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O Herói Perdido - CAP. 7

.. domingo, 31 de março de 2013

Capítulo VII - Jason


ASSIM QUE JASON VIU A CASA, ele soube que era um homem morto.
— Aqui estamos nós! — Drew disse alegremente. — A Casa Grande, quartel-general do acampamento.
Ela não parecia ameaçadora, apenas uma mansão de quatro andares pintada de azul bebê com acabamento em branco. A varanda tinha cadeiras de descanso, uma mesa de cartas e uma cadeira de rodas vazia. Sinos dos ventos pareciam ninfas se tornando árvores enquanto giravam. Jason podia imaginar velhinhos vindo aqui para férias de verão, sentados na varanda e bebendo suco de ameixa enquanto assistiam o pôr do sol. No entanto, as janelas pareciam encará-lo de maneira raivosa. A porta parecia pronta para engoli-lo. Na parte mais alta do telhado um cata-vento no formato de uma águia de bronze girava no ar e apontava direto na sua direção, como se dissesse para ele dar meia-volta.
Cada molécula no corpo de Jason lhe dizia que ele estava em território inimigo.
— Eu não devia estar aqui — ele disse.
Drew enroscou seu braço no dele.
— Ah, por favor. Você é perfeito aqui, querido. Acredite em mim, eu já vi vários heróis.
Drew cheirava como o Natal — uma estranha combinação de pinheiro e noz-moscada. Jason queria saber se ela sempre cheirava assim, ou se era algum tipo de perfume especial para os feriados. Seu delineador pink era realmente perturbador. Sempre que ela piscava, ele se sentia obrigado a olhar para ela. Talvez aquele fosse seu objetivo, exibir seus belos olhos castanhos. Ela era linda. Não havia a menor dúvida sobre isso. Mas ela fazia Jason se sentir desconfortável.
Ele puxou seu braço, gentilmente.
— Olhe, eu agradeço...
— É aquela garota? — Drew fez beiço. — Ah, por favor, me diga que você não está namorando a Rainha do Lixo.
— Você quer dizer Piper? Hã...
Jason não sabia como responder. Ele não achava que já tinha visto Piper antes, mas ele se sentia estranhamente culpado por isso. Ele sabia que não deveria estar nesse lugar. Ele não deveria fazer amizade com essas pessoas, e certamente não deveria namorar nenhuma delas. Entretanto... Piper estivera segurando sua amo quando ele acordou naquele ônibus. Ela acreditava que era sua namorada. Fora corajosa na passarela de bidro, lutando cotra aqueles ventus, e quando Jason a pegara no ar e eles se seguraram corpo a corpo, ele não podia fingir que não estava um pouco tentado a beijá-la. Mas aquilo não estava certo. Ele nem sabia sua própria história. Ele não podia brincar com as emoções de outra pessoa.
Drew rolou os olhos.
— Deixe-me ajudar a decidir, querido. Você merece coisa melhor. Um garoto com o seu rosto e talento óbvio?
Ela não estava olhando para ele, porém. Ela estava olhando para um local bem acima da sua cabeça.
— Você está esperando um sinal — ele supôs. — Como aquele sobre a cabeça do Leo.
— O quê? Não! Bem... sim. Digo, pelo que ouvi, você é bastante poderoso, certo? Você vai ser importante no acampamento, então calculo que seu pai irá lhe reclamar a qualquer momento. E eu amaria ver isso. Eu quero estar com você a cada passo do caminho! Quem é o deus, seu pai ou sua mãe? Por favor, me diga que não é sua mãe. Eu odiaria se você fosse um filho de Afrodite.
— Por quê?
— Porque você seria meu meio-irmão, bobo. Você não pode ficar com alguém do próprio chalé. Eca!
— Mas todos os deuses não são parentes? — Jason perguntou. — Então todos aqui não são seus primos ou alguma coisa assim?
— Como você e fofo! Querido, o lado divino da sua família não conta, exceto se for seu pai ou sua mãe. Então qualquer um de outro chalé... pode ser um alvo. Então, quem é seu parente olimpiano: sua mãe ou seu pai?
Como sempre, Jason não tinha uma resposta. Ele ergueu os olhos, mas nenhum sinal brilhante apareceu sobre sua cabeça. No topo da Casa Grande, o cata-vento ainda estava apontando na sua direção, aquela águia de bronze olhando como se falasse, Dê meia-volta, criança, enquanto ainda pode.
Então ele ouviu passos na varanda da frente. Não... não eram passos... era um galope.

