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O Herói Perdido - CAP. 4

.. domingo, 31 de março de 2013

Capítulo IV - Piper


PIPER LOGO PERCEBEU QUE O CORAÇÃO DE ANNABETH não estava no passeio.
Ela falou sobre todas essas coisas surpreendentes que o acampamento oferecia — arco e flecha mágico, equitação de pégaso, a parede de escalada com lava, luta com monstros — mas ela não demonstrou nenhuma animação, como se sua mente estivesse em outro lugar. Ela apontou para o pavilhão de jantar ao ar livre que contemplava do alto o Estreito de Long Island. (Sim, Long Island, Nova York; eles haviam viajado aquela distância na biga.) Annabeth explicou que o Acampamento Meio-Sangue era na maior parte um acampamento de verão  mas alguns garotos ficavam aqui quase o ano inteiro, e eles tinham adicionado tantos campistas que sempre estava cheio agora, ate no inverno.
Piper queria saber quem dirigia o acampamento, e como eles sabiam que Piper e seus amigos eram membros dali. Ela queria saber se teria que ficar em tempo integral, ou se ela teria alguma vantagem nas atividades. Alguém poderia ser reprovado em luta com monstros? Milhões de perguntas borbulhavam na sua cabeça, mas dado o ânimo de Annabeth, ela decidiu ficar quieta.
Enquanto elas subiam uma colina na beira do acampamento, Piper se virou e teve uma incrível visão do vale — uma grande extensão de florestas ao noroeste, uma linda praia, o riacho, o lago de canoagem, magníficos campos verdes, e os chalés — um bizarro agrupamento de construções, arranjados na forma de um ômega (Ω) com um gramado no centro e dois anexos nas extremidades. Piper contou vinte chalés. Um brilhava a ouro, outro a prata. Um tinha grama no telhado. Outro era vermelho vivo com trincheiras de arame farpado. Um chalé era preto com ardentes tochas verdes na frente. Tudo isso parecia como um mundo diferente das colinas nevadas e campos do lado de fora.
— O vale é protegido dos olhos mortais — Annabeth disse. — Como você pode ver, o clima é controlado, também. Cada chalé representa um deus grego, e neles vivem os filhos desses deuses.
Ela observava Piper como se estivesse tentando avaliar como a garota estava recebendo aquelas novidades.
— Você está dizendo que minha mãe é uma deusa?
Annabeth assentiu.
— Você está aceitando isso muito bem.
Piper não pôde dizer a ela o porque. Ela não podia admitir que isso só confirmava algumas misteriosas sensações que ela teve por anos, discussões que ela tivera com seu pai sobre o porquê de não haverem fotos da mãe na casa, e o motivo de o pai nunca ter lhe contado exatamente como ou por quê sua mãe havia deixado-os. Mas principalmente, o sonho havia alertado-a que isso estava vindo. Logo eles a encontrarão, semideusa, aquela voz ressou. Quando eles lhe encontrarem, siga nossas instruções. Colabore, e seu pai poderá viver.
Piper tomou fôlego.
— Acho que depois dessa manhã, é um pouco mais fácil de acreditar. Então, quem é minha mãe?
— Devemos saber logo — Annabeth disse. — Você tem o que... quinze anos? Os deuses deviam ter te reclamado quando tinha treze. Esse foi o acordo.
— Acordo?
— Eles fizeram uma promessa no último verão... bem, é uma longa historia... mas eles prometeram não ignorar seus filhos semideuses, não mais, e reclamá-los na hora em que fizessem treze. Às vezes demora um pouco, mas você viu como foi rápido para Leo ser reclamado quando chegou aqui. Deve acontecer com você em breve. De noite na fogueira, aposto que teremos um sinal.
Piper queria saber se ela teria um grande martelo flamejante sobre a cabeça ou, com sua sorte, algo até mais embaraçoso. Um golfinho flamejante, talvez. Quem quer que fosse sua mãe, Piper não tinha razão para pensar que ela estaria orgulhosa de reclamar uma filha cleptomaníaca com tantos problemas.
— Por que treze anos?
— Quanto mais velhos vocês ficam — Annabeth disse — mais facilmente são notados pelos monstros, que vão tentar matá-los. Por volta dos treze anos geralmente isso começa. É por isso que mandamos protetores nas escolas, para encontrá-los e trazê-los ao acampamento antes que seja tarde demais.
— Como o treinador Hedge?
Annabeth fez que sim.
— Ele... ele é um sátiro: meio homem, meio bode. Sátiros trabalham para o acampamento, encontrando semideuses, protegendo-os, trazendo-os enquanto ainda há tempo.
Piper não tinha problemas para acreditar que o treinador Hedge era metade bode. Ela vira-o comer. Nunca gostou muito do treinador, mas não podia acreditar que ele se sacrificara para salvá-los.
— O que aconteceu com ele? — ela perguntou. — Quando subimos nas nuvens, ele... ele se foi para sempre?
— Difícil dizer. — A expressão de Annabeth estava aflita. — Espíritos da tempestade... são difíceis de combater. Mesmo nossas melhores armas, de bronze celestial, passam através deles, a não ser que você consiga pegá-los de surpresa.
