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O Mar de Monstros - CAP. 8

.. domingo, 17 de março de 2013

Capítulo 8 - Nós embarcamos no Princesa Andrômeda

Eu estava olhando para as ondas quando Annabeth e Tyson me acharam.

– O que está acontecendo? – perguntou ela.
– Ouvi você gritando por socorro!
– Eu também! – disse Tyson. – Ouvi você gritar: "Coisas ruins estão atacando!"
– Eu não chamei vocês – falei. – Estou bem.
– Mas então quem... – Annabeth notou os três sacos de viagem amarelos, depois a garrafa térmica e o frasco de vitaminas que eu estava segurando. – Que...
– Ouçam bem. Não temos muito tempo.
Contei-lhes minha conversa com Hermes. Quando terminei pude ouvir guinchos à distância – a patrulha de harpias identificando nosso cheiro.
– Percy – disse Annabeth. – Temos de partir na missão.
– Vamos ser expulsos, você sabe. Confie em mim, sou especialista em ser expulso.
– E daí? Se fracassarmos, não haverá nenhum acampamento para voltar.
– Sim, mas você prometeu a Quíron...
– Prometi que ia manter você afastado do perigo. Só posso fazer isso indo com você! Tyson pode ficar e contar a eles...
– Eu quero ir – disse Tyson.
– Não! – A voz de Annabeth soou quase em pânico. – Quer dizer... Vamos lá, Percy. Você sabe que é impossível.
Outra vez me perguntei o porquê da antipatia dela pelos ciclopes. Havia alguma coisa que Annabeth não estava me contando. Ela e Tyson me olharam, esperando uma resposta. Enquanto isso, o navio de cruzeiro se afastava cada vez mais. A questão era que parte de mim não queria a companhia de Tyson. Eu passara os últimos três dias muito perto do cara, sendo ridicularizado pelos outros campistas e envergonhado um milhão de vezes por dia, constantemente lembrado de que éramos parentes. Precisava de um pouco de espaço. Além disso, não sabia quanta ajuda ele poderia oferecer, ou como eu faria para mantê-lo em segurança. Sem dúvida, ele era forte, mas era uma criancinha em termos de ciclopes, talvez sete ou oito anos de idade mental. Eu podia imaginá-lo perdendo o controle e começando a chorar enquanto tentávamos passar por algum monstro ou coisa assim. Íamos ser mortos por causa dele. Por outro lado, o som das harpias estava chegando mais perto...
– Não podemos deixá-lo – decidi. – Tântalo vai castigá-lo por termos partido.
– Percy – disse Annabeth, tentando manter a calma – estamos indo para a ilha de Polifemo! Polifemo é um c-i-c... um c-i-c... – Ela bateu os pés de frustração. Por mais esperta que fosse, Annabeth também era disléxica. Poderíamos ficar lá a noite inteira enquanto ela tentava soletrar ciclope. – Você sabe o que eu quero dizer!
– Tyson pode vir – insisti – se ele quiser.
Tyson bateu palmas.
– Eu quero!
Annabeth me fuzilou com o olhar, mas acho que ela percebeu que eu não ia mudar de ideia. Ou talvez simplesmente soubesse que não tínhamos tempo para discutir.
– Tudo bem – disse ela. – Como chegamos até aquele navio?
– Hermes disse que meu pai ajudaria.
– E então, Cabeça de Alga? Está esperando o quê?
Eu sempre achei difícil chamar meu pai, ou rezar, ou o que seja, mas avancei para as ondas.
– Ahn, pai? – chamei. – Como vão as coisas?
– Percy! – sussurrou Annabeth. – Estamos com pressa!
– Precisamos da sua ajuda – falei um pouco mais alto. – Precisamos chegar até aquele navio, tipo antes que sejamos comidos ou coisa parecida, então...
De início, nada aconteceu. As ondas quebravam na praia, como sempre. As harpias pareciam estar logo atrás das dunas. Então, cerca de cem metros mar adentro, três linhas brancas apareceram na superfície. Moveram-se com velocidade em direção à praia, como garras rasgando o oceano. Quando se aproximaram, as águas se abriram e as cabeças de três corcéis brancos se ergueram das ondas. Tyson prendeu a respiração.
– Peixes-pôneis!
Ele estava certo. Quando as criaturas se arrastaram para a areia, vi que eram cavalos apenas na frente; a metade traseira era de corpos prateados de peixe, com escamas reluzentes e nadadeiras de arco-íris na cauda.
– Cavalos-marinhos! – disse Annabeth. – São lindos.
O mais próximo relinchou, agradecendo, e esfregou o focinho em Annabeth.
– Vamos admirá-los depois – falei. – Vamos!
– Ali! – guinchou uma voz atrás de nós. – Crianças más fora dos chalés! Hora do lanche para harpias sortudas!
Cinco delas estavam pairando acima das dunas – pequenas bruxas gorduchas, com a cara chupada, garras e asas de penas, pequenas demais para o corpo. Elas me lembravam um cruzamento de atendente de lanchonete com passarinho. Não eram muito rápidas, graças aos deuses, mas eram ferozes quando pegavam alguém.
– Tyson! – disse eu. – Agarre um saco de viagem!
Ele ainda estava olhando boquiaberto para os cavalos-marinhos.
– Tyson!
– Ahn?
– Venha!
Com a ajuda de Annabeth, consegui fazê-lo se mexer. Recolhemos os sacos e montamos nossos corcéis. Poseidon devia saber que Tyson era um dos passageiros, pois um dos cavalos-marinhos era muito maior que os outros dois – do tamanho certo para transportar um ciclope.
– Eah! – disse eu.
Meu cavalo-marinho se virou e mergulhou nas ondas. Annabeth e Tyson seguiram logo atrás. As harpias nos amaldiçoaram, implorando a seus lanches que voltassem, mas os cavalos-marinhos dispararam sobre a água na velocidade de jet-skis. As harpias ficaram para trás, e logo a praia do Acampamento Meio-Sangue nada mais era senão uma mancha escura. Será que eu voltaria a ver aquele lugar? Naquele momento, porém, eu tinha outros problemas. O navio de cruzeiro agora crescia diante de nós – nossa carona para a Flórida e o Mar de Monstros.


