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O Herói Perdido - CAP. 28

.. domingo, 31 de março de 2013

Capítulo XXVIII - Piper


PIPER LEVOU A PRINCESA PARA A PAREDE enquanto Jason e Leo partiam para ver os casacos de pele vivos.
— Você quer que eles comprem a própria morte? — Piper perguntou.
— Mmm. — A princesa soprou poeira de uma estante de exposição de espadas. — Eu sou uma vidente, minha querida. Eu sei seu pequeno segredo. Mas não queremos insistir nisso, não é? Os garotos estão se divertindo.
Leo ria enquanto eles experimentavam um chapéu que parecia ser feito de pele de guaxinim encantada. Seu rabo anelado se retorcia, e suas pequenas pernas se sacudiam freneticamente enquanto Leo andava. Jason estava olhando com ansiedade a roupa de esporte dos homens. Garotos interessados em comprar roupas? Um sinal definitivo que eles estavam sob um feitiço maligno.
Piper olhou para a princesa.
— Quem é você?
— Eu lhe disse, minha querida. Eu sou a Princesa de Colchis.
— Onde é Colchis?
A expressão da princesa ficou um pouco triste.
— Onde era Colchis, você quer dizer. Meu pai comandava as terras às margens do Mar Negro, tão longe ao leste como um navio grego podia velejar naqueles dias. Mas não há mais Colchis... desapareceu éons atrás.
— Éons? — Piper perguntou. A princesa não parecia mais ter cinquenta, mas uma ma sensação começou a se estabelecer em Piper, algo que Rei Bóreas mencionara em Quebec. — Quantos anos você tem?
A princesa riu.
— Uma dama deveria evitar perguntar ou responder essa pergunta. Vamos só dizer que, hã, o processo de imigração para entrar no seu país demorou um pouco. Porém minha patrona conseguiu. Ela tornou tudo isso possível. — A princesa gesticulou para o shopping.
O gosto da boca de Piper pareceu metal.
— Sua patrona...
— Ah, sim. Ela não traz qualquer um, veja bem... só aqueles que tem talentos especiais, como eu. E na verdade, ela só insistiu em poucos detalhes... Quria uma entrada subterrânea para que ela, hã, monitore minha clientela; um favor agora e depois. Em troca de uma nova vida? Realmente, foi a melhor pechincha que fiz em séculos.
Rápido, Piper pensou. Temos que sair daqui.
Mas antes mesmo que ela pudesse transformar seus pensamentos em palavras, Jason gritou:
— Ei, venham ver!
De uma prateleira com roupas etiquetadas, ele puxou uma camiseta roxa como a que ele vestia na excursão escolar — exceto que essa camisa parecia como se tivesse sido arranhada por tigres.
Jason franziu a testa.
— Por que isso parece ão familiar?
— Jason, é igual a sua — Piper disse. — Agora realmente temos que partir. — Mas ela não tinha certeza de que ele ao menos podia ouvi-la mais pelo encantamento da princesa.
— Não faz sentido — a princesa disse. — Os garotos não acabaram ainda, não é? E sim, minha querida. Essas camisas são muito populares. Mercadorias trocadas pelos clientes. Ficou perfeita em você.
Leo ergueu uma camiseta laranja do Acampamento Meio-Sangue com um buraco pelo meio, como se tivesse sido golpeada por um dardo. Do lado dela havia uma armadura de bronze com o peiro corroído — por ácido, talvez? — e uma toga romana lascada em pedaços e manchada com algo que parecia perturbadoramente como sangue seco.
— Vossa Alteza — Piper disse, tentando controlar os nervos. — Por que você não conta para os garotos como traiu sua família? Tenho certeza de que eles adorariam ouvir essa história. — Suas palavras não tinham efeito na princesa, mas os garotos se viraram, subitamente interessados.
— Mais história? — Leo perguntou.
— Eu gosto de mais história! — Jason concordou.