— Quíron! — Drew chamou. — Esse é Jason. Ele e totalmente incrível!
Jason recuou tão rápido que quase caiu. Contornando o canto da varanda estava um homem montado num cavalo. Exceto que ele não estava montado no cavalo — ele era parte de um. Da cintura para cima ele era humano, com cabelos castanhos cacheados e uma barba bem-aparada. Ele vestia uma camiseta que dizia Melhor Centauro do Mundo, e tinha um arco e uma aljava amarrados nas costas. Sua cabeça era tão alta que ele precisava se abaixar para não bater nas luzes da varanda, porque da cintura para baixo, ele era um garanhão branco.
Quíron começou a sorrir para Jason. Então a cor drenou do seu rosto.
— Você... — Os olhos do centauro arregalaram-se como os de um animal encurralado. — Você devia estar morto.

Quíron ordenou Jason — bem, convidou, mas soou como uma ordem — a entrar na casa. Ele falou para Drew voltar ao seu chalé, o que não pareceu agradá-la.
O centauro trotou para a cadeira de rodas vazia na varanda. Ele se desfez da sua aljava e arco e aproximou-se de costas na cadeira, que abriu como uma caixa de mágica. Quíron cuidadosamente abaixou-se nela com suas pernas traseiras e começou a se apertar num espaço que devia ser muito pequeno. Jason imaginou barulhos inversos de um caminhão — bip, bip, bip — enquanto a metade de baixo do centauro desaparecia e a cadeira ajustou-se, fazendo aparecer um conjunto de pernas humanas falsas cobertas por um cobertor, de forma que Quíron parecia ser um mortal normal numa cadeira de rodas.
— Siga-me — ele ordenou. — Temos limonada.
A sala de estar parecia que fora reprimida por uma floresta tropical. Videiras curvavam-se pelas paredes e pelo teto, o que Jason achou um pouco estranho. Ele não achava que plantas crescessem assim, do lado de dentro, especialmente no inverno, mas essas tinham folhas verdes e estavam cheias de cachos de uvas vermelhas.
Sofás de couro rodeavam uma lareira de pedra com fogo estalando. Apertado num canto, um fliperama de Pacman antigo fazia bip e piscava. Montada nas paredes havia uma coleção de máscaras — como de teatro grego, sorridentes/tristes, emplumadas, de carnaval veneziano com grandes narizes parecidos com bicos e outras africanas esculpidas em madeira. Videiras cresciam entre suas bocas parecendo que elas tinham línguas frondosas. Algumas tinham uvas vermelhas brotando pelo buraco dos olhos.
Mas a coisa mais esquisita era a cabeça empalhada de leopardo sobre a lareira. Parecia tão real, seus olhos pareciam seguir Jason. Então ele rosnou, e Jason quase saltou de sua pele.
— Ora, Seymour — Quíron repreendeu. — Jason é um amigo. Comporte-se.
— Essa coisa está viva! — Jason disse.
Quíron remexeu no bolso lateral da sua cadeira de rodas e tirou um pacote de biscoitos. Ele jogou um para o leopardo, que o abocanhou e lambeu os lábios.
— Você precisa desculpar a decoração — Quíron disse. — Esse foi um presente de despedida do nosso antigo diretor antes de ser chamado ao Monte Olimpo. Imaginou que ajudaria a nos lembrar dele. O Sr. D tem um senso de humor estranho.
— Sr. D — Jason disse. — Dioniso?
— A-hã — Quíron serviu limonada, embora suas mãos estivessem tremendo um pouco. — Quanto a Seymour, bem, o Sr. D o encontrou em uma venda de garagem em Long Island. O leopardo é o animal sagrado de Dioniso, entende, e o Sr. D ficou aterrorizado ao perceber que alguém foi capaz de empalhar tal nobre criatura. Ele decidiu concedê-lo a vida, numa hipótese de que a vida como uma cabeça pendurada era melhor do que nenhuma vida, afinal. Devo dizer que é um destino mais bondoso do que o antigo dono de Seymour teve.
Seymour exibiu suas presas e cheirou o ar, como se procurasse mais biscoitos.
— Se ele é só uma cabeça — Jason disse — para onde vai a comida quando ele come?
— Melhor não perguntar — Quíron disse. — Por favor, sente-se.
Jason pegou um pouco de limonada, apesar de o seu estômago estar agitado.
