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O Mar de Monstros - CAP. 19

.. domingo, 17 de março de 2013

Capítulo 19 - A corrida de carruagens termina com uma explosão

Chegamos a Long Island logo depois de Clarisse, graças à capacidade de deslocamento dos centauros. Cavalguei no lombo de Quíron, mas não conversamos muito, especialmente sobre Cronos. Eu sabia que tinha sido difícil para ele me contar. Não queria pressioná-lo com mais perguntas. Quer dizer, eu conheci uma grande quantidade de parentes embaraçosos, mas, Cronos, o maligno senhor titã que queria destruir a civilização ocidental? Não era o tipo de pai que a gente convida para a escola no "dia da profissão". Quando chegamos ao acampamento, os centauros estavam ansiosos por conhecer Dioniso. Tinham ouvido falar que ele promovia festas insanas, mas ficaram desapontados. O deus do vinho não estava com disposição para celebrar quando o acampamento inteiro se reuniu no topo da Colina Meio-Sangue.

O acampamento acabara de passar por duas semanas difíceis. O chalé de artes e ofícios fora totalmente queimado no ataque de um Draco Aionius (que, até onde pude imaginar, é um nome latino para "enorme lagarto que faz as coisas irem pelos ares"). Os quartos da Casa Grande estavam transbordando de feridos. As crianças do chalé de Apoio, que eram os melhores curandeiros, estiveram trabalhando horas a fio nos primeiros socorros. Todos pareciam exaustos e maltratados quando nos amontoamos em volta da árvore de Thalia. No momento em que Clarisse pendurou o Velocino de Ouro no galho mais baixo, o luar pareceu clarear, passando de cinzento para um prata-claro. Uma brisa fresca sussurrou entre os galhos e fez o capim ondular até o vale. Tudo entrou em um foco mais nítido – a luz dos vaga-lumes nos bosques, o aroma dos campos de morangos, o som das ondas na praia. Aos poucos, as agulhas do pinheiro começaram a esverdear, perdendo o tom marrom. Todos vibraram. Estava acontecendo devagar, mas não havia dúvida – a mágica do Velocino penetrava na árvore, enchendo-a com uma força nova e expelindo o veneno. Quíron ordenou vigia vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, no topo da colina, pelo menos até que pudesse arranjar um monstro apropriado para proteger o Velocino. Disse que publicaria um anúncio no Semanário do Olimpo imediatamente.
Nesse meio-tempo, Clarisse foi carregada nos ombros por seus companheiros de chalé até o anfiteatro, onde foi homenageada com uma coroa de louros e muita comemoração em volta da fogueira. Ninguém deu a menor atenção a Annabeth ou a mim. Era como se nunca tivéssemos partido. Acho que era o melhor agradecimento que poderíamos receber, porque, se admitissem que tínhamos escapulido furtivamente do acampamento para realizar a missão, teriam de nos expulsar. E, na verdade, eu não queria mesmo mais nenhuma atenção. Era boa a sensação de ser apenas um dos campistas, para variar.
Mais tarde, naquela noite, quando estávamos assando guloseimas e ouvindo os irmãos Stoll nos contarem uma história de fantasmas sobre um rei perverso que fora comido vivo por doces demoníacos no café da manhã, Clarisse me empurrou por trás e sussurrou ao meu ouvido:
– Não é porque você foi legal uma vez, Jackson, que está fora de perigo com Ares. Ainda estou esperando a oportunidade certa para transformá-lo em pó.
Dei-lhe um sorriso de má vontade.
– O quê? – perguntou ela.
– Nada – disse eu. – É bom estar em casa.


