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A Casa de Hades - CAP. III

.. quinta-feira, 6 de março de 2014
Capítulo III - Hazel
A TEMPESTADE ENGOLIU A COLINA em um cone negro rodopiante.
Arion disparou naquela direção.
Hazel viu-se no cume da colina, mas sentia como se estivesse em outra dimensão. O mundo perdera as suas cores. As paredes do tornado, de um negro tenebroso, cercavam a colina. O céu estava cinzento. As ruínas pareciam tão brancas que quase brilhavam. Até mesmo Arion mudara de marrom caramelo para um tom cinza-escuro.
No olho do tornado, o ar estava estagnado. Hazel sentiu um calafrio na pele, como se tivesse sido esfregada com álcool. À sua frente, um portal em arco nas paredes cobertas de musgo dava acesso a uma espécie de recinto.
Hazel não podia ver muito em meio à escuridão, mas sentia uma presença ali, como se ela fosse um pedaço de ferro perto de um grande ímã. O magnetismo era irresistível, forçando-a a avançar.
Ainda assim, hesitou. Ela puxou as rédeas de Arion, e ele golpeou o chão com impaciência, fazendo o solo crepitar sob seus cascos. Onde quer que ele pisasse, a grama, a terra e as pedras ficavam brancas como gelo. Hazel se lembrou da geleira Hubbard, no Alasca – como a superfície se partira sob seus pés. Lembrou-se do chão daquela horrível caverna em Roma se desfazendo em poeira, lançando Percy e Annabeth no Tártaro.
Esperava que aquela colina em preto e branco não se dissolvesse debaixo dela, mas decidiu que era melhor continuar andando.
— Então vamos, garoto. — Sua voz soava abafada, como se estivesse falando com o rosto enfiado em um travesseiro.
Arion passou pelo arco de pedra. Paredes em ruínas rodeavam um pátio quadrado mais ou menos do tamanho de uma quadra de tênis. Havia três outros portais, um no meio de cada parede, nos sentidos norte, leste e oeste. No centro do pátio, cruzavam-se dois passeios calçados com seixos, formando uma cruz. A névoa pairava no ar – tiras brancas e nebulosas que se retorciam e ondulavam como se tivessem vida.
Não uma névoa qualquer, percebeu Hazel. A Névoa.
Durante toda a sua vida ela ouvira falar sobre a Névoa – o véu sobrenatural que ocultava o mundo mitológico da visão dos mortais. Podia enganar os seres humanos, até mesmo os semideuses, fazendo-os ver monstros como animais inofensivos, ou deuses como pessoas normais.
Hazel nunca pensara naquilo como fumaça de verdade, mas ao observá-la se fechar e envolver as patas de Arion, flutuando pelos arcos quebrados do pátio em ruínas, os pelos de seus braços se arrepiaram. De alguma forma, ela sabia: aquela coisa branca era pura magia.
Ao longe, um cão uivou. Arion não costumava ter medo de nada, mas recuou, bufando, nervoso.
— Está tudo bem — disse Hazel acariciando seu pescoço. — Estamos juntos nessa. Vou desmontar, certo?
Ela desmontou. Na mesma hora, o cavalo se virou e partiu.
— Arion, espe... — mas ele já voltara correndo por onde viera.
Isso porque estavam juntos nessa...
Outro uivo rasgou o ar, dessa vez mais próximo.
Hazel deu um passo em direção ao centro do pátio. A Névoa se agarrava a ela como neblina de congelador.
— Olá — chamou.
— Olá — respondeu uma voz.
A figura pálida de uma mulher apareceu no portal norte. Não, espere... no portal leste. Não, oeste. Três imagens esfumaçadas da mesma mulher se moviam sincronizadas em direção ao centro das ruínas. Sua forma era turva, feita de Névoa, e dois pequenos tufos de fumaça a seguiam de perto, movimentando-se rapidamente a seus pés como se fossem seres vivos. Algum tipo de animal de estimação?
Ela chegou ao centro do pátio e suas três formas se fundiram em uma. Materializou-se em uma jovem que usava um vestido escuro sem mangas. Seu cabelo dourado estava preso em um rabo de cavalo alto, no estilo grego clássico. Seu vestido era tão sedoso que parecia ondular, como se o tecido fosse tinta escorrendo de seus ombros. Não parecia ter mais de vinte anos, mas Hazel sabia que isso não queria dizer nada.
— Hazel Levesque — disse a mulher.
Ela era linda, embora muito pálida. Certa vez, em Nova Orleans, Hazel fora obrigada a ir ao velório de uma colega de classe. Lembrou-se do corpo sem vida da jovem no caixão aberto. Seu rosto fora muito bem maquiado, para parecer que estava dormindo, o que Hazel achou aterrador.
A mulher fez Hazel se lembrar daquela menina, só que seus olhos estavam abertos e eram completamente negros. Quando inclinou a cabeça, pareceu voltar a se dividir em três pessoas diferentes... imagens enevoadas e fora de foco se juntando, como o retrato borrado de uma pessoa se movendo rápido demais na hora da foto.
— Quem é você? — Os dedos de Hazel seguraram o punho de sua espada. — Quer dizer... qual deusa?
Pelo menos daquilo Hazel tinha certeza. A mulher irradiava poder. Tudo ao redor delas – a Névoa rodopiante, a tempestade monocromática, o brilho fantasmagórico das ruínas – era por causa de sua presença.
— Ah. — A mulher assentiu com a cabeça. — Deixe-me lhe dar alguma luz.
Ela ergueu as mãos. Subitamente, segurava duas antiquadas tochas de junco acesas. A Névoa recuou para as extremidades do pátio. Junto às sandálias da mulher, os dois animais etéreos tomaram formas sólidas. Um era um labrador preto. O outro era um roedor comprido, cinzento e peludo com uma máscara branca ao redor do rosto. Uma doninha, talvez?
A mulher deu um sorriso sereno.
— Sou Hécate. Deusa da magia. Temos muito o que conversar se quiser sobreviver a esta noite.

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