Quíron reclinou-se na sua cadeira de rodas e tentou um sorriso, mas Jason podia dizer que era forçado. Os olhos do velho homem eram tão profundos e escuros como um poço.
— Então, Jason — ele disse — você se importaria em me dizer... hã... de onde você é?
— Eu também gostaria de saber.
Jason lhe contou toda a história, desde quando acordou no ônibus até a aterrissagem forçada no Acampamento Meio-Sangue. Ele não escondeu nenhum detalhe, e Quíron era um bom ouvinte. Ele não demonstrava qualquer reação, apenas mexia a cabeça, encorajando-o a contar mais.
Quando Jason acabou, o velho homem deu um gole na limonada.
— Entendo — Quíron disse. — E você deve ter perguntas para mim.
— Só uma — Jason admitiu. — O que você quis dizer quando falou que eu deveria estar morto?
Quíron o estudou com preocupação, como se esperasse que Jason explodisse em chamas.
— Meu garoto, você sabe o que essas marcas no seu braço significam? A cor da sua camisa? Você lembra de algo?
Jason olhou para a tatuagem no seu antebraço: SPQR, a águia, doze linhas retas.
— Não — ele disse. — Nada.
— Você sabe onde está? — Quíron perguntou. — Você entende o que esse lugar é, e quem eu sou?
— Você é o centauro Quíron — Jason disse. — Suponho que seja o mesmo das histórias antigas, que costumava treinar os heróis gregos como Hércules. Esse é um acampamento para semideuses, filhos dos deuses olimpianos.
— Então você acredita que esses deuses ainda existem?
— Sim — Jason disse imediatamente. — Digo, não acho que devíamos adorá-los ou sacrificar galinhas por eles ou qualquer coisa, mas eles ainda estão por perto, pois são uma poderosa parte da civilização. Eles vão de país em país conforme o centro do poder se desloca... como eles foram da Grécia Antiga para Roma.
— Não podia ter dito melhor. — Algo na voz de Quíron mudou. — Então você já sabe que os deuses são reais. Você já foi reclamado, não foi?
— Talvez — Jason respondeu. — Mas não tenho certeza.
O leopardo Seymour rosnou.
Quíron esperou, e Jason percebeu o que acabara de acontecer. O centauro havia mudado para outro idioma e Jason entendera automaticamente, respondendo na mesma língua.
— Quis erat... — Jason vacilou, então fez um esforço consciente para falar inglês. — O que foi aquilo?
— Você sabe Latim — Quíron observou. — A maioria dos semideuses reconhecem algumas frases, naturalmente. Está no sangue deles, mas não tanto quanto o Grego Antigo. Ninguém pode falar Latim fluentemente sem prática.
Jason tentou entender o que aquilo significava, mas vários pedaços da sua memória estavam perdidos. Ele ainda tinha a sensação de que não deveria estar aqui. Era errado — e perigoso. Mas pelo menos Quíron não estava o ameaçando. Na verdade, o centauro parecia preocupado com ele, com medo pela sua segurança.
O fogo refletia nos olhos de Quíron, fazendo-os balançar numa dança raivosa.
— Eu ensinei o seu xará, você sabe, o Jasão original. Ele teve um caminho duro. Eu vi vários heróis irem e virem. Ocasionalmente, eles tem finais felizes. Na maior parte, não. Isso parte meu coração, é como perder um filho sempre que um dos meus pupilos morre. Mas você... você não é como qualquer pupilo que eu já treinei. Sua presença aqui poderia ser um desastre.
— Obrigado — Jason disse. — Você deve ser um professor inspirador.
— Desculpe meu garoto. Mas é verdade. Eu esperava que depois do sucesso de Percy...
— Percy Jackson, você se refere. O namorado de Annabeth, o que está sumido.
Quíron assentiu.
— Esperava que depois que ele tivesse sucesso na Guerra dos Titãs e salvasse o Monte Olimpo, pudéssemos ter alguma paz. E eu poderia ser capaz de desfrutar um triunfo final, um final feliz, e talvez uma retirada discreta. Eu devia ter me informado melhor. O último capitulo se aproxima, assim como foi antes. O pior ainda está por vir.
No canto, o fliperama fez um triste som pa-pa-pa-pa, como se o Pacman tivesse morrido.
— Ok... — Jason disse. — Então... estamos no último capitulo, e o pior ainda por vir. Soa divertido, mas podemos voltar à parte onde eu devia estar morto? Não gosto dessa parte.
