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O Herói Perdido - CAP. 25

.. domingo, 31 de março de 2013

Capítulo XXV - Jason


JASON SONHOU QUE ESTAVA PRESO em correntes, pendurado de cabeça para baixo como um pedaço de carne. Tudo doía — seus braços, pernas, peito, cabeça. Especialmente a sua cabeça. Parecia que dentro dela tinha um balão de água.
— Se estou morto — ele murmurou — por que dói tanto?
— Você não está morto, meu herói — disse a voz de uma mulher. — Não é a sua hora. Venha, fale comigo.
Os pensamentos de Jason deixaram seu corpo. Ele ouviu monstros gritando, seus amigos berrando, explosões ardentes, mas tudo parecia estar acontecendo em outro plano de existência — se distanciando cada vez mais.
Ele se encontrou de pé numa prisão de terra. Raízes de árvore e pedras redemoinhavam juntas como grades, confinando-o. Do lado de fora, ele podia ver o chão seco de um espelho d'água, e uma espiral de terra crescendo mais ao longe. Acima dele, as ruínas avermelhadas de uma casa que fora incendiada.
Do seu lado na prisão havia uma mulher sentada de pernas cruzadas usando roupas pretas, sua cabeça coberta por uma mortalha. Ela colocou seu véu de lado, revelando um rosto era orgulhoso e bonito — mas também endurecido pelo sofrimento.
— Hera — Jason disse.
— Bem-vindo a minha prisão — disse a deusa. — Você não morrerá hoje, Jason. Seus amigos o ajudarão... por enquanto.
— Por enquanto? — ele perguntou.
Hera gesticulou em direção às grades da sua prisão.
— Provações piores estão por vir. A própria terra se ergue contra nós.
— Você é uma deusa — Jason disse. — Por que não pode escapar?
Hera sorriu, triste. Sua forma começou a brilhar, até o seu brilho encher a prisão com luz dolorosa. O ar zuniu em poder, moléculas se dividindo em pedaços como uma explosão nuclear. Jason suspeitou que se estivesse ali em carne e osso, teria sido vaporizado.
A prisão deveria ter sido explodida. O chão deveria ter rachado e a casa em ruínas deveria ter sido demolida. Mas quando o brilho morreu, a cela não tinha mudado em nada. Nada do lado de fora das barras mudara. Só Hera parecia diferente... um pouco mais curvada e cansada.
— Alguns poderes são ainda maiores que os deuses — ela disse. — Eu não sou facilmente contida. Posso estar em vários lugares ao mesmo tempo. Mas quando a maior parte da minha essência é capturada, posso dizer que é como um urso preso pelo pé numa armadilha. Não posso escapar, e estou escondida dos olhos dos outros deuses. Só você pode me encontrar, e eu fico mais fraca a cada dia.
— Então por que você veio aqui? — Jason perguntou. — Como você foi pega?
A deusa suspirou.
— Não saberia dizer ao certo. Seu pai, Júpiter acredita que pode se retrair do mundo, e assim acalmar nossos inimigos, colocando-os novamente para dormir. Ele acredita que nós, olimpianos, nos envolvemos demais nos assuntos dos mortais, nos destinos dos nossos filhos semideuses, especialmente desde que concordamos reclamar todos eles depois da guerra. Ele acredita que isso fez nossos inimigos se agitarem. É por isso que fechou o Olimpo.
— Mas você não concorda.