Na manhã seguinte, depois que os pôneis de festa partiram de volta para a Flórida, Quíron fez um aviso de surpresa: as corridas de bigas seriam realizadas conforme programado. Todos tínhamos imaginado que elas ficariam para trás, já que Tântalo se fora, mas completá-las parecia ser a coisa certa a fazer, especialmente agora que Quíron estava de volta e o acampamento estava seguro. Tyson não ficou muito entusiasmado com a ideia de entrar novamente numa biga depois da nossa primeira experiência, e ficou feliz em deixar que eu formasse uma equipe com Annabeth. Eu conduziria, Annabeth defenderia e Tyson atuaria como nosso mecânico de pit-stop
Enquanto eu trabalhava com os cavalos, Tyson consertou a carruagem de Atena e acrescentou todo um pacote de modificações especiais. Passamos os dois dias seguintes treinando como loucos. Annabeth e eu concordamos que, caso vencêssemos, o prêmio de nenhum trabalho na cozinha durante um mês inteiro seria dividido entre nossos dois chalés. Como Atena tinha mais campistas, teria a maior parte da folga, o que, por mim, estava o.k.
Eu não me importava com o prêmio. Só queria vencer.
Na noite anterior à corrida, fiquei acordado até tarde nos estábulos. Estava conversando com nossos cavalos, dando-lhes as instruções finais, quando alguém bem atrás de mim disse:
– Belos animais, os cavalos. Gostaria de ter pensado neles.
Um cara de meia-idade em uniforme dos correios estava encostado na porta do estábulo. Era magro, com cabelo preto encaracolado embaixo do elmo branco, e carregava um malote postal pendurado no ombro.
– Hermes? – gaguejei.
– Olá, Percy. Não me reconheceu sem as roupas de corrida?
– Ahn...
Eu não sabia muito bem se deveria me ajoelhar, comprar selos ou o quê. Então me ocorreu por que ele devia estar ali.
– Ah!, escute, senhor Hermes, quanto a Luke...
O deus arqueou as sobrancelhas.
– Ahn, nós o vimos, tudo bem – disse eu – mas...
– Vocês não conseguiram fazê-lo ouvir a voz da razão?
– Bem, nós tentamos nos trucidar mutuamente em um duelo até a morte.
– Entendo. Você tentou a aproximação diplomática.
– Sinto muito mesmo. Quer dizer, você nos deu aqueles presentes impressionantes e tudo. E eu sei que você queria que Luke voltasse. Mas... ele se tornou mau. Mau mesmo, pra valer. Ele disse que tem a sensação de que você o abandonou.
Esperei Hermes ficar furioso. Imaginei que ele me transformaria em um hamster ou coisa assim, e eu não tinha a menor vontade ser de novo um roedor. Em vez disso, ele apenas suspirou.
– Você já teve a impressão de que seu pai o abandonou, Percy?
Ai, ai, ai. Tive vontade de dizer: "Só algumas centenas de vezes por dia.” Eu não falava com Poseidon desde o último verão. Nunca estivera sequer em seu palácio submarino. E também havia toda aquela coisa com Tyson – nenhum aviso, nenhuma explicação. Simplesmente, bum! Você tem um irmão. É de se imaginar que uma pessoa mereça uma ligaçãozinha para avisar, ou coisa assim.
Quanto mais eu pensava nisso, mais zangado ficava. Percebi que realmente queria reconhecimento pela missão que completara, mas não dos outros campistas. Queria que meu pai dissesse alguma coisa. Que reparasse em mim. Hermes acomodou melhor o malote no ombro.
– Percy, a parte mais difícil de ser um deus é que você, muitas vezes, precisa agir indiretamente, em especial quando se trata dos próprios filhos. Se fôssemos interferir todas as vezes em que os nossos filhos têm um problema... bem, isso só iria criar mais problemas e mais ressentimento. Mas eu acredito que se você pensar um pouco nisso verá que Poseidon tem prestado atenção em você. Ele respondeu às suas preces. Posso apenas esperar que algum dia Luke também perceba isso em relação a mim. Quer você ache que teve sucesso, quer não, lembrou a Luke quem era ele. Você falou com ele.
– Eu tentei matá-lo.
Hermes encolheu os ombros.
– Famílias são complicadas. Famílias imortais são eternamente complicadas. As vezes, o melhor que podemos fazer é lembrar um ao outro que somos aparentados, aconteça o que acontecer... e tentar limitar ao mínimo as mortes e mutilações.