A princesa chamejou um olhar irritado para Piper.
— Ah, as pessoas fazem coisas estranhas por amor, Piper. Você deveria saber disso. Eu me apaixonei por aquele jovem herói, pois sua mãe, Afrodite me lançou uma maldição. Se não fosse por ela... mas não posso guardar rancor de uma deusa, posso?
O tom da princesa significava claramente: Você não conseguirá me vencer.
— Mas aquele herói te levou com ele quando fugiu de Colchis — Piper lembrou. — Não é, Vossa Alteza? Ele se casou com você assim como prometeu.
O olhar nos olhos da princesa fez Piper querer se desculpar, mas ela não voltou atrás.
— A principio — Sua Alteza admitiu — parecia que ele manteria sua palavra. Mas mesmo depois de ajudá-lo a roubar o tesouro do meu pai, ele ainda precisava de minha ajuda. Enquanto fugíamos, a frota do meu irmão veio atrás de nós. Seus navios de guerra nos alcançaram. Ele teria nos destruído, mas eu convenci meu irmão a vir a bordo do nosso barco primeiro e conversar sob bandeira de trégua. Ele confiou em
mim.
— E você matou seu próprio irmão — Piper disse, a terrível história completa voltando para ela, junto com um nome — um nome infame que começava com a letra M.
— O quê? — perguntou Jason. Por um momento parecia quase como si próprio. — Matou seu próprio...
— Não — a princesa vociferou. — Essas histórias são mentirosas. Foi meu novo marido e seus homens que mataram meu irmão, embora eles não pudessem ter feito isso sem minha trapaça. Eles jogaram o seu corpo ao mar, e a frota que nos perseguia teve que parar para procurá-lo, pois queriam dar ao meu irmão um enterro adequado. Isso nos deu tempo para fugir. Tudo isso, fiz por meu marido. E ele esqueceu nossa barganha. Ele me traiu no final.
Jason ainda se sentia desconfortável.
— O que ele fez?
A princesa segurou a toga fatiada contra o peito de Jason, como se o medisse para um assassinato.
— Você não conhece a história, meu garoto? Todos vocês deveriam. Você foi nomeado em homenagem a ele.
— Jason — Piper disse. — O Jason original. Mas então você... você devia estar morta!
A princesa sorriu.
— Como disse, uma nova vida em um novo país. Certamente cometi erros. Virei as costas para o meu próprio povo. Eu fui chamada de traidora, ladra, mentirosa, assassina. Mas agi por amor. — Ela virou para os garotos e lhes deu um olhar lamentável, piscando seus cílios. Piper pôde sentir a magia correndo sobre ela, tomando controle mais firmemente que nunca. — Vocês não fariam o mesmo por alguém que amam, meus queridos?
— Ah, claro — Jason disse.
— Ok — Leo disse.
— Gente! — Piper rangeu os dentes em frustração. — Vocês não veem que ela está encantando vocês? Não enxergam quem...
— Vamos continuar, ok? — a princesa disse friamente. — Creio que vocês queiram negociar o preço de uns espíritos da tempestade... e do seu sátiro.

Leo se distraiu no segundo andar com os dispositivos.
— Sem chance — ele disse. — Essa é uma forja de armaduras?
Antes que Piper pudesse pará-lo, ele partiu da escada rolante e correu para um grande forno oval que parecia uma churrasqueira gigante. Quando o alcançaram, a princesa falou:
— Você tem bom gosto. Essa e a H-2000, desenhada pelo próprio Hefesto. Quente o suficiente para derreter bronze Celestial ou ouro Imperial.
Jason recuou como se reconhecesse aquele termo.
— Ouro Imperial?
A princesa assentiu.
