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O Mar de Monstros - CAP. 15

.. domingo, 17 de março de 2013

Capítulo 15 - Ninguém consegue o Velocino

– Eu peguei Ninguém! – exultou Polifemo.

Arrastamo-nos para a entrada da caverna e vimos o ciclope com um sorriso perverso segurando ar vazio no alto. O monstro sacudiu o punho e um boné de beisebol esvoaçou para o chão. Lá estava Annabeth, pendurada pelas pernas, de cabeça para baixo.
– Ah! – disse o ciclope. – Menina invisível detestável! Já tenho a mal-humorada para esposa. Isso quer dizer que você vai ser grelhada com chutney de manga! Annabeth se debateu, mas parecia atordoada. Tinha um corte feio na testa. Seus olhos estavam vidrados.
– Vou pegá-lo – sussurrei para Clarisse. – Nosso navio está na parte de trás da ilha. Você e Grover...
– Claro que não – disseram eles ao mesmo tempo.
Clarisse havia se armado com uma lança de chifre de carneiro, verdadeira peça de colecionador da caverna do ciclope. Grover encontrara um fêmur de carneiro, o que não o deixou muito satisfeito, mas o segurava como um porrete, pronto para atacar.
– Vamos pegá-lo juntos – rosnou Clarisse.
– Sim – disse Grover.
Ele então piscou, como se não pudesse acreditar que acabara de concordar com Clarisse.
– Tudo bem – disse eu. – Plano de ataque Macedônia.
Eles assentiram. Tínhamos passado pelos mesmos cursos de treinamento no Acampamento Meio-Sangue. Eles sabiam do que eu estava falando. Iriam dar a volta e se aproximar, um de cada lado, atacando o ciclope pelos flancos enquanto eu atraía sua atenção na frente. Provavelmente, isso significava que iríamos todos morrer, e não apenas eu, mas fiquei grato pela ajuda. Ergui minha espada e gritei:
– Ei, feioso!
O gigante se virou para mim.
– Mais um? Quem é você?
– Ponha minha amiga no chão. Fui eu quem o insultou.
– Você é Ninguém?
– Certo, seu balde fedorento de meleca de nariz!
Aquilo não pareceu tão bom quanto os insultos de Annabeth, mas foi tudo em que pude pensar.
– Eu sou Ninguém e me orgulho disso! Agora, coloque-a no chão e venha até aqui. Quero furar seu olho de novo.
– RAAAAR! – urrou ele. A boa notícia: ele deixou cair Annabeth. A má notícia: ele a deixou cair de cabeça nas pedras, onde ela ficou imóvel como uma boneca de trapos. A outra má notícia: Polifemo investiu contra mim, meia tonelada de ciclope que eu teria de enfrentar com uma espada muito pequena.
– Por Pan! – Grover atacou pela direita. Arremessou o osso de carneiro, que ricocheteou sem efeito na testa do monstro. Clarisse atacou pela esquerda e apoiou sua lança no chão bem a tempo de o ciclope pisar em cima dela. Ele uivou de dor, e Clarisse se atirou para fora do caminho, para evitar ser pisoteada. Mas o ciclope simplesmente puxou a lança como se fosse uma grande farpa e continuou em minha direção. Eu avancei com Contracorrente. O monstro tentou me agarrar. Rolei de lado e lhe dei uma estocada na coxa. Eu esperava vê-lo se desintegrar, mas o monstro era grande e forte demais.