Aquilo não pareceu exatamente uma receita para a família perfeita. Mas, por outro lado, pensando na minha missão, percebi que talvez Hermes estivesse certo. Poseidon enviara os cavalos-marinhos para nos ajudar. Ele me dera poderes sobre o mar de que nunca ouvira falar antes. E havia Tyson. Será que Poseidon nos pusera juntos de propósito? Quantas vezes Tyson salvara minha vida naquele verão? À distância, soou a trombeta de concha, anunciando a hora de recolher.
– Você precisa ir para a cama – disse Hermes. – Eu já o ajudei a se meter em encrencas suficientes este verão. Na verdade, só vim para fazer esta entrega.
– Uma entrega?
– Eu sou o mensageiro dos deuses, Percy. – Ele tirou um aparelho de protocolo eletrônico de sua mala postal e entregou para mim. – Assine aqui, por favor.
Peguei a caneta do aparelho antes de perceber que nela havia um par de minúsculas serpentes verdes entrelaçadas.
– Ah!
Deixei a caneta cair.
Ai!, disse George.
Realmente, Percy, ralhou Martha. Você gostaria de ser derrubado no chão de um estábulo?
– Ah!, ahn, desculpe.
Eu não gostava muito de tocar em serpentes, mas peguei de novo o aparelho e a caneta. Martha e George se retorceram embaixo dos meus dedos formando uma espécie de apoio para lápis, como os que meu professor de educação especial me fazia usar na segunda série.
Você me trouxe um rato?, perguntou George.
– Não... – disse eu. – Nós, ahn, não encontramos nenhum.
E um porquinho-da-índia?
George!, repreendeu Martha. Não provoque o menino.
Assinei e devolvi o aparelho para Hermes. Em troca, ele me entregou um envelope azul-mar. Meus dedos tremeram. Mesmo antes de abrir, percebi que era do meu pai. Pude sentir seu poder no papel azul frio, como se o próprio envelope tivesse sido dobrado com uma onda do oceano.
– Boa sorte amanhã – disse Hermes. – É uma bela parelha de cavalos que você tem ali, mas vai ter de me desculpar se eu torcer pelo chalé de Hermes.
E não fique desanimado demais depois de ler isto, meu querido, disse Martha. Ele de fato se preocupa com você.
– O que você quer dizer? – perguntei.
Não ligue para ela, disse George. E da próxima vez, lembre-se, as serpentes trabalham por gorjetas.
– Já basta, vocês dois – disse Hermes. – Adeus, Percy. Por enquanto.
Pequenas asas brancas brotaram em seu elmo. Ele começou a brilhar, e eu sabia o bastante sobre os deuses para desviar os olhos antes que ele revelasse sua verdadeira forma divina. Com um brilhante clarão branco, ele se foi, e fiquei sozinho com os cavalos. Olhei para o envelope azul em minhas mãos. Estava endereçado em uma caligrafia forte, mas elegante, que eu já vira uma vez, em um pacote que Poseidon me enviara no último verão.

Percy Jackson
Acampamento Meio-Sangue
Fram Road, 3.141
Long Island,
Nova York, 11954

Uma carta de verdade do meu pai. Talvez ele dissesse que eu tinha feito um bom trabalho ao conseguir o Velocino. Explicasse a respeito de Tyson, ou pedisse desculpas por não ter falado comigo antes. Havia tantas coisas que eu gostaria que estivessem naquela carta. Abri o envelope e desdobrei o papel. Era simples o que estava escrito no meio da página:

Prepare-se

Na manhã seguinte, estava todo mundo aos cochichos sobre a corrida de bigas, embora ficassem olhando nervosamente para o céu como se esperassem ver pássaros de Estinfália se reunindo. Não apareceu nenhum.
Era um lindo dia de verão, com céu azul e muito sol. O acampamento começava a ter a aparência que deveria: as campinas estavam verdes e luxuriantes; as colunas brancas reluziam nos edifícios gregos; dríades brincavam alegres nos bosques. E eu me sentia infeliz. Ficara acordado a noite inteira, pensando no aviso de Poseidon. Prepare-se. Quer dizer, ele se dá ao trabalho de escrever uma carta e escreve apenas aquilo?