— Sim, meu querido. Como essa arma tão habilmente escondida no seu bolso. Para ser propriamente forjado, o ouro Imperial teve que ser consagrado no Templo de Jupiter, na colina do Capitolio em Roma. Um metal poderoso e bastante raro, mas como os imperadores romanos, bastante volátil. Tenha certeza de
nunca quebrar essa lâmina... — Ela sorriu agradavelmente. — Roma foi depois do meu tempo, naturalmente, mas eu ouço histórias. E agora venham aqui... esse trono dourado é um dos meus melhores itens de luxo. Hefesto o fez como uma punição para a sua mãe, Hera. Sente nele e você será imediatamente preso.
Leo aparentemente tomou isso como uma ordem. Ele começou a andar em direção ao trono, como se estivesse em transe.
— Leo, não! — Piper alertou.
Ele pestanejou.
— Quanto pelos dois?
— Ah, o assento eu poderia lhe dar por cinco grandes feitos. A forja, sete anos de servidão... e por um pouco da sua força. — Ela deixou Leo na seção de dispositivos, lhe dando preços de vários itens. Piper não queria deixá-lo sozinho com ela, mas tinha que tentar raciocinar com Jason. Ela o empurrou para um lado e lhe deu uma tapa no rosto.
— Ei — ele murmurou sonolentamente. — Para que isso?
— Sai dessa! — Piper sibilou.
— O que você quer dizer?
— Ela está te envolvendo com charme. Não está sentindo?
Ele juntou as sobrancelhas.
— Ela parece legal.
— Ela não é legal! Ela não devia nem estar viva! Ela foi casada com Jason... o outro Jason, três mil anos atrás. Lembra o que Bóreas disse, algo sobre as almas não ficarem mais confinadas no Hades? Não são apenas monstros que não permanecem mortos. Ela veio do Mundo Inferior!
Ele balançou a cabeça inquietamente.
— Ela não é um fantasma.
— Não, ela é pior! Ela é...
— Crianças. — A princesa voltou rebocando Leo. — Se me dão licença, vamos ver o que vocês querem. É isso que vocês querem, sim?
Piper teve que reprimir um grito. Ela estava tentada a puxar sua adaga e cuidar da bruxa ela mesma, mas não gostava das suas chances — não no meio do shopping de Vossa Alteza enquanto seus amigos estavam sob um feitiço. Piper não podia nem saber se eles estariam do lado dela numa luta. Ela tinha que encontrar um plano melhor.
Eles desceram as escadas rolantes para a base da fonte. Pela primeira vez, Piper notou dois relógios de sol grandes de bronze — cada um do tamanho aproximado de um trampolim — incrustado no piso de mármore do norte ao sul da fonte. As gaiolas douradas gigantes iam do leste a oeste, e a mais longe prendia os espíritos da tempestade. Eles eram tão densamente comprimidos, redemoinhando parecendo um tornado superconcentrado, que Piper não podia dizer quantos havia ali — dúzias, no minimo.
— Ei — Leo disse — o Treinador Hedge parece bem!
Eles correram para a gaiola mais próxima. O velho sátiro parecia ter sido petrificado no momento que foi sugado no céu acima do Grand Canyon. Ele foi congelado no meio de um grito, seu bastão erguido sobre a cabeça como se estivesse ordenando a classe do ginásio fazer cinquenta flexões. Seu cabelo encaracolado estava arrepiado em ângulos bizarros. Se Piper se concentrasse em certos detalhes... a camisa polo laranja, o fino cavanhaque, o apito ao redor do pescoço... ela podia imaginar o Treinador Hedge como seu bom e antigo professor. Mas era difícil ignorar os grossos chifres na sua cabeça  e o fato de que ele tinha pernas de bode peludas e cascos ao invés de calças de exercício e Nikes.
— Sim — a princesa disse. — Eu sempre deixo meus artigos em boas condições. Podemos certamente negociar pelos espíritos da tempestade e pelo sátiro. Um pacote. Se formos negociar, vou até dar o frasco da poção de cura, e vocês podem ir em paz. — Ela deu a Piper um olhar sagaz. — É  melhor do que começar a negociar sem vontade, não é, querida?
