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O Herói Perdido - CAP. 26

.. domingo, 31 de março de 2013

Capítulo XXVI - Jason


JASON TEVE MEDO DE QUE ELES PERDESSEM O ALVO. O ventus se movia como... bem, como o vento.
— Acelera! — ele dizia.
— Cara — Leo disse — se eu chegar mais perto, ele vai nos localizar. Dragão de bronze não é exatamente um avião discreto.
— Diminua — Piper gritou.
O espirito da tempestade mergulhou na grade de ruas na parte baixa da cidade. Festus tentou seguir, mas as envergaduras das asas eram muito largas. Sua asa esquerda bateu no canto de um prédio, cortando fora uma gárgula de pedra antes de Leo subir.
— Fique acima dos edifícios — Jason sugeriu. — Vamos rastreá-lo de lá.
— Você quer dirigir essa coisa? — Leo grunhiu, mas fez o que Jason pediu.
Depois de alguns minutos, Jason localizou o espirito da tempestade novamente, silvando pelas ruas com nenhum propósito aparente — assoprando pedestres, agitando bandeiras, fazendo carros desviarem.
— Ah, ótimo — Piper disse. — São dois.
Ela tinha razão. Um segundo ventus saiu como uma rajada do canto do Hotel da Renascença e se uniu com o primeiro. Eles se misturaram numa dança caótica, subiram para o topo de um arranha-céu, curvando uma torre de rádio, e mergulhando de volta para a rua.
— Esses aí não precisam de mais cafeína — Leo disse.
— Acho que Chicago é um bom lugar para se exporem — Piper disse. — Ninguém vai questionar mais um par de ventos malignos.
— Mais que um par — Jason disse. — Olhem.
O dragão circulou uma vasta avenida perto de um parque ao lado de um lago. Espíritos da tempestade estavam convergindo — pelo menos uma dúzia deles, rodopiando ao redor de uma grande instalação de arte pública.
— Qual você acha que é Dylan? — Leo perguntou. — Quero jogar alguma coisa nele.
Mas Jason focou na instalação de arte. Quanto mais perto chegavam, mais rápido o seu coração batia. Era só uma fonte publica, mas era desagradavelmente familiar. Dois monólitos de cinco andares da altura se erguiam de cada lado de um longo tanque refletor de granito. Eles pareciam ser feitos de telas de vídeo  brilhando a imagem combinada de um rosto gigante que cuspia água no tanque.
Talvez fosse coincidência, mas ele parecia uma versão high-tech e em tamanho enorme daquele espelho d'água de granito que ele vira nos sonhos, com aquelas duas massas escuras crescendo de cada lado. Enquanto Jason observava, a imagem nas telas mudou para o rosto de uma mulher com os olhos fechados.
— Leo... — ele disse nervosamente.
— Eu vi — Leo disse. — Não gostei, mas eu vi.
Então as telas ficaram escuras. Os ventus redemoinharam juntos num único funil de nuvem e deslizaram pela fonte, erguendo no ar uma tromba d’água quase tão alta quanto os monólitos  Eles foram para o centro dela, revelando a cobertura de um fosso, e desapareceram sob o chão.
— Eles desceram para um fosso? — Piper perguntou. — Como vamos segui-los?
— Talvez não devêssemos — Leo disse. — Aquela fonte está me dando vibrações seriamente negativas. E não devíamos, tipo, ter cuidado com a terra?
Jason sentiu o mesmo, mas eles tinham que seguir. Era o único caminho em frente para eles. Eles tinham que encontrar Hera, e agora só tinham dois dias até o solstício.
— Aterrisse no parque — ele sugeriu. — Vamos verificar isso a pé.