Martha, a serpente, me dissera para não ficar desapontado. Talvez Poseidon tivesse uma razão para ser tão vago. Talvez não soubesse exatamente sobre o que estava me advertindo, mas sentisse que algo grandioso estava prestes a acontecer – algo que poderia me deixar completamente arrasado, a não ser que estivesse preparado.
Foi difícil, mas tentei voltar meus pensamentos para a corrida. Enquanto Annabeth e eu nos encaminhávamos para a pista não pude deixar de admirar o trabalho que Tyson fizera na biga de Atena. A carruagem reluzia com seus reforços de bronze. As rodas tinham sido realinhadas com uma suspensão mágica que deslizávamos sem um solavanco sequer. O arreamento dos cavalos estava tão perfeitamente equilibrado que a parelha virava ao mais leve puxão nas rédeas. Tyson fizera dois dardos para nós, cada qual com três botões no cabo. O primeiro botão preparava o dardo para explodir com o impacto, liberando um arame farpado que se embaraçaria nas rodas de um oponente e as despedaçaria. O segundo botão produzia uma ponta de bronze rombuda (mas ainda assim muito dolorosa) projetada para derrubar o auriga. O terceiro botão produziria um arpéu que poderia ser usado para travar a carruagem do inimigo ou empurrá-la para longe.
Calculei que estávamos em excelente condição para a corrida, mas Tyson assim mesmo me advertiu para ser cuidadoso. As equipes das outras carruagens tinham truques à beça para puxar dos seus mantos.
– Aqui – disse ele pouco antes de começar a corrida.
Ele me entregou um relógio de pulso. Não havia nele nada de especial – apenas um mostrador branco e prata e uma pulseira de couro preto – mas assim que o vi percebi que era naquilo que eu o vira trabalhar durante todo o verão. Normalmente não uso relógio. Que importância tem saber as horas? Mas não podia dizer não a Tyson.
– Obrigado, parceiro. – Coloquei-o no pulso e descobri que era surpreendentemente leve e confortável. Eu mal sentia que o estava usando.
– Não consegui terminá-lo em tempo para a viagem – murmurou Tyson. – Desculpe, desculpe.
– Ei, cara. Não é importante.
– Se precisar de proteção na corrida – aconselhou ele – aperte o botão.
– Ah, legal!
Não vi como a hora certa poderia ajudar grande coisa, mas fiquei comovido por Tyson ter se preocupado. Prometi a ele que me lembraria do relógio.
– E... ei, ahn, Tyson...
Ele olhou para mim.
– Eu queria dizer, bem...
Tentei imaginar como me desculpar por ter sentido vergonha dele antes da missão, por ter dito a todos que ele não era meu irmão de verdade. Não foi fácil encontrar as palavras.
– Eu sei o que você vai me dizer – disse Tyson, parecendo encabulado. – Poseidon, no fim das contas, se preocupava comigo.
– Ahn, bem...
– Ele mandou você para me ajudar. Exatamente o que eu pedi.
Eu pisquei.
– Você pediu... a mim para Poseidon?
– Pedi um amigo – disse Tyson, torcendo a camisa nas mãos. – Os jovens ciclopes crescem sozinhos nas ruas, aprendem a fazer coisas com sucata. Aprendem a sobreviver.
– Mas isso é tão cruel!
Ele sacudiu a cabeça com vigor.
– Isso nos faz apreciar nossas bênçãos, não ser gananciosos, maus e gordos como Polifemo. Mas eu ficava com medo. Os monstros me perseguiram tanto, às vezes me machucavam com suas garras...
– As cicatrizes nas suas costas?
Uma lágrima surgiu no olho dele.
– A esfinge da Rua Setenta e Dois. Grande encrenqueira. Pedi ajuda ao papai. Logo o pessoal de Meriwether me encontrou. Conheci você. A maior bênção de todas. Sinto por ter dito que Poseidon era mau. Ele me mandou um irmão.
Olhei para o relógio que Tyson me dera.
– Percy! – chamou Annabeth. – Vamos!
Quíron estava junto à linha de partida, pronto para soprar a concha.
– Tyson... – falei.
– Vá – disse Tyson. – Vocês vão vencer!
