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O Mar de Monstros - CAP. 10

.. domingo, 17 de março de 2013

Capítulo 10 - Pegamos uma carona com confederados mortos

– A garrafa térmica! – gritei enquanto despencávamos para a água.

– O quê? – Annabeth deve ter pensado que eu tinha perdido a cabeça. Estava agarrada às alças do bote como se sua vida dependesse disso, os cabelos voando para o alto, como uma tocha. Mas Tyson entendeu. Conseguiu abrir meu saco de viagem e tirar de lá a garrafa mágica sem largar o saco nem o bote. Flechas e dardos passaram por nós assobiando. Agarrei a garrafa térmica e torci para estar fazendo a coisa certa.
– Segurem firme!
– Eu estou segurando firme! – gritou Annabeth.
– Mais firme!
Enganchei o pé embaixo do banco inflável do bote, e enquanto Tyson nos segurava pelas costas das camisas dei um quarto de volta na tampa da garrafa. No mesmo instante, uma lufada branca de vento escapou e nos arremessou para o lado, transformando o mergulho vertical em uma aterrissagem de emergência a quarenta e cinco graus. O vento pareceu dar risadas quando escapou da garrafa térmica, como se estivesse contente por se ver livre. Quando atingimos o oceano, batemos uma, duas vezes, quicando como uma pedra, então disparamos como uma lancha, com água salgada borrifando o rosto e nada além de mar à nossa frente. Ouvi um grito de indignação vindo do navio atrás de nós, mas já estávamos fora do alcance das armas. O Princesa Andrômeda ia ficando menor a distância, até parecer um barquinho branco brinquedo, e depois desapareceu.
Enquanto disparávamos pelo mar, Annabeth e eu tentamos enviar uma mensagem de íris para Quíron. Pensamos que seria importante contar a alguém o que Luke estava fazendo, e não sabiam em quem mais confiar. O vento da garrafa agitou um ótimo borrifo de mar que formou um arco-íris à luz do sol – perfeito para uma mensagem de íris – mas nossa conexão ainda era fraca. Quando Annabeth atirou um dracma de ouro na névoa e rezou à deusa do arco-íris para nos mostrar Quíron, o rosto dele apareceu, mas havia algum tipo estranho de luz estroboscópica ao fundo e rock em volume alto, como se ele estivesse em alguma casa noturna. Contamos a ele sobre a fuga do acampamento e sobre Luke, o Princesa Andrômeda e o caixão dourado para os restos de Cronos, mas com o barulho do lado dele e o ruído do vento e da água do nosso lado, não sabia o que ele tinha ouvido.
– Percy – gritou Quíron – você precisa tomar cuidado com...
Sua voz foi abafada por uma gritaria alta atrás dele – um porção de vozes aos berros, como guerreiros comanches.
– O quê? – gritei.
– Malditos parentes! – Quíron desviou-se quando um motor passou voando por cima da sua cabeça e se estilhaçou em algum lugar fora de vista. – Annabeth, você não devia ter deixado Percy sair do acampamento! Mas se vocês de fato conseguirem pegar o Velocino...
– Yeah, baby! – berrou alguém atrás de Quíron. – Iuuhuuuuu!
O volume da música aumentou, os subwoofers ficaram tão altos fizeram o bote vibrar.
– ...Miami – gritava Quíron. – Vou tentar ficar atento...
Nossa tela de névoa se despedaçou como se alguém do outro lado tivesse atirado uma garrafa contra ela, e Quíron se foi.


Uma hora depois, avistamos terra – uma longa extensão de praia com edifícios altos de hotéis. A água se tornou abarrotada de barcos de pesca e petroleiros. Uma lancha da guarda costeira passou a estibordo, depois virou como se quisesse dar uma segunda olhada. Acho que não é todos os dias que eles veem um bote salva-vidas amarelo sem motor navegando a cem nós por hora, tripulado por três crianças.
– Aquela é Virgínia Beach! – disse Annabeth quando nos aproximamos do litoral. – Ah! meus deuses, como o Princesa Andrômeda chegou tão longe em uma noite? São cerca de...
– Quinhentas e trinta milhas náuticas – disse eu.
Ela olhou para mim.
– Como você sabe?
– Eu... eu não tenho certeza.
Annabeth pensou um momento.
– Percy, qual é a nossa posição?
– Trinta e seis graus e 44 minutos Norte, 76 graus e 2 minutos Oeste – falei imediatamente. Então sacudi a cabeça. – Epa! como é que eu soube isso?