— A espada de Jason transformou-os em pó — Piper lembrou.
— Ele teve sorte, então. Se você acerta em cheio um monstro, você pode dissolvê-los, enviar a sua essência de volta ao Tártaro.
— Tártaro?
— Um abismo imenso no Mundo Inferior de onde os piores monstros vem. Um tipo de buraco de maldade sem fundo. De qualquer jeito, quando um monstro é desintegrado, geralmente leva meses, anos até que possa se reformar. Mas desde que esse espírito da tempestade, Dylan, escapou... bem, eu não sei por que ele manteria Hedge vivo. Hedge era um protetor, entretanto. Ele conhecia os riscos. Sátiros não tem almas mortais. Ele irá reencarnar como uma árvore ou flor ou alguma coisa assim.
Piper tentou imaginar o treinador Hedge como uma moita irritada de amor-perfeito. Aquilo a fez sentir-se pior ainda.
Ela olhou fixamente para os chalés abaixo, e uma sensação preocupante a tomou. Hedge morrera para trazê-la aqui em segurança. O chalé da sua mãe estava em algum lugar ali embaixo, o que significava que ela tinha irmãos e irmas, mais pessoas a quem ela trairia.
Faça o que dissermos, a voz tinha dito. Ou as consequências serão dolorosas. Ela contraiu as mãos sob os braços cruzados, tentando fazê-las parar de tremer.
— Vai ficar tudo bem — Annabeth prometeu. — Você tem amigos aqui. Todos nós temos vivido coisas esquisitas. Sabemos o que você está passando.
Duvido, Piper pensou.
— Eu fui expulsa de cinco escolas diferentes nesses últimos cinco anos — ela disse. — Meu pai não sabe mais onde me matricular.
— Só cinco? — Annabeth não soava como se estivesse provocando. — Piper, todos aqui somos encrenqueiros qualificados. Eu fugi de casa quando tinha sete anos.
— Sério?
— Ah, sim. A maior parte de nós e diagnosticada com transtorno de deficit de atenção ou dislexia, ou ambos...
— Leo tem TDAH — Piper disse.
— Certo. É porque somos preparados para a batalha. Agitados, impulsivos... não nos saímos bem entre as crianças normais. Você devia ouvir quantas encrencas Percy... — seu rosto ficou ´serio. — De qualquer jeito, semideuses conseguem uma má reputação. Como você arrumou encrenca?
Normalmente quando alguém fazia aquela pergunta, Piper começava uma luta, ou mudava de assunto, ou causava algum tipo de distração. Mas por algum motivo ela achou-se falando a verdade.
— Eu roubo coisas — ela disse. — Bem, não exatamente roubo...
— Sua família é pobre?
Piper riu amargamente.
— Não mesmo. Eu fazia isso... não sei por quê. Para chamar atenção, acho. Meu pai nunca tinha tempo para mim a menos que eu estivesse em apuros.
Annabeth assentiu.
— Eu posso entender. Mas você disse que não roubava exatamente. O que você quis dizer?
— Bem... ninguém nunca acredita em mim. A polícia, professores... até as pessoas de quem eu roubava: elas ficavam constrangidas, negavam tudo. Mas a verdade é que eu não roubo nada. Eu apenas peço coisas para as pessoas. E eles me dão. Até uma BMW conversivel. Eu só pedi. E o revendedor disse “Certo. Leve.” Depois, ele percebeu o que fez, acho. Então a policia veio atrás de mim.
Piper esperou. Ela estava costumada as pessoas chamando-a de mentirosa, mas quando ergueu os olhos, Annabeth apenas assentiu.
— Interessante. Se seu pai fosse o deus, eu diria que você é uma criança de Hermes, deus dos ladrões. Ele pode ser bastante persuasivo. Mas seu pai é mortal...
— Muito — Piper concordou.
Annabeth sacudiu a cabeça, aparentemente iludida.
— Eu não sei, então. Com sorte, sua mãe irá lhe reclamar ainda esta noite.
Piper quase esperou que isso não acontecesse. Se sua mãe fosse uma deusa, ela saberia sobre aquele sonho? Ela saberia o que Piper fora pedida para fazer? Piper queria saber se deuses olimpianos alguma vez detonaram seus filhos com raios por serem maus, ou mandaram-nos ao Mundo Inferior.
Annabeth a estudava. Piper decidiu que teria de ser cuidadosa com o que diria agora. Annabeth era obviamente bastante esperta. Se alguém descobrisse seu segredo...
— Vamos lá — Annabeth disse finalmente. — Há uma coisa a mais que eu preciso checar.
Elas andaram um pouco mais até que alcançaram uma caverna perto do topo da colina. Ossos e espadas velhas espalhavam-se no chão. Tochas ladeavam a entrada, que estava coberta com uma cortina de veludo enfeitada com cobras. Parecia o cenário para algum tipo de show de marionetes.
— O que tem ai? — Piper perguntou.
Annabeth deu uma espiada, então suspirou e fechou as cortinas.
