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O Mar de Monstros - CAP. 4

.. domingo, 17 de março de 2013

Capítulo 4 - Tyson brinca com fogo

Mitologicamente falando, se existe uma coisa que eu odeio mais do que trios de velhas são touros. No último verão, lutei com o Minotauro no topo da Colina Meio-Sangue. Dessa vez, o que vi lá em cima era ainda pior: dois touros. E não touros comuns, apenas, mas touros de bronze, do tamanho de elefantes. E mesmo aquilo não era ruim o bastante. É claro que eles também tinham de soltar fogo.

Assim que saímos do táxi, as Irmãs Cinzentas se safaram a toda rumo à Nova York, onde a vida era mais segura. Nem sequer esperaram pelo pagamento extra de três dracmas. Simplesmente nos largaram à beira da estrada, Annabeth com nada além de sua mochila e a faca, Tyson e eu ainda com as roupas desbotadas de ginástica.
– Ah, céus! – disse Annabeth, olhando para a batalha violenta na colina.
O que mais me preocupou não foram os touros em si. Ou os dez heróis de armadura de batalha completa, cujos traseiros de bronze estavam levando uma surra. O que me preocupava era que os touros estavam se movimentando por toda a colina, inclusive atrás do pinheiro. Aquilo não deveria ser possível. As fronteiras mágicas do acampamento não permitiam que monstros passassem além da árvore de Thalia. Mesmo assim os touros de metal estavam fazendo isso. Um dos heróis gritou:
– Patrulha de fronteira! Aqui! – Uma voz de menina... rouca e familiar. Patrulha de fronteira?, pensei. O acampamento não tinha patrulha de fronteira.
– É Clarisse – disse Annabeth. – Venha, temos que ajudá-la.
Normalmente, correr para ajudar Clarisse não estaria no topo da minha lista de "coisas a fazer". Ela era uma das maiores encrenqueiras do acampamento. Na primeira vez que nos vimos ela tentou apresentar minha cabeça a uma privada. Também era filha de Ares, e eu havia tido um desentendimento muito sério com o pai dela no último verão; portanto, agora o Deus da Guerra e todos os seus filhos basicamente não iam com a minha cara. Ainda assim ela estava em dificuldades. Seus combatentes estavam se dispersando, correndo em pânico diante do ataque dos touros. A grama estava em chamas em grandes faixas em volta do pinheiro. Um herói gritava e agitava os braços enquanto corria em círculos, o enfeite de crina de cavalo em seu capacete ardendo como um cocar flamejante. A armadura da própria Clarisse estava chamuscada. Ela lutava com um cabo de lança quebrada, a outra extremidade estava cravada inutilmente na junta metálica do ombro um dos touros.
Tirei a tampa da minha caneta esferográfica. Ela cintilou e foi ficando cada vez mais comprida e pesada até eu me ver segurando nas mãos a espada de bronze Anaklusmos.
– Tyson, fique aqui. Não quero que se arrisque mais.
– Não! – disse Annabeth. – Precisamos dele.
Olhei para ela.
– Ele é mortal. Teve sorte com as bolas de queimado, mas ele não pode...
– Percy, você sabe o que é aquilo lá em cima? Os touros de Colchis, feitos pelo próprio Hefesto. Não podemos combatê-los sem o Filtro Solar de Medeia, com fator de proteção 50 mil. Vamos ser queimados até virar torresmo.
– O quê de Medeia?
Annabeth revirou a mochila e praguejou.
– Eu tinha um pote de essência de coco tropical na minha cabeceira, em casa. Por que não trouxe comigo?
Tinha aprendido muito tempo atrás a não fazer muitas perguntas a Annabeth. Só me deixaria ainda mais confuso.
– Olhe, eu não sei do que você está falando, mas não vou permitir que Tyson seja frito.
– Percy...
– Tyson, fique aqui. – Ergui minha espada. – Vou entrar.