– Por causa de seu pai – supôs Annabeth. – Quando você está no mar, tem um senso de orientação perfeito. Isso é muito legal.
Eu não estava tão certo daquilo. Não queria ser um GPS humano. Mas, antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Tyson bateu em meu ombro.
– Um outro barco vem vindo.
Olhei para trás. O barco da guarda costeira sem dúvida estava agora atrás de nós. As luzes piscavam e ele ganhava velocidade.
– Não podemos deixar que nos peguem – falei.
– Vão fazer perguntas demais.
– Continue na direção da baía de Chesapeake – disse Annabeth. – Sei de um lugar onde podemos nos esconder.
Não perguntei o que ela queria dizer, ou como conhecia tão bem a área. Arrisquei afrouxar a tampa da garrafa térmica mais um pouco, e uma nova lufada de vento nos arremessou como um foguete, contornamos a extremidade norte de Virgínia Beach e entramos na baía de Chesapeake. O barco da guarda costeira ficava cada vez mais para trás. Não reduzimos a velocidade até as margens da baía se estreitarem dos dois lados, e percebi que estávamos adentrando o estuário de um rio.
Pude sentir a passagem da água salgada para a água doce. De repente me senti exausto e irritado, como se tivesse acabado de sair de uma overdose de açúcar. Não sabia mais onde estava nem para que direção guiar o barco. Felizmente, Annabeth estava me orientando.
– Ali – disse ela. – Depois daquele banco de areia.
Desviamos para uma área pantanosa coberta de capim-d'água. Atraquei o barco ao pé de um cipreste gigante. Árvores cobertas de trepadeiras cresciam acima de nós. Insetos faziam ruídos no mato. O ar estava quente e úmido, e o vapor subia do rio. Em essência, aquilo não era Manhattan, e eu não gostei.
– Vamos – disse Annabeth – é só seguirmos a margem.
– O quê?
– Siga-me apenas. – Ela agarrou um saco de viagem. – E é melhor cobrirmos o bote. Não queremos chamar atenção.
Depois de esconder o bote salva-vidas com galhos, Tyson e eu seguimos Annabeth ao longo da margem, os pés afundando na lama vermelha. Uma cobra deslizou perto do meu sapato e desapareceu no meio do capim.
– Não é um bom lugar – disse Tyson. Ele matava os mosquitos que estavam formando uma fila para jantar no seu braço. Depois de mais alguns minutos, Annabeth disse:
– Aqui.
Tudo o que vi foi uma moita espinhenta. Então Annabeth empurrou para o lado um círculo de ramos entrelaçados, como uma porta, e percebi que estava olhando para um abrigo camuflado. O lado de dentro era grande o suficiente para três, mesmo com terceiro sendo Tyson. As paredes eram feitas com partes de plantas, como uma cabana de nativos, mas pareciam ser bem à prova d’água. Empilhadas em um canto havia todas as coisas que a gente poderia querer em um acampamento – sacos de dormir, cobertores, uma geladeira portátil e um lampião a querosene. Havia também provisões para semideuses – ponteiras de bronze para dardos, uma aljava cheia de flechas, uma espada sobressalente e uma caixa de ambrosia. O lugar tinha cheiro de mofo, como se tivesse vazio havia muito tempo.
– Um esconderijo de meio-sangue. – Olhei para Annabeth, pasmado. – Você construiu este lugar?
– Thalia e eu – disse ela, baixinho. – E Luke.
Aquilo não deveria me incomodar. Quer dizer, eu sabia que Thalia e Luke tinham cuidado de Annabeth quando ela era pequena. Sabia que os três, juntos, eram fugitivos se escondendo de monstros, sobrevivendo sozinhos antes que Grover os encontrasse e tentasse levá-los para a Colina Meio-Sangue. Mas, sempre que Annabeth falava do tempo que passara com eles, eu me sentia... não sei. Desconfortável? Não. Não é esta a palavra. A palavra era enciumado.
– Então... – falei. – Não acha que Luke vai nos procurar aqui?
Ela sacudiu a cabeça.
– Fizemos uma dúzia de abrigos como este. Duvido que Luke sequer se lembre de onde ficam. Ou que se importe.
Ela se jogou em cima dos cobertores e começou a revirar o saco de viagem. Sua linguagem corporal deixava muito claro que ela não queria conversar.