— Agora, nada. O lugar é de uma amiga. Estive esperando-a por alguns dias, mas até agora, nada.
— Sua amiga mora numa caverna?
Annabeth quase sorriu.
— Na verdade, a família dela tem um condomínio de luxo no Queens, e ela frequenta uma escola de moças em Connecticut. Mas quando ela está aqui no acampamento, sim, ela mora na caverna. Ela é nosso oráculo, prevê o futuro. Eu estava esperando que ela pudesse me ajudar...
— A encontrar Percy — Piper supôs.
Toda a energia drenou-se de Annabeth, como se ela estivesse segurando-a o máximo que podia. Ela sentou numa rocha, e sua expressão estava tao cheia de dor, que Piper sentiu-se mal por estar ali olhando.
Ela forçou-se a olhar para outro lado. Seus olhos flutuaram para o topo da colina, onde um pinheiro solitário dominava o horizonte. Algo brilhava no seu galho mais baixo — como um tapete felpudo e dourado.
Não... Não um tapete. Era uma pele de carneiro.
Ok, Piper pensou. Acampamento grego. Eles tinham uma réplica do Velocino de Ouro.
Então ela notou a base da árvore. No começo ela pensou que a árvore estava enrolada numa pilha de cabos roxos. Mas os cabos tinham escamas reptilianas, patas com garras, e uma cabeça parecida com a de uma cobra com olhos amarelos e narinas fumegantes.
— Aquilo é... um dragão — ela gaguejou. — Aquele é o Velocino de Ouro verdadeiro?
Annabeth assentiu, mas estava claro que ela não estava realmente ouvindo. Seus ombros abaixaram. Ela esfregou o rosto e respirou fundo.
— Desculpe. Estou um pouco cansada.
— Você parece a ponto de desmoronar — Piper disse. — Há quanto tempo está procurando pelo seu namorado?
— Três dias, seis horas, e aproximadamente vinte minutos.
— E você não tem ideia do que aconteceu com ele?
Annabeth balançou a cabeça miseravelmente.
— Estávamos tão animados porque nossas férias de verão tinham começado mais cedo. Nós nos encontraríamos no acampamento na terca-feira, calculamos que tinhamos três semanas juntos. Seria incrível. Então, depois da fogueira, ele... me deu um beijo de boa noite, voltou para o seu chalé, e na manhã seguinte, ele havia sumido. Procuramos pelo acampamento inteiro. Contatamos sua mãe. Tentamos alcançá-lo de todas as maneiras que sabemos. Nada. Ele simplesmente desapareceu.
Piper estava pensando: Três dias atrás. A mesma noite que ela tivera seu sonho.
— Há quanto tempo vocês dois estão juntos?
— Desde agosto — Annabeth disse. — Dezoito de agosto.
— Quase a mesma época quando conheci Jason — Piper disse. — Mas só ficamos juntos por algumas semanas.
Annabeth estremeceu.
— Piper... sobre isso. Talvez você devesse sentar-se.
Piper sabia onde isso ia dar. Pânico começou a crescer dentro dela, como se os pulmões estivessem cheios d’agua.
— Olhe, eu sei que Jason pensa... ele pensa que simplesmente apareceu na nossa escola hoje. Mas não é verdade. Eu o conheço há quatro meses.
— Piper — Annabeth disse tristemente. — É a Névoa.
— O quê?
— N-é-v-o-a. É um tipo de véu que separa o mundo mortal do mundo mágico. Mentes mortais... elas não podem processar coisas estranhas como deuses e monstros, então a Névoa distorce a realidade. Faz mortais verem coisas de um modo que eles possam entender... é como se os olhos deles simplesmente não notassem esse vale, ou eles
pudessem olhar para aquele dragão e ver uma pilha de cabos.
Piper engoliu em seco.
— Não. Você mesma disse que eu não sou uma mortal comum. Eu sou uma semideusa.
— Até mesmo semideuses podem ser afetados. Eu vi isso várias vezes. Monstros infiltram-se em lugares como escolas, passam-se por humanos, e todos acham que lembram daquela pessoa. Eles acreditam que ele sempre esteve por perto. A Névoa pode manipular memórias, até mesmo criar lembranças de coisas que nunca aconteceram...
— Mas Jason não é um monstro! — Piper insistiu. — Ele é um humano, ou semideus, ou como você quiser chamá-lo. Minhas memórias não são falsas. Elas são muito reais. A vez que nós colocamos fogo nas calças do treinador Hedge. A vez que Jason e eu assistimos uma chuva de meteoros no telhado do dormitório e eu finalmente consegui fazer com que o bobo me beijasse...
Ela encontrou-se falando, contando para Annabeth sobre todo o seu semestre na Escola da Vida Selvagem. Ela havia gostado de Jason desde a primeira semana que se encontraram. Ele era tão bondoso com ela, tão paciente, conseguia até aturar o hiperativo Leo e suas estúpidas brincadeiras. Ele havia aceitado-a por ser ela mesma e não a julgou por causa das besteiras que ela fizera. Eles gastaram horas conversando, olhando para as estrelas, e... finalmente... dado as mãos. Tudo aquilo não podia ser mentira.