– Pegue Annabeth! – gritei para Grover. Ele correu até lá, agarrou o boné de invisibilidade e a levantou do chão enquanto Clarisse e eu tentávamos manter Polifemo distraído. Tenho de admitir, Clarisse foi valente. Ela investiu contra o ciclope vezes seguidas. Ele esmurrou o chão, tentou pisá-la, agarrá-la, mas ela era rápida demais. E, assim que ela atacava, eu a seguia, furando o monstro no dedão do pé, no tornozelo ou na mão. Mas não poderíamos continuar com aquilo para sempre. Acabaríamos nos cansando, ou o monstro poderia ter seu lance de sorte. Bastaria uma pancada para nos matar. Com o canto do olho vi Grover carregando Annabeth pela ponte de corda. Essa não teria sido minha primeira escolha, considerando os carneiros comedores de gente do outro lado, mas, naquele momento, parecia melhor do que o lado do precipício onde estávamos, e isso me deu uma ideia.
– Recue! – disse para Clarisse.
Ela rolou enquanto o punho do ciclope esmagava a oliveira ao lado dela. Corremos para a ponte, Polifemo logo atrás de nós. Ele estava todo cortado e mancava por causa dos muitos ferimentos, mas tudo o que tínhamos feito foi deixá-lo mais lento e enfurecido.
– Vou moê-los para fazer comida de carneiro! – prometeu. – Mil maldições sobre Ninguém!
– Mais depressa! – eu disse para Clarisse.
Disparamos colina abaixo. A ponte era nossa única chance. Grover acabara de atravessar para o outro lado e estava deitando Annabeth no chão. Tínhamos de passar antes que o gigante nos pegasse.
– Grover! – gritei. – Pegue a faca de Annabeth!
Seus olhos se arregalaram quando ele viu o ciclope atrás de nós, mas balançou a cabeça como se tivesse entendido. Quando Clarisse e eu nos precipitamos pela ponte, Grover começou a cortar as cordas. O primeiro fio de corda arrebentou com um estalo. Polifemo pulou atrás de nós, fazendo a ponte oscilar loucamente. A corda agora já estava metade cortada. Clarisse e eu mergulhamos para a terra firme, aterrissando ao lado de Grover. Num golpe, cortei os fios restantes com minha espada. A ponte despencou no precipício, e o ciclope uivou... de prazer, pois estava em pé bem ao nosso lado.
– Fracasso! – berrou, felicíssimo. – Ninguém fracassou!
Clarisse e Grover tentaram atacá-lo, mas o monstro os afastou com um tapa, como se fossem moscas. Minha raiva aumentou. Eu não podia acreditar que tinha chegado até ali, depois de perder Tyson, de sofrer e passar por tanta coisa, apenas para fracassar – detido por um monstro grande e estúpido de saiote azul-bebê feito de smokings. Ninguém iria derrubar meus amigos como moscas daquele jeito! Quer dizer... ninguém, não Ninguém. Ah, você sabe o que eu quero dizer!
A força percorreu meu corpo. Ergui a espada e ataquei, esquecendo que estava em irremediável desvantagem. Golpeei o ciclope na barriga. Quando ele se dobrou de dor, eu o atingi no nariz com o punho da espada. Cortei, chutei e bati até que, quando me dei conta, Polifemo estava estatelado de costas no chão, atordoado e gemendo, e eu estava em pé em cima dele, com a ponta da espada pairando sobre o seu olho.
– Uhhhhhhhhhhhh – gemeu Polifemo.
–Percy! – arfou Grover. – Como você...
– Por favor, nããããão! – gemeu o ciclope, olhando com tristeza para mim. Seu nariz sangrava. Uma lágrima se formou no canto do olho meio cego. – M-m-meus carneirinhos precisam de mim. Estava só tentando proteger meus carneiros!
Ele começou a soluçar. Eu vencera. Tudo o que tinha de fazer era fincar a espada – um golpe rápido.
– Mate-o! – berrou Clarisse. – O que está esperando?
O ciclope parecia tão desolado, tão parecido com... com Tyson.
– Ele é um ciclope! – avisou Grover. – Não confie nele!
Eu sabia que ele estava certo. Sabia que Annabeth teria dito a mesma coisa. Mas Polifemo soluçava... e pela primeira vez entrou na minha cabeça o fato de que ele também era filho de Poseidon. Como Tyson. Como eu. Como eu poderia simplesmente matá-lo a sangue frio?