— Não — ela disse. — Na maioria das vezes, não entendo os modos do meu marido ou suas decisões, mas até para Zeus, isso pareceu paranoia. Eu não posso entender por que ele estava tão convencido. Isso... não era característico dele. Como Hera, eu posso ter me contentado em seguir os desejos do meu lorde. Mas eu também sou Juno.
Sua imagem tremeluziu, e Jason viu a armadura sob suas simples vestes negras, além de uma capa de pele de cabra — o símbolo de um guerreiro romano — e um bastão de bronze.
— Já me chamaram uma vez de Moneta... Juno, Aquela Que Adverte. Eu fui guardiã do Estado, patrona da Roma Eterna. Eu não podia descansar enquanto os descendentes do meu povo eram atacados. Senti perigo nesse lugar sagrado. Uma voz... — Ela hesitou. — Uma voz me disse que eu devia vir aqui. Os deuses não tem o que você pode chamar de consciência, nem temos sonhos; mas a voz era assim... suave e persistente, me alertando para vir aqui. E então no mesmo dia Zeus fechou o Olimpo, fugi sem lhe contar os meus planos para que ele não pudesse me parar. E eu vim aqui para investigar.
— Era uma armadilha — disse Jason.
A deusa assentiu.
— Mas só descobri tarde demais que a terra estava se agitando. Eu fui ainda mais tola que Júpiter, uma escrava dos meus próprios impulsos. Foi exatamente assim que aconteceu da primeira vez. Fui aprisionada pelos gigantes, e isso desencadeou uma guerra. Agora os nossos inimigos se erguem novamente. Os deuses só podem derrotá-los com a ajuda dos maiores heróis vivos. E aquela a quem os gigantes servem... ela não pode ser absolutamente detida... poderá no máximo adormecer.
— Eu não entendo.
— Você entenderá em breve — Hera disse.
A prisão começou a ficar mais apertada, as gavinhas espiralando mais firmes. A forma de Hera se despedaçou como a chama de uma vela na brisa. Fora da prisão, Jason pôde ver formas se reunindo em volta da piscina — humanoides pesados com costas encurvadas e carecas. A menos que os olhos de Jason o estivessem enganando — eles tinham mais que um par de braços. Ele ouviu lobos também, mas não os lobos que ele vira com Lupa. Ele percebeu em seus uivos que era uma matilha diferente — mais faminta,
mais agressiva, sedenta por sangue.
— Depressa, Jason — Hera disse. — Meus carcereiros se aproximam, e você começou a acordar. Eu não serei forte o suficiente para aparecer para você novamente, nem nos sonhos.
— Espere — ele disse. — Bóreas nos disse que você fez um jogo perigoso. O que ele quis dizer?
Os olhos de Hera pareceram selvagens, e Jason se perguntou se ela realmente fizera algo maluco.
— Uma troca — ela disse. — O único jeito de trazer paz. A inimiga conta com nossas divisões, e se estivermos divididos, seremos destruídos. Você é minha oferta de paz, Jason, uma ponte para superar um milênio de ódio.
— O que? Eu não...
— Não posso lhe dizer mais — Hera disse. — Você só viveu tanto tempo porque peguei sua memória. Encontre esse lugar. Volte ao seu ponto de partida. Sua irmã ira ajudar.
— Thalia?
A cena começou a dissolver.
— Adeus, Jason. Cuidado em Chicago. Sua inimiga mais mortal o espera lá. Se você for morrer, será pelas mãos dela.
— Quem? — ele exigiu.
Mas a imagem de Hera se desfez, e Jason acordou.