Annabeth franziu os lábios.
— Piper, suas memórias são mais detalhadas que a maioria. Vou admitir isso e não sei por que. Mas se você o conhece tão bem...
— Eu conheço!
— Então de onde ele é?
Piper sentiu-se como se fosse atingida entre os olhos.
— Ele deve ter me dito, mas...
— Você já havia notado a tatuagem dele? Ele já lhe disse alguma coisa sobre seus pais, ou seus amigos, ou sua última escola?
— Eu... eu não sei, mas...
— Piper, qual é o sobrenome dele?
Sua mente ficou vazia. Ela não sabia o sobrenome de Jason. Como era possível?
Ela começou a chorar. Ela se sentiu uma completa tola, mas ela sentou-se na rocha do lado de Annabeth e sentiu-se quebrada em pedaços. Era muito. Tudo que era bom na sua vida estúpida e miserável tinha que ser tirado?
Sim, o sonho lhe havia dito. Sim, a menos que você faça exatamente o que dissermos.
— Ei — Annabeth disse. — Vamos descobrir. Jason está aqui agora. Quem sabe? Talvez vocês se resolvam realmente.
Não é provável, Piper pensou. Não se o sonho for verdade. Mas ela não podia falar isso.
Ela limpou uma lágrima da bochecha.
— Você me trouxe aqui para que ninguém me visse chorando, não é?
Annabeth deu de ombros.
— Pensei que seria difícil para você. Eu sei como é perder um namorado.
— Mas eu ainda não posso acreditar... Eu sei que tivemos algo. E agora simplesmente se foi, ele nem me reconhece. Se ele realmente só apareceu hoje, então por que? Como ele chegou aqui? Por que ele não pode se lembrar de nada?
— Boas perguntas — Annabeth disse. — Esperamos que Quíron possa compreender isso. Mas agora, precisamos deixar você arrumada. Está pronta para voltar la pra baixo?
Piper fitou o louco agrupamento de chalés no vale. Sua nova casa, uma família que, supostamente, a entendia — mas em breve eles seriam apenas mais um grupo de pessoas que ela desapontaria, mais um lugar de onde ela seria expulsa. Você irá traí-los por nós, a voz lhe alertara. Ou você perderá tudo.
Ela não tinha escolha.
— Sim — ela mentiu. — Estou pronta.

No campo central, um grupo de campistas estava jogando basquete. Eles eram jogadores incríveis  Nenhum errava o aro. Cestas de três pontos entravam automaticamente.
— Chalé de Apolo — Annabeth explicou. — Adoram se exibir com projeteis, flechas, bolas de basquete.
Elas passaram por um fogareiro que ficava no meio de tudo, onde dois rapazes lutavam com espadas.
— Lâminas reais? — Piper notou. — Não é perigoso?
— Corta essa... — Annabeth disse. — Ah, desculpe. Trocadilho ruim. Aquele é o meu chale. Número 6.
Ela indicou uma construção cinza com uma coruja esculpida sobre a porta. Através da entrada aberta, Piper pode ver prateleiras de livros, um mostruário de armas, e uma daquelas lousas digitais que se tem em salas de aula. Duas garotas estavam desenhando um mapa que parecia com um diagrama de batalha.
— Falando em lâminas — Annabeth disse — venha aqui.
Ela levou Piper para o lado do chalé, para um grande abrigo de metal que parecia que fora feito para instrumentos de jardinagem. Annabeth destrancou-o, e dentro nao havia nenhum instrumento de jardinagem, a menos que alguém quisesse fazer uma guerra em suas plantações de tomate. O abrigo estava alinhado com todos os tipos de armas — de espadas e arpões a tacos como o do treinador Hedge.
— Todo semideus precisa de uma arma — Annabeth disse. — Hefesto faz as melhores, mas temos uma boa seleção, também. Atena é sinônimo de estratégia: encontrar a arma perfeita para a pessoa certa. Vamos ver...
Piper não estava muito no clima para uma tarde de compras de apetrechos mortíferos, mas ela sabia que Annabeth estava tentando fazer algo bondoso para ela. Annabeth lhe ofereceu uma pesada espada, que Piper dificilmente conseguiria levantar.
— Não — ambas disseram ao mesmo tempo.
Annabeth procurou um pouco mais longe no galpão e trouxe outra coisa.
— Uma espingarda? — Piper perguntou.
— Mossberg 500 — Annabeth engatilhou a arma como se aquilo não fosse nada demais. — Não se preocupe. Não fere humanos. Foi modificada para atirar bronze Celestial, então só mata monstros.
— Hã, eu não acho que seja meu estilo — Piper disse.
— Hum, sim — Annabeth concordou. — Muito espalhafatosa.
Ela colocou a espingarda de volta e começou a remexer em uma prateleira de bestas quando algo no canto do galpão chamou a atenção de Piper.
— O que é aquilo? — ela disse. — Uma faca?
Annabeth tirou-a e assoprou a poeira da bainha. Parecia não ter visto a luz do dia por séculos.
— Não sei, Piper — Annabeth soou inquieta. — Não acho que você queira essa. Espadas geralmente são melhores.