* * *

Festus pousou numa área aberta entre o lago e o horizonte. As placas diziam "Grant Park", e Jason imaginou que seria um bom lugar no verão; mas agora era um campo de gelo, neve e trilhas cobertas de sal. Os pés quentes do dragão de metal chiaram enquanto ele aterrissava. Festus bateu as asas tristemente e atirou fogo no céu, mas não havia ninguém por perto para notar. O vento vindo do lago era desagradavelmente gelado e penetrante. Qualquer um com senso estaria dentro da água. Os olhos de Jason ardiam tanto que ele mal podia ver.
Eles desmontaram, e o dragão Festus bateu os pés. Um dos seus olhos de rubi tremeluziu, de forma que parecia que ele estava piscando.
— Isso é normal? — Jason perguntou.
Leo puxou um pedaço de borracha do seu cinto ferramentas. Ele passou no olho ruim do dragão, e a luz voltou ao normal.
— Sim — Leo disse.
— Festus não pode ficar a aqui, no meio do parque. Eles irão detê-lo por vadiagem. Talvez se eu tivesse um apito de cachorro...
Ele remexeu seu cinto de ferramentas, mas não encontrou nada.
— Talvez seja específico demais. Ok, me dê um apito de trânsito. Eles tem vários desses em oficinas mecânicas.
Dessa vez, Leo tirou um grande apito de plástico laranja.
— O Treinador Hedge ficaria com inveja! Ok, Festus, ouça — Leo assoprou o apito. O som agudo provavelmente soou por todo o caminho pelo Lago Michigan. — Você ouve isso, e vem me pegar, ok? Até lá, voe para onde quiser. Só tente não tente cozinhar algum pedestre.
O dragão bufou — esperançosamente em concordância. Então ele abriu as asas e se lançou no ar.
Piper deu um passo e estremeceu.
— Ai!
— Seu tornozelo? — Jason se sentiu mal por ter esquecido seu ferimento na fabrica ciclope. — Aquele néctar que lhe demos deve estar perdendo o efeito.
— Está tudo bem. — Ela tremeu, e Jason se lembrou sua promessa de lhe arranjar um novo casaco de snowboard. Ele esperou que vivesse o bastante para conseguir um.
Ela deu mais alguns passos com manquejando levemente, mas Jason via que ela estava tentando não fazer careta.
— Vamos sair desse vento — ele sugeriu.
— Descendo um fosso? — Piper estremeceu. — Parece aconchegante.
Eles se agasalharam o máximo que puderam e rumaram para a fonte.

