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O Herói Perdido - CAP. 35

.. domingo, 31 de março de 2013

Capítulo XXXV - Leo


LEO CHEGOU A UMA CONCLUSÃO: era o menos sortudo do grupo, e isso estava claro. Por que
ele não tinha uma irmã perdida ou um pai estrela de cinema que precisava ser resgatado? Tudo que tinha era um cinto de ferramentas e um dragão que se espatifou no meio da missão. Talvez fosse culpa da estúpida maldição de Hefesto, mas Leo achava que não era isso. Sua vida já era azarada antes mesmo de ele chegar ao acampamento.
Mil anos depois, quando essa missão estivesse sendo contada ao redor de uma fogueira, ele estimou que as pessoas falariam sobre o bravo Jason, a linda Piper, e o seu assistente Valdez Flamejante, que os acompanhava com uma mochila de chaves de fenda mágicas e ocasionalmente preparava hambúrgueres de tofu.
Como se aquilo não fosse ruim o suficiente, Leo se apaixonava por toda garota que via — contanto que ela fosse totalmente inalcançável para ele.
Quando ele viu Thalia pela primeira vez, Leo imediatamente pensou que ela era muito bonita para ser a irmã de Jason. Então pensou que seria melhor não falar isso ou ele estaria em problemas. Ele gostava do seu cabelo escuro, seus olhos azuis e da sua atitude confiante. Ela parecia o tipo de garota que podia enfrentar qualquer um num baile ou num campo de batalha, e não daria qualquer chance para Leo — era simplesmente o seu tipo!
Por um minuto, Jason e Thalia encararam um ao outro, aturdidos. Então Thalia correu e o abraçou.
— Meus deuses! Ela me disse que você estava morto! — Ela agarrou o rosto de Jason e pareceu estar examinando tudo nele. — Gracas a Ártemis, é você. Aquela pequena cicatriz no seu lábio... você tentou comer um grampeador quando tinha dois anos!
Leo riu.
— Sério?
Hedge assentiu como se aprovasse o gosto de Jason.
— Grampeadores... fonte excelente de ferro.
— E-espere — Jason gaguejou. — Quem te disse que eu estava morto? O que aconteceu?
Na entrada da caverna, um dos lobos brancos latiu. Thalia olhou para trás e balançou a cabeça, mas manteve suas mãos no rosto de Jason, como se tivesse medo que ele desaparecesse. — Minha loba está me contando que não tenho muito tempo, e ela tem razão. Mas temos que conversar. Vamos nos sentar.
Piper fez melhor que isso. Ela caiu. Ela teria batido a cabeça no chão da caverna se Hedge não a tivesse pegado.
Thalia se precipitou.
— Qual o problema dela? Ah... não importa. Entendo. Hipotermia. Tornozelo.
Ela franziu a testa para o sátiro.
— Você não conhece a cura da natureza?
Hedge zombou.
— Por que você acha que ela parece tão bem? Não está cheirando o Gatorade?
Thalia olhou para Leo pela primeira vez, e naturalmente era um olhar acusador, como Por que você deixou o bode como médico? Como se a culpa fosse de Leo.
— Você e o sátiro — Thalia ordenou — levem essa garota para minha amiga na entrada. Phoebe é uma excelente curandeira.
— Está frio lá fora! — Hedge disse. — Vai congelar meus chifres.
Mas Leo sabia quando eles não eram necessários.
— Vamos, Hedge. Esses dois precisam de tempo para conversar.
— Humpf. Certo — o sátiro murmurou. — Nem consegui quebrar a cabeça de alguém.
Hedge carregou Piper para a entrada. Leo estava prestes a seguir quando Jason o chamou:
— Na verdade, cara, você poderia, hã, ficar aqui?
Leo viu algo nos olhos de Jason que ele não esperava: Jason estava pedindo ajuda. Ele queria mais alguém ali. Ele estava assustado.
Leo sorriu.
— Ficar aqui é a minha especialidade.
Thalia não pareceu muito feliz a respeito disso, mas os três se sentaram ao redor do fogo. Por alguns minutos, ninguém falou. Jason estudou a irmã como se fosse uma invenção assustadora — uma que podia explodir se manipulada incorretamente. Thalia parecia mais a vontade, como se estivesse acostumada a tropeçar em coisas mais estranhas que parentes perdidos. Mas ainda assim ela olhava Jason num tipo de transe maravilhoso, talvez lembrando um pequeno de dois anos de idade que tentava comer um grampeador.