— Você usa uma faca — Piper apontou para a faca presa no cinto de Annabeth.
— Sim, mas... — Annabeth deu de ombros. — Bem, dê uma olhada se quiser.
A bainha usada era de couro e preta, atada em bronze. Nada extravagante e superficial. O cabo de madeira polida cabia perfeitamente na mão de Piper. Quando ela desembainhou, encontrou uma lâmina triangular de quarenta e cinco centímetros, e o bronze cintilava como se tivesse sido polida ontem. As pontas eram mortalmente afiadas. Seu reflexo na lâmina pegou-a de surpresa. Ela parecia mais velha, mais séria, e não tão assustada quanto se sentia.
— Ela é perfeita para você — Annabeth admitiu. — Esse tipo de adaga chama-se parazônio. Era sobretudo cerimonial, carregada por oficiais de auto-nível nos exércitos gregos. Denotava poder e riqueza, mas numa luta, pode protegê-la bem.
— Eu gosto — Piper disse. — Por que você achou que não seria bom?
Annabeth suspirou.
— Essa arma tem uma longa história. A maioria das pessoas teria medo de ficar com ela. Sua primeira dona... bem, as coisas nao foram muito bem para ela. Seu nome era Helena.
Piper engasgou.
— Espere, você quer dizer aquela Helena? Helena de Troia?
Annabeth assentiu.
Subitamente Piper sentiu que devia estar segurando o punhal com luvas cirúrgicas.
— E isso está simplesmente acomodado no seu galpão de ferramentas?
— Estamos rodeados por coisas da Grécia Antiga — Annabeth disse. — Isso não é um museu. Armas como essa foram feitas para serem usadas. Elas são nossa herança como semideuses. Esse foi um presente de casamento de Menelau, primeiro marido de Helena. Ela nomeou a adaga como Katoptris.
— E o que significa?
— Espelho — Annabeth disse. — Vidro em que se olhar. Provavelmente, por que foi a única coisa para que Helena a usou. Não acho que esta lâmina tenha visto alguma batalha.
Piper olhou para a lâmina novamente. Por um momento, sua própria imagem olhou para ela, mas então o reflexo mudou. Ela viu chamas, e uma face grotesca como algo esculpido de um leito de rocha. Ela ouviu a mesma risada como no sonho. Ela viu seu pai numa prisão, amarrando a um poste de frente para uma fogueira estrondosa.
Ela deixou a lâmina cair.
— Piper? — Annabeth gritou para as crianças de Apolo no campo. — Médico! Preciso de ajuda aqui!
— Não, está... está tudo bem — Piper controlou-se.
— Tem certeza?
— Sim. Eu só... — Ela tinha que se controlar. Com os dedos trêmulos, ela levantou a adaga. — Eu só fiquei um pouco tonta. Muitos acontecimentos hoje. Mas... eu quero ficar com a adaga, se estiver tudo bem.
Annabeth hesitou. Então acenou para que o pessoal de Apolo fosse embora.
— Ok, se é isso o que quer... Você ficou realmente pálida. Pensei que você estivesse tendo uma convulsão ou algo assim.
— Estou legal — Piper prometeu, embora seu coração ainda estivesse acelerado.
— Tem... hã, um celular no acampamento? Eu posso ligar pro meu pai?
Os olhos cinzentos de Annabeth estavam quase tão perturbadores quanto a lâmina da adaga. Ela parecia estar calculando um milhão de possibilidades, tentando ler os pensamentos de Piper.
— Não permitimos celulares — ela disse. — Para a maioria dos semideuses, usar um celular é como mandar um sinal, deixando os monstros saberem onde você está. Mas... eu tenho um. — Ela tirou-o rapidamente do bolso. — É meio contra as regras, mas se puder ser nosso segredo...
Piper pegou o aparelho, agradecida, tentando não deixar suas mãos tremerem. Ela distanciou-se de Annabeth e virou para encarar o campo central. Ela ligou para a linha privada do pai, mesmo sabendo o que iria acontecer.
Caixa postal. Ela esteve tentando por três dias, desde seu sonho. A Escola da Vida Selvagem só permitia o privilégio de usar o celular uma vez por dia, mas ela ligou todas as manhãs, e não chegou a lugar nenhum.
Com relutância, ela discou o outro numero. A assistente pessoal de seu pai respondeu imediatamente.
— Escritorio do Sr. McLean.
— Jane — Piper disse, rangendo os dentes. — Onde está meu pai?
Jane ficou em silêncio por um momento, provavelmente pensando se ela poderia escapar se desligasse.
— Piper, achei que você não devia ligar da escola.
— Talvez eu não esteja na escola — Piper disse. — Talvez eu tenha fugido para viver entre criaturas selvagens.
— Hum — Jane não soava preocupada. — Bem, eu vou dizer que você ligou.
— Onde ele está?
— Saiu.
— Você não sabe onde ela está, sabe? — Piper diminuiu a voz, pensando que Annabeth poderia estar escutando. — Quando você vai ligar para a polícia, Jane? Ele pode estar com problemas.