Não confie nela, alertou uma voz na sua cabeça. Se Piper tivesse razão sobre a identidade da senhora, ninguém estaria partindo em paz. Um acordo justo não seria possivel. Era tudo um truque. Mas seus amigos estavam olhando para ela, assentindo urgentemente e gesticulando com a boca, Diga sim! Piper precisava de mais tempo para pensar.
— Podemos negociar — disse.
— Totalmente! — concordou Leo. —Dê seu preço.
— Leo! — Piper vociferou.
A princesa riu.
— Dar meu preço? Talvez não seja a melhor estratégia de pechincha, meu garoto, mas pelo menos você sabe o valor de uma coisa. Realmente, liberdade vale muito. Você me pediria para libertar seu sátiro, que atacou meus ventos da tempestade...
— Que nos atacaram — contra-atacou Piper.
Vossa Alteza deu de ombros.
— Como disse, minha patrona me pede pequenos favores de tempos em tempos. Mandar os espíritos da tempestade para sequestrar vocês foi um deles. Garanto que não foi nada pessoal. E sem nenhum dano, como vocês vieram aqui, no fim, de livre e espontânea vontade! Em todo caso, vocês querem libertar o sátiro e querem meus espíritos de tempestade, que são servos muito valiosos, por sinal, de forma que possa levá-los àquele tirano do Éolo. Não parece muito justo, parece? O preço será alto.
Piper pôde ver que seus amigos estavam prontos para oferecer qualquer coisa, prometer qualquer coisa. Antes que eles pudessem falar, ela jogou sua última carta.
— Você é Medeia — ela disse. — Você ajudou o Jason original a roubar o Velocino de Ouro. Foi você uma das vilãs mais malignas na mitologia grega. Jason, Leo, não confiem nela.
Piper colocou toda a intensidade que pôde reunir naquelas palavras. Ela estava sendo totalmente sincera, e pareceu ter algum efeito. Jason recuou da feiticeira. Leo coçou a cabeça e olhou ao redor como se estivesse saindo de um sonho.
— O que estamos fazendo, de novo?
— Garotos! — A princesa abriu suas mãos num gesto de boas-vindas. Suas joias de diamante brilharam, e seus dedos pintados se dobraram como garras com sangue nas pontas. — É verdade, eu sou Medeia. Mas eu sou tão mal interpretada! Ah, Piper, minha querida, você não sabe o que era ser mulher nos dias antigos. Não tínhamos poder, nenhuma influência. Na maioria das vezes nem mesmo escolhíamos os nossos maridos.
Mas eu era diferente. Eu escolhi meu próprio destino me tornando uma feiticeira. Isso é tão errado? Eu fiz um pacto com Jason: minha ajuda para ganhar o velocino, em troca do seu amor. Um acordo justo. Ele se tornou um herói famoso! Sem mim, ele teria morrido desconhecido nas margens de Colchis.
Jason — o Jason de Piper — franziu a testa.
— Então... você realmente morreu há três mil anos? Você retornou do Mundo Inferior?
— A morte não me prende mais, jovem herói — Medeia disse. — Graças a minha patrona, sou de carne e osso novamente.
— Você se... reformou? — Leo pestanejou. — Como um monstro?
Medeia desdobrou seus dedos, e vapor assobiou das suas unhas, como água esparramada em ferro quente.
— Vocês não tem ideia do que está acontecendo, tem, meus queridos? É muito pior do que uma simples agitação de monstros no Tártaro. Minha patrona sabe que gigantes e monstros não são seus maiores servos. Eu sou mortal. Eu aprendo com meus erros. E agora que retornei a vida, não serei enganada novamente. Agora, esse é o meu preço para o que vocês pedem.
— Gente — Piper disse. — O Jason original deixou Medeia porque ela era louca e sedenta por sangue.
— Mentiras! — Medeia disse.