– Eu... sim, certo, grandão. Vamos vencer esta por você.
Subi na biga e fiquei em posição bem na hora em que Quíron deu a largada. Os cavalos sabiam o que fazer. Disparamos pela pista tão depressa que eu teria caído da carruagem se meus braços não tivessem enrolado nas rédeas de couro. Annabeth se segurou firme no parapeito. As rodas deslizavam lindamente. Entramos na primeira curva com uma biga inteira de vantagem sobre Clarisse, que estava ocupada tentando se defender de um ataque de dardo dos irmãos Stoll na biga de Hermes.
– Nós os pegamos – gritei, mas foi cedo demais.
– Chegando! – gritou Annabeth.
Ela lançou seu primeiro dardo no modo arpéu, jogando longe uma rede com pesos de chumbo que teria envolvido nós dois. A carruagem de Apolo chegara ao nosso lado. Antes que Annabeth pudesse se armar de novo, o guerreiro de Apolo lançou um dardo contra nossa roda direita. O dardo se despedaçou, mas não sem antes arrebentar um dos raios. Nossa biga deu uma guinada brusca e oscilou. Tive certeza de que a roda iria se desintegrar de vez, mas de algum modo continuamos em frente. Instiguei os cavalos a manter a velocidade. Estávamos agora pescoço com pescoço com Apolo. Hefesto vinha logo depois. Ares e Hermes estavam ficando para trás, lado a lado enquanto Clarisse enfrentava Connor Stoll de espada contra dardo. Se fôssemos atingidos mais uma vez na roda, sabia que iríamos capotar.
– Você é meu! – gritou o auriga de Apolo. Era um campista de primeiro ano. Não me lembro do seu nome, mas certamente tinha autoconfiança.
– Ah, tá! – Annabeth gritou de volta. Ela pegou o segundo dardo – um grande risco, considerando que ainda tínhamos uma volta completa pela frente – e o lançou contra o auriga de Apolo.
A pontaria foi perfeita. A ponta rombuda surgiu bem no momento em que o dardo atingiu o auriga no peito, derrubando-o sobre o parceiro e fazendo os dois tombarem da carruagem num salto-mortal para trás. Os cavalos sentiram as rédeas afrouxarem e enlouqueceram, galopando direto para a multidão. Campistas correram procurando proteção enquanto os cavalos passaram no canto das arquibancadas e a biga dourada virou. Os animais galoparam de volta para o estábulo, arrastando a carruagem emborcada atrás deles. Consegui manter nossa biga inteira ao longo da segunda curva, a despeito dos gemidos da roda direita. Passamos pela linha de partida e entramos trovejando na volta final. O eixo rangia e chiava. A roda instável estava nos fazendo perder velocidade, muito embora os cavalos respondessem a todos os meus comandos, correndo como uma máquina bem lubrificada. A equipe de Hefesto continuava avançando. Beckendorf sorriu ao pressionar um botão no seu painel de controle. Cabos de aço foram lançados da frente de seus cavalos mecânicos e se enroscaram na traseira de nossa biga. A carruagem estremeceu quando o sistema de guincho de Beckendorf começou a funcionar – arrastando-nos para trás enquanto Beckendorf era puxado para a frente.
Annabeth praguejou e puxou sua faca. Ela golpeou os cabos, mas eram grossos demais.
– Não consigo cortá-los! – gritou. A carruagem de Hefesto estava agora perigosamente próxima, os cavalos a ponto de nos esmagar com os cascos.
– Troque comigo! – disse a Annabeth. – Pegue as rédeas!
– Mas...
– Confie em mim!
Ela passou para a frente e agarrou as rédeas. Eu me virei, num esforço para manter o equilíbrio, e destampei Contracorrente. Dei um golpe para baixo e os cabos arrebentaram como linha de pipa. Fomos lançados para a frente, mas o auriga de Beckendorf simplesmente deu uma guinada para a esquerda e encostou a biga ao nosso lado. Beckendorf puxou sua espada. Ele desferiu um golpe contra Annabeth, e eu o desviei. Estávamos entrando na última curva. Jamais conseguiríamos. Eu precisava desestabilizar a carruagem de Hefesto e tirá-la do caminho, mas também tinha de proteger Annabeth. Beckendorf era um cara legal, mas isso não significava que ele não iria mandar nós dois para a enfermaria se baixássemos a guarda. Estávamos agora pescoço com pescoço, Clarisse se aproximando atrás, recuperando o tempo perdido.