— Piper, não vamos transformar isso num circo para a mídia. Tenho certeza de que ele está bem. Ele sai ocasionalmente. Mas ele sempre volta.
— Então é verdade. Você não sabe...
— Eu tenho que ir, Piper — Jane vociferou. — Divirta-se na escola.
A linha ficou muda. Piper xingou. Ela voltou para Annabeth e devolveu o celular.
— Sem sorte? — Annabeth perguntou.
Piper não respondeu. Ela não confiava em si mesma no momento, de que não iria chorar de novo.
Annabeth olhou para a tela do telefone e hesitou.
— Seu sobrenome é McLean? Desculpe, sei que não é da minha conta, mas me parece realmente familiar...
— É um nome comum.
— Sim, suponho. O que seu pai faz?
— Ele é formado em artes — Piper disse automaticamente. — É um artista Cherokee.
Sua resposta-padrão. Não uma mentira, mas também não a verdade completa. A maioria das pessoas, quando ouvia isso, entendia que seu pai vendia souvenires indígenas num stand ao lado da estrada numa reserva. Bonequinhos de touros que mexem a cabeça, colares de contas... esse tipo de coisa.
— Ah — Annabeth não parecia convencida, mas ela guardou o telefone. — Você está se sentindo bem? Quer continuar?
Piper prendeu sua nova adaga no cinto e prometeu a si mesma que depois, quando estivesse sozinha, ela entenderia como aquilo funcionava.
— Claro — ela disse. — Eu quero ver tudo.

Todos os chalés eram legais, mas Piper não se identificou com nenhum deles. Nenhum sinal de fogo — um golfinho ou qualquer outra coisa — aparecia sobre sua cabeça. O Chalé Oito era inteiramente de prata e brilhava como a luz da lua.
— Ártemis? — Piper deduziu.
— Você conhece a mitologia grega? — Annabeth perguntou.
— Eu li um pouco quando meu pai estava trabalhando num projeto ano passado.
— Pensei que ele trabalhasse com arte Cherokee.
Piper refreou um palavrão.
— Ah, certo. Mas... você sabe, ele faz outras coisas também.
Piper pensou que tinha entregado tudo: McLean, mitologia grega. Felizmente, Annabeth não pareceu fazer a conexão.
— De qualquer jeito — Annabeth continuou — Ártemis é deusa da lua e da caça. Mas ali não tem campistas. Ela é uma eterna donzela, não tem filhos.
— Ah.
Piper ficou desapontada. Ela sempre gostou das histórias de Ártemis, e pensou que ela seria uma boa mãe.
— Bem, há as Caçadoras de Ártemis — Annabeth corrigiu. — Elas nos visitam às vezes. Elas não são filhas da deusa, são suas servas... um bando de garotas imortais que se aventuram juntas por aí, caçando monstros e coisas assim.
Piper animou-se.
— Parece legal. Elas são imortais?
— A menos que morram em combate, ou quebrem seus juramentos. Mencionei que elas tem que se afastar dos garotos? Nada de namoro... nunca. Por toda a eternidade.
— Ah — Piper disse. — Deixa pra lá.
Annabeth riu. Por um momento ela pareceu quase feliz, e Piper imaginou que ela seria uma boa amiga em tempos melhores.
Esqueça, Piper lembrou-se. Você não vai fazer amigos aqui. Não quando eles descobrirem tudo.
Elas passaram pelo próximo chalé, o número 10, que estava decorado como uma casa da Barbie: cortinas com laços, porta rosa, vasos de cravos nas janelas.
Elas passaram pela entrada e o cheiro de perfume quase fez Piper vomitar.
— Nossa, é pra cá que as supermodelos vem quando morrem?
Annabeth sorriu.
— Chalé de Afrodite. Deusa do amor. Drew é a conselheira.
— Percebe-se — Piper rosnou.
— Elas não são todas más — Annabeth disse. — A última conselheira que tivemos era incrível.
— O que aconteceu com ela?
A expressão de Annabeth escureceu.
— Devíamos continuar andando.
Elas olharam para as outras casinhas, mas Piper só ficou mais deprimida. Ela queria saber se podia ser a filha de Deméter, a deusa da colheita. Não, Piper matara todas as plantas que tocara. Atena era legal. Ou talvez Hécate, a deusa da magia. Mas isso realmente não importava. Até aqui, onde todos deviam encontrar um parente perdido, ela sabia que ainda acabaria sendo a criança indesejável. Ela não estava ansiosa pela fogueira hoje a noite.
— Nós começamos com os doze olimpianos — Annabeth explicou. — Deuses do sexo masculino na esquerda, do sexo feminino à direita. Então ano passado, acrescentamos um novo grupo de chalés para os outros deuses que não tinham tronos no Olimpo... Hécate, Hades, Íris...
— De quem são os dois maiores, no final? — Piper perguntou.
Annabeth franziu a testa.
— Zeus e Hera. Rei e rainha dos deuses.
Piper seguiu naquela direção, e Annabeth foi atrás, embora ela não parecesse muito animada. O chalé de Zeus fazia Piper se lembrar de um banco. Mármore branco com grandes colunas na frente e portas de bronze polido decoradas com raios.