Leo pegou alguns pedaços de fios de cobre dos bolsos e os torceu juntos.
Finalmente, ele não pode suportar o silêncio.
— Então... as Caçadoras de Ártemis. Esse negócio todo do "não namorar"... é assim sempre ou só às vezes, de tempos em tempos?
Thalia olhou para ele como se tivesse acabado de emergir de um poço de lama. Sim, ele estava definitivamente gostando dessa garota.
Jason o chutou na canela.
— Não ligue para Leo. Ele só está tentando quebrar o gelo. Mas, Thalia... o que aconteceu com a nossa família? Quem te disse que eu estava morto?
Thalia puxou um bracelete de prata no pulso. Na luz do fogo, na sua camuflagem de inverno, ela quase parecia Quione, a princesa do gelo — porém mais fria e bonita.
— Você se lembra de alguma coisa? — ela perguntou.
Jason balançou a cabeça.
— Eu acordei três dias atrás num ônibus com Leo e Piper.
— O que não foi nossa culpa — Leo acrescentou ligeiramente. — Hera roubou as memórias dele.
Thalia enrijeceu.
— Hera? Como vocês sabem disso?
Jason explicou sobre a missão — a profecia no acampamento, Hera sendo aprisionada, o gigante pegando o pai de Piper, e o prazo final no solstício de inverno. Leo interrompeu e adicionou a coisa importante: como ele consertara o dragão de bronze, podia jogar bolas de fogo, e fazer tacos excelentes.
Thalia era uma boa ouvinte. Nada parecia surpreendê-la — os monstros, as profecias, os mortos se erguendo. Mas quando Jason mencionou o Rei Midas, ela xingou em grego antigo.
— Sabia que deveríamos ter queimado aquela mansão — ela disse. — Aquele homem é uma ameaça. Mas estamos tão concentrados em seguir Licáon... Bem, estou feliz que vocês tenhas escapado. Então Hera esteve... o que, escondendo você todos esses anos?
— Eu não sei — Jason tirou a foto do bolso. — Ela só me deixou memória o suficiente para eu reconhecer o seu rosto.
Thalia olhou para a foto, e sua expressão suavizou.
— Eu me esqueci disso. Eu deixei no Chalé 1, não foi?
Jason assentiu.
— Acho que Hera queria que nós nos encontrássemos. Quando pousamos aqui, nessa caverna... tive uma sensação de que era importante. Como se soubesse que você estava perto. É loucura?
— Que nada — Leo lhe assegurou. — Estávamos absolutamente destinados a encontrar a sua irmã bonita.
Thalia o ignorou. Provavelmente ela só não queria deixar parecer o quanto Leo a impressionara.
— Jason — ela disse — quando você está negociando com os deuses, nada é muita loucura. Mas você não pode confiar em Hera, especialmente já que somos filhos de Zeus. Ela odeia todos os filhos de Zeus.
— Mas ela disse algo sobre Zeus lhe dar a minha vida como uma oferta de paz. Não faz algum sentido?
A cor drenou do rosto de Thalia.
— Ah, deuses. Nossa mãe não teria... Você não lembra... Não, é claro que não.
— O quê? — Jason perguntou.
Os traços de Thalia pareceram envelhecer na luz, como se sua imortalidade não estivesse funcionando tão bem.
— Jason... Eu não sei como dizer isso. Nossa mãe não era exatamente estável. Ela atraiu o olhar de Zeus porque ela era uma atriz de televisão, e ela era bonita, mas não lidava muito bem com a fama. Ela bebia e namorava caras estúpidos. Estava sempre nos tabloides. Nunca poderia conseguir atenção o bastante. Mesmo antes de você nascer, ela e eu discutíamos o tempo todo. Ela... ela sabia que papai era Zeus, e acho que era muito para ela aceitar. Foi como a façanha suprema para ela atrair o senhor dos céus, e ela não pôde aceitar isso quando ele partiu. A coisa sobre os deuses... bem, eles não ficam no mesmo lugar.
Leo se lembrou da própria mãe, o jeito que ela o assegurava cada vez mais que seu pai voltaria um dia. Mas ela nunca ficou maluca por isso. Ela não parecia querer Hefesto para si mesma — só queria que Leo pudesse conhecer o pai. Ela se virava com seu trabalho pesado, vivendo num apartamento minúsculo, nunca tendo dinheiro o bastante — e parecia bem com isso. Contanto que tivesse Leo, ela sempre dizia que a vida ficaria ok.
