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O Ladrão de Raios - CAP. 7

.. sábado, 16 de março de 2013

Capítulo 7 - Meu jantar se esvai em fumaça


A notícia do incidente no banheiro se espalhou na mesma hora. Aonde quer que eu fosse, os campistas apontavam para mim e murmuravam algo sobre água de vaso sanitário. Ou talvez apenas olhassem para Annabeth, que ainda estava bastante encharcada.

Ela me mostrou mais alguns lugares: a oficina de metais (onde as crianças forjavam as próprias espadas), a sala de artes e ofícios (onde os sátiros jateavam com areia uma estátua gigante de um home-bode) e a parede para escalada, que na verdade consistia em duas paredes que se sacudiam violentamente, deixavam cair rochas, espalhavam lava e colidiam uma com a outra se a gente não chegasse ao topo bem depressa.
Finalmente retornamos ao lado de canoagem, de onde a trilha levava de volta aos chalés.
– Tenho treinamento – disse Annabeth secamente. – O jantar é às sete e meia. Você só tem de seguir o pessoal do chalé até o refeitório.
– Annabeth, desculpe pelos sanitários.
– Não importa.
– Não foi minha culpa.
Ela me olhou com ar cético e me dei conta de que tinha sido minha culpa. Eu havia feito a água jorrar no banheiro. Não entendia como. Mas os vasos tinham respondido a mim.
Era como se eu fosse um dos canos.
– Você precisa falar com o Oráculo – disse Annabeth.
– Quem?
– Não quem. O quê. O Oráculo. Vou pedir a Quíron.
Olhei para o lago, desejando que alguém me desse uma resposta direta pelo menos uma vez.
Eu não esperava que alguém estivesse olhando de volta para mim do fundo, portanto meu coração deu um pulo quando notei duas meninas adolescente sentadas de pernas cruzadas na base do píer, cerca de seis metros abaixo. Vestiam jeans e camisetas verdes cintilantes, e os cabelos castanhos flutuavam soltos em volta dos ombros enquanto peixinhos passavam por entre eles. Elas sorriram e acenaram como se eu fosse um amigo há muito perdido.
Eu não sabia que outra coisa fazer. Acenei de volta.
– Não as encoraje – advertiu Annabeth. – As náiades são flertadoras incontroláveis.
– Náiades – repeti, sentindo-me completamente estupefato. – Já chega. Quero ir para casa agora.
Annabeth franziu as sobrancelhas.
– Você não percebe, Percy? Você está em casa. Este é o único lugar na terra seguro para crianças como nós.
– Você quer dizer crianças mentalmente perturbadas?
– Eu quero dizer não-humanas. Não totalmente humanas, de qualquer modo. Meio humanas.
– Meio humanas e meio o quê?
– Acho que você sabe.
Eu não queria admitir, mas sabia, sim. Senti um formigamento nos membros, uma sensação que às vezes me tomava quando minha mãe falava sobre meu pai.
– Deusas – disse eu. – Meio deusas.
Annabeth assentiu.
– Seu pai não está morto, Percy. Ele é um dos olimpianos.
– Isso é... loucura.
– Será? Qual é a coisa mais comum que os deuses faziam nas velhas historias? Eles andavam por aí se apaixonando por seres humanos e tendo filhos com eles. Você pensa que eles mudaram os hábitos nos últimos poucos milênios?
– Mas isso são apenas... – Eu quase disse mitos de novo. Então me lembrei do aviso de Quíron de que daqui a dois mil anos eu poderia ser considerado um mito. – Mas se todos aqui são meio deuses...
– Semideuses – disse Annabeth. – Esse é o termo oficial. Ou meio-sangues.
– Então quem é seu pai?
As mãos dela se apertaram em volta da balaustrada do píer. Tive a sensação de que acabara de tocar em um assunto delicado.
– Meu pai é um professor em West Point – disse ela. – Não vejo desde que era muito pequena. Ele ensina História Americana.
– Ele é humano.
– O quê? Está pensando que tem de ser um deus homem encontrando uma mulher humana atraente, e não o contrário? Sabe que isso é machismo?
– Então quem é sua mãe?
– Chalé 6.
– O que significa?
Annabeth endireitou o corpo.
– Atena. Deusa da sabedoria e da guerra.