— No caminho de volta para Colchis, o navio de Jason parou em outro reino e Jason concordou em liquidar Medeia e se casar com a filha do rei.
— Depois de lhe dar dois filhos! — Medeia disse. — Ainda assim ele quebrou sua promessa! Eu lhe pergunto, isso foi certo?
Jason e Leo obedientemente balançaram suas cabeças, mas Piper não.
— Isso pode não ter sido certo — ela disse — mas tampouco foi a vingança de Medeia. Ela assassinou seus próprios filhos para voltar para Jason. Ela envenenou sua nova esposa e fugiu do reino.
Medeia rosnou.
— Uma invenção para arruinar a minha reputação! As pessoas de Corinto, aquela multidão rebelde, mataram meus filhos e me expulsaram. Jason não fez nada para me proteger. Ele roubou tudo de mim. Então sim, eu entrei rapidamente no palácio e envenenei sua nova noiva encantadora. Foi apenas um... preço justo, um preço adequado.
— Você é louca — Piper disse.
— Eu sou a vitima! — Lamentou Medeia. — Morri com os meus sonhos despedaçados, mas isso acabou. Agora sei que não devo confiar em heróis. Quando eles vem pedindo por tesouros, pagarão um preço alto. Especialmente quando esse que pede tem o nome de Jason!
A fonte virou vermelho-vivo. Piper puxou sua adaga, mas sua mão estava tremendo tanto para segurá-la.
— Jason, Leo é hora de ir. Agora.
— Antes de fecharem o negócio? — perguntou Medeia. — E a sua missão, garotos? E meu preço é tão baixo. Vocês sabiam que essa fonte é mágica? Se um homem morto for jogado nela, mesmo se ele estiver cortado em pedaços, ele voltará à vida, mais forte e mais poderoso que nunca.
— Sério? — Leo perguntou.
— Leo, ela está mentindo — Piper disse. — Ela fez esse truque com alguém antes, um rei, acho. Ela convenceu suas filhas a cortá-lo em pedaços para que ele pudesse sair da água mais jovem e cheio de saúde novamente, mas elas simplesmente o mataram!
— Ridículo — Medeia disse, e Piper podia ouvir o poder carregado em cada sílaba. — Leo, Jason, meu preço é bastante simples. Por que vocês dois não lutam? Se vocês se machucarem, ou até morrerem, sem problemas. Vamos apenas jogá-los na fonte e vocês voltarão melhores do que nunca. E vocês querem lutar,  certo? Estão ressentidos um com o outro!
— Gente, não! — Piper disse. Mas já estavam olhando um para o outro, como se estivessem pensando como realmente se sentiam.
Piper nunca se sentira mais inútil. Agora ela entendia o que era uma feiticeira verdadeira. Sempre pensou que magia significava varinhas e bolas de fogo, mas isso era pior. Medeia não só contava com venenos e poções. Sua arma mais potente era a voz.
Leo fez carranca.
— Jason sempre é a estrela. Ele sempre ganha a atenção e eu fico em segundo plano.
— Você é irritante, Leo — Jason disse. — Nunca leva nada a sério. Nem mesmo é capaz de consertar um dragão.
— Parem! — Piper suplicou, mas ambos puxaram as armas, Jason a sua espada de ouro, e Leo um martelo do seu cinto de ferramentas.
— Deixe-os, Piper — Medeia urgiu. — Estou lhe fazendo um favor. Deixe isso acontecer agora, e sua escolha será muito mais fácil. Encélado estará agradecido. Você pode ter o seu pai de volta hoje!
O encanto de Medeia não funcionava com ela, mas a feiticeira ainda tinha uma voz persuasiva. Seu pai de volta hoje? Apesar das suas melhores intenções, Piper queria isso. Ela queria seu pai de volta tanto que doía.
— Você trabalha para Encélado — ela disse.
Medeia riu.