O chalé de Hera era menor, mas feito no mesmo estilo, exceto que as portas eram esculpidas com desenhos de penas de pavão, brilhando em diferentes cores. Diferente dos outros chalés, que eram todos barulhentos, abertos e cheios de atividade, os chalés de Zeus e Hera pareciam fechados e em silêncio.
— Estão vazios? — Piper perguntou.
Annabeth assentiu.
— Zeus ficou um bom tempo sem ter filhos. Na verdade, foi quase isso. Zeus, Poseidon e Hades, os irmãos mais velhos entre os deuses, são chamados de Os Três Grandes. Seus filhos são realmente poderosos e perigosos. Pelos últimos setenta anos aproximadamente, eles tentaram evitar ter filhos semideuses.
— Tentaram evitar?
— Algumas vezes eles... hã, trapacearam. Eu tenho uma amiga, Thalia Grace, que é filha de Zeus. Mas ela desistiu da vida de campista e se tornou uma Caçadora de Ártemis. Meu namorado, Percy, ele é um filho de Poseidon. E há um garoto que aparece as vezes, Nico... filho de Hades. Exceto por eles, não há outros semideuses filhos dos Três Grandes. Pelo menos, não que saibamos.
— E Hera? — Piper olhou para as portas decoradas de pavão. O chalé a incomodava, embora ela não soubesse por quê.
— Deusa do casamento. — O tom de Annabeth estava cuidadosamente controlado, como se ela estivesse tentando evitar xingar. — Ela não tem filhos com ninguém a não ser Zeus. Assim, sem semideuses. É um chalé honorário.
— Você não gosta dela — Piper notou.
— É uma longa história — Annabeth admitiu. — Eu achei que teríamos paz, mas quando Percy desapareceu... eu tive uma visão esquisita na qual ela apareceu.
— Dizendo para você ir nos buscar — Piper disse. — Mas você pensou que Percy estaria ali.
— Provavelmente é melhor que eu não fale sobre isso — Annabeth disse. — Eu não tenho nada de bom para falar sobre Hera agora.
Piper olhou a base das portas.
— Então quem vem aqui?
— Ninguém. O chale honorário, como eu disse. Ninguém vem aqui.
— Alguém veio, sim — Piper apontou para uma pegada na soleira empoeirada da porta. Por instinto, ela empurrou as portas e elas abriram facilmente.
Annabeth recuou.
— Hã, Piper, não acho que deveríamos...
— Estamos aqui para fazer coisas perigosas, certo? — E Piper entrou.

O chale de Hera não era um lugar onde Piper iria querer morar. Era tão frio quanto um freezer, com um círculo de colunas brancas ao redor de uma estátua central da deusa, de três metros de altura, sentada num trono em um fluido manto dourado. Piper sempre pensou em estátuas gregas como brancas e de olhos vazios, mas essa estava lustrosamente pintada de forma que parecia quase humana — exceto por ser imensa. Os olhos penetrantes de Hera pareciam seguir Piper.
Nos pés da deusa, uma chama queimava em um braseiro de bronze. Piper queria saber quem cuidava dali se o chalé estava sempre vazio. Havia um falcão de pedra no ombro de Hera, e na sua mão tinha um cajado com uma flor de lótus no topo. O cabelo da deusa estava preso em tranças negras. Seu rosto sorria, mas os olhos eram frios e sagazes, como se dissessem: A mãe é quem melhor sabe. Não se ponha em meu caminho ou terei que pisar em você.
Não havia mais nada no chalé — sem camas, móveis, banheiros, janelas, nada que realmente alguém pudesse usar para viver. Para uma deusa do lar e do casamento, o lugar de Hera fazia Piper se lembrar de uma tumba.
Não, essa não era sua mãe. Pelo menos Piper tinha certeza daquilo. Ela não entrara aqui porque sentira uma boa conexão, mas porque seu sentido de medo era mais forte aqui. Seu sonho — aquele horrivel ultimato que ela recebeu — tinha alguma relação com esse chalé.
Ela congelou. Elas não estavam sozinhas. Atrás da estátua, num pequeno altar, estava uma figura coberta por um xale escuro. Somente suas mãos eram visíveis, as palmas para cima. Ela parecia estar cantando um feitiço ou rezando.
Annabeth ofegou.
— Rachel?
A outra garota virou. Ela baixou o xale, revelando um cabelo ondulado e ruivo e um rosto sardento que não combinava com a seriedade do chalé ou do xale preto. Ela parecia ter uns dezessete anos, uma adolescente totalmente normal numa blusa verde e jeans surrados rabiscados de marca-texto. Apesar do chão frio, ela estava descalça.
— Ei! — Ela correu para dar um abraço em Annabeth. — Mil desculpas! Eu vim o mais rápido que pude.
Elas conversaram por alguns minutos sobre o namorado de Annabeth e como não havia noticias, etc., até finalmente Annabeth lembrar-se de Piper, que estava parada ali sentindo-se desconfortável.