Certo, pensei. Por que não?
– E meu pai?
– Indeterminado – disse Annabeth, como eu lhe disse antes. Ninguém sabe.
– A não ser a minha mãe. Ela sabia.
– Talvez não, Percy. Os deuses nem sempre revelam sua identidade.
– Meu pai teria revelado. Ele a amava.
Annabeth me deu uma olhada cautelosa. Ela não queria acabar com as minhas ilusões.
– Talvez você esteja certo. Talvez ele vá enviar um sinal. Esse é o único modo de saber com certeza: seu pai tem de mandar a você um sinal reclamando você como filho. Às vezes isso acontece.
– Quer dizer que às vezes não acontece?
Annabeth correu a palma da Mao pela balaustrada.
– Os deuses são atarefados. Eles têm uma porção de filhos, e nem sempre... Bem, às vezes eles não se importam conosco, Percy. Eles nos ignoram.
Pensei em algumas das crianças que tinha visto no chalé de Hermes, adolescentes que pareciam mal-humorados e deprimidos, como se estivessem esperando por um chamado que nunca viria.
Conhecera crianças assim na Academia Yancy, descartadas para internatos por pais ricos que não tinham tempo para lidar com elas. Mas os deuses deviam se comportar melhor.
– Então eu estou encalhado aqui – disse eu. – É isso? Pelo resto da minha vida?
– Depende – disse Annabeth. – Alguns campistas só ficam no verão. Se você é filho de Afrodite ou Deméter, provavelmente não é uma força realmente poderosa. Os monstros podem ignorá-lo, e então você pode se arranjar com alguns meses de treinamento de verão e viver no mundo mortal pelo resto do ano. Mas, para alguns de nós, sair é perigoso demais. Temos de ficar o ano inteiro. No mundo mortal, atraímos monstros. Eles percebem nossa presença. Vêm nos desafiar. Na maioria das vezes eles nos ignoram ate termos idade suficiente para causar problemas – cerca de dez ou onze anos, mas depois disso muitos dos semideuses vem para cá ou são mortos. Alguns conseguem sobreviver no mundo exterior e se tornam famosos. Acredite, se eu lhe contasse os nomes você os conheceria. Alguns nem sequer se dão conta de que são semideuses. Mas poucos, muito poucos são assim.
– Então os monstros não podem entrar aqui?
Annabeth sacudiu a cabeça.
– Não, a não ser que sejam intencionalmente mantidos nos bosques ou convocados por alguém de dentro.
– Por que alguém ia querer convocar um monstro?
– Para pratica de lutas. Para pregar peças.
– Pregar peças?
– A questão é que as fronteiras são fechadas para manter os mortais e os monstros de fora. Do lado de fora, os mortais olham para o vale e não veem nada de inusitado, apenas plantações de morangos.
– Então... você é uma campista de ano inteiro?
Annabeth assentiu. De dentro da gola da camiseta ela puxou um colar de couro com cinco contas de argila de cores diferentes. Era exatamente como o de Luke, só que o de Annabeth também tinha um grande anel de ouro enfiado, como um anel de faculdade.
– Estou aqui desde que tinha sete anos – disse ela. – Todo mês de agosto, no ultimo dia da sessão de verão, a gente ganha uma conta por sobreviver mais um ano. Estou aqui há mais tempo que a maioria dos conselheiros, e eles estão todos na faculdade.
– Por que veio tão jovem?
Ela girou o anel no colar.
– Não é da sua conta.
– Ah. – Fiquei ali por um minuto em um silêncio constrangedor. – Então... Eu poderia simplesmente sair andando daqui agora mesmo, se quisesse?
– Seria suicídio, mas você poderia, com a permissão do Sr. D ou de Quíron. Mas eles não dariam permissão até o final da sessão de verão, a não ser...
– A não ser?
– Que lhe seja concedida uma missão. Mas isso dificilmente acontece. Na última vez...
A voz dela foi sumindo. Pude perceber pelo seu tom de voz que a última vez não tinha ido muito bem.
– Antes, quando estava doente no quarto – disse eu –, quando você dava de comer aquela coisa...
– Ambrosia.
– É. Você me perguntou algo sobre o solstício de verão.
Os ombros de Annabeth se contraíram.
– Então você sabe alguma coisa?