Montar o cavalo-marinho era ainda mais fácil do que montar um pégaso. Nos deslocamos depressa, com o vento no rosto, disparando nas ondas de modo tão suave e firme que mal precisei me segurar. Quando nos aproximamos do navio, percebi quanto era enorme. Era como olhar para um edifício em Manhattan. O casco branco tinha pelo menos dez andares, e acima dele havia mais uma dúzia de conveses com balcões e vigias iluminados. O nome do navio estava pintado logo acima da linha de proa, em letras pretas, iluminadas por um refletor. Levei alguns segundos para decifrá-lo: PRINCESA ANDRÔMEDA.
Presa à proa havia uma enorme figura – uma mulher com três andares de altura vestindo uma túnica grega branca, esculpida para parecer que estava acorrentada à frente do navio. Ela era jovem e linda, com cabelos pretos flutuantes, mas sua expressão era de terror absoluto. Por que alguém iria querer uma princesa aos gritos na frente do navio de suas férias, eu não tinha ideia. Lembrei-me do mito de Andrômeda e de como ela fora acorrentada a uma rocha pelos próprios pais, como sacrifício a um monstro marinho. Talvez seu boletim fosse horrível ou coisa assim. De qualquer modo, meu xará Perseu a salvara no último minuto e transformara o monstro marinho em pedra usando a cabeça da Medusa. Aquele Perseu sempre vencia. É por isso que minha mãe me deu seu nome, muito embora ele fosse um filho de Zeus, e eu, de Poseidon. O Perseu original foi um dos únicos heróis dos mitos gregos que teve final feliz. Os outros morreram – traídos, espancados, mutilados, envenenados ou amaldiçoados pelos deuses. Minha mãe esperava que eu herdasse a sorte dele. Do jeito como minha vida ia até ali, eu não estava lá muito otimista.
– Como vamos embarcar? – gritou Annabeth, mais alto que o barulho das ondas. Mas os cavalos-marinhos pareciam saber o que era preciso. Deslizaram ao longo do estibordo do navio, passando facilmente. Através da enorme esteira, e encostaram-se junto a uma escada de serviço rebitada ao casco.
– Você primeiro – disse a Annabeth.
Ela jogou o saco de viagem no ombro e agarrou o primeiro degrau. Depois que ela se içou para a escada, seu cavalo-marinho relinchou uma despedida e mergulhou na água. Annabeth começou a escalar. Deixei-a subir alguns degraus, e então a segui. Por fim restara somente Tyson na água. Seu cavalo-marinho o estava divertindo com aéreos de trezentos e sessenta graus e saltos para trás, e Tyson ria histericamente, o som reverberando no casco do navio.
– Tyson, shhh! Venha, grandão!
– Não podemos levar Arco-íris? – perguntou, o sorriso sumindo.
Olhei para ele.
– Arco-íris?
O cavalo-marinho relinchou, como se tivesse gostado de seu novo nome.
– Ahn, nós temos de ir – disse eu. – Arco-íris... bem, ele não pode subir escadas.
Tyson fungou. Ele enterrou a cara na crina do hipocampo.
– Vou sentir saudade, Arco-íris!
O cavalo-marinho emitiu um som de relincho que eu podia jurar que era choro. – Quem sabe a gente encontra com ele de novo – sugeri.
– Ah, por favor! – disse Tyson, animando-se imediatamente. – Amanhã!
Não fiz nenhuma promessa, mas consegui convencer Tyson a dizer, adeus e a se agarrar à escada. Com um último relincho triste, Arco-íris, o hipocampo, deu um salto-mortal para trás e mergulhou no mar.