– Nós só queremos o Velocino – disse ao monstro. – Você concorda em nos deixar levá-lo?
– Não! – gritou Clarisse. – Mate-o!
O monstro fungou.
– Meu lindo Velocino. Orgulho da minha coleção. Leve-o, ser humano cruel. Leve-o, e parta em paz.
– Vou recuar bem devagar – disse eu ao monstro. – Um movimento em falso...
Polifemo balançou a cabeça como se entendesse. Dei um passo atrás... e, rápido como uma cobra, Polifemo me deu uma pancada que me jogou na beira do penhasco.
– Mortal insensato! – urrou ele, pondo-se em pé. – Levar o meu Velocino? Rá! Vou comê-lo primeiro.
Ele abriu a boca enorme, e percebi que seus molares podres seriam a última coisa que eu veria na vida. Então algo passou zunindo por cima da minha cabeça e Bam! uma pedra do tamanho de uma bola de basquete foi parar na garganta de Polifemo – um arremesso perfeito, uma linda cesta de três pontos! O ciclope engasgou, tentando engolir a pílula inesperada. Cambaleou para trás, mas não havia espaço para cambalear. Seu calcanhar escorregou, a beirada do penhasco desmoronou e o grande Polifemo agitou os braços como uma galinha batendo as asas, o que não o ajudou em nada a voar enquanto despencava no abismo. Eu me virei. A meio caminho da trilha para a praia, completamente ileso no meio de um rebanho de carneiros assassinos, estava um velho amigo.
– Polifemo mau – disse Tyson. – Nem todos os ciclopes são tão bonzinhos como parecem.


Tyson nos deu uma versão resumida: Arco-íris, o cavalo-marinho que aparentemente vinha nos seguindo desde o estreito de Long Island, esperando para brincar com Tyson, encontrara-o afundando sob os destroços do Birmingham e o puxara para um lugar seguro. Ele e Tyson estiveram vasculhando o Mar de Monstros desde então, tentando nos achar, até que Tyson sentiu o cheiro de carneiros e encontrou esta ilha.
Tive vontade de abraçar o grandalhão bobo, só que ele estava no meio dos carneiros assassinos.
– Tyson, graças aos deuses. Annabeth está ferida!
– Você agradece aos deuses porque ela está ferida? – Perguntou ele, confuso.
– Não!
Ajoelhei-me ao lado de Annabeth e fiquei nauseado de preocupação com o que vi. O talho na testa dela era pior do que eu imaginara. A linha dos seus cabelos estava empapada de sangue. Sua pele estava pálida, fria e úmida. Grover e eu trocamos olhares nervosos. Então uma ideia me ocorreu.
– Tyson, o Velocino. Pode ir buscá-lo para mim?
– Qual deles? – disse Tyson, olhando em volta para as centenas de carneiros.
– Na árvore! – disse eu. – O de ouro!
– Ah! Bonito. Sim.
Tyson caminhou pesadamente até lá, tomando cuidado para não pisar os carneiros. Se algum de nós tivesse tentado se aproximar do Velocino, teria sido comido vivo, mas acho que Tyson tinha o mesmo cheiro que Polifemo, porque o rebanho não o incomodou. Apenas se aconchegaram nele e baliram afetuosamente, como se esperassem ganhar guloseimas de carneiro da grande cesta de vime. Tyson estendeu o braço e ergueu o Velocino do seu galho. No mesmo instante as folhas do carvalho ficaram amarelas. Tyson começou a voltar lentamente na minha direção, mas eu gritei:
– Não dá tempo! Jogue para cá!
A pele dourada de carneiro saiu voando pelo ar como um Frisbee de pelúcia brilhante. Agarrei-a com um gemido. Era mais pesada do que eu esperava - vinte e cinco ou trinta quilos de preciosa lã de ouro. Estendi o Velocino sobre Annabeth, cobrindo tudo, menos o rosto, e rezei silenciosamente para todos os deuses em que pude pensar, até os de que não gostava.