Tyson tentou protestar, mas eu já estava correndo colina acima na direção de Clarisse, que gritava com sua patrulha, tentando organizá-la em formação de falange. Era uma boa ideia. Os poucos que a ouviram formaram uma fileira ombro a ombro, encaixando seus escudos para forjar uma parede de couro e bronze, as lanças surgindo acima como cerdas de porco-espinho. Infelizmente, Clarisse só conseguiu reunir seis campistas. Os outros quatro ainda corriam em círculos com o capacete em chamas. Annabeth correu até eles, tentando ajudar. Provocou um dos touros para que a perseguisse e depois ficou invisível, confundindo o monstro completamente. O outro touro investiu contra a linha de Clarisse. Eu estava a meio caminho colina acima – não era perto o bastante para ajudar. Clarisse ainda nem me vira. O touro se movimentava depressa demais para uma coisa tão grande. A carcaça metálica brilhava ao sol. Tinha rubis do tamanho de punhos no lugar dos olhos e chifres de prata polida. Quando abria a boca articulada, uma coluna de chamas incandescentes era expelida.
– Mantenham a linha! – ordenou Clarisse a seus guerreiros.
Você podia falar qualquer coisa sobre Clarisse, mas ela era corajosa. Era uma menina grande com olhos cruéis como os do pai. Parecia ter nascido para usar uma armadura de batalha grega, mas até mesmo ela não me parecia capaz de resistir à investida daquele touro. Por azar, naquele momento, o outro touro perdeu o interesse em encontrar Annabeth. Virou-se e foi atrás de Clarisse, do seu lado desprotegido.
– Atrás de você! – gritei. – Cuidado!
Eu não devia ter dito nada, porque tudo o que consegui foi assustá-la. O Touro Número 1 colidiu contra o escudo dela e a falange se rompeu. Clarisse voou para trás e aterrissou em um pedaço de gramado em chamas. O touro passou direto por ela, mas não sem antes atingir os outros heróis com seu hálito de fogo. Os escudos derreteram instantaneamente em seus braços. Eles deixaram cair as armas e correram enquanto o Touro Número 2 se aproximava de Clarisse para o golpe final.
Eu me adiantei e agarrei Clarisse pelos cordões da armadura. Arrastei-a para fora do caminho bem no momento em que o Touro Número 2 passava como um trem de carga. Dei-lhe um bom golpe com Contracorrente e abri um imenso talho numa de suas laterais, mas o monstro apenas rachou e soltou um mugido, e continuou avançando. A fera não me tocou, mas pude sentir o calor da sua pele de metal. A temperatura de seu corpo poderia ter cozido um burrito congelado.
– Me solte! – Clarisse deu uma pancada na minha mão. – Percy, maldito!
Deixei-a cair como um saco junto ao pinheiro e me virei para enfrentar os touros. Estávamos agora do outro lado da colina, com o vale do Acampamento Meio-Sangue logo abaixo. Os chalés, as áreas de treinamento, a Casa Grande – todos em perigo caso os touros passassem por nós. Annabeth bradou ordens para os outros heróis, dizendo-lhes que se espalhassem e mantivessem os touros distraídos. O Touro Número 1 fez uma curva bem aberta e começou a voltar na minha direção. Ao passar pelo meio da colina, onde a linha invisível da fronteira deveria tê-lo detido, ele reduziu um pouco a velocidade, como se lutasse contra um vento forte; mas então rompeu a barreira e continuou avançando. O Touro Número 2 se virou para me enfrentar, com fogo crepitando no corte fundo que eu fizera em seu flanco. Não sei dizer se sentiu alguma dor, mas seus olhos de rubi pareciam fixos em mim como se eu tivesse acabado de levar as coisas para o lado pessoal.