Seus olhos abriram.
— Ciclope!
— Uau, dorminhoco — Piper sentava atrás dele no dragão de bronze, segurando sua cintura para mantê-lo em equilíbrio. Leo sentava na frente, dirigindo. Eles voavam pacificamente pelo céu de inverno como se nada tivesse acontecido.
— D-Detroit — Jason gaguejou. — Nós não caímos? Pensei...
— Está tudo bem — Leo disse. — Nós fugimos, mas você teve uma concussão forte. Como está se sentindo?
A cabeça de Jason palpitava. Ele se lembrou da fábrica, depois de estar descendo a passarela, e uma criatura aparecendo subitamente sobre ele — um rosto com um olho, um punho pesado — e tudo ficou preto.
— Como vocês... o ciclope...
— Leo os demoliu em pedaços — Piper disse. — Ele foi incrível. Ele pode produzir fogo...
— Não foi nada — Leo disse rapidamente.
Piper riu.
— Cale a boca, Valdez. Eu vou contar para ele. Continue dirigindo.
E assim ela fez. Contou como Leo, sozinho, derrotou a família dos ciclopes; como eles libertaram Jason, depois notaram os ciclopes começando a reformar-se; como Leo recolocara a fiação do dragão e os colocaram de volta no ar assim que começaram a ouvir os ciclopes rugindo por vingança dentro da fábrica.
Jason estava impressionado. Tirar três ciclopes do caminho sem nada a não ser um kit de ferramentas? Nada mau. Ele não ficou assustado ao saber o quão próximo esteve da morte, mas isso o fez se sentir horrível. Ele entrou direto numa emboscada e passou a luta toda nocauteado enquanto seus amigos se viravam. Que tipo de líder ele era?
Quando Piper lhe contou sobre a outra criança que os ciclopes alegaram ter comido, aquela da camisa roxa que falava latim, Jason sentiu que sua cabeça ia explodir. Um filho de Mércurio... Jason sentiu que devia conhecer aquela criança, mas o nome estava perdido da sua mente.
— Eu não estou sozinho, então — ele disse. — Há outros como eu.
— Jason — Piper disse — você nunca esteve sozinho. Você tem a gente.
— Eu... eu sei... mas algo que Hera disse. Eu estava tendo um sonho...
Ele lhes contou o que viu, e o que a deusa dissera na sua prisão.
— Uma troca? — Piper perguntou. — O que significa?
Jason balançou a cabeça.
— Mas o jogo de Hera sou eu. Só por me mandar para ao Acampamento Meio-Sangue, tenho a sensação de que ela quebrou algum tipo de regra, algo que poderia dar muito errado...
— Ou nos salvar — Piper disse esperançosamente. — Essa parte sobre a inimiga adormecida, parece a senhora que Leo nos contou.
Leo limpou a garganta.
— Sobre isso... ela meio que apareceu para mim lá em Detroit, numa poça de esgoto de banheiro químico.
Jason não teve certeza se ouviu aquilo direito.
— Você disse... banheiro químico?
Leo lhes contou sobre o grande rosto no jardim da fabrica.
— Eu não sei ela é completamente indestrutível — ele disse — mas ela não pode ser detida por assentos de vasos sanitários. Eu posso garantir isso. Ela queria que eu traísse vocês, e eu fiquei tipo, ‘Uhum, certo, eu vou dar ouvidos a um rosto no esgoto químico.’
— Ela está tentando nos dividir — Piper escorregou seus braços da cintura de Jason. Ele podia sentir sua tensão sem olhar para ela.
— Qual é o problema? — ele perguntou.
— E só... Por que eles estão brincando conosco? Quem é aquela mulher, e qual e a conexão dela com Encélado?
— Encélado? — Jason não achou que ouvira aquele nome antes.
— Digo... — Piper disse em voz trêmula. — É um dos gigantes. Apenas um dos nomes eu pude lembrar.
Jason teve a sensação que havia muito mais a perturbando, mas ele decidiu não pressioná-la. Ela tivera uma manhã agitada.
Leo coçou a cabeça.
— Bem, não sei sobre enchillada...
— Encélado — Piper corrigiu.
— Não importa. Mas o Rosto de Esgoto mencionou outro nome. Algo como Porfélio...
— Porfírion? — Piper perguntou. — Ele era o rei gigante, eu acho.
Jason visionou aquela espiral escura no tanque refletor antigo — crescendo mais larga enquanto Hera enfraquecia.
— Vou dar um chute — ele disse. — Nas histórias antigas, Porfírion raptou Hera. Foi o estopim da guerra entre os gigantes e os deuses.
— Acho que sim — Piper concordou. — Mas aqueles mitos são realmente confusos e incoerentes. É quase como se não quisessem que essa história fosse lembrada. Eu só lembro que houve uma guerra, e os gigantes eram quase impossíveis de matar.
— Heróis e deuses tiveram que trabalhar juntos — Jason disse. — É o que Hera me disse.
— Um pouco difícil de fazer — Leo grunhiu — se os deuses nem vão falar com a gente.
Eles voaram para o oeste, e Jason ficou perdido nos seus pensamentos — todos ruins. Ele não sabia quanto tempo passou antes do dragão mergulhar por um intervalo nas nuvens, e abaixo deles, brilhando no sol de inverno, uma cidade à beira de um lago enorme. Uma fileira de de arranha-céus alinhava a costa. Atrás deles, espalhando para o horizonte do oeste, uma vasta grade de bairros e estradas cobertos de neve.
— Chicago — Jason disse.
Ele pensou sobre o que Hera dissera no seu sonho. Sua inimiga mortal o estaria esperando aqui. Se ele fosse morrer, seria pelas mãos dela.
— Um problema a menos — Leo disse. — Chegamos aqui vivos. Agora, como encontramos os espíritos da tempestade?
Jason viu um brilho de movimento abaixo deles. A princípio ele pensou que fosse um avião pequeno, mas era muito pequeno, muito escuro e rápido. A coisa espiralava na direção dos arranha-céus, tecendo e mudando de forma — e, só por um momento ganhou a forma esfumaçada de um cavalo.
— Que tal seguirmos aquele — Jason sugeriu — e ver aonde ele vai?

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