Segundo a placa, se chamava Fonte da Coroa. Toda a água esvaziara exceto por algumas poças que estavam começando a congelar. Afinal, não parecia certo para Jason que a fonte tivesse água no inverno. Mais uma vez, aqueles grandes monitores brilhavam o rosto da misteriosa inimiga Mulher-Poeira. Nada nesse lugar estava certo.
Eles foram até o centro do tanque. Nenhum espirito tentou pará-los. As paredes do monitor gigante ficaram escuras. O buraco do fosso era grande o suficiente para uma pessoa, e uma escada de manutenção descia na escuridão.
Jason foi primeiro. Enquanto subia, ele se preparou para cheiros horríveis de cano de esgoto, mas não era tão ruim. A escada descia num túnel de alvenaria correndo de norte a sul. O ar era quente e seco, e apenas um fio de água corria pelo chão.
Piper e Leo desceram atrás dele.
— Todos os canos de esgoto são agradáveis assim? — Piper se admirou.
— Não — Leo disse. — Confie em mim.
Jason franziu a testa.
— Como você sabe...?
— Ei, cara, eu já fugi seis vezes. Já dormi em alguns lugares estranhos, ok? Agora, para que lado vamos?
Jason abaixou a cabeça, ouvindo, depois apontou para o sul.
— Por aqui.
— Como pode ter certeza? — Piper perguntou.
— Há uma corrente de ar soprando para o sul — Jason disse. — Talvez os ventus tenham ido com o fluxo.
Não era exatamente uma garantia, mas ninguém tinha uma ideia melhor.
Infelizmente, assim que começaram a andar, Piper tropeçou. Jason teve que segurá-la.
— Tornozelo estúpido — xingou.
— Vamos descansar — Jason decidiu. — Poderíamos todos fazer isso. Estivemos trabalhando sem descanso por mais de um dia. Leo, você pode puxar alguma comida desse cinto de ferramentas além de balas de menta?
— Pensei que você nunca fosse pedir. Chefe Leo na área!
Piper e Jason sentaram numa saliência de tijolos enquanto Leo revirava seu cinto.
Jason estava contente em descansar. Ele ainda estava cansado e atordoado, e faminto, também. Mas, acima de tudo, ele não estava ansioso para encarar o que quer que estivesse pela frente. Ele virou sua moeda dourada nos dedos.
Se você for morrer, Hera advertira, será pelas mãos dela.
Quem seria “ela”. Depois de Quione, a mãe dos ciclopes e a estranha senhora adormecida, a última coisa que Jason precisava era outra vilã psicótica em sua vida.
— Não foi sua culpa — Piper disse.
Ele olhou para ela vagamente.
— O que?
— Ser capturado pelos ciclopes — ela disse. — Não foi sua culpa.
Ele abaixou o olhar para a moeda na sua palma.
— Eu fui burro. Te deixei sozinha e caí numa armadilha. Eu devia saber...
Ele não terminou. Havia muitas coisas que ele devia saber — quem ele era, como lutar com monstros, como ciclopes iludiam suas vítimas imitando vozes e se escondendo em sombras e uma centena de outros truques. Toda aquela informação devia estar em sua cabeça. Ele podia sentir os lugares onde devia estar — como bolsos vazios. Se Hera queria que ele tivesse sucesso, por que ela roubara as memórias que podiam ajudá-lo? Ela falou que sua amnésia o manteve vivo, mas aquilo não fazia sentido. Ele estava começando a entender porque Annabeth queria deixar a deusa na sua prisão.
— Ei — Piper cutucou seu braço. — Se dê uma folga. Só porque você é filho de Zeus, não significa que valha por um exército inteiro.
Alguns metros de distância, Leo acendeu um pequeno fogo para cozinhar. Ele cantava enquanto tirava suprimentos da mochila e do cinto de ferramentas.
Na luz do fogo, os olhos de Piper pareciam dançar. Jason estivera estudando-os por dias agora, e ainda não podia decidir de que cor eles eram.
— Eu sei que isso deve ser uma droga pra você — ele disse. — Não só a missão, quero dizer. O jeito que apareci no ônibus, a Névoa brincando com a sua mente, e lhe fazendo pensar que eu era... você sabe.
Ela abaixou seu olhar.
— É, bem. Nenhum de nós pediu por isso. Não é sua culpa.
Ela tocou nas pequenas tranças caídas ao lado do seu rosto. Mais uma vez, Jason pensou em como estava contente por ela ter perdido a benção de Afrodite. Com a maquiagem, o vestido e o cabelo perfeito, ela parecia ter vinte e cinco anos, fascinante, e completamente demais para ele. Ele nunca pensara em beleza como uma forma de poder, mas era o jeito que Piper parecera — poderosa.
Ele gostava melhor da Piper normal — alguém com que ele podia aparecer. Mas a coisa estranha era que ele não conseguia tirar aquela outra imagem da sua cabeça. Não fora uma ilusão. Aquele lado de Piper estava ali também. Ela só fazia o melhor para escondê-lo.
— Lá na fábrica — Jason disse — você ia falar algo sobre seu pai.
Ela contornou o traçado dos tijolos com os dedos, quase como se estivesse escrevendo o que não era capaz de verbalizar.
— Ia?
— Piper — ele disse — ele está em algum tipo de perigo, não está?
No fogo, Leo mexia em alguns pimentões e carne numa panela.
— Yeah, baby! Quase lá.
Piper parecia a ponto de chorar.
— Jason... eu não posso falar a respeito disso.
— Somos seus amigos. Nos deixe ajudar.
Aquilo pareceu lhe fazer se sentir pior. Ela tomou fôlego, trêmula.
— Eu queria poder, mas...
— Bingo! — Leo anunciou.
Ele voltou com três bandejas empilhadas nos braços como um garçom. Jason não tinha ideia de onde ele conseguira toda a comida, ou como reuniu tudo tão rápido, mas parecia incrível  pimenta e tacos de carne com batata e salsa.
— Leo — Piper disse em espanto. — Como você...
— A Garagem de Taco do Chefe Leo sempre resolve tudo! — ele disse orgulhosamente. — E a propósito, é tofu, e não carne, rainha da beleza, então pode comer tranquilamente. Vá em frente!