Eu não podia lutar contra os dois touros ao mesmo tempo. Teria de derrubar o Touro Número 2 primeiro e cortar sua cabeça antes que o Touro Número 1 investisse de novo, até ficar ao meu alcance. Eu já sentia os braços cansados. Percebi quanto tempo passara desde a última vez que treinara com Contracorrente, e como perdera a prática. Ataquei, mas o Touro Número 2 lançou chamas contra mim. Rolei para o lado enquanto o ar se transformava em puro calor. Todo o oxigênio foi sugado de meus pulmões. Meu pé se prendeu em alguma coisa – uma raiz de árvore, talvez – e a dor subiu por meu tornozelo. Ainda assim, consegui desferir um golpe com a espada e decepei um pedaço do focinho do monstro. Ele se afastou galopando, fora de controle e desorientado. Mas, antes que eu pudesse me sentir muito satisfeito com aquilo, tentei ficar de pé e minha perna esquerda fraquejou. O tornozelo estava torcido, talvez quebrado. O Touro Número 1 investiu na minha direção. Não havia como me arrastar para fora do seu caminho. Annabeth gritou:
– Tyson, ajude-o!
Em algum lugar por perto, na direção do topo da colina, Tyson lamentou-se:
– Não... posso... atravessar!
– Eu, Annabeth Chase, lhe dou permissão para entrar no acampamento!
Uma trovoada sacudiu a encosta. De repente, Tyson estava lá, disparando em minha direção e gritando:
– Percy precisa de ajuda!
Antes que eu pudesse dizer que não, Tyson se jogou entre mim e touro bem quando ele soltou uma erupção de fogo nuclear.
– Tyson! – gritei.
A explosão rodopiou em volta dele como um tornado vermelho. Só consegui ver a silhueta negra de seu corpo. Soube com uma terrível certeza que meu amigo acabara de se transformar em uma coluna de cinzas. Mas, quando o fogo diminuiu, Tyson ainda estava lá, de pé, praticamente ileso. Nem mesmo suas roupas surradas foram chamuscadas. O touro deve ter ficado tão surpreso quanto eu, porque antes que pudesse exalar uma segunda erupção Tyson cerrou os punhos e golpeou a cara dele.
– VACA MALVADA!
Seus punhos abriram uma cratera no lugar onde estaria o focinho do touro. Duas pequenas colunas de fogo irromperam dos ouvidos. Tyson acertou-o de novo e amassou o bronze sob suas mãos como papel-alumínio. A cabeça do touro agora parecia um boneco de meia virado do avesso.
– No chão! – berrou Tyson.
O touro cambaleou e caiu de costas. As pernas balançaram debilmente no ar, o vapor escapando pela cabeça e outros lugares esquisitos. Annabeth correu para ver como eu estava. Meu tornozelo parecia estar cheio de ácido, mas ela me deu um pouco do néctar do Olimpo em seu cantil e imediatamente comecei a me sentir melhor. Havia um cheiro de queimado que depois percebi que vinha de mim. Os pelos em meus braços tinham ficado completamente chamuscados.
– E o outro touro? – Perguntei.
Annabeth apontou colina abaixo. Clarisse tinha cuidado da Vaca Malvada Número 2. Ela a empalara pela pata traseira com uma lança de bronze celestial. Com o focinho semidestruído e um enorme talho no flanco, o bicho tentava correr em câmara lenta, andando em círculos como algum tipo de animal de carrossel.
Clarisse tirou o capacete e marchou em nossa direção. Uma mecha do seu cabelo castanho fibroso estava fumegando, mas ela parecia nem notar.
– Você estragou tudo! – berrou ela para mim. – Eu tinha tudo sob controle!
Eu estava atordoado demais para responder. Annabeth resmungou:
– Bom ver você também, Clarisse.
– Argh! – gritou Clarisse. – Nunca, NUNCA tente me salvar de novo!
– Clarisse – disse Annabeth – você tem alguns campistas feridos.
Aquilo a fez cair era si. Até mesmo Clarisse se preocupava com os soldados sob seu comando.
– Eu vou voltar – rosnou ela, e depois se afastou pesadamente para avaliar os danos. Olhei para Tyson.
– Você não morreu.
Tyson baixou os olhos como se estivesse com vergonha.
– Desculpe-me. Vim ajudar. Desobedeci a você.
– Culpa minha – disse Annabeth. – Não tive escolha. Eu tinha de deixar Tyson cruzar a fronteira para salvá-lo. Caso contrário, você teria morrido.
– Deixá-lo cruzar a fronteira? – Perguntei. – Mas...
