembrou de como havia se sentido ousada e furiosa ao dizer à deusa que encontraria o seu próprio caminho e faria tudo. Agora, sua resposta orgulhosa parecia ridícula. Sua coragem a abandonara.
— E se Hécate estiver nos enganando? — perguntou Leo. — Essa rota pode ser uma armadilha.
Hazel balançou a cabeça em negativa.
— Se fosse uma armadilha, acho que Hécate teria feito a rota norte parecer tentadora. Acredite, ela não fez isso.
Leo tirou uma calculadora do cinto e apertou alguns números.
— Isso fica uns... quatrocentos e oitenta quilômetros fora de nosso caminho para chegar a Veneza. Então, teríamos de voltar e descer o Adriático. E você disse algo sobre anões pamonhas?
— Anões em Bolonha — corrigiu Hazel. — Acho que Bolonha é uma cidade. Mas por que temos que encontrar anões por lá... não faço ideia. Tem a ver com algum tesouro para nos ajudar em nossa busca.
— Hum — murmurou Leo. — Quer dizer, adoro tesouros, mas...
— É a nossa melhor opção — opinou Nico, ajudando Hazel a se levantar. — Precisamos recuperar o tempo perdido, viajar o mais rápido que pudermos. A vida de Percy e Annabeth pode depender disso.
— Rápido? — Leo sorriu. — Deixa comigo.
Ele correu até o painel de controle e começou a acionar interruptores.
Nico segurou o braço de Hazel e conduziu-a até onde não pudessem ser ouvidos.
— O que mais Hécate falou? Nada sobre...
— Não posso — interrompeu Hazel.
As imagens que vira haviam sido devastadoras: Percy e Annabeth indefesos diante daquelas portas de metal negro, o gigante sombrio pairando sobre os dois, ela mesma presa em um labirinto de luz brilhante, incapaz de ajudar.
Você deve derrotar a bruxa, dissera Hécate. Só você pode derrotá-la. Se não conseguir...
O fim, pensou Hazel. Todos os portais fechados. Toda a esperança extinta.
Nico a advertira. Ele se comunicara com os mortos, ouvira-os murmurando pistas sobre o seu futuro. Dois filhos do Mundo Inferior entrariam na Casa de Hades. Teriam de enfrentar um inimigo impossível. Apenas um deles conseguiria chegar às Portas da Morte.
Hazel não conseguia encarar o irmão.
— Eu lhe digo mais tarde — prometeu, tentando manter a voz firme. — Agora devemos descansar enquanto podemos. Hoje à noite, cruzaremos os Apeninos.

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