* * *

Jason não gostou muito do tofu, mas os tacos tinham um gosto tão bom quanto o cheiro. Enquanto comiam, Leo tentou animar o astral fazendo piadas. Jason estava grato por ele estar com eles. Fazia estar com Piper um pouco menos intenso e desconfortável. Ao mesmo tempo, ele meio que esperava que estivesse sozinho com ela; mas se repreendeu por sentir aquilo.
Depois de Piper comer, Jason a encorajou para dormir um pouco. Sem discutir, ela enrolou o cabelo e colocou a sua cabeça no colo de Jason. Em dois segundos ela estava roncando.
Jason olhou para Leo, que estava obviamente tentando não rir.
Eles se sentaram em silêncio por alguns minutos, bebendo limonada que Leo fizera de um cantil de água e uma pó.
— Bom, hein? — Leo sorriu.
— Você devia abrir uma barraquinha — Jason disse. — Poderia ganhar um bom dinheiro.
Mas enquanto ele olhava para as brasas do fogo, algo começou a incomodá-lo.
— Leo... sobre o negócio do fogo que você pode fazer... é verdade?
O sorriso de Leo vacilou.
— É, bem... — Ele abriu a mão. Uma pequena bola de fogo se acendeu, dançando pela sua palma.
— Isso é tão legal — Jason disse. — Por que não disse antes?
Leo fechou sua mão e o fogo morreu.
— Não queria parecer uma aberração.
— Eu tenho o poder de controlar os raios e o vento — Jason o lembrou. — Piper pode ficar bonita e encantar as pessoas para lhe darem BMWs. Você não é uma aberração mais do que nós somos. E, ei, talvez você possa voar, também. Tipo, pular de um prédio e gritar, "Em chamas!"
Leo bufou.
— Se eu fizesse isso, você veria um garoto em chamas caindo para a morte, e estaria gritando algo um pouco mais forte que ‘Em chamas!’ Confie em mim, o chalé de Hefesto não encara isso como algo tão legal. Nyssa me disse que eles são muito raros. Quando um semideus como eu está por perto, coisas ruins acontecem. Realmente ruins.
— Talvez seja ao contrário — Jason sugeriu. — Talvez as pessoas com dons especiais apareçam quando coisas ruins estão acontecendo porque é quando eles são mais necessários.
Leo limpou os pratos.
— Talvez. Mas estou te dizendo… não é sempre um dom.
Jason ficou em silêncio.
— Você está falando sobre sua mãe, não está? A noite em que ela morreu.
Leo não respondeu. Ele tinha precisava. O fato de que ele estava quieto, sem fazer piadas — aquilo já dizia o suficiente para Jason.
— Leo, a morte dela não foi sua culpa. O que quer que tenha acontecida naquela noite... não foi porque você podia convocar fogo. Essa Mulher-Poeira, quem quer que seja, estivera tentando lhe arruinar por anos, bagunçar sua confiança, lhe tirar tudo que você se importa. Ela está tentando fazer com que você se sinta um fracasso. Você não é. Você é importante.
— É o que ela disse — Leo ergueu o olhar, seus olhos cheios de dor. — Ela disse que eu iria fazer algo importante, algo que iria frear ou quebrar aquela grande profecia sobre os sete semideuses. É o que me assusta. Não sei se estou preparado para isso.
Jason queria lhe dizer que tudo ficaria bem, mas soaria falso. Jason não sabia o que aconteceria. Eles eram semideuses, o que significava que às vezes as coisas não acabavam bem. Às vezes você é comido pelo ciclope.
Se você perguntasse a maioria das crianças, “Ei, vocês querem convocar fogo ou raio ou maquiagem magica?” elas achariam que parecia bastante legal. Mas aqueles poderes traziam coisas difíceis, como sentar num cano de esgoto no meio do inverno, correr de monstros, perder a memória, assistir seus amigos serem quase cozidos, e ter sonhos que lhe alertavam sobre a sua própria morte.
Leo atiçou as sobras do seu fogo, virando brasas vermelhas com sua mão nua.
— Você já se perguntou sobre os outros quatro semideuses? Digo... se somos os três da Grande Profecia, quem são os outros? Cadê eles?
Jason pensara nisso, certo, mas ele tentara tirar isso da sua mente. Tinha uma suspeita horrível que esperariam que ele liderasse aqueles outros semideuses, e ele tinha medo de falhar.
Vocês destruirão uns aos outros, Bóreas prometera.
Jason fora treinado para nunca demonstrar medo. Ele tinha certeza daquilo pelo sonho com os lobos. Ele devia agir confiante, mesmo que não se sentisse assim. Mas Leo e Piper estavam dependendo dele, e ele estava aterrorizado em fracassar. Se ele tivesse que liderar um grupo de seis — que talvez não fossem se dar bem — aquilo seria pior ainda.
— Eu não sei — ele disse por fim. — Acho que os outros quatro irão aparecer quando chegar a hora. Quem sabe? Talvez eles estejam em outra missão agora mesmo.
Leo grunhiu.
— Aposto que o cano de esgoto deles é melhor que o nosso.
A corrente de ar tomou força, soprando em direção ao lado sul do túnel.
— Descanse um pouco, Leo — Jason disse. — Vou fazer a primeira patrulha.