– Até mais, Percy! – gritou Beckendorf.
– Aí vai um presentinho de despedida!
Ele atirou uma bolsa de couro em nossa biga. Aquilo grudou imediatamente no piso e começou a soltar uma fumaça verde.
– Fogo grego! – gritou Annabeth.
Eu praguejei. Tinha ouvido histórias sobre o que o fogo grego era capaz de fazer. Calculei que teríamos talvez dez segundos antes que aquilo explodisse.
– Livre-se dele! – gritou Annabeth. Mas eu não podia. A carruagem de Hefesto ainda estava ao lado, aguardando até o último segundo para se certificar de que seu presentinho explodiria. Beckendorf me mantinha ocupado com sua espada. Se eu baixasse a guarda por tempo suficiente para lidar com o fogo grego, Annabeth seria fatiada, e nós nos arrebentaríamos de um jeito ou de outro. Tentei chutar a bolsa de couro para longe, mas não consegui. Ela estava bem grudada. Então me lembrei do relógio. Não sabia como aquilo poderia ajudar, mas consegui apertar o botão do cronômetro.
No mesmo instante o relógio se transformou. Expandiu-se, o aro de metal girando para fora como um obturador de máquina fotográfica antiga, e uma correia de couro se enrolou em torno do meu antebraço até que me vi segurando um escudo de guerra redondo com um metro e meio de diâmetro, o lado de dentro de couro macio, o lado de fora de bronze polido, com desenhos gravados que não tive tempo de examinar. Tudo o que sabia era que Tyson se saíra bem. Ergui o escudo e a espada de Beckendorf retiniu contra ele. Sua lâmina se estilhaçou.
– O quê? – gritou ele. – Como...
Ele não teve tempo de dizer mais nada porque eu o atingi no peito com meu novo escudo e o fiz voar da carruagem e rolar pela poeira. Eu estava prestes a usar Contracorrente para golpear o auriga quando Annabeth gritou:
– Percy!
O fogo grego estava soltando fagulhas. Enfiei a ponta da minha espada embaixo da bolsa de couro e a usei como espátula. A bomba incendiaria saiu do lugar e voou para dentro da carruagem de Hefesto, caindo nos pés do auriga. Ele soltou um ganido. Em uma fração de segundo o auriga fez a escolha certa: mergulhou da carruagem, que seguiu em diagonal e explodiu labaredas verdes. Os cavalos de metal pareciam estar em curto-circuito. Contornaram e arrastaram os destroços em chamas na direção de Clarisse e dos irmãos Stoll, que tiveram de se desviar para evitá-los. Annabeth puxou as rédeas para a última curva. Eu me segurei, certo de que iríamos capotar, mas de algum modo ela conseguiu continuar e tocou os cavalos pela linha de chegada. Um clamor se ergueu da multidão. Depois que a carruagem parou, nossos amigos se aglomeraram ao nosso redor. Começaram a entoar nossos nomes, mas Annabeth gritou, por cima do barulho:
– Esperem! Escutem! Não fomos apenas nós!
A multidão não queria silenciar, mas Annabeth se fez ouvir:
– Não teríamos conseguido sem outra pessoa! Não poderíamos ter ganhado esta corrida, nem conseguido o Velocino, nem salvado Grover, nem nada! Devemos nossas vidas a Tyson...
– Meu irmão! – disse eu, bem alto para todos ouvirem. – Tyson, meu irmãozinho mais novo.
Tyson corou. A multidão delirou. Annabeth me tascou um beijo na bochecha. Os gritos ficaram ainda muito mais altos depois disso. Todo o chalé de Atena nos ergueu nos ombros, Annabeth, Tyson e eu – e nos carregou em direção ao pódio dos vencedores, onde Quíron aguardava para entregar as coroas de louros.

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