– Bem... não. Na minha antiga escola, ouvi por acaso Grover e Quíron conversando sobre isso. Grover mencionou o solstício de verão. Ele disse algo como não termos muito tempo, por causa do prazo final. O que isso queria dizer?
Ela apertou os punhos.
– Eu gostaria de saber. Quíron e os sátiros, eles sabem, mas não contaram para mim. Algo está errado no Olimpo, algo muito importante. Na última vez em que estive lá, parecia tudo tão normal.
– Você esteve no Olimpo?
– Alguns de nós, campistas de ano inteiro... Luke, Clarisse, eu e poucos outros... fizemos uma excursão durante o solstício de inverno. É quando os deuses fazem sua grande assembleia anual.
– Mas... como chegou lá?
– Pela Ferrovia de Long Island, é claro. Você desce na Estação Penn. Empire State, seiscentésimo andar. – Ela me olhou como quem tinha certeza de que eu já sabia disso.
– Você é nova-iorquino, certo?
– Ah, com certeza. – Até onde eu sabia, havia apenas cento e dois andares no Empire States, mas decidi não comentar isso.
– Logo depois da visita – continuou Annabeth –, o tempo ficou esquisito, como se os deuses tivessem começado a brigar. Uma ou duas vezes desde então, ouvi sátiros conversando. O máximo que posso deduzir é que algo importante foi roubado. E, se não for devolvido até o solstício de verão, vai haver problemas. Quando você veio, eu estava esperando... quer dizer... Atena pode se entender com qualquer um, a não ser Ares. E, é claro, ela tem uma rivalidade com Poseidon. Mas, quer dizer, fora isso, pensei que poderíamos trabalhar juntos. Pensei que você pudesse saber alguma coisa.
Sacudi a cabeça. Gostaria de poder ajudá-la, mas estava com fome, cansado e mentalmente sobrecarregado demais para fazer mais perguntas.
– Preciso conseguir uma missão – murmurou Annabeth consigo mesma. – Eu não sou jovem demais. Se eles ao menos me contassem qual é o problema.
Senti cheiro de churrasco vindo de algum lugar por perto. Annabeth deve ter ouvido meu estômago roncar. Disse-me para ir em frente, que me alcançaria depois. Eu a deixei no píer, correndo o dedo pela balaustrada como se estivesse desenhando um plano de batalha.


De volta ao chalé 11, todo mundo estava falando e se divertindo, esperando o jantar.
Pela primeira vez, notei que muitos campistas tinham feições parecidas: narizes pontudos, sobrancelhas arqueadas, sorrisos maliciosos. Eram o tipo de criança que os professores classificariam como encrenqueiros. Felizmente, ninguém prestou muita atenção em mim quando fui até meu lugar no chão e me deixei cair com o chifre de minotauro.
O conselheiro, Luke, se aproximou. Ele também tinha a aparência familiar de Hermes.
Estava desfigurada pela cicatriz na face direita, mas o sorriso estava intacto.
– Arranjei um saco de dormir para você – disse ele. – E, aqui, furtei para você alguns artigos de toalete da loja do acampamento.
Não deu para saber se ele estava brincando quanto àquela parte de furtar.
Eu disse:
– Obrigado.
– Sem problemas. – Luke sentou-se ao meu lado, descansando as costas contra a parede.
– Primeiro dia difícil?
– Meu lugar não é aqui – disse eu. – Nem mesmo acredito em deuses.
– É – disse ele. – Foi assim que todos nós começamos. E depois que você começa a acreditar neles. Não fica nem um pouco mais fácil.
A amargura em sua voz me surpreendeu, porque Luke parecia ser o tipo de cara despreocupado. Parecia ser capaz de lidar com qualquer coisa.
– Então seu pai é Hermes? – perguntei.
Ele puxou um canivete de mola do bolso de trás, e por um segundo, pensei que fosse me destripar, mas ele apenas raspou o barro da sola da sandália.
– É, Hermes.
– O mensageiro com asas nos pés.
– É ele. Mensageiros. Medicina. Viajantes, mercadores, ladrões. Qualquer um que use as estradas. É por isso que você está aqui, desfrutando a hospitalidade do chalé 11. Hermes não é exigente com relação a quem apadrinha.
Entendi que Luke não queria me chamar de joão-ninguém. Apenas tinha muita coisa na cabeça.