– Hum, Tyson? – falei. – Você se incomodaria em dar um volta de reconhecimento lá fora? Tipo procurar uma loja de conveniência silvestre ou coisa assim?
– Loja de conveniência?
– Sim, para comprar lanches. Donuts polvilhados com açúcar ou sei lá. Só não vá muito longe.
– Donuts com açúcar – disse Tyson muito sério. – Vou procurar donuts polvilhados com açúcar no mato.
Ele foi saindo e começou a chamar:
– Donuts! Aqui!
Depois que ele se foi, sentei-me em frente a Annabeth.
– Ei, sinto muito, sabe, por você ter visto Luke.
– A culpa não é sua. – Ela desembainhou sua faca começou a limpá-la com um trapo.
– Ele nos deixou partir com muita facilidade – falei. Eu torcia para estar imaginando aquilo, mas Annabeth assentiu. Estava pensando a mesma coisa. Aquilo que o ouvimos falar, sobre um jogo e que "eles vão morder a isca"... Acho que estava falando de nós.
– O Velocino é a isca? Ou Grover?
Ela estudou o fio da faca.
– Não sei, Percy. Talvez ele queira o Velocino. Talvez espere que façamos o trabalho para depois roubá-lo de nós. Não consigo acreditar que ele fosse capaz de envenenar a árvore.
– O que ele quis dizer – perguntei – quando falou que Thalia teria ficado do lado dele?
– Ele está errado.
– Você não parece segura.
Annabeth me olhou com raiva, e comecei a desejar que não tivesse falado aquilo enquanto ela segurava uma faca.
– Percy, você sabe quem você me lembra muito? Thalia. Vocês são tão parecidos que chega a assustar. Quer dizer, ou vocês seriam melhores amigos ou teriam se estrangulado.
– Vamos ficar com "melhores amigos".
– Thalia, às vezes, ficava zangada com o pai dela. Como você. Você se voltaria contra o Olimpo por causa disso? Olhei para a aljava cheia de flechas no canto. – Não.
– Certo. Ela também não. Luke está errado.
Annabeth fincou a lâmina da faca na terra. Quis perguntar sobre a profecia que Luke mencionara, e o que aquilo tinha a ver com meu décimo sexto aniversário. Mas imaginei que ela não fosse me contar. Quíron deixara claro que eu não tinha permissão para ouvi-la até que os deuses decidissem o contrário.
– Então, o que Luke quis dizer a respeito de ciclopes? – perguntei. – Ele disse que você, entre todas as pessoas...
– Eu sei o que ele disse. Ele... ele estava falando sobre a verdadeira razão de Thalia ter morrido.
Esperei, sem saber muito bem o que dizer. Annabeth respirou fundo, indecisa.
– A gente nunca pode confiar em ciclopes, Percy Há seis anos, na noite em que Grover estava nos levando para a Colina Meio-Sangue...
Ela foi interrompida quando a porta da cabana se abriu com um rangido. Tyson se arrastou para dentro.
– Donuts com açúcar! – disse, orgulhoso, mostrando uma caixa de doces. Annabeth olhou para ele espantada.
– Onde conseguiu isso? Estamos no meio do mato. Não há nada num raio de...
– Quinze metros – disse Tyson. – Uma loja Donuts Monstro, logo depois da colina.


– Isso é mau – murmurou Annabeth.
Estávamos agachados atrás de uma árvore, olhando para a loja de donuts no meio do mato. Parecia nova em folha, com janelas iluminadas, uma área de estacionamento e uma estradinha conduzindo para dentro da floresta, mas não havia mais nada em volta, nenhum carro estacionado. Conseguimos ver um empregado que lia uma revista atrás da caixa registradora. E era tudo. Sobre marquise da loja, em enormes letras pretas que até eu consegui ler, estava escrito: DONUTS MONSTRO.
Um ogro de desenho animado estava dando uma mordida no O de MONSTRO. O lugar cheirava bem, como donuts de chocolate fresquinhos.
– Isso não deveria estar aqui – sussurrou Annabeth. – Está errado.
– O que está errado? – perguntei. – É uma loja de donuts.
– Psiu!
– Por que estamos sussurrando? Tyson entrou e comprou uma dúzia. Não aconteceu nada com ele.
– Ele é um monstro.
– Ora, vamos, Annabeth. Donuts Monstro não quer dizer monstros. É uma rede. Nós temos em Nova York.