– Percy – disse ela – você já olhou para Tyson com atenção? Quer dizer... para seu rosto. Ignorar a Névoa e realmente olhar para ele.
A Névoa faz os seres humanos verem apenas o que seu cérebro pode processar... Eu sabia que ela podia enganar semideuses também, mas... olhei para o rosto de Tyson. Não foi fácil. Sempre tive dificuldade de olhar diretamente para ele, embora nunca tivesse entendido muito bem por quê. Achava que era só porque sempre havia manteiga de amendoim nos seus dentes tortos.
Forcei-me a focalizar seu nariz grande e sem jeito, depois, um pouco mais acima, seus olhos. Não, não olhos. Um olho. Um grande olho, castanho-bezerro, bem no meio da testa, com cílios grossos e grandes lágrimas escorrendo pelas bochechas dos dois lados.
– Tyson – gaguejei. – Você é um...
– Ciclope – sugeriu Annabeth. – Um bebê, a julgar pela aparência. Provavelmente foi por isso que ele não conseguiu atravessar a fronteira como os touros. Tyson é um dos órfãos sem-teto.
– Um dos quê?
– Eles estão em quase todas as grandes cidades – disse Annabeth, de um jeito desagradável. – São... erros, Percy. Filhos de espíritos da natureza e deuses... Bem, normalmente, um deus em particular... e nem sempre são perfeitos. Ninguém os quer. Eles são jogados de lado. Crescem nas ruas, sozinhos. Não sei como esse o encontrou, mas ele obviamente gosta de você. Devemos levá-lo a Quíron e deixar que ele decida o que fazer.
– Mas o fogo. Como...
– Ele é um ciclope. – Annabeth fez uma pausa, como se estivesse se lembrando de algo desagradável. – Eles operam as forjas dos deuses. Precisam ser imunes ao fogo. É o que eu vinha tentando lhe dizer.
Eu estava completamente chocado. Como nunca percebera o que Tyson era? Mas eu não tinha muito tempo para pensar nisso naquele momento. Toda a encosta da colina estava em chamas. Heróis feridos precisavam de atenção. E ainda havia dois touros derrubados para descartar, e eu não fazia ideia de como eles iriam caber nas nossas caçambas normais de lixo reciclável. Clarisse voltou e limpou a fuligem da testa.
– Jackson, se você puder aguentar, levante-se. Precisamos carregar os feridos de volta para a Casa Grande e informar a Tântalo o que aconteceu.
– Tântalo? – perguntei.
– O diretor de atividades – disse Clarisse, impaciente.
– O diretor de atividades é Quíron. E onde está Argos? Ele é o encarregado da segurança. Devia estar aqui.
Clarisse fez uma cara amarga.
– Argos foi despedido. Vocês dois estiveram afastados por muito tempo. As coisas estão mudando.
– Mas, Quíron... Ele treina garotos para combater monstros há mais de três mil anos. Não pode ter simplesmente ido embora. O que aconteceu?
– Aquilo aconteceu – disparou Clarisse.
Ela apontou para a árvore de Thalia. Todos os campistas conheciam a história da árvore. Seis anos antes, Grover, Annabeth e dois outros semideuses chamados Thalia e Luke chegaram ao Acampamento Meio-Sangue perseguidos por um exército de monstros. Quando se viram acuados no topo da colina, Thalia, filha de Zeus, montou resistência ali, para dar tempo aos amigos de alcançar a segurança. Quando ela estava morrendo. Zeus se apiedou e a transformou em um pinheiro. Seu espírito reforçou as fronteiras mágicas do acampamento, protegendo-o de monstros. O pinheiro estava lá desde então, forte e saudável. Mas agora suas folhas estavam amarelas. Uma enorme pilha de folhas mortas se acumulava na base da árvore. No centro do tronco, a um metro do chão, havia uma perfuração do tamanho de um buraco de bala, gotejando seiva verde.
O gelo cortou meu peito. Agora eu entendia por que o acampamento estava em perigo. As fronteiras mágicas estavam falhando porque a árvore de Thalia estava morrendo. Alguém a envenenara.

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