– Você já encontrou seu pai? – perguntei.
– Uma vez.
Esperei, pensando que, se ele quisesse me contar, contaria. Aparentemente não. Imaginei se a historia tinha alguma coisa a ver com como ele conseguira aquela cicatriz.
Luke ergueu os olhos e conseguiu sorrir.
– Não se preocupe com isso, Percy. A maioria dos campistas aqui é boa gente. Afinal, somos uma grande família, certo? Cuidamos um do outro.
Ele parecia entender o quanto me sentia perdido e eu estava grato por isso, porque um cara mais velho como ele – mesmo sendo um conselheiro – devia estar evitando um secundarista chato como eu. Mas Luke me dera as boas-vindas ao chalé. Até mesmo furtara alguns artigos de toalete, o que era a coisa mais simpática que alguém fizera por mim o dia inteiro.
Decidi fazer a minha ultima grande pergunta, aquela que vinha me incomodando a tarde toda.
– Clarisse, de Ares, debochou sobre eu ser um dos “Três Grandes”. Depois,
Annabeth... ela falou duas vezes que eu poderia ser “o cara”. Disse que devo falar com o Oráculo. O que quer dizer isso tudo?
Luke fechou o canivete.
– Odeio profecias.
– O que quer dizer?
Seu rosto deu uma estremecida em volta da cicatriz.
– Digamos apenas que eu compliquei as coisas para todos os outros. Nos últimos dois anos, desde quando me dei mal em minha viagem ao Jardim das Hespérides, Quíron não autorizou mais nenhuma missão. Annabeth está morrendo de vontade de sair para o mundo. Ela importunou tanto Quíron que ele finalmente disse que já conhecia o seu destino. Recebera uma profecia do Oráculo. Não quis contar tudo a ela, mas disse que Annabeth ainda não estava destinada a sair numa missão. Tinha de esperar até... alguém especial vir para o acampamento.
– Alguém especial?
– Não se preocupe com isso garoto – disse Luke. – Annabeth quer pensar que todo campista novo que chega aqui é o presságio que ela está esperando. Agora vamos, é hora do jantar.
No momento em que ele disse isso, uma trombeta soou a distância. De algum modo eu sabia que era feita com uma concha de caramujo, apesar de nunca ter ouvido uma antes.
Luke gritou:
– Onze, reunir!
O chalé inteiro, cerca de vinte de nós, formou uma fila no pátio. Enfileiramo-nos por ordem de antiguidade, portanto é claro que eu era o último. Vieram campistas também de outros chalés, com exceção dos três vazios no fim e do chalé 8, que parecia normal durante o dia mas agora começava a ter um brilho prateado à medida que o sol se punha.
Marchamos colina acima até o pavilhão do refeitório. Sátiros vieram da campina e juntaram-se a nós. Náiades emergiram do lago de canoagem. Algumas outras meninas saíram dos bosques – e quando digo dos bosques, quero dizer dos bosques mesmo. Vi uma menina de nove ou dez anos fundir-se da lateral de um bordo e vir saltitando colina acima.
Ao todo, havia talvez uma centena de campista, algumas dúzias de sátiros e uma dúzia de ninfas e náiades variadas.
No pavilhão, tochas ardiam em volta das colunas de mármore. Um fogo central queimava em um braseiro de bronze do tamanho de uma banheira. Cada chalé tinha sua própria mesa, coberta com uma toalha branca com detalhes roxo. Quatro mesas estavam vazias, mas a do chalé 11 era superlotada. Tive de me espremer na ponta de um banco, com metade do traseiro de fora.
Vi Grover sentado à mesa 12, e um par de meninos loiros gorduchos bem parecidos com o Sr. D. Quíron ficou em pé ao lado, pois a mesa de piquenique era muito pequena para um centauro.
Annabeth sentou-se à mesa 6 com um bando de crianças atléticas de aparência séria, todas com olhos cinzentos e cabelo loiro da cor do mel.
Clarisse sentou-se atrás de mim à mesa de Ares. Parecia recuperada do banho, pois estava rindo e arrotando ao lado das amigas.
Finalmente, Quíron bateu o casco contra o piso de mármore do pavilhão e todos se calaram. Ele ergueu um copo.
– Aos deuses!