— Servir um gigante? Não. Mas todos servimos à mesma grande causa, uma patrona que não podemos desafiar. Parta, filha de Afrodite. Isso não tem que ser a sua morte também. Salve-se, e seu pai pode ir livre.
Leo e Jason ainda estavam se encarando, prontos para lutar, mas eles pareciam inseguros e confusos — esperando por outra ordem. Parte deles tinha que estar resistindo, Piper esperou. Isso ia completamente contra a natureza deles.
— Ouça-me, garota — Medeia arrancou um diamante do seu bracelete e o jogou no chafariz da fonte. Enquanto ele passava pela luz multicolorida, Medeia falou:
— Oh, Íris, deusa do arco-íris, me mostre o escritório de Tristan McLean.
A névoa tremulou, e Piper viu o escritório do pai. Sentada atrás da sua mesa, falando ao telefone, estava a assistente do seu pai, Jane, no seu terno escuro de trabalho, seu cabelo preso num coque firme.
— Olá, Jane — Medeia disse.
Jane colocou o telefone no gancho calmamente.
— Como posso ajudá-la, madame? Olá, Piper.
— Você... — Piper estava tão irritada que mal podia falar.
— Sim, criança — disse Medeia. — A assistente do seu pai. Bastante fácil de manipular. Uma mente organizada para um mortal, mas incrivelmente fraca.
— Obrigada, madame — disse Jane.
— Não há de quê — Medeia disse. — Eu só queria lhe dar os parabéns, Jane. Fazer o Sr. McLean sair da cidade tão subitamente, mandar o seu jato para Oakland sem alertar a imprensa ou a polícia, bem feito! Ninguém parece saber onde ele foi. E dizer que a vida da filha estava por um fio foi um toque ótimo para conseguir sua cooperação.
— Sim — Jane concordou num tom suave, como se estivesse sonâmbula. — Ele foi bastante cooperativo quando acreditou que Piper estava em perigo.
Piper olhou para sua adaga. A lâmina tremeu na sua mão. Ela não podia usá-la como arma melhor do que Helena de Troia podia, mas ainda era um espelho, e o que ela via nele era uma garota assustada sem chances de vitória.
— Eu posso ter novas ordens para você, Jane — disse Medeia. — Se a garota cooperar, pode ser a hora para o Sr. McLean voltar para casa. Você arranjaria uma história apropriada para explicar a sua ausência, se acontecer? E imagino que o pobre homem precisará de algum tempo num hospital psiquiátrico.
— Sim, madame. Estarei a espera.
A imagem enfraqueceu, e Medeia virou para Piper.
— Então, entende?
— Você arrastou meu pai para uma armadilha — Piper disse. — Ajudou o gigante...
— Ah, por favor, querida. Contenha-se. Eu estive preparando essa guerra por anos, mesmo antes de ser trazida de volta À vida. Sou uma vidente, como disse. Eu posso narrar o futuro tão bem como o seu pequeno oráculo. Anos atrás, ainda sofrendo nos Campos de Punição, eu tive uma visão dos sete na sua assim chamada Grande Profecia. Eu vi seu amigo Leo aqui, e vi que ele seria um importante inimigo algum dia. Adentrei na consciência da minha patrona e lhe dei essa informação. Ela conseguiu acordar por um tempo, apenas o suficiente para visitá-lo.
— A mãe de Leo... — Piper disse. — Leo, ouça isso! Ela ajudou a matar a sua mãe!
— Aham — Leo resmungou, ofuscado. Ele franziu a testa para o martelo. — Então... eu ataco o Jason?
— É perfeitamente seguro — Medeia prometeu. — E Jason, o acerte forte. Mostre-me que você é merecedor desse nome.
— Não! — Piper ordenou. Ela sabia que era a sua última chance. — Jason, Leo... ela está enganando vocês. Abaixem as suas armas.
A feiticeira revirou os olhos.