Era difícil medir o tempo, mas Jason calculou que seus amigos dormiram por aproximadamente quatro horas. Jason não se importou. Agora que ele estava descansado, não via realmente a necessidade de dormir mais. Ele dormira tempo o suficiente no dragão. E ainda por cima, precisava de tempo para pensar sobre a missão  sua irma Thalia, e os alertas de Hera. Ele também não se importou por Piper usá-lo de travesseiro. Ela tinha um jeito gracioso de respirar enquanto dormia — inalando pelo nariz, exalando com um pequeno sopro pela boca. Ele ficou quase desapontado quando ela acordou.
Finalmente, levantaram o acampamento e começaram a descer o túnel.
Ele se torcia, virava e parecia continuar para sempre. Jason não estava certo sobre o que esperar no fim — uma masmorra, um laboratório de cientista maluco, ou talvez um reservatório onde todos os esgotos de banheiros químicos acabavam, formando um rosto de toalete maligno grande o bastante para engolir o mundo.
No entanto, eles encontraram portas de elevador polidas de aço, cada uma entalhada com uma letra cursiva M. Do lado do elevador havia um mapa, como o de um shopping.
— M de Macy’s? — Piper chutou. — Acho que eles tem um na parte baixa de Chicago.
— Ou Monocle Motors? — Leo disse. — Gente, leiam o mapa. Está meio confuso.

Estacionamento, Canil, Entrada Principal                  Andar do esgoto
Móveis e Café M                                                                        1
Moda Feminina e Aparelhos Mágicos                                     2
Moda Masculina e Armamento                                                 3
Cosméticos, Poções, Venenos & Miudezas                          4

— Canil para quê? — Piper disse. — E que tipo de shopping tem sua entrada num esgoto?
— Ou vende venenos? — Leo disse. — Cara, o que é que "miudezas" significa? Será roupa íntima?
Jason respirou fundo.
— Na dúvida, melhor começar por cima.