Ele observou o rosto de Jason, parecendo cada vez mais devastado enquanto Thalia descrevia a mãe deles, e dessa vez, Leo não sentiu inveja do amigo. Leo podia ter perdido a mãe. Podia ter tido alguns momentos difíceis. Mas pelo menos ele se lembrava dela. Ele se encontrou batendo no seu joelho, fazendo um código Morse: Eu te amo. Ele se sentiu mal por Jason, sem ter memórias assim — não ter nada para recorrer.
— Então... — Jason não pareceu capaz de acabar a pergunta.
— Jason, você tem amigos — Leo lhe disse. — E agora você tem uma irmã. Você não está sozinho.
Thalia ofereceu a sua mão, e Jason a pegou.
— Quando eu tinha sete anos, mais ou menos — ela disse — Zeus começou a visitar minha mãe de novo. Acho que se sentiu mal por arruinar a vida dela, e ele pareceu... diferente de algum jeito. Um pouco mais velho e severo, mais como um pai para mim. Por um momento, mamãe melhorou. Ela amava ter Zeus por perto, lhe trazendo presentes, fazendo o céu ribombar. Ela sempre queria mais atenção  Foi o ano que você nasceu. A mamãe... bem, eu nunca me dei bem com ela, mas você me deu um motivo para ficar por perto. Você era tao bonito. E eu não confiava na minha mãe para tomar conta de você. E claro, Zeus eventualmente parou de vir novamente. Ele provavelmente não podia mais suportar as exigências da mamãe  sempre o importunando para deixá-la visitar o Olimpo, ou fazê-la imortal ou eternamente bonita. Quando ele partiu definitivamente, mamãe ficou cada vez mais instável. Aquela foi aproximadamente a hora que os monstros começaram a me atacar. Mamãe culpou Hera. Ela alegou que a deusa estava vindo atrás de você também... que Hera mal tolerara o meu nascimento, mas dois semideuses filhos da mesma mulher era um insulto muito grande. Ela até disse que não queria te nomear Jason, mas Zeus insistiu, como um jeito de satisfazer Hera porque a deusa gostava daquele nome. Eu não sabia no que acreditar.
Leo mexeu com seus fios de cobre. Ele se sentia como um intruso. Ele não deveria estar ouvindo isso, mas também o fez se sentir como estivesse conseguindo conhecer Jason pela primeira vez, como se estar ali compensasse aqueles quatro meses na Escola da Vida Selvagem, quando Leo só imaginava que eles tinham uma amizade.
— Como vocês se separaram? — ele perguntou.
Thalia apertou a mão do irmão.
— Se eu soubesse que você estava vivo... deuses, as coisas teriam sido tão diferentes. Mas quando você tinha dois anos, nossa mãe nos carregou no carro para férias em família. Dirigimos para o norte, em direção à área dos vinhedos, para esse parque que ela queria nos mostrar. Eu me lembro de ter pensado que isso era estranho, porque mamãe nunca nos levou para lugar nenhum, e ela estava supernervosa. Eu estava segurando a sua mão, lhe fazendo andar para essa grande construção no meio do parque, e... — Ela respirou tremulamente. — A mamãe me disse para voltar ao carro e pegar a cesta de piquenique. Eu não queria te deixar sozinho com ela, mas era só por alguns minutos. Quando voltei... minha mãe estava ajoelhada nas escadas de pedra, se abraçando e chorando. Ela disse... ela disse que você havia partido. Ela disse que Hera lhe reclamou e que você estava morto. Eu não sabia o que ela fez. Tive medo que ela tivesse perdido a cabeça completamente. Eu corri por todo o lugar lhe procurando, mas você simplesmente sumiu. Ela teve que me arrastar para longe, enquanto eu chutava e gritava. Pelos dias seguintes eu estava histérica. Eu não lembro de tudo, mas chamei a polícia e eles a interrogaram por um longo tempo. Mais tarde brigamos. Ela me disse que eu a traí, que eu deveria ajudá-la, como se ela fosse a única que se importava. Finalmente não pude aguentar. Seu desaparecimento foi a gota d’água. Eu fugi e nunca mais voltei, nem mesmo quando a mamãe morreu alguns anos depois. Pensei que você havia partido para sempre. Eu nunca contei a ninguém sobre você... nem a Annabeth ou Luke, meus dois melhores amigos. Foi simplesmente
muito doloroso.
— Quíron sabia. — A voz de Jason soava distante. — Quando cheguei ao acampamento, ele olhou uma vez para mim e disse: "Você deveria estar morto."