— Receio que não possa explicar, garoto. Jurei pelo Rio Styx e por todas as coisas sagradas que eu nunca... — Quíron franziu a testa. — Mas você está aqui, em violação do mesmo juramento. Isso também, não deveria ser possível. Eu não entendo. Quem faria tal coisa? Quem...
O leopardo Seymour berrou. Sua boca congelou meio aberta. O fliperama parou de fazer bip. O fogo parou de estalar, suas chamas endurecendo como vidro vermelho. As máscaras olhavam para Jason silenciosamente com seus olhos de uva grotescos e línguas de folhas de parreira.
— Quíron? — Jason perguntou. — O que está aconte...
O velho centauro congelara, também. Jason pulou do sofá, mas Quíron continuou olhando para o mesmo lugar, sua boca aberta no meio de uma afirmação. Seus olhos não piscavam. Seu peito não se mexia.
Jason, uma voz disse.
Por um terrível momento, ele pensou que o leopardo estivesse falando. Então uma névoa escura espiralou da boca de Seymour, e um pensamento ainda pior ocorreu a Jason: espíritos da tempestade.
Ele pegou a moeda de ouro do seu bolso. Com um rápido arremesso, ela se transformou numa espada.
A névoa tomou a forma de uma mulher vestida com roupas negras. Seu rosto estava encapuzado, mas seus olhos brilhavam na escuridão. Sobre seus ombros ela usava uma capa de pele de cabra. Jason não tinha certeza de como sabia que era pele de cabra, mas ele a reconheceu e sabia que era importante.
Você atacaria a sua patrona? A mulher repreendeu. Sua voz ecoou na cabeça de Jason. Abaixe a espada.
— Quem é você? — ele exigiu. — Como você...
Nosso tempo é limitado, Jason. Minha prisão fica mais poderosa a cada hora. Precisei de um mês inteiro para reunir energia o suficiente para conseguir utilizar uma simples magia entre seus grilhões. Consegui trazer você aqui, mas agora não me resta muito tempo e até menos energia. Esta pode ser a última vez que falo com você.
— Você está numa prisão? — Jason decidiu que talvez ele não baixasse sua espada. — Olhe, eu não te conheço, e você não é minha patrona.
Você me conhece, ela insistiu. Eu conheço você desde o seu nascimento.
— Eu não lembro. Eu não me lembro de nada.
Não, você não lembra, ela concordou. Isso também foi necessário. Tempos atrás, seu pai me deu sua vida como presente para apaziguar minha raiva. Ele lhe nomeou Jason, por causa do meu mortal favorito. Você pertence a mim.
— Espera aí — Jason disse. — Eu não pertenço a ninguém.
Agora é a hora de pagar sua dívida, ela disse. Encontre minha prisão. Liberte-me, ou o rei deles irá erguer-se da terra e eu serei destruída. Você nunca recuperará sua memória.
— Isso é uma ameaça? Você roubou minhas memórias?
Você tem até o pôr do sol no solstício, Jason. Quatro curtos dias. Não me descepcione.
A mulher de preto se dissolveu, e a névoa entrou na boca do leopardo.
O tempo descongelou. O berro do Seymour veio numa tosse como se tivesse engolido uma bola de pêlos. O fogo estalou para a vida, o fliperama fez bip, e Quíron disse:
— ... quem ousaria trazer-lhe aqui?
— Provavelmente a mulher na fumaça — Jason propôs.
Quíron olhou em surpresa.
— Você não estava sentado... por que você tem uma espada na mão?
— Odeio lhe dizer isso — Jason disse — mas eu acho que seu leopardo comeu uma deusa.
Ele contou para Quíron sobre a visita que fez o tempo parar, sobre a figura enevoada que desapareceu na boca de Seymour.
— Ah, meu caro — Quíron murmurou. — Isso explica muita coisa.
— Então por que você não me explica algumas delas? — Jason disse. — Por favor.
Antes que Quíron pudesse dizer alguma coisa, passos ecoaram na varanda do lado de fora. A porta da frente abriu com uma batida, e Annabeth e outra garota, uma ruiva, entraram explodindo, arrastando Piper entre elas. A cabeça de Piper prendia, como se estivesse inconsciente.
— O que aconteceu? — Jason apressou-se. — O que há de errado com ela?
— Chalé de Hera — Annabeth ofegou, como se tivessem corrido por todo o caminho. — Visão. Ruim.
A garota ruiva olhou para cima, e Jason viu que ela estava chorando.
— Eu acho... — A garota ruiva tragou. — Eu acho que posso ter matado ela.

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