— Por favor, garota. Você não é capaz de me derrotar. Treinei com a minha tia, a imortal Circe. Eu posso guiar homens à loucura ou curá-los com a minha voz. Que esperança esses dois jovens heróis débeis tem contra mim? Agora, garotos, matem um ao outro!
— Jason, Leo, me ouçam — Piper colocou toda a sua emoção da voz. Por anos ela tentara controlar-se e não mostrar fraqueza, mas agora ela despejou tudo nas palavras: seu medo, desespero, fúria. Ela sabia que podia estar assinando o atestado de óbito do pai, mas se importava muito com seus amigos para deixá-los ferir um ao outro. — Medeia está usando seu charme contra vocês. É parte da sua magia. Vocês são melhores amigos. Não lutem entre si. Lutem com ela!
Eles hesitaram, e Piper pôde sentir o feitiço se despedaçar.
Jason pestanejou.
— Leo, eu estava prestes a perfurá-lo?
— Algo sobre minha mãe...? — Leo franziu a testa, então virou para Medeia. — Você... você está trabalhando para a Mulher de Poeira. Você a mandou para a oficina mecânica. — Ele levantou o braço. — Senhora, eu tenho um martelo de três quilos com seu nome nele.
— Bah! — Medeia zombou. — Simplesmente coletarei o pagamento de outro modo.
Ela pressionou um ladrilho de mosaico no chão, e a construção estremeceu. Jason gingou sua espada para Medeia, mas ela dissolveu em fumaça e reapareceu na base do elevador.
— Você é lento, herói! — Ela riu. — Despeje a sua frustração nas minhas mascotes!
Antes que Jason pudesse ir atrás dela, os relógios de sol gigantes de bronze de cada lado da fonte balançaram, se abrindo. Duas bestas douradas rosnando — dragões alados de carne e osso — rastejaram para fora dos buracos abaixo. Cada um era do tamanho uma vã de acampamento, talvez não tão grandes comparados a Festus, mas grandes o suficiente.
— Então era isso que estava nos canis — Leo disse humildemente.
Os dragões abriram as asas e sibilaram. Piper podia sentir o calor partindo da pele brilhante deles. Um virou seus raivosos olhos laranja para ela.
— Não olhem nos olhos dele! — Jason alertou. — Vão paralisá-los!
— De fato! — Medeia estava vagarosamente subindo a escada rolante, se encostando no corrimão enquanto assistia a diversão. — Essas duas belezinhas estiveram comigo por um longo tempo, dragões do sol, vocês sabem, presente do meu avo Hélio. Eles puxaram a minha biga quando parti de Corinto, e agora eles serão sua destruição. Ta-rã!
Os dragões bufaram. Leo e Jason carregaram para interceptar. Mas estava assustada com quanta coragem que os garotos atacaram — trabalhando como um time que treinara junto por anos. Medeia estava quase no segundo andar, onde poderia escolher dentre uma vasta coleção de dispositivos mortais.
— Ah, não, você não vai — Piper grunhiu, e partiu atrás dela.
Quando Medeia localizou Piper, ela começou a subir com pressa. Ela era rápida para uma mulher de três mil anos. Piper subiu três degraus de cada vez, e ainda assim ela não conseguia alcançá-la. Medeia não parou no piso dois. Ela pulou para a próxima escada rolante e continuou a subir.
As poções, Piper pensou. É claro que ela iria para lá. Ela era famosa por suas poções. Abaixo, Piper ouviu a batalha assolando. Leo estava soprando seu apito de segurança, e Jason estava gritando para chamar a atenção dos dragões. Piper não ousou olhar — não enquanto corria com uma adaga na mão. Poderia cair e machucar o próprio nariz. Aquilo não seria nada heroico.
Ela agarrou um escudo de um manequim de armadura no piso três e continuou a subir. Ela imaginou o Treinador Hedge gritando na sua mente, assim como de volta a classe de ginásio na Escola da Vida Selvagem: Ande, McLean! Você chama isso de escalada-de-escada-rolante?