Todos ergueram os copos.
– Aos deuses!
Ninfas do bosque avançaram com bandejas de comida: uvas, maçãs, morangos, queijo, pão fresco e, sim, churrasco! Meu copo estava vazio, mas Luke disse:
– Fale com ele. Qualquer coisa que queria. Não alcoólica, é claro.
– Cherry Coke – falei.
O copo se encheu de líquido espumante cor de caramelo.
Então tive uma idéia.
– Cherry Coke azul.
O refrigerante assumiu um tom berrante de cobalto.
Tomei um gole cauteloso. Perfeito
Fiz um brinde à minha mãe.
Ela não se foi, disse a mim mesmo. De qualquer modo, não para sempre. Ela está no Mundo Inferior. E, se ele é um lugar real, então algum dia...
– Vai, Percy – disse Luke, me passando uma travessa de peito defumado.
Enchi meu prato e estava prestes a dar uma grande garfada quando notei que todos se levantavam, levando os pratos para o fogo no centro do pavilhão. Imaginei se estavam indo buscar a sobremesa ou coisa assim.
– Venha – disse-me Luke.
Quando cheguei mais perto, vi que todos estavam pegando algo do prato e jogando dentro do fogo, o morango mais maduro, a fatia mais suculenta de carne, o pão mais quente e mais amanteigado.
Luke murmurou ao meu ouvido:
– Oferendas queimadas para os deuses. Eles gostam do cheiro.
– Fala sério!
O olhar dele me advertiu a não debochar daquilo, mas não pude deixar de me perguntar por que um ser imortal, todo-poderoso, gostaria do cheiro de comida queimada.
Luke aproximou-se do fogo, inclinou a cabeça e atirou um cacho de uvas gordas e vermelhas.
– Hermes.
Eu era o próximo.
Eu gostaria de saber o nome de qual deus eu devia dizer.
Acabei fazendo um pedido silencioso. Quem quer que seja, conte-me. Por favor.
Empurrei uma grande fatia de peito para as chamas. Quando inalei um pouco de fumaça, não engasguei. Não parecia nem um pouco cheiro de comida queimada. Cheirava a chocolate quente e brownies recém-assados, hambúrgueres grelhados e flores silvestres, e uma centena de outras coisas boas que não deviam combinar, mas combinavam. Dava até para acreditar
que os deuses podiam viver daquela fumaça. Depois que todos voltaram aos lugares e terminaram de comer, Quíron bateu novamente o casco para chamar nossa atenção.
O Sr. D levantou-se com um enorme suspiro.
– Sim, suponho que deva dizer olá a todos vocês, moleques. Bem, olá. Nosso diretor de atividades, Quíron, diz que a próxima captura da bandeira será na sexta-feira. Atualmente, o chalé 5 detém os lauréis.
Um monte de aplausos disformes se ergueu da mesa de Ares.
– Pessoalmente – continuou o Sr. D –, não me importo nem um pouco, mas congratulações. Também devo lhes dizer que temos um novo campista hoje. Peter Johnson.
Quíron murmurou alguma coisa.
– Ahn, Percy Jackson – corrigiu o Sr. D. – Está certo. Viva, e tudo o mais. Agora vão correndo para a sua fogueira boba. Andem.
Todos aplaudiram. Dirigimo-nos para o anfiteatro, onde o chalé de Apolo liderou a cantoria. Cantamos canções de acampamento sobre os deuses, comemos besteiras e nos divertimos, e o engraçado foi que não senti ninguém mais olhando para mim. Era como estar em casa.
Mais à noite, quando as fagulhas da fogueira se enroscavam em um céu estrelado, a trombeta de caramujo soou de novo, e todos nós formamos filas para voltar aos nossos chalés. Não me dei conta de como estava exausto até desmoronar em meu saco de dormir emprestado.
Meus dedos se fecharam em volta do chifre do Minotauro. Pensei em minha mãe, mas tive bons pensamentos: o sorriso dela, as histórias que lia para mim antes de dormir quando eu era pequeno, o jeito como me dizia para não deixar os percevejos morderem.
Quando fechei os olhos, adormeci instantaneamente.
Assim foi meu primeiro dia no Acampamento Meio-Sangue.
Queria ter sabido antes que em tão pouco tempo passaria a gostar do meu novo lar.

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