— Isso não faz sentido — Thalia insistiu. — Eu nunca contei para ele.
— Ei — Leo disse. — A coisa importante é que vocês tem um ao outro agora, certo? Vocês dois tem sorte.
Thalia assentiu.
— Leo tem razão. Olhe para você. Tem a minha idade. Você cresceu.
— Mas onde estive? — Jason disse. — Como eu poderia estar desaparecido por todo esse tempo? E as coisas romanas...
Thalia franziu a testa.
— As coisas romanas?
— Seu irmão fala latim — Leo disse. — Ele chama os deuses pelos seus nomes romanos e tem tatuagens.
Leo apontou para as marcas no braço de Jason. Então ele deu a Thalia o resumo sobre as outras coisas estranhas que aconteceram: Bóreas se transformando em Áquilo, Licáon chamando Jason de “um filho de Roma,” e o lobos voltarem para fora quando Jason falou latim com eles.
Thalia puxou a corda do arco.
— Latim. Zeus falava em latim às vezes, na segunda vez que ficou com a mamãe. Como disse, ele parecia diferente, mais formal.
— Você acha que ele estava no seu aspecto romano? — Jason perguntou. — É por isso que eu penso em mim como um filho de Júpiter?
— Possivelmente — Thalia disse. — Eu nunca ouvi falar de algo assim acontecendo, mas pode explicar porque você pensa em termos romanos, porque pode falar latim melhor que grego antigo. Isso lhe faria único. Ainda assim, não explica como sobreviveu sem o Acampamento Meio-Sangue. Um filho de Zeus, ou Júpiter, ou como você quiser chamá-lo, teria sido caçado por monstros. Se ficasse por si próprio, deveria ter morrido anos atrás. Eu sei que eu não teria sido capaz de sobreviver sem amigos. Você precisaria de treinamento, um abrigo seguro...
— Ele não estava sozinho — Leo falou sem pensar. — Ouvimos sobre outros como ele.
Thalia olhou para ele estranhamente.
— O que você quer dizer?
Leo lhe contou sobre a camisa roxa cortada no shopping de Medeia, e a história que os ciclopes contaram sobre o filho de Mércurio que falava latim.
— Não tem mais algum lugar para semideuses? — Leo perguntou. — Digo, além do Acampamento Meio-Sangue? Talvez algum professor louco de latim tenha estado abduzindo crianças dos deuses ou alguma coisa, os fazendo pensar como romanos.
Assim que disse isso, Leo percebeu como a ideia parecia tola. Os deslumbrantes olhos azuis de Thalia o estudaram atentamente, fazendo ele se sentir um suspeito numa fila.
— Eu estive por todo o pais — refletiu Thalia. — Nunca vi evidência de um professor louco de latim, ou semideuses com camisas roxas. Ainda assim... — Sua voz morreu, como se tivesse acabado de lhe ocorrer um pensamento problemático.
— O quê? — Jason perguntou.
Thalia balançou a cabeça.
— Terei que falar com a deusa. Talvez Ártemis nos guie.
— Ela ainda está falando com vocês?  Jason perguntou.  A maioria dos deuses entrou em silêncio.
— Ártemis segue suas próprias regras — Thalia disse. — Ela tem que tomar cuidado para não deixar Zeus saber, mas acha que ele está sendo ridículo fechando o Olimpo. Ela nos enviou atrás de Licáon. Disse que encontraríamos uma pista sobre um amigo perdido nosso.
— Percy Jackson — Leo supôs. — O cara que Annabeth está procurando.
Thalia assentiu, seu rosto cheio de preocupação.
Leo quis saber se alguém já pareceu tão preocupado todas as vezes que ele desaparecia. Ele meio que duvidou disso.
— Então o que Licáon teria a ver com isso? — Leo perguntou. — E como isso se conecta a nós?
— Precisamos descobrir logo — Thalia admitiu. — Se o prazo de vocês é amanhã, estamos perdendo tempo. Éolo poderia lhes dizer...
A loba branca apareceu novamente na porta e ganiu insistentemente.
— Eu tenho que ir — Thalia se levantou. — Ou perderei a trilha das outras Caçadoras. Primeiro, porém, vou levar vocês para o palácio de Éolo.
— Se você não puder, tudo bem — Jason disse, embora soasse um pouco aflito.
— Ah, por favor — Thalia sorriu e o ajudou a levantar. — Eu não tenho um irmão há anos. Acho que posso suportar alguns minutos com você antes de ficar chato. Agora, vamos lá!

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