— Estou sendo rude — Annabeth desculpou-se. — Rachel, essa é Piper, uma dos meio-sangues que resgatamos hoje. Piper, essa e Rachel Elizabeth Dare, nosso oráculo.
— A amiga que mora na caverna — Piper supôs.
Rachel sorriu.
— Sou eu.
— Então você é um oráculo? — Piper perguntou. — Você pode prever o futuro?
— É mais como se o futuro viesse ao meu encontro de vez em quando — Rachel disse. — Eu faço profecias. O espírito do oráculo me sequestra vez ou outra e fala coisas importas que não fazem sentido para ninguém. Mas sim, as profecias contam o futuro.
— Ah — Piper mudou o apoio de um pé ao outro. — Legal.
Rachel riu.
— Não se preocupe. Todos acham isso um pouco assustador. Até eu. Mas geralmente sou inofensiva.
— Você é uma semideusa?
— Não — Rachel disse. — Apenas mortal.
— Então o que você... — Piper indicou com a mão ao redor da sala.
O sorriso de Rachel esvaiu. Ela olhou para Annabeth, então voltou para Piper.
— Só uma intuição. Algo sobre esse chalé e o desaparecimento de Percy. Eles estão conectados de algum jeito. Eu aprendi a seguir minhas intuições, especialmente no mês passado, desde que os deuses se silenciaram.
— Silenciaram? — Piper perguntou.
Rachel franziu a testa para Annabeth.
— Você ainda não contou para ela?
— Eu estava chegando lá — Annabeth disse. — Piper, no ultimo mês... Bem, é normal para os deuses não conversarem muito com os filhos, mas geralmente podemos contar com algumas mensagens uma hora ou outra. Alguns de nós podem até visitar o Olimpo. Eu passei praticamente todo o semestre no Edificio Empire State.
— Desculpe?
— É onde fica a entrada para o Monte Olimpo hoje em dia.
— Ah — Piper disse. — Certo, por que não?
— Annabeth estava redesenhando o Olimpo depois que foi destruído na Guerra dos Titãs — Rachel explicou. — Ela é uma arquiteta incrível. Você devia ver o bufê de saladas...
— Resumindo — Annabeth disse — há um mês, o Olimpo caiu em silêncio. A entrada foi fechada, e ninguém pode entrar. Ninguém sabe o porquê. É como se os deuses tivessem se fechado. Até minha mãe não responde mais minhas preces, e nosso diretor do acampamento, Dioniso, foi chamado de volta.
— O diretor do acampamento de vocês era o deus do... vinho?
— Sim, é uma...
— Longa história — Piper supôs. — Certo. Continue.
— É isso, realmente — Annabeth disse. — Semideuses ainda são reclamados, porém nada mais. Sem mensagens. Sem visitas. Nenhum sinal que os deuses possam estar nos ouvindo. É como se algo tivesse acontecido, algo realmente ruim. Então Percy desapareceu.
— E Jason apareceu na nossa excursão de campo — Piper completou. — Sem memória.
— Quem é Jason? — Perguuntou Rachel.
— Meu... — Piper parou antes que pudesse dizer “namorado,” mas o efeito fez seu peito doer. — Meu amigo. Mas Annabeth, você disse que Hera lhe mandou uma visão?
— Isso — Annabeth disse. — A primeira comunicação de um deus num mês, e justo Hera, a deusa menos útil, e ela faz contato comigo, sua semideusa menos favorita. Ela me disse que eu descobriria o que aconteceu com Percy se eu fosse para o Grand Canyon e encontrasse um garoto com um sapato só. Ao invés de Percy, eu encontro vocês, e o garoto do sapato é Jason. Não faz sentido.
— Algo ruim está acontecendo — Rachel concordou.
Ela olhou para Piper, e Piper sentiu um desejo esmagador de contar a elas sobre seu sonho, confessar que ela sabia o que estava acontecendo — pelo menos, parte da história. E as coisas ruins estavam apenas começando.
— Gente — ela disse. — Eu... eu preciso...
Antes que ela pudesse continuar, o corpo de Rachel endureceu. Seus olhos começaram a brilhar com uma luz esverdeada, e ela agarrou Piper pelos ombros.
Piper tentou recuar, mas as mãos eram como fios de aço.
Liberte-me, ela disse. Mas não era a voz de Rachel. Soava como uma mulher mais velha, falando de algum lugar muito longe, muito abaixo, ecoando num tubo. Liberte-me, Piper McLean, ou a terra irá nos engolir. Faça isso no solstício.
A sala começou a girar, Annabeth tentou separar Piper de Rachel, mas não adiantou. Fumaça verde a envolveu, e Piper não estava mais certa se ela estava acordada ou sonhando. A estátua gigante da deusa parecia levantar do trono. Inclinou-se para Piper, seu olhar atravessando-a. A boca da estátua abriu, sua respiração com um perfume horrivelmente denso. Ela falou na mesma voz ecoada: Nossos inimigos se agitam. O flamejante é apenas o primeiro. Curve-se ao seu desejo, e o rei deles irá se erguer, condenando todos nós. LIBERTE-ME!
Os joelhos de Piper dobraram, e tudo ficou escuro.

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