Ela chegou ao piso superior, ofegando muito, mas estava muito atrasada. Medeia alcançara o balcão de poções. A feiticeira pegou um frasco em forma de cisne — o azul que causava morte dolorosa — e Piper fez a única coisa que lhe veio em mente. Ela jogou seu escudo.
Medeia virou triunfantemente o corpo, bem na hora de ser golpeada no peito por um frisbee de metal de cinquenta quilos. Ela tropeçou para trás, batendo contra o balcão, quebrando frascos e derrubando prateleiras. Quando a feiticeira se levantou dos destroços, seu vestido estava manchado com uma dúzia de cores diferentes. Várias das manchas estavam queimando e brilhando.
— Tola! — Medeia gemeu. — Você tem ideia do que tantas poções farão quando misturadas?
— Te matar? — Piper disse esperançosamente.
O tapete começou a emitir fumaça em volta dos pés de Medeia. Ela tossiu, e seu rosto se contorceu de dor — ou ela estava fingindo?
Abaixo, Leo gritou:
— Jason, ajuda!
Piper arriscou uma rápida olhada, e quase chorou em desespero. Um dos dragões tinha Leo preso no chão. Estava mostrando suas presas, pronto para morder. Jason estava batalhando com o outro dragão por toda a sala, longe demais para ajudar.
— Você condenou a todos nos! — Medeia gritou. Fumaça estava correndo pelo tapete enquanto a mancha se estendia, lançando faíscas e pondo fogo em prateleiras de roupa. — Vocês só tem segundos antes dessa mistura consumir tudo e destruir a construção. Não ha tempo...
CRASH! O teto de vidro se estilhaçou numa chuva de fragmentos multicoloridos, e o dragão de bronze Festus rompeu no shopping.
Ele se lançou na briga, agarrando um dragão do sol em cada garra. Só agora que Piper apreciou como o amigo deles era grande e forte.
— Esse é o meu garoto! — Leo gritou.
Festus voou a metade do caminho acima do saguão, então atirou os dragões do sol nos buracos de onde vieram. Leo correu para a fonte e pressionou o ladrilho de mármore, fechando os relógios de sol. Eles estremeceram enquanto os dragões se debatiam, tentando sair, mas pelo momento estavam contidos.
Medeia xingou em alguma língua antiga. O quarto andar inteiro estava incendiado agora. O ar se enchia com um gás nocivo. Até na abertura do telhado, Piper podia sentir o calor se intensificando. Ela recuou para a borda da grade, mantendo sua adaga apontada para Medeia.
— Eu não serei abandonada de novo! — A feiticeira se ajoelhou e lançou a poção vermelha de cura, que de algum jeito sobrevivera a colisão. — Você quer a memória do seu namorado restaurada? Me leve com vocês!
Piper olhou para trás dela. Leo e Jason estavam a bordo das costas de Festus. O dragão de bronze batia suas asas imensas, pegou as duas jaulas com o sátiro e os espíritos da tempestade com as garras, e começou a subir.
A construção fez um ruido. Fogo e fumaça se torciam pelas paredes, derretendo as grades, transformando o ar em ácido.
— Vocês nunca sobreviverão à sua missão sem mim! — Medeia grunhiu. — Seu herói ficara ignorante para sempre, e seu pai morrerá. Me leve com vocês!
Por um batimento cardíaco, Piper estava atraída. Então ela notou o sorriso sinistro de Medeia. A feiticeira estava confiante nos seus poderes de persuasão, confiante de que sempre poderia fazer um acordo, escapar e ganhar no fim.
— Hoje não, bruxa — Piper pulou para a lateral. Ela caiu por um segundo antes de Leo e Jason a pegarem, lhe puxando a bordo do dragão.
Ela ouviu Medeia gritando de raiva enquanto eles subiam pelo telhado quebrado, sobrevoando o centro de Chicago. Então o shopping explodiu atrás deles.

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