* * *

As portas deslizaram e abriram no quarto andar, e o aroma de perfume flutuou para o elevador. Jason saiu primeiro, espada pronta.
— Galera — disse. — Vocês tem que ver isso.
Piper se juntou a ele e prendeu a respiração.
— Essa não é a o Macy’s.
O shopping parecia o lado de dentro de um caleidoscópio. O teto inteiro era um mosaico de vidro com sinais astrológicos ao redor de um sol gigante. A luz do dia correndo por ele banhava tudo em milhões de cores diferentes. Os pisos superiores faziam um elo de balcões em volta de um saguão central imenso, de forma que eles podiam ver todo o caminho pelo térreo. Grades douradas resplandeciam tão claramente que era difícil olhar para elas.
Exceto pelo teto de vidro e o elevador, Jason não pôde ver outras janelas ou portas, mas dois conjuntos de escadas rolantes de vidro corriam entre os níveis. O tecido do tapete era uma exuberância de padrões orientais e cores, e as prateleiras de mercadoria eram do mesmo jeito bizarro. Havia muito para registrar de uma vez, mas Jason viu coisas normais como prateleiras de camisa e formas de sapatos misturados com manequins com armaduras, camas de prego e casacos de pele que pareciam estar se mexendo.
Leo andou até a grade e olhou para baixo.
— Venham ver.
No meio do saguão havia uma fonte jogando água a seis metros do chão, mudando de cor de vermelho para amarelo e azul. O reservatório brilhava com moedas de ouro, e em cada lado da fonte havia uma jaula dourada — como a gaiola de um canário em tamanho real.
Dentro de uma, um ciclone em miniatura redemoinhava, e raios reluziam. Alguém aprisionara os espíritos da tempestade, e a jaula estremecia enquanto eles tentavam sair. Na outra, congelado como uma estátua, havia um sátiro baixinho segurando um ramo de árvore.
— Treinador Hedge! — Piper disse. — Temos que chegar lá embaixo.
Uma voz disse:
— Posso lhes ajudar a encontrar alguma coisa?
Todos os três pularam para trás.
Uma mulher simplesmente apareceu na frente deles. Ela vestia um vestido preto elegante com joias de diamante, e parecia uma modelo afastada — talvez cinquenta anos de idade, mas era dificil para Jason julgar. Seu longo cabelo escuro caía sobre um ombro, e seu rosto era deslumbrante naquele modo surreal de supermodelo — fino, arrogante e frio, não exatamente humano. Com suas unhas longas pintadas de vermelho, seus dedos pareciam mais como garras.
Ela sorriu.
— Estou tão feliz por ver novos clientes. Como posso ajudá-los?
Leo olhou para Jason tipo, Toda sua.
— Hã — Jason começou — essa é a sua loja?
A mulher assentiu.
— Eu a encontrei abandonada, você sabe. Eu acredito que há muitas lojas nesses dias. Decidi que faria o lugar perfeito. Eu amo colecionar objetos saborosos, ajudar pessoas, e oferecer coisas de qualidade a preços razoáveis. Então essa pareceu uma boa… como vocês dizem… primeira aquisição nesse pais.
Ela falava num acento agradável, mas Jason não conseguiu adivinhar de onde era. Contudo, claramente ela não era perigosa. Jason começou a relaxar. Sua voz era rica e exótica. Jason queria ouvir mais.
— Então você é nova na América? — perguntou.
— Eu sou... nova — a mulher concordou. — Eu sou a Princesa de Colchis. Meus amigos me chamam de Vossa Alteza. Agora, o que estão procurando?
Jason ouvira falar sobre ricos estrangeiros construindo shoppings americanos. É claro que na maioria das vezes eles não vendiam venenos, casacos de pele vivos, espíritos da tempestade ou sátiros  mas ainda assim — com uma voz gentil assim, a Princesa de Colchis não poderia ser completamente má.
Piper o cutucou nas costelas.
— Jason…
— Hã, certo. Na verdade, Vossa Alteza… — Ele apontou para a jaula dourada no primeiro andar. —  Aquele é um amigo nosso lá baixo, Gleeson Hedge. O sátiro. Poderíamos… pegá-lo de volta, por favor?
— É claro! — a princesa concordou imediatamente. — Eu amaria mostrá-los o meu inventário. Primeiro, posso saber seus nomes?
Jason hesitou. Parecia uma má ideia dar seus nomes. Uma memória veio do fundo da sua mente — algo que Hera alertara, mas parecia confuso.
Por outro lado, Vossa Alteza estava no limite de cooperação. Se eles pudessem conseguir o que queriam sem uma luta, seria melhor. Além disso, essa senhora não parecia uma inimiga.
Piper começou a dizer:
— Jason, eu não...
— Essa é Piper — ele disse. — Esse é Leo. Eu sou Jason.
A princesa ficou os olhos nele e apenas por um momento, seu rosto literalmente brilhou, queimando com tanta raiva que Jason pode ver seu crânio debaixo da pele. A mente de Jason estava ficando mais confusa, mas ele sabia que algo não parecia correto. Então o momento passou, e Vossa Alteza parecia uma normal e elegante mulher novamente, com um sorriso cordial e uma voz suave.
— Jason. Que nome interessante — ela disse, seus olhos tão frios quanto o ar de Chicago. — Acho que teremos de fazer um negocio especial com você. Venham, crianças. Vamos fazer compras.

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