– Uma rede – concordou. – E não acha estranho que uma loja dessas tenha aparecido imediatamente depois de você mandar Tyson comprar donuts! Bem aqui, no meio do mato?
Pensei naquilo. De fato parecia meio estranho, mas, quer dizer, lojas de donuts realmente não estavam no topo da minha lista de forças sinistras.
– Pode ser um ninho – explicou Annabeth.
Tyson choramingou. Duvido que ele tenha entendido o que Annabeth estava dizendo muito melhor do que eu, mas o tom dela o deixava nervoso. Ele havia avançado em meia dúzia de donuts da caixa e estava com açúcar polvilhado na cara inteira.
– Um ninho do quê? – perguntei.
– Você já se perguntou como essas lojas de franquia surgem tão depressa? – perguntou ela. – Um dia não existe nada, e então, no dia seguinte... bum, surge uma nova casa de hambúrgueres ou uma cafeteria, ou o que for. Primeiro uma única loja, depois duas, depois quatro... réplicas exatas se espalhando por todo o país.
– Ahn, não. Nunca pensei nisso.
– Percy, algumas redes se multiplicam tão depressa porque todos os seus pontos estão magicamente ligados à força vital de um monstro. Algumas crianças de Hermes descobriram como fazer isso já nos anos 1950. Elas procriam...
Ela ficou paralisada.
– O quê? – perguntei. – Elas criam o quê?
– Não... se... mexa – disse Annabeth, como se a vida dela dependesse disso. – Muito devagar, dê meia-volta.
Então eu ouvi: o barulho de algo raspando, como se algo grande se arrastasse de barriga pelas folhas. Virei-me e vi uma coisa do tamanho de um rinoceronte se movendo pelas sombras das árvores. Estava sibilando, a metade da frente se retorcendo em todas as direções. De início não consegui entender o que era. Então percebi que a coisa tinha múltiplos pescoços – pelo menos sete, cada um com uma cabeça de réptil, sibilando. A pele era coriácea, e os pescoços usavam babadores nos quais estava escrito: EU SOU UMA CRIANÇA MONSTER DONUTS! Tirei do bolso minha caneta esferográfica, mas Annabeth fixou os olhos nos meus – um aviso silencioso. Ainda não. Eu entendi. Muitos monstros têm péssima visão. Era possível que a Hidra passasse por nós sem nos notar. Mas, se eu destampasse minha espada, o brilho do bronze certamente chamaria sua atenção. Nós esperamos. A Hidra estava a apenas alguns metros. Parecia farejar a terra e as árvores como se estivesse caçando alguma coisa. Então notei que duas das cabeças estavam dilacerando um pedaço de lona amarela – um dos nossos sacos de viagem. A coisa já estivera nosso acampamento. Estava seguindo nosso cheiro. Meu coração bateu forte. Eu já tinha visto uma cabeça de Hidra empalhada como troféu no acampamento, mas aquilo não me preparara para a coisa real. Cada cabeça tinha forma de losango como a de uma cascavel, mas nas bocas havia fileiras irregulares de dentes de tubarão.
Tyson estava tremendo. Ele recuou um passo e sem querer quebrou um graveto. Imediatamente, as sete cabeças se viraram para nós e sibilaram.
– Espalhem-se! – gritou Annabeth.
Ela mergulhou para a direita. Eu rolei para a esquerda. Uma das cabeças da Hidra cuspiu um arco de líquido verde que passou rente ao meu ombro e atingiu o tronco de um olmo. O tronco fumegou e começou a se desintegrar. A árvore inteira tombou na direção de Tyson, que ainda não tinha se movido, petrificado pelo monstro que agora estava bem na frente dele.
– Tyson!
Eu o empurrei com toda a minha força, derrubando-o de lado bem no momento em que a Hidra investia e a árvore desmoronava em cima de duas de suas cabeças. A Hidra cambaleou para trás, puxando violentamente as duas cabeças e soltando-as, e depois urrando indignada para a árvore caída. Todas as sete cabeças lançaram ácido, e o olmo se derreteu em uma poça fumegante de imundície.
– Mexa-se! – disse a Tyson.
Corri para um lado e destampei Contracorrente, esperando chamar a atenção do monstro. Funcionou. A visão do bronze celestial é odiosa para a maioria dos monstros. Assim que minha lâmina reluzente apareceu, a Hidra moveu todas as cabeças como chicotes na direção dela, sibilando e mostrando os dentes. A boa notícia: Tyson por enquanto estava fora de perigo. A má notícia: eu estava prestes a ser derretido em uma poça de líquido pegajoso. Uma das cabeças tentou me abocanhar. Sem pensar, ergui a espada.