A escada levava a um convés de manutenção cheio de botes salva-vidas amarelos. Havia uma porta dupla trancada, que Annabeth conseguiu arrombar com sua faca e uma boa dose de pragas em grego antigo. Imaginei que teríamos de nos esgueirar por ali, já que éramos clandestinos e tudo mais, mas depois de examinar alguns corredores e espiar, por cima de um balcão, um enorme corredor central ladeado por lojas fechadas, comecei a me dar conta de que não havia ninguém de quem nos esconder. Quer dizer, é claro que estávamos no meio da noite, mas andamos metade da extensão do navio e não encontramos ninguém. Passamos por quarenta ou cinquenta portas de cabines e não ouvimos ruído algum atrás delas.
– É um navio-fantasma – murmurei.
– Não – disse Tyson, manuseando a alça do seu saco de viagem. – Cheiro ruim.
Annabeth franziu o cenho.
– Não sinto cheiro de nada.
– Os ciclopes são como os sátiros – disse eu. – Eles podem farejar monstros. Não é verdade, Tyson?
Ele fez que sim, nervoso. Agora que estávamos longe do Acampamento Meio-Sangue, a Névoa distorcia seu rosto de novo. A não ser que eu me concentrasse muito, parecia que ele tinha dois olhos, não um.
– Certo – disse Annabeth. – Então está sentindo cheiro de quê, exatamente?
– Coisa ruim – respondeu Tyson.
– Beleza – resmungou ela. – Isso esclarece tudo.
Fomos para fora, no deque da piscina. Havia fileiras de espreguiçadeiras vazias e um bar fechado com uma cortina de correntes. A água da piscina brilhava de modo fantasmagórico, ondulando de um lado para o outro com os movimentos do navio. Acima de nós, à frente e atrás, havia mais deques – uma parede de escalada, uma pista de minigolfe, um restaurante giratório, mas nenhum sinal de vida. E, no entanto... Eu senti algo familiar. Algo perigoso. Tinha a impressão de que, se não estivesse tão cansado e exausto de tanta adrenalina por causa de nossa longa noite, talvez conseguisse dar um nome ao que estava errado.
– Precisamos de um esconderijo – disse eu. – Algum lugar seguro para dormir. – Dormir – concordou Annabeth, cansada.
Exploramos mais alguns corredores até chegarmos a uma suíte vazia no nono deque. A porta estava aberta, o que me pareceu estranho. Havia uma cesta de chocolates sobre a mesa, uma garrafa gelada de cidra espumante sobre a mesa de cabeceira e uma pastilha de hortelã em cima do travesseiro com um bilhete manuscrito que dizia: Aproveite seu cruzeiro!
Abrimos nossos sacos de viagem e descobrimos que Hermes realmente pensara em tudo – roupas, artigos de toalete, rações de acampamento, um saco ziploc cheio de dinheiro, uma bolsa de couro cheia de dracmas de ouro. Conseguira até mesmo incluir o oleado de Tyson com suas ferramentas e pedaços de metal, boné de invisibilidade de Annabeth, o que fez os dois se sentirem um pouco melhor.
– Vou estar na porta ao lado – disse Annabeth. – Você garotos, não bebam nem comam nada.
– Acha que este lugar é encantado?
Ela franziu a testa.
– Não sei. Alguma coisa não está certa. De qualquer jeito tenham cuidado.
Trancamos nossas portas. Tyson desabou na cama. Ele mexeu por alguns minutos em um projeto de trabalho em metal – que ainda não me mostrara – mas logo começou a bocejar. Enrolou seu oleado e adormeceu. Fiquei deitado na cama, olhando pela vigia. Pensei ter ouvido vozes no corredor, como sussurros. Sabia que não era possível. Andamos pelo navio inteiro e não vimos ninguém. Mas as vozes me mantiveram acordado. Elas me lembraram a viagem ao Mundo Inferior – os ruídos que os espíritos dos mortos faziam ao passarem. Por fim meu cansaço levou a melhor. Caí no sono... e tive pior pesadelo até então.