Por favor. Por favor. As cores voltaram ao rosto dela. Seus cílios tremeram e se abriram. O corte na testa começou a se fechar. Ela viu Grover e disse, fraca:
– Você não... se casou?
Grover arreganhou um sorriso.
– Não. Meus amigos me convenceram a não fazer isso.
– Annabeth – falei – fique quieta.
Mas, a despeito de nossos protestos, ela sentou, e notei que o corte em seu rosto estava quase completamente cicatrizado. Ela estava com uma aparência muito melhor. Na verdade, reluzia de saúde, como se alguém lhe tivesse dado uma injeção de brilho. Nesse meio-tempo, Tyson estava começando a ter problemas com os carneiros.
– Para baixo! – ele lhes disse quando tentaram escalá-lo, procurando comida. Alguns estavam farejando o ar em nossa direção. – Não, carneirinhos. Por aqui! Venham para cá!
Eles obedeceram, mas era óbvio que estavam com fome, e começavam a perceber que Tyson não tinha nenhuma guloseima para eles. Não iriam aguentar muito tempo com tanta carne fresca por perto.
– Temos de ir – disse eu. – Nosso navio está...
O Vingança da Rainha Ana estava muito, muito longe. O caminho mais curto seria pelo precipício, e tínhamos acabado de destruir a única ponte. A outra possibilidade era por entre os carneiros.
– Tyson – chamei – você pode levar o rebanho para o mais longe possível?
– Os carneiros querem comida.
– Eu sei! Eles querem comida humana! Tente afastá-los do caminho. Dê-nos tempo para chegar até a praia. Depois nos encontre lá.
Tyson pareceu indeciso, mas assobiou.
– Venham carneirinhos! Ahn, comida humana por aqui!
Ele correu para a campina, os carneiros no seu encalço.
– Mantenha-se enrolada no Velocino – disse a Annabeth. – Só para o caso de você ainda não estar completamente curada. Dá para ficar de pé?
Ela tentou, mas seu rosto ficou pálido de novo.
– Ohh. Não completamente curada.
Clarisse abaixou-se ao lado dela e apalpou seu tórax, o que fez Annabeth gemer.
– Costelas quebradas – disse Clarisse. – Estão se recompondo, mas com certeza estão quebradas.
– Como você sabe? – perguntei.
Clarisse me fulminou com o olhar.
– Porque eu já quebrei algumas, nanico! Vou ter de carregá-la.
Antes que eu pudesse discutir, Clarisse ergueu Annabeth como um saco de farinha e a carregou até a praia. Grover e eu fomos atrás. Assim que chegamos à beira d'água, me concentrei no Vingança da Rainha Ana. Ordenei-lhe que levantasse a âncora e se deslocasse até mim. Depois de alguns minutos ansiosos avistei o navio dobrando a extremidade da ilha.
– Chegando! – gritou Tyson.
Ele estava aos pulos trilha abaixo para juntar-se a nós, os carneiros cerca de cinquenta metros atrás, balindo de frustração porque o amigo ciclope saíra correndo sem alimentá-los.
– Eles provavelmente não nos seguirão dentro d'água – disse eu aos outros. – Tudo o que temos de fazer é nadar até o navio.
– Com Annabeth nesse estado? – protestou Clarisse.
– Podemos fazer isso – insisti. Eu estava começando a me sentir confiante de novo. Estava de volta ao meu ambiente, o mar.
– Depois que chegarmos ao navio, estaremos em segurança. De novo, nós quase conseguimos. Tínhamos acabado de atravessar a entrada da ravina quando ouvimos um tremendo rugido e vimos Polifemo, arranhado e esfolado, porém ainda muito vivo, o traje de casamento azul-bebê em farrapos, andando na nossa direção com uma pedra em cada mão.

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