– Não! – gritou Annabeth.
Tarde demais. Cortei a cabeça da Hidra. Aquilo rolou para longe, no meio do capim, deixando um coto descontrolado se agitando no ar, o qual logo parou de sangrar e começou a inflai como um balão. Em questão de segundos o pescoço ferido se dividiu em dois, e em cada um brotou uma cabeça completa. Agora eu estava olhando para uma Hidra de oito cabeças.
– Percy! – repreendeu Annabeth. – Você acaba de abrir mais uma loja Donuts Monstro em algum lugar!
Desviei-me de um jato de ácido.
– Estou prestes a morrer, e você está preocupada com isso? Como a matamos?
– Fogo! – disse Annabeth. – Precisamos de fogo!
Assim que ela disse isso lembrei a história. As cabeças da Hidra só parariam de se multiplicar se queimássemos os cotos antes que crescessem de novo. Bem, foi o que Hércules fez. Mas não tínhamos fogo. Recuei em direção ao rio. A Hidra me seguiu. Annabeth ficou à minha esquerda e tentou distrair uma das cabeças, duelando com seus dentes com a faca, mas outra cabeça se moveu para um lado e, como um porrete, derrubou-a na gosma.
– Não pode bater nos meus amigos!
Tyson investiu, interpondo-se entre a Hidra e Annabeth. Quando Annabeth se pôs de pé, Tyson começou a socar as cabeças do monstro tão depressa que me lembrou um jogo de fliperama. Mas nem mesmo Tyson poderia combater a Hidra para sempre. Continuamos recuando centímetro a centímetro, desviando-nos dos jatos de ácido e nos esquivando das cabeças que tentavam nos morder sem decepá-las, mas eu sabia que estávamos apenas adiando nossa morte. No final, acabaríamos cometendo um erro, e a coisa nos mataria. Então ouvi um som estranho – um chug-chug-chug que de início achei que fosse meu coração. Era tão potente que sacudiu a margem do rio.
– Que barulho é esse? – gritou Annabeth, sem tirar os olhos da Hidra.
– Máquina a vapor – disse Tyson.
– O quê?
Eu me esquivei enquanto a Hidra cuspia ácido por cima da minha cabeça. Então, do rio atrás de nós, uma voz feminina familiar gritou:
– Ali! Preparem o canhão de dez quilos!
Não ousei desviar os olhos da Hidra, mas se quem estava atrás de nós era quem eu pensava, calculei que agora tínhamos inimigos em duas frentes. Uma voz masculina áspera disse:
– Eles estão muito perto, milady!
– Danem-se os heróis! – disse a garota. – Em frente a todo o vapor!
– Sim, milady.
– Dispare à vontade, capitão!
Annabeth entendeu o que estava acontecendo uma fração de segundo antes de mim. Ela gritou:
– Para o chão!
E nós mergulhamos quando um BUUUM ensurdecedor ecoou, vindo do rio. Houve um clarão, uma coluna de fumaça, e a Hidra explodiu bem na nossa frente, fazendo chover um muco verde repugnante que se vaporizou assim que nos atingiu, como costuma acontecer com as tripas dos monstros.
– Que nojo! – gritou Annabeth.
– Navio a vapor! – berrou Tyson.
Levantei, tossindo por causa da nuvem de fumaça de pólvora que rolava das margens do rio. Avançando ruidosamente pelo rio em nossa direção estava o navio mais estranho que já vira. Navegava baixo como um submarino, o convés revestido de ferro. No meio havia uma casamata na forma de trapézio, com aberturas laterais para canhões. Uma bandeira oscilava no topo – um javali selvagem e uma lança em um campo vermelho-sangue. Enfileirados no convés havia zumbis de uniformes cinzentos – soldados mortos com feições tremeluzentes que escondiam o crânio apenas em parte, como os espíritos que eu tinha visto no Mundo Inferior, guardando o palácio de Hades. O navio era um encouraçado. Um cruzador da Guerra Civil. Mal pude distinguir o nome na proa em letras cobertas de musgo: Navio Confederado.
E plantada junto ao canhão fumegante que quase nos matara, usando uma armadura de batalha grega completa, estava Clarisse.
– Perdedores – zombou ela. – Mas acho que preciso salvá-los. Subam a bordo.

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