Eu estava em uma caverna, à beira de um poço enorme. Conhecia muito bem o lugar. A entrada para o Tártaro. E reconheci a risada fria que ecoava da escuridão abaixo.
Ora, ora, o jovem herói. A voz era como a lâmina de uma faca raspando pedra. A caminho de outra grande vitória.
Eu quis gritar para que Cronos me deixasse em paz. Quis sacar Contracorrente e derrubá-lo com um golpe. Mas não conseguia mover. E, mesmo que conseguisse, como iria matar alguém que tinha sido destruído – picado em pedacinhos e lançado nas eternas?
Não permita que eu o detenha, disse o titã. Talvez dessa vez, quando fracassar, vá perguntar a si mesmo se vale a pena ser escravo dos deuses. Como foi mesmo que seu pai demonstrou agradecimento nos últimos tempos?
Sua gargalhada encheu a caverna, e subitamente a cena mudou. Era uma caverna diferente – o quarto-prisão de Grover no covil do ciclope. Grover estava sentado junto ao tear usando seu vestido de noiva encardido, desfazendo em desespero os fios da cauda inacabada do vestido.
– Docinho! – gritou o monstro de trás da rocha.
Grover ganiu e começou a tecer os fios de volta. O quarto estremeceu quando a rocha foi empurrada para o lado. Assomando à porta estava um ciclope tão enorme que fazia Tyson parecer verticalmente desafiado. Tinha dentes amarelos e tortos e mãos ásperas quase do meu tamanho. Usava uma camiseta desbotada que dizia EXPO MUNDIAL DE CARNEIROS 2001. Devia medir pelo menos cinco metros, porém o mais assustador era seu enorme olho leitoso, marcado e recoberto por uma teia de catarata não era completamente cego, estava muito perto disso.
– O que está fazendo? – perguntou o monstro.
– Nada! – disse Grover em sua voz de falsete. – Só tecendo a cauda do meu vestido de noiva, como pode ver.
O ciclope estendeu uma das mãos para dentro do quarto e tateou até encontrar o tear. Apalpou o tecido.
– Não ficou nem um pouco maior!
– Ah! ahn, sim, ficou, querido. Está vendo? Acrescentei pelo menos três centímetros.
– Está demorando demais! – urrou o monstro. Então ele farejou o ar. – Você tem um cheiro bom! Como os bodes!
– Ah! – Grover forçou uma fraca risadinha. – Você gosta? É Eau de Chévre. Eu uso só para você.
– Mmrnm! – O ciclope mostrou os dentes pontudos. – Bom de comer!
– Ah, você é tão galanteador!
– Chega de atrasos!
– Mas, querido, eu não estou pronta!
– Amanhã!
– Não, não. Mais dez dias.
– Cinco!
– Ah! bem, então sete. Se você insiste.
– Sete! Isso é menos que cinco, certo?
– Certamente.
– Ah, sim!
O monstro resmungou, não muito satisfeito com sua negociação, mas deixou Grover continuar tecendo e rolou a rocha de volta a seu lugar. Grover fechou os olhos e respirou fundo, trêmulo, tentando acalmar os nervos.
– Depressa, Percy – murmurou ele. – Por favor, por favor, por favor!


Acordei com um apito do navio e uma voz no alto-falante – alguém com um sotaque australiano que parecia alegre demais.
– Bom dia, passageiros! Hoje estaremos no mar o dia inteiro. Tempo excelente para a festa de mambo à beira da piscina! Não esqueçam o bingo de um milhão de dólares no Salão do Kraken à uma hora, e para os nossos hóspedes especiais, exercícios de estripação no convés principal!
Sentei-me na cama.
– O que ele disse?
Tyson gemeu, ainda meio dormindo. Estava deitado na cama de barriga para baixo, os pés tão além da beirada que foram parar no banheiro.
– O homem alegre disse... exercício com equipamentos?
Esperava que ele estivesse certo, mas então ouvi uma batida insistente na porta interna da suíte. Annabeth enfiou a cabeça para dentro – os cabelos loiros pareciam um ninho de rato.
– Exercício de estripação?
Depois de vestidos nos aventuramos a caminhar pelo navio. Ficamos surpresos ao vermos outras pessoas. Uma dúzia de idosos indo tomar o café da manhã. Um pai levando os filhos para um mergulho matinal na piscina. Tripulantes em impecáveis uniformes tocando os chapéus em saudação para os passageiros. Ninguém perguntou quem éramos. Ninguém prestou muita atenção em nós. Mas havia algo errado. Quando a família de nadadores passou por nós, o pai disse aos filhos:
– Estamos num cruzeiro. Estamos nos divertindo.
– Sim – disseram as três crianças em uníssono, a expressão vazia.
– Estamos nos divertindo à beça. Vamos mergulhar na piscina.
Afastaram-se.
– Bom-dia! – disse-nos um tripulante, os olhos vidrados. – Estamos nos divertindo a bordo do Princesa Andrômeda. Tenham um bom dia. – Ele se afastou.
– Percy, isso é muito estranho – sussurrou Annabeth. – Estão todos em uma espécie de transe.
Depois passamos por uma lanchonete e vimos nosso primeiro monstro. Era um cão infernal – um mastim preto, na fila do bufê, apoiado nas patas traseiras e com o focinho enfiado nos ovos mexidos. Devia ser jovem, pois era pequeno em comparação com a maioria – não maior que um urso-escuro. Ainda assim, meu sangue gelou. Eu quase tinha sido morto por um daqueles antes. O que era mais estranho: um casal de meia-idade estava na fila do bufê logo atrás do cão-demônio, esperando pacientemente sua vez de se servir dos ovos. Pareciam não estar notando nada de extraordinário.
– Perdi a fome – murmurou Tyson.
Antes que Annabeth ou eu pudéssemos responder, uma voz reptiliana veio do corredor:
– Maisss ssseisss chegaram ontem.
Annabeth fez gestos frenéticos em direção ao esconderijo mais próximo – o banheiro feminino – e nós três entramos depressa. Eu estava tão apavorado que nem me ocorreu ficar com vergonha. Alguma coisa, ou melhor, duas coisas passaram deslizando pela porta do banheiro, fazendo um barulho como o de uma lixa esfregada contra o carpete.
– Ssssim – disse uma segunda voz reptiliana. – Ele osss atrai. Logo essssstaremossss fortessss.
As coisas deslizaram para dentro da lanchonete com um silvo frio que poderia bem ser risada de cobra. Annabeth olhou para mim.
– Temos de dar o fora daqui.
– Acha que eu quero ficar no banheiro das meninas?
– Do navio, Percy! Temos de dar o fora do navio.
– Cheira mal – concordou Tyson. – E os cachorros comem todos os ovos. Annabeth tem razão. Precisamos dar o fora do banheiro e do navio.
Eu estremeci. Se Annabeth e Tyson estavam concordando em alguma coisa, calculei que seria melhor escutá-los. Então ouvi outra voz do lado de fora – uma voz que me deixou mais gelado que a de qualquer monstro.
– ... só uma questão de tempo. Não me pressione, Agrio!
Era Luke, sem dúvida alguma. Jamais esqueceria a voz dele.
– Não estou pressionando! – resmungou um outro cara. Sua voz era mais profunda e ainda mais zangada que a de Luke.
– Só estou dizendo que se esse jogo não compensar...
– Vai compensar – disparou Luke. – Eles vão morder a isca. Agora venha, temos de ir até a suíte do almirantado e verificar o caixão.
As vozes se afastaram pelo corredor. Tyson choramingou.
– Saímos agora?
Annabeth e eu trocamos olhares e entramos num acordo silencioso.
– Não podemos – eu disse a Tyson.
– Temos de descobrir o que Luke está aprontando – concordou Annabeth.
– E, se possível, vamos lhe dar uma surra, acorrentá-lo e arrastá-lo